Os Profetas Maiores
INTRODUÇÃO
Houve entre o povo os profetas orais, ou melhor, os que não escreveram suas mensagens, e os profetas literários, estes divididos em dois grupos: Profetas Maiores (cinco) e Profetas Menores (doze). Foram assim classificados por Agostinho em virtude do volume de seus escritos. Os Profetas Maiores são: Isaías, Jeremias, Lamentações, Ezequiel e Daniel, que
constituem o assunto da lição de hoje.
Esboço
III. Profecias de Salvação e Esperança (40.1— 66.24)
Autor: Isaías Tema: Juízo e Salvação Data: Cerca de 700–680 a.C.
Considerações Preliminares
O contexto histórico do ministério de Isaías, filho de Amós, foi centrado em Jerusalém durante os reinados de quatro reis de Judá: Uzias, Jotão, Acaz e Ezequias (1.1). Considerando que o rei Uzias tenha morrido em 740 a.C. (cf. 6.1), e Ezequias, em 687 a.C., o ministério de Isaías abrangeu mais de meio século. Segundo a tradição, Isaías foi serrado ao meio (cf. Hb 11.37) pelo filho de Ezequias, o ímpio rei Manassés (c. 680 a.C.). Segundo parece, Isaías provinha de uma família influente de Jerusalém. Era um homem cultíssimo, e tinha o dom da poesia. Ele era familiarizado com a realeza, e aconselhava os reis no tocante à política externa de Judá. É considerado o mais literário e influente dos profetas. Era casado com
uma profetisa, e tinha dois filhos, cujos nomes representavam mensagens simbólicas à nação. Isaías era contemporâneo de Oséias e Miquéias. Profetizou durante a expansão ameaçadora do império assírio, o colapso de Israel (o Reino do Norte), e o declínio espiritual e moral de Judá (o Reino do Sul). Isaías advertiu o rei Acaz, de Judá, a não buscar ajuda dos assírios contra Israel e a Síria. Advertiu o rei Ezequias, depois da queda de Israel em 722 a.C., a não fazer alianças com
nações estrangeiras contra a Assíria. Exortou-os, enfim, a confiarem somente no Senhor (7.3-7; 30.1-17). Isaías desfrutou de sua maior influência durante o reinado de Ezequias. Alguns estudiosos questionam a autoria de Isaías quanto à totalidade do livro que lhe leva o nome. Eles lhe atribuem somente os caps. 1—39. Os caps. 40—66 são atribuidos a outro autor, ou
autores, que teriam vindo um século e meio mais tarde. Não existe, porém, nenhum fato bíblico que nos leve a rejeitar a autoria de Isaías para todo o livro. As mensagens de Isaías, nos caps. 40–66, destinados aos exilados judaicos em Babilônia, muito tempo depois de sua morte, enfatizam o poder de Deus em revelar eventos futuros específicos através dos seus profetas (e.g., 42.8,9; 44.6-8; 45.1; 47.1-11; 53.1-12). Se aceitarmos os fenômenos das visões e revelações proféticas (cf. Ap 1.1; 4.1—22.21), cai por terra o obstáculo principal à crença de que Isaías realmente escreveu o livro inteiro. As evidências que sustentam esta posição são abundantes, e podem ser classificadas em duas categorias: (1) Evidências internas, no próprio livro, que incluem o título em 1.1, e os numerosos paralelos e pensamentos marcantes entre ambas as seções do livro. Um exemplo notável é a expressão “o Santo de Israel”, que ocorre doze vezes nos capítulos 1–39, e catorze nos capítulos 40 a 66, mas somente seis vezes no restante do AT. Nada menos que vinte e cinco formas verbais hebraicas aparecem nas duas divisões de Isaías. Expressões estas não encontradas em nenhum outro lugar dos livros proféticos do AT. (2) As evidências externas incluem o testemunho do Talmude e do próprio NT, que atribui todo o livro ao profeta Isaías (e.g., cf. Mt 12.17-21 com Is 42.1-4; Mt 3.3 e Lc 3.4 com Is 40.3; Jo 12.37-41 com Is 6.9,10 e 53.1; At 8.28-33 com Is 53.7-9; Rm 9.27 e 10.16-21 com Is 10.53, e 65).
Propósito
Fica patente o tríplice propósito de Isaías. (1) Confrontar a própria nação, e outras nações contemporâneas, com a palavra do Senhor, mostrando-lhes seus pecados e o conseqüente castigo divino. (2) Profetizar esperança à geração futura de exilados judaicos, que seria restaurada do cativeiro, e à qual Deus redimiria como luz aos gentios. (3) Mostrar que Deus enviaria o Messias davídico, cuja salvação abrangeria todas as nações da terra, suscitando esperança no povo de Deus, tanto do antigo como do novo concerto.
Visão Panorâmica
Os sessenta e seis capítulos de Isaías podem ser divididos naturalmente em duas seções: 1–39 e 40–66. Em certos aspectos, Isaías é uma Bíblia em miniatura: (1) sua dupla divisão ressalta o julgamento e salvação, correspondendo aos temas principais do AT e NT; e (2) nas divisões de Isaías e da Bíblia, o fio que as ata é a obra redentora de Cristo.
(1) A primeira seção de Isaías (1–39) contém quatro grandes blocos de profecias. (a) Nos caps. 1–12, Isaías adverte e denuncia Judá pela sua idolatria, imoralidade e injustiças sociais durante um período de prosperidade enganadora. Entrelaçadas com a mensagem da condenação vindoura, há importantes profecias messiânicas (e.g., 2.4; 7.14; 9.6,7; 11.1-9), e o testemunho do profeta a respeito da própria purificação e de seu encargo para o ministério profético (cap. 6). (b) Nos caps. 13–23, Isaías condena as nações contemporâneas por causa de seus pecados. (c) Os caps. 24–35
contêm um amplo leque de promessas proféticas de salvação e juízo futuros. (d) Os caps. 36–39 registram a história seletiva do rei Ezequias, que forma um paralelo com 2 Rs 18.13–20.21.
(2) A segunda seção (40–66) traz algumas das profecias mais profundas da Bíblia a respeito da grandeza de Deus e da vastidão de seu plano de redenção. Estes capítulos inspiraram esperança e consolo ao povo de Deus durante os anos finais do reinado de Ezequias (38.5) e nos séculos seguintes. Estão repletos de revelações a respeito da glória e poder de Deus, e de sua promessa em restaurar um remanescente justo e frutífero em Israel e entre as nações, como plena demonstração de seu amor redentor. Tais promessas, e seu respectivo cumprimento, têm conexão especial com o
sofrimento e contém os “cânticos do servo” (ver 42.1-4; 49.1-6; 50.4-9; 52.13; 53.12). Elas avançam além da experiência dos exilados, e prevêem a vinda futura de Jesus Cristo e a sua morte expiatória (cap. 53). O profeta prediz que o Messias vindouro fará com que a justiça brilhe com fulgor, e que a salvação chegue às nações como uma tocha ardente (caps. 60—66). Condena a cegueira espiritual (42.18-25) e recomenda a oração intercessória e a labuta espiritual pelo povo de
Deus, para que todas as promessas sejam cumpridas (cf. 56.6-8; 62.1,2,6,7; 66.7-18).
Características Especiais
Oito aspectos básicos caracterizam o livro de Isaías. (1) Em sua maior parte, está escrito em forma poética, e é insuperável como jóia literária na beleza, poder e versatilidade. (2) É chamado “o profeta evangélico”, porque, dentre todos os livros do AT, suas profecias contêm as declarações mais plenas e claras sobre Jesus Cristo. (3) Sua visão da cruz (cap. 53) é a profecia mais específica e detalhada sobre a morte expiatória de Jesus. (4) É o mais teológico e extenso de todos os livros
proféticos do AT. O período de tempo ali tratado remonta à criação dos céus e da terra (e.g., 42.5), e olha para o futuro, aos novos céus e nova terra (e.g., 65.17; 66.22). (5) Contém mais revelação a respeito da natureza, majestade e santidade de Deus do que qualquer outro livro profético do AT. O Deus de Isaías é santo e todo-poderoso, aquele que julgará o pecado e a iniqüidade dos seres humanos e nações. Sua expressão predileta para Deus é “o Santo de Israel”. (6) Isaías, cujo nome significa “o Senhor salva”, é o profeta da salvação. Ele emprega a palavra “salvação” quase três vezes mais do que todos os demais livros proféticos do AT. Isaías revela que o propósito divino da salvação será somente realizado em conexão com o Messias. (7) Isaías faz freqüentes referências aos eventos redentores da história de Israel: e.g., o Êxodo (4.5,6; 11.15; 31.5; 43.16,17), a destruição de Sodoma e Gomorra (1.9) e a vitória de Gideão contra os midianitas (9.4; 10.26; 28.21). Além disso, faz alusões ao cântico profético de Moisés em Dt 32 (1.2; 30.17; 43.11,13). (8) Isaías é, juntamente com Deuteronômio e os Salmos, um dos livros do AT mais citados e aludidos no NT.
O Livro de Isaías ante o NT
Isaías profetiza a respeito de João Batista como aquele destinado a ser o precursor do Messias (40.3-5; cf. Mt 3.1-3). Seguem-se muitas de suas profecias messiânicas sobre a vida e ministério de Jesus Cristo: sua encarnação e divindade (7.14; ver Mt 1.22,23 e Lc 1.34,35; Is 9.6,7; ver Lc 1.32,33; 2.11); sua juventude (7.15,16 e 11.1; ver Lc 3.23,32 e At 13.22,23); sua missão (11.2-5; 42.1-4; 60.1-3 e 61.1; ver Lc 4.17-19,21); sua obediência (50.5; ver Hb 5.8); sua mensagem e
unção pelo Espírito (11.2; 42.1; e 61.1; ver Mt 12.15-21); seus milagres (35.5,6; ver Mt 11.2-5); seus sofrimentos (50.6; ver Mt 26.67 e 27.26,30; Is 53.4,5,11; ver At 8.28-33); sua rejeição (53.1-3; ver Lc 23.18; Jo 1.11 e 7.5); sua humilhação (52.14; ver Fp 2.7,8); sua morte expiatória (53.4-12; ver Rm 5.6); sua ascensão (52.13; ver Fp 2.9-11); e sua segunda vinda (26.20,21; ver
Jd v. 14; Is 61.2,3; ver 2 Ts 1.5-12; Is 65.17-25; ver 2 Pe 3.13).
Esboço
III. O Papel de Jeremias Como Atalaia Profético (34.1—45.5)
Ao lado esquerdo continua:
Autor: Jeremias Tema: O Juízo Divino e Inevitável de Judá Data: Cerca de 585—580 a.C.
Considerações Preliminares
O ministério profético de Jeremias foi dirigido ao Reino do Sul, Judá, durante os últimos quarenta anos de sua história (626—586 a.C.). Ele viveu para ser testemunha das invasões babilônicas de Judá, que resultaram na destruição de Jerusalém e do templo. Como o chamado de Jeremias propunha-se a que ele profetizasse à nação durante os últimos anos de seu declínio e queda, é compreensível que o livro do profeta esteja cheio de prenúncios sombrios. Jeremias, filho de sacerdote, nasceu e cresceu na aldeia sacerdotal de Anatote (mais de 6 km ao nordeste de Jerusalém) durante o reinado do ímpio rei Manassés. Jeremias começou seu ministério profético durante o décimo-terceiro ano do reinado do bom rei Josias, e apoiou seu movimento de reforma. Não demorou para perceber, no entanto, que as mudanças não estavam resultando numa verdadeira transformação de sentimentos do povo. Jeremias advertiu que, a não ser que houvesse verdadeiro arrependimento em escala nacional, a condenação e a destruição viriam de repente. Em 612 a.C., a Assíria foi conquistada por uma coalizão babilônica. Cerca de quatro anos depois da morte do rei Josias, o Egito foi derrotado por Babilônia na batalha de Carquemis (605 a.C.; ver 46.2). Naquele mesmo ano o exército babilônico de Nabucodonosor invadiu a Palestina, capturou Jerusalém e deportou alguns dos jovens mais seletos de Jerusalém para Babilônia, entre eles Daniel e seus três amigos. Uma segunda campanha contra Jerusalém ocorreu em 597 a.C., ocasião em que foram levados dez mil cativos à Babilônia, entre os quais Ezequiel. Durante todo esse tempo, as advertências proféticas de Jeremias a respeito do juízo divino iminente passaram despercebidas pela nação. A última invasão babilônica tomou Jerusalém, o templo e a totalidade do reino de Judá em 586 a.C. Este livro profético revela que Jeremias, freqüentemente chamado de “o profeta das lágrimas”, era um homem com uma mensagem severa, mas de coração sensível e quebrantado (e.g., 8.21—9.1). Seu espírito sensível tornou mais intenso o seu sofrimento, à medida que a palavra de Deus ia sendo repudiada por seus familiares e amigos, pelos sacerdotes e reis, e pela totalidade do povo de Judá. Embora fosse solitário e rejeitado durante toda a sua vida, Jeremias não deixou de ser um dos mais ousados e corajosos profetas. Apesar da grande oposição, cumpriu fielmente sua chamada profética para advertir seus concidadãos de que o juízo divino estava às portas. Resumindo a vida de Jeremias, certo escritor disse: “Nunca foi imposto sobre um homem mortal fardo mais esmagador.
Em toda a história da raça judaica, nunca houve semelhante exemplo de intensa sinceridade, sofrimento sem alívio, proclamação destemida da mensagem de Deus e intercessão incansável de um profeta em favor do seu povo como se observa no ministério de Jeremias. Mas a tragédia de sua vida foi esta: pregava a ouvidos surdos e só recebia ódio em troca do seu amor aos compatriotas” (Farley).
O autor do livro é indicado com clareza: Jeremias (1.1). Depois de profetizar durante vinte anos a Judá, Jeremias foi ordenado por Deus a deixar a sua mensagem por escrito. Assim o fez, ao ditar suas profecias a seu fiel secretário, Baruque (36.1-4). Visto que Jeremias estava proibido de comparecer diante do rei, enviou então Baruque para ler as profecias no templo. Depois disso, Jeudi as leu diante do rei Joaquim. O monarca demonstrou desprezo a Jeremias e à palavra do
Senhor ao cortar e queimar o rolo (36.22,23). Jeremias voltou a ditar suas profecias a Baruque, e dessa vez incluiu até mais do que estava no primeiro rolo.
Propósito
O livro foi escrito: (1) para fornecer um registro permanente do ministério profético de Jeremias e sua mensagem; (2) para revelar o inevitável juízo divino por ter o povo transgredido o concerto e persistido em sua rebelião contra Deus e sua palavra; e (3) para demonstrar a autenticidade e autoridade da palavra profética. Muitas das profecias de Jeremias foram cumpridas durante a própria vida do profeta (e.g., 16.9; 20.4; 25.1-14; 27.19-22; 28.15-17; 32.10-13; 34.1-5;); outras, que envolviam o futuro distante, foram cumpridas posteriormente, ou ainda estão por se cumprir (e.g., 23.5,6; 30.8,9; 31.31-34; 33.14-16).
Visão Panorâmica
O livro é essencialmente uma coletânea de profecias de Jeremias, dirigidas principalmente a Judá (2—29), mas também a nove nações estrangeiras (46—51); estas profecias focalizam principalmente o juízo, embora haja algumas que dizem respeito à restauração (ver especialmente os caps. 30—33). Essas profecias não estão dispostas numa ordem rigidamente cronológica ou temática, embora o livro de Jeremias tenha a estrutura global indicada no esboço. Parte do livro está
escrita em linguagem poética, ao passo que outras têm a forma de prosa ou narrativa. Suas mensagens proféticas estão entrelaçadas com os seguintes aspectos históricos: (1) a vida e ministério do profeta (e.g., caps. 1; 34—38; 40—45); (2) a história de Judá, principalmente durante o período dos reis: Josias (caps. 1—6), Joaquim (7—20) e Zedequias (21—25; 34), inclusive a queda de Jerusalém (cap. 39), e (3) eventos internacionais que envolviam Babilônia e outras nações (25—29; 46—52). Assim como Ezequiel, Jeremias pratica várias ações simbólicas a fim de ilustrar de modo claro a sua mensagem profética: e.g., o cinto podre (13.1-14), a seca (14.1-9), a proibição divina de não se casar ou ter filhos (16.1-9), o oleiro e o barro (18.1-11), o vaso do oleiro, que se fragmentou (19.1-13), os dois cestos de figos (24.1-10), o jugo no seu pescoço (27.1-11), a compra de um terreno na sua cidade natal (32.6-15) e as grandes pedras colocadas no pavimento de tijolos de
Faraó (43.8-13). A compreensão clara que Jeremias tinha da sua chamada profética (1.17), juntamente com as freqüentes reafirmações de Deus (e.g., 3.12; 7.2, 27,28; 11.2, 6; 13.12,13; 17.19,20), capacitaram-no a proclamar com ousadia e fé a palavra profética a Judá, apesar de esta nação sempre reagir com hostilidade, rejeição e perseguição (e.g., 15.20,21). Após a destruição de Jerusalém, Jeremias foi levado contra sua vontade ao Egito, onde continuou profetizando até a sua
morte (caps. 43; 44).
Características Especiais
Sete aspectos principais caracterizam o livro de Jeremias: (1) É o segundo maior livro da Bíblia, pois contém mais palavras (não capítulos) do que qualquer outro livro, exceto Salmos. (2) A vida e as tribulações pessoais de Jeremias como profeta são reveladas com maior profundidade e detalhes do que as de qualquer outro profeta do AT. (3) Está permeado com as tristezas, angústias e prantos do “profeta das lágrimas” por causa da rebeldia de Judá. Apesar de sua mensagem severa, Jeremias sentia tristeza e quebrantamento profundos por causa do povo de Deus. Mesmo assim, sua maior lealdade era dedicada a Deus, e sua mais profunda tristeza era a mágoa sofrida por Deus. (4) Sua palavra-chave é “rebelde” (usada treze vezes), e seu tema perpétuo é o inescápavel juízo divino em retribuição à rebeldia e apostasia. (5) Sua maior revelação teológica é o conceito do “novo concerto”, que Deus estabeleceria com seu povo fiel num tempo futuro de restauração (31.31-34). (6) Sua poesia é tão eloqüente e lírica quanto qualquer outra obra poética da Bíblia, com uso abundante de metáforas excelentes, frases vívidas e passagens memoráveis. (7) Há mais referências à nação de Babilônia nas profecias de Jeremias (16.4) do que em todo o restante da Bíblia.
O Livro de Jeremias ante o N.T.
O emprego principal do livro de Jeremias no NT diz respeito à sua profecia de um “novo concerto” (31.31-34). Embora Israel e Judá tivessem transgredido, repetidas vezes, os concertos com Deus, sendo, posteriormente, arruinados como castigo por sua rebeldia, Jeremias profetizou a respeito de um dia em que Deus faria com eles um novo concerto (31.31). O NT deixa claro que esse novo concerto foi instituído com a morte e ressurreição de Jesus Cristo (Lc 22.20; cf. Mt 26.26-29; Mc 14.22-25), está sendo cumprido agora na igreja, que é o povo de Deus segundo o novo concerto (Hb 8.8-13), e chegará ao seu clímax na grande salvação de Israel (Rm 11.27). Outras passagens messiânicas de Jeremias aplicadas a Jesus Cristo no NT são: (1) o Messias como o Bom Pastor e o Justo Renovo de Davi (Jr 23.1-8; ver Mt 21.8,9; Jo 10.1-18; 1 Co 1.30; 2 Co 5.21); (2) o choro amargo em Ramá (Jr 31.15), cumprido na época em que Herodes procurou matar o menino Jesus (ver Mt 2.17,18), e (3) o zelo messiânico pela pureza da casa de Deus (Jr 7.11), demonstrado por
Jesus quando purificou o templo (ver Mt 21.13; Mc 11.17; Lc 19.4).
III. LAMENTAÇÕES DE JEREMIAS
Esboço
III. A Aflição e a Esperança do Povo de Deus (3.1-66)
Autor: Jeremias Tema: Tristeza Presente e Esperança Futura Data: 586-585 a.C.
Considerações Preliminares
O título deste livro deriva-se do subtítulo das versões grega e latina do AT — “As Lamentações de Jeremias”. O AT hebraico o inclui como um dos cinco rolos (juntamente com Rute, Ester, Eclesiastes e Cantares) da terceira parte da Bíblia hebraica os hagiógrafos (“Escritos Sagrados”). Cada um desses cinco livros era tradicionalmente lido num evento determinado do ano litúrgico judaico. Este, se lia no nono dia do mês de ab (cerca de meados de julho), quando, então, os judeus relembravam a destruição de Jerusalém. A Septuaginta colocou Lamentações imediatamente após o profeta Jeremias, onde aparece na maioria das Bíblias de hoje. Quanto a Jeremias ser autor de Lamentações, tem sido há muito tempo o consenso entre as tradições judaica e cristã. Entre as evidências que respaldam esta conclusão estão as seguintes. (1) Por 2 Cr 35.25, sabe-se que Jeremias compunha lamentações. Além disso, o livro profético de Jeremias contém referências freqüentes ao seu pranto por causa da devastação iminente de Jerusalém (ver Jr 7.29; 8.21; 9.1, 10, 20). (2) A vívida descrição em Lamentações daquele evento catastrófico sugere um relato de testemunha ocular; Jeremias é o único escritor conhecido do AT que testemunhou em primeira mão a tragédia de Jerusalém em 586 a.C. (3) Há vários paralelos temáticos e lingüísticos entre o livro de Jeremias e Lamentações. Por exemplo: os dois livros atribuem o sofrimento de Judá e a destruição de Jerusalém à sua persistência no pecado e à rebelião contra Deus. Nos dois livros, Jeremias chama o povo de Deus de “filha virgem” (Jr 14.17; 18.13; Lm 1.15; 2.13). Estes fatos, juntamente com as semelhanças entre os dois livros, quanto ao seu estilo poético, indicam o mesmo autor humano. A desolação de Jerusalém é retratada em Lamentações de modo tão vívido e claro que indica ter sido experimentada pelo autor como um evento recente. Jeremias tinha entre cinqüenta e sessenta anos quando a cidade caiu; ele sentiu profundamente esse trauma e se viu forçado a ir ao Egito contra a sua vontade em 585 a.C. (ver Jr 41—44), onde morreu (talvez martirizado) na década seguinte. Assim, o mais provavel é que o livro foi escrito imediatamente após a destruição de Jerusalém (586-585 a.C.).
Propósito
Jeremias escreveu uma série de cinco lamentações a fim de expressar sua intensa tristeza e dor emocional por causa da trágica devastação de Jerusalém, que compreende: (1) a queda humilhante da monarquia e do reino davídicos; (2) a destruição total dos muros da cidade, do templo, do palácio real e da cidade em geral; e (3) a lamentável deportação da maioria dos sobreviventes para a distante Babilônia. “Jeremias ficou sentado chorando, e lamentou sobre Jerusalém com esta lamentação”, diz um subtítulo do livro na Septuaginta e na Vulgata Latina. No livro, a mágoa do profeta jorra como a de um enlutado no sepultamento de um amigo íntimo que teve morte trágica. As lamentações reconhecem que a tragédia era o juízo divino contra Judá pelos longos séculos de rebeldia contra Deus. Chegara o dia da prestação de contas, e foi muito terrível. Em Lamentações, Jeremias não somente reconheceu que Deus é reto e justo em todos os seus caminhos, como também que é misericordioso e compassivo com todos os que nEle esperam (3.22,23, 32). Assim sendo, Lamentações levou o povo a ter esperança em meio ao desespero, e a olhar para além do juízo daquele momento, para o tempo futuro em que Deus restauraria o seu povo.
Visão Panorâmica
Cada uma das cinco lamentações é completa em si mesma. A primeira (cap. 1) descreve a devastação de Jerusalém e o lamento do profeta sobre ela, ao clamar a Deus com alma angustiada. Às vezes a sua lamentação é personificada, como se fosse a da própria Jerusalém (1.12-22). Na segunda lamentação (cap. 2), Jeremias descreve a causa dessa devastação como resultado da ira de Deus contra um povo rebelde que se recusou a arrepender-se. O inimigo de Judá foi o instrumento
do juízo de Deus. O poema seguinte (cap. 3) exorta a nação a lembrar-se que Deus realmente é misericordioso e fiel e que Ele é bom para aqueles que nEle esperam. O quarto poema (cap. 4) reitera os temas dos três anteriores. No poema final (cap. 5), após a confissão do pecado e da necessidade de misericórdia de Judá, Jeremias pede que Deus restaure seu povo ao favor divino. As cinco lamentações do livro, que correspondem aos cinco capítulos, têm vinte e dois versículos cada (exceto o cap. 3, que tem vinte e dois multiplicados por três: ou seja, sessenta e seis versículos); vinte e dois é a quantidade de letras do alfabeto hebraico. Os quatro primeiros poemas são acrósticos alfabéticos, i.e., cada versículo (ou no cap. 3, cada conjunto de três versículos) começa com uma letra diferente do alfabeto hebraico, de modo sucessivo, de Álefe a Tau. Essa estrutura alfabética, além de ser uma ajuda para a memória, realiza duas coisas. (1) Transmite a idéia que as lamentações são completas e abrangem tudo, desde A até Z (Álefe a Tau). (2) Pressupõe que o profeta se proíbe de continuar com prantos e gemidos intermináveis. Os lamentos chegam ao fim, assim como algum dia o chegaria para o exílio e a reedificação de Jerusalém.
Características Especiais
Cinco aspectos principais caracterizam o livro de Lamentações. (1) Embora cânticos de lamento individual ou comunitário ocorram nos Salmos e livros proféticos, somente este livro da Bíblia está composto exclusivamente de poemas cheios de pesar. (2) Sua estrutura literária é inteiramente poética, sendo que quatro das cinco lamentações são acrósticas (ver o parágrafo final da “Visão Panorâmica”). Em consonância com a estrutura poética do livro, o quinto poema tem também vinte e dois versículos. (3) Enquanto 2 Rs 25 e Jr 52 descrevem o evento histórico da destruição de Jerusalém, somente este livro retrata vividamente as emoções e sentimentos daqueles que realmente experimentaram a catástrofe. (4) No centro do livro há uma das mais enérgicas declarações em toda Bíblia quanto a fidelidade e a salvação de Deus (3.21-26). Embora Lamentações comece com um lamento (1.1,2), termina, de modo apropriado, com uma nota de arrependimento e esperança de restauração (5.16-22). (5) Não há citações deste livro no NT; somente umas poucas possíveis alusões (cf. Lm 1.15 com Ap 14.19; Lm 2.1 com Mt 5.35; Lm 3.30 com Mt 5.39; Lm 3.45 com 1 Co 4.13).
O Livro de Lamentações ante o NT
Embora Lamentações não seja citado em nenhum lugar do NT, tem realmente muita relevância para aqueles que crêem em Cristo. Assim como Rm 1.18—3.20, esses cinco capítulos exortam os crentes a refletir sobre a gravidade do pecado e a certeza do juízo divino. Ao mesmo tempo, fazem lembrar que, por causa da compaixão e misericórdia do Senhor, a salvação está à disposição daqueles que se arrependem dos seus pecados e se voltam a Ele. Além disso, as lágrimas do
profeta relembram as lágrimas de Jesus Cristo, que chorou por causa dos pecados de Jerusalém ao prever a destruição da cidade pelas mãos dos romanos (Mt 23.37,38; Lc 13.34,35; 19.41-44).
Esboço
III. A Mensagem Profética de Juízo para as Nações Estrangeiras (25.1—32.32)
Autor: Ezequiel Tema: O Juízo e a Glória de Deus Data: 590-570 a.C.
Considerações Preliminares
O contexto histórico do livro de Ezequiel é a Babilônia durante os primeiros anos do exílio babilônico (593-571 a.C.). Nabucodonosor levou cativos os judeus de Jerusalém para a Babilônia em três etapas: (1) em 605 a.C., jovens judeus escolhidos foram deportados para Babilônia, entre eles Daniel e seus três amigos; (2) em 597 a.C., 10.000 cativos foram levados à Babilônia, estando Ezequiel entre eles; e (3) em 586 a.C. as forças de Nabucodonosor destruíram totalmente a cidade e o templo, e a maioria dos sobreviventes foi transportada à Babilônia. O ministério profético de Ezequiel ocorreu durante a hora mais tenebrosa da história do AT: os sete anos que precederam a destruição, em 586 a.C. (593-586 a.C.), e os quinze anos seguintes (586-571 a.C.). O livro provavelmente completou-se cerca de 570 a.C.Ezequiel, cujo nome significa “Deus fortalece”, era de família sacerdotal (1.3) e passou os vinte e cinco primeiros anos da sua vida em Jerusalém. Estava se preparando para o trabalho sacerdotal do templo quando foi levado prisioneiro à Babilônia em 597 a.C. Uns cinco anos mais tarde, aos trinta anos (1.2,3), Ezequiel recebeu sua chamada profética da parte de Deus, e a partir daí ministrou fielmente durante vinte e dois anos, pelo menos (29.17). Ezequiel tinha uns dezessete anos quando Daniel foi deportado e, portanto, os dois eram praticamente da mesma idade. Ezequiel e Daniel foram contemporâneos de Jeremias, porém mais jovens que ele e, provavelmente, foram por ele influenciados, por ser profeta mais velho em Jerusalém (cf. Dn 9.2). Quando Ezequiel chegou à Babilônia, Daniel já era bem conhecido como homem de elevada sabedoria profética; Ezequiel refere-se a ele três vezes no seu livro (14.14,20; 28.3). Ao contrário de Daniel, Ezequiel era casado (24.15-18), e vivia como um cidadão comum entre os exilados judeus, junto ao rio Quebar (1.1; 3.15,24; cf.Sl 137.1).O livro claramente atribui suas profecias a Ezequiel (1.3; 24.24). O uso do pronome pessoal “eu” através do livro, juntamente com a harmonia estilística e a linguagem, indicam a autoria exclusiva de Ezequiel. As profecias de Ezequiel têm datas exatas por causa de sua organização em datá-las (cf. 1.1,2; 8.1; 20.1; 24.1; 26.1; 29.1,17; 30.20; 31.1; 32.1,17; 33.21; 40.1). Seu ministério começou em julho de 593 a.C. e continuou, pelo menos, até a última profecia registrada em abril de 571 a.C.
Propósito
O propósito das profecias de Ezequiel foi duplo: (1) entregar a mensagem divina do juízo ao povo apóstata de Judá e Jerusalém (1—24) e às sete nações estrangeiras ao seu redor (25—32); e (2) conservar a fé do remanescente fiel a Deus no exílio, concernente à restauração de seu povo segundo o concerto e à glória final do reino de Deus (33—48). O profeta também ressaltava a responsabilidade pessoal de cada indivíduo diante de Deus, ao invés de somente culpar os antepassados e seus pecados como a causa do exílio como julgamento (18.1-32; 33.10-20)
Visão Panorâmica
O livro de Ezequiel está bem organizado, e seus quarenta e oito capítulos dividem-se naturalmente em quatro seções principais: (1) A seção introdutória (1—3) descreve a poderosa visão que Ezequiel teve da glória e do trono de Deus (cap. 1) e o encargo divino que o profeta recebeu para seu ministério profético (2; 3).(2) A segunda seção (4—24) contém a mensagem contundente de Ezequiel sobre o juízo vindouro e inevitável de Judá e Jerusalém, devido a sua obstinada rebeldia e apostasia. Durante os últimos sete anos de Jerusalém (593-586 a.C.), Ezequiel advertiu os judeus de Jerusalém e os cativos em Babilônia, que não deviam alimentar a falsa esperança de que Jerusalém sobreviveria ao julgamento. Os pecados passados e presentes de Jerusalém provocavam a sua segura ruína. Ezequiel trombeteia sua mensagem profética de juízo através de várias visões, parábolas e atos simbólicos. Os capítulos 8—11 descrevem como Deus levou Ezequiel a Jerusalém numa visão para profetizar contra a cidade. No capítulo 24, a morte da querida esposa do profeta serviu de parábola e sinal da destruição de Jerusalém. (3) A terceira seção (25—32) contém profecias de juízo contra sete nações estrangeiras que se alegravam da calamidade de Judá. Na profecia sobremaneira longa contra Tiro, aparece uma descrição mascarada de Satanás (28.11-19) como o verdadeiro agente por trás do rei de Tiro.(4) A seção final do livro (33—48) assinala uma transição na mensagem do profeta, que mudou do terrível juízo para o consolo e a esperança futuros (cf. Is 40—66). Depois da queda de Jerusalém, Ezequiel profetiza a respeito do avivamento e restauração futuros, quando, então, Deus será o verdadeiro pastor do seu povo (cap. 34) e dará aos seus um “novo coração” e um “novo espírito” (cap. 36). Neste contexto surge a famosa visão de Ezequiel, de um exército de ossos secos que ressuscitam mediante a mensagem profética (cap. 37). O livro termina com a descrição da restauração escatológica do templo santo, da cidade santa de Jerusalém, e da terra santa de Israel (40—48).
Características Especiais
Sete características principais assinalam o livro de Ezequiel. (1) Contém um grande número de visões surpreendentes, de parábolas arrojadas e de ações simbólicas e excêntricas, como um meio de expressão da revelação profética de Deus. (2) Seu conteúdo é organizado e datado com cuidado: registra mais datas do que qualquer outro livro profético do AT. (3) Duas frases características ocorrem do começo ao fim do livro: (a) “então saberão que eu sou o SENHOR” (sessenta e cinco ocorrências com suas variantes); e (b) “a glória do SENHOR” (dezenove ocorrências com suas variantes). (4) Ezequiel recebe de Deus, de modo peculiar, os nomes de “filho do homem” e “atalaia”. (5) Este livro registra duas grandiosas visões do templo: uma delas mostra-o profanado e à beira da destruição (8—11), e a outra, purificado e perfeitamente restaurado (40—48). (6) Mais do que qualquer outro profeta, Ezequiel recebeu ordens de Deus para identificar-se pessoalmente com a palavra profética, expressando-a através do simbolismo profético. (7) Ezequiel salienta a responsabilidade pessoal do indivíduo e sua responsabilidade diante de Deus.
O Livro de Ezequiel ante do NT
A mensagem dos capítulos 33—48 concerne, em síntese, à futura obra redentora de Deus conforme revela no NT. Fala não somente da restauração física de Israel à sua terra, como também da sua restauração final futura, i.e., sua plena realização reservada por Deus, como o Israel espiritual, junto às nações como resultado de missões. Profecias importantes em Ezequiel a respeito do Messias do NT: 17.22-24; 21.26,27; 34.23,24; 36.16-38 e 37.1-28.
Esboço
III. As Visões de Daniel sobre Israel (8.1—12.13)
(11.5-35), e do Futuro Anticristo (11.36-45)
Autor: Daniel Tema: A Soberania de Deus na História Data: Cerca de 536—530 a.C.
Considerações Preliminares
Daniel, cujo nome significa “Deus é meu juiz”, é tanto o personagem principal como o autor do livro que leva o seu nome. A autoria de Daniel não somente é declarada explicitamente em 12.4 como também é subentendida pelas numerosas referências autobiográficas nos caps. 7—12. Jesus atribui o livro ao “profeta Daniel” (Mt 24.15), quando cita Dn 9.27. O livro relata eventos a partir da primeira invasão de Jerusalém por Nabucodonosor (605 a.C.) até ao terceiro ano de Ciro (536 a.C.) (10.1). O contexto histórico do livro está vinculado a Babilônia, durante o cativeiro babilônico de Judá de setenta anos de duração profetizado por Jeremias (cf. Jr 25.11). Daniel era certamente adolescente por ocasião dos eventos do cap. 1, e octagenário, quando teve as visões dos caps. 9—12. Supõe-se que ele viveu até cerca de 530 a.C., quando
teria concluído o livro na última década de sua vida (cf. João e o livro de Apocalipse). Os críticos modernos que consideram o livro de Daniel como espúrio, e do século II a.C.,orientam-se pelo seu próprio raciocínio filosófico desvirtuado, e não pelos fatos reais.Quase toda informação que se tem do profeta Daniel procede deste livro (cf. Ez 14.14,20). Possivelmente Daniel era descendente do rei Ezequias (cf. 2 Rs 20.17,18; Is 39.6,7). Ele era de família culta, da classe alta de Jerusalém (1.3-6), porquanto Nabucodonosor não escolheria jovens estrangeiros de classe inferior para sua corte real (1.4,17). O êxito de Daniel em Babilônia atribui-se à sua integridade de caráter, aos seus dons proféticos e às intervenções de Deus que resultaram no seu acesso rápido a posições de destaque e de responsabilidade na corte (2.46-49; 6.1-3) Cronologicamente, Daniel é um dos últimos profetas do AT. Somente Ageu, Zacarias e Malaquias vêm depois dele na seqüência do ministério profético do AT. Foi contemporâneo de Jeremias, porém, mais jovem que este. Tinha provavelmente a mesma idade de Ezequiel.
Propósito
Há duplo propósito no livro de Daniel: (1) dar ao povo do concerto do AT a certeza de que o juízo de seu cativeiro entre as nações gentias não seria permanente; e (2) legar ao povo de Deus, no decurso da sua história, as visões proféticas da soberania de Deus sobre as nações, e do triunfo final do seu reino na terra. Este duplo propósito é demonstrado no decorrer do livro, nas vidas de Daniel e dos seus três amigos, e na mensagem e ministério proféticos de Daniel. O livro afirma que as promessas de Deus, de preservar e restaurar o seu povo, são tão firmes como o reino messiânico vindouro que durará para sempre.
Visão Panorâmica
O conteúdo de Daniel é uma associação de autobiografia, história e profecia. Sua forma literária é apocalíptica, significando que sua mensagem profética é a revelação de Deus: (1) através de visões, sonhos e simbolismo; (2) visando encorajar o povo de Deus durante um período crítico da história; e (3) para uma concepção da esperança de Israel no tocante ao triunfo final do reino de Deus e da sua justiça na terra (ver a introdução ao livro de Apocalipse). O livro divide-se, naturalmente, em três partes. (1) O cap. 1 é escrito em hebraico, e abarca o contexto histórico do livro. (2) Os caps. 2—7, a partir de 2.4, foram escritos em aramaico, e descrevem a elevação e queda de quatro poderosos reinos mundiais sucessivos, seguindo-se o estabelecimento do reino de Deus como reino eterno (principalmente caps. 2 e 7). Esses capítulos destacam a soberania de Deus sobre os assuntos dos seres humanos e das nações, e sua intervenção neles ao descreverem: (a) a ascensão de Daniel a uma posição de destaque na corte de Nabucodonosor (cap. 2); (b) o Filho de Deus na fornalha de fogo com os três amigos de Daniel (cap. 3); (c) a loucura temporária de Nabucodonosor como castigo divino (cap. 4); (d) o desempenho de Daniel no banquete de Belsazar, declarando o fim do reino babilônico (cap. 5); (e)
o livramento milagroso de Daniel na cova dos leões (cap. 6) e (f) a visão dos quatro reinos mundiais sucessivos julgados pelo “Ancião de dias” (cap. 7). (3) Nos caps. 8—12, Daniel volta a escrever em hebraico, e expõe revelações surpreendentes e visitações angelicais da parte de Deus a respeito (a) do povo judeu sob o futuro domínio gentio (caps. 8—11); (b) do período de setenta “semanas” proféticas como tempo determinado por Deus para a cumprimento da missão do Messias a favor de Israel (cap. 9); e (c) do livramento final de Israel de todas as tribulações no fim dos tempos (cap.
12). As mensagens proféticas de Daniel abrangem duas dimensões: (1) o futuro próximo e (2) o futuro distante, se bem que ambas as dimensões freqüentemente se mesclam. Por exemplo: nos capítulos 8 e 11, Daniel profetiza acerca do tipo do futuro Anticristo, a saber, Antioco IV Epifânio, que profanou o templo em Jerusalém, em 160 a.C., e ao mesmo tempo profetizou a respeito do Anticristo dos fins dos tempos (8.23-26; 11.36-45; cf. Ap 13.1-10). Esta interação entre esses dois
tipos de futuro caracteriza a profecia bíblica de modo geral, e Daniel, em particular. Deus revela a Daniel que a profecia para o futuro remoto é uma mensagem oculta até o “tempo do fim” (12.4,9). Nesse tempo, o povo de Deus o buscará com discernimento, com pureza e sabedoria para obter compreensão assim como o fez Daniel (12.3,10).
Características Especiais
Oito característcas principais assinalam o livro de Daniel. (1) É o mais breve dos quatro profetas maiores, e o mais lido e estudado de todos os profetas do AT. (2) Nos trechos proféticos do NT, Daniel é mais freqüentemente citado ou aludido do que qualquer outro livro do AT. (3) É o “apocalipse” do AT e, como o de Apocalipse do NT, revela grandes temas proféticos de vital importância para a igreja do tempo do fim. (4) Contém o resumo profético mais detalhado de toda a
história final do AT. É a única profecia do AT que estabelece a data do primeiro advento de Cristo (9.24-27). (5) Revela mais a respeito do seu autor humano do que qualquer outro escrito profético do AT (com a possível exceção de Jeremias). Note-se que Daniel era um homem assinalado por grande integridade de caráter, sabedoria profética e esforçado na oração e no jejum. (6) Contém o melhor exemplo de intercessão pela restauração do povo de Deus baseada nas inspiradas promessas da Palavra de Deus (ver cap. 9, baseado em Jr 25.11-16; 29.7,10-14). (7) As histórias de Daniel e dos seus amigos estão entre as mais queridas na Bíblia (especialmente caps. 3 e 6). (8) O episódio da “escritura na parede” durante o banquete de Belsazar é muitíssimo conhecido por toda parte.
O Livro de Daniel ante o NT
A influência de Daniel no NT vai muito além das cinco ou seis vezes que o livro é citado diretamente. Muito da história e da profecia de Daniel reaparece nos trechos proféticos dos Evangelhos, das Epístolas e do Apocalipse. A profecia de Daniel a respeito do Messias vindouro contém uma descrição dEle como (1) a “grande pedra” que esmagaria os reinos do mundo (2.34,35,45); (2) o Filho do homem, a quem o Ancião de dias daria o domínio, a glória e o reino (7.13,14); e (3) “o Messias, o Príncipe” que viria e seria tirado (9.25,26). Alguns intérpretes crêem que a visão de Daniel, em 10.5-9, trata-se de uma aparição do Cristo pré-encarnado (cf. Ap 1.12-16). Daniel contém numerosos temas proféticos plenamente desenvolvidos no NT: e.g., a grande tribulação e o anticristo, a segunda vinda de nosso Senhor, o triunfo do reino de Deus, a ressurreição dos justos e dos ímpios e o Juízo Final. As vidas de Daniel e dos seus três amigos evidenciam o ensino neotestamentário da separação pessoal do pecado e do mundo, i.e., viver no mundo incrédulo sem