OS GÁLATAS
MAURICIO BERWALD
- Origem dos Gálatas. O nome "Galácia" deriva dos gauleses, povo que invadiu a Ásia Menor no séc. III a.C., também chamado de povo celta pelos escritores clássicos da antigüidade. O termo "Galácia" foi aplicado a esse povo por volta do séc. III a.C, foi adotado pelos gregos e, aos poucos, foi se generalizando. Os Gálatas estabeleceram seu reino na região de Péssina,Távia, Ancira — atual Ankara, capital da Turquia, que corresponde à região frígio-gálata, mencionada em Atos 16.6; 18.23.
- A Galácia dos dias do apóstolo Paulo. Na época do ministério do apóstolo Paulo a Galácia não era apenas a terra dos gauleses ou celtas. Abrangia também a região de Antioquia daPisídia, Listra, Icônio e Derbe, na Licaônia, cidades que formam o que chamamos hoje de Galácia do Sul. A Galácia do Norte é a região mencionada em Atos 16.6; 18.23. De modo que toda aquela região era chamada de Galácia.
- Quem são os destinatários da epístola? A dificuldade que muitos acham é saber se o apóstolo enviou essa epístola para as igrejas da Galácia do Norte ou para a Galácia do Sul, visto que ele apenas diz: "às igrejas da Galácia" (Gl 1.2). As duas linhas de interpretação apresentam argumentos consistentes mas nenhum deles é decisivo.Por que a Galácia do Sul? Os argumentos em favor da Galácia do Sul nos parecem mais convincentes. O Novo Testamento não registra nenhuma atividade de Paulo e sua comitiva na Galácia do Norte. O texto apenas diz: "e passando pela Frígia e pela província da Galácia" (At 16.6) e "passando sucessivamente pela província da Galácia e da Frígia" (At 18.23). Não está, pois, declarado que Paulo fundou igrejas nessas regiões. Não há qualquer citação referente à Galácia do Norte.
Autoria e Data
- Paulo, o autor de Gálatas. O apóstolo Paulo tinha amanuenses; Tércio era um deles (Rm 16.22), enquanto Silvano foi o do apóstolo Pedro (1 Pe 5.12); como no Antigo Testamento,Baruque foi escriba do profeta Jeremias (Jr 36.4). A maioria das cartas de Paulo foi escrita por seus amanuenses ou escribas. Como a situação das igrejas da Galácia era crítica, estava em jogo não só a fé desses irmãos e nem apenas a autoridade apostólica de Paulo, mas principalmente o futuro do cristianismo. Ele mesmo escreveu de seu próprio punho (Gl 6.11), pois não queria deixar margem para os Gálatas duvidarem da autenticidade da carta.
- Data da epístola. Tem havido muita controvérsia quanto à data e destinatário dessa epístola. Há três possíveis datas, mas todas elas têm os seus "senões" — 49, 53 e 56 d-C. A seqüência de eventos é a seguinte: primeira viagem missionária, em seguida foi escrita a epístola aos Gálatas, depois ocorreu o concilio de Jerusalém e segue-se a segunda viagem. Isso nos dá subsídios para datá-la por volta de 49 d.C, e escrita da região entre Antioquia da Síria e Jerusalém.
Conteúdo de Gálatas
- Tema. Os expositores do Novo Testamento deram vários títulos à epístola aos Gálatas. Hoje ela é conhecida como: "a escritura da liberdade cristã, carta magna de emancipação espiritual, grito de guerra da Reforma, a grande carta da liberdade religiosa, declaração cristã de independência", além de outros. É a apologia da liberdade cristã, contra toda a forma de legalismo. A salvação é um ato da graça de Deus; somos salvos pela fé em Jesus (Gl 2.16).Acrescentar algo aí, como condição para salvação, descaracteriza totalmente o autêntico cristianismo revelado no Novo Testamento.
- Gálatas e Romanos. Gálatas é a epístola paulina que mais se aproxima de Romanos. Podemos apresentar cerca de 25 passagens paralelas entre essas epístolas, defendendo os mesmos ensinos (compare Rm 4.3 com Gl 3.6; Rm 4.10,11 com Gl 3.7). Ambas livraram o cristianismo de se tornar uma seita do judaísmo. Se Romanos foi o estopim que incendiou toda a Europa do século XVI, com a Reforma Protestante, Gálatas foi para Lutero a pedra fundamental usada contra a hierarquia e todo o ritualismo da Igreja Romana. Depois de Romanos, é o livro da Bíblia que exerceu mais influência na história do cristianismo.
- Atualidade de Gálatas. Como uma pequena carta, dirigida a uma comunidade cristã do primeiro século para resolver um problema local, pode continuar sendo um poderoso e eficaz documento atual no limiar do terceiro milênio para suplantar um mal de tantos séculos? É porque o perigo do legalismo sempre existiu e sempre existirá durante toda a história do cristianismo. Sempre foi do homem o desejo de conquistar a salvação por seus próprios esforços.Por mais sincero que sejam os legalistas da Igreja da atualidade, devemos lembrar que os opositores contemporâneos do apóstolo Paulo, como muitos adeptos de seitas, vêm lutando contra a verdade do evangelho. Devemos tomar muito cuidado, pois, as aparências, formalismos, fanatismos, ritos e práticas legalistas não são características do cristianismo do Novo Testamento. Cristianismo é a religião da liberdade cristã para servirmos a Deus em espírito e em verdade e não religião de ritos.
Se os Gálatas não fossem duramente corrigidos e continuassem a concordar e a praticar os ensinos dos judaizantes, o fundamento do evangelho desmoronaria. A fé em Cristo seria mais um dos passos da salvação e não o único. O evangelho em si mesmo seria deturpado (1.6-9). Paulo enxergou perigos ameaçadores diante da Igreja de Cristo em expansão. A insistência dos Gálatas na observância de severas regras do judaísmo trariam efeitos colaterais. As distinções sutis entre os crentes inevitavelmente os arrastariam para: "fé em Cristo é bom, mas uma pessoa circuncidada que guarda a lei judaica... é muito melhor?". Bem cedo, tais ensinos contagiaram dois estimados apóstolos, Pedro e Barnabé. Crentes circuncidados consideravam os não-círcuncidados como cidadãos de segunda classe. A epístola aos Gálatas, então, é um golpe duro contra os perigos sutis que podiam perverter o evangelho e dividir a Igreja.
O legalismo é, conforme define o Dicionário Teológico, CPAD, a "tendência a se reduzir a fé cristã aos aspectos puramente materiais e formais das observâncias, práticas e obrigações eclesiásticas". A epístola foi escrita contra o legalismo do judaísmo, ritualismo, romanismo e toda a forma de exterioridade como exigência para a salvação e que venha ameaçar a liberdade e a espiritualidade do evangelho. Seu ensino está em consonância com as demais epístolas paulinas, especialmente com Rm 14, Ef 2 e Cl 2 (confira).Os trechos de 2.11-14 e 4.10 mostram-nos quão grande era o caos nas igrejas da Galácia. O concilio, ocorrido por volta de 48 d. C, tratou de determinar o quanto do judaísmo os crentes gentios precisavam observar apenas que se abstivessem das coisas sacrificadas aos ídolos, e do sangue, e da carne sufocada, é da fornicação. (Ler At 15.20,29.)
esboço
- Introdução 1:1-10
- Saudação 1:1-5
- A denúncia 1:6-10
- Defesa pessoal do evangelho de Paulo 01:11-02:21
- Independência de outros apóstolos 1:11-24
- A fonte do evangelho de Paulo 1:11-17
- Os eventos do ministério inicial de Paulo 1:18-24
- A interdependência com outros apóstolos 2:1-10
- Correção de outro apóstolo 2:11-21
III. Afirmação teológica da salvação pela fé 03:01-04:31
- Vindication do ch doutrina. 3
- O argumento experiencial 3:1-5
- O argumento bíblico 3:6-14
- O argumento lógico 3:15-29
- Clarificação do ch doutrina. 4
- A ilustração doméstica 4:1-11
- A ilustração histórica 4:12-20
- A figura bíblica 4:21-31
- A aplicação prática à vida cristã 05:01-06:10
- Balance no ch vida cristã. 5
- Viver sem a Lei 5:1-12
- Viver sem licença 5:13-15
- Vivendo pelo Espírito Santo 5:16-26
- Responsabilidades da vida cristã 6:1-10
- Toward cristãos Sinning 06:01
- Toward cristãos sobrecarregados 6:2-5
- Toward professores 6:6-9
- Toward todas as pessoas 06:10
- Conclusão 6:11-18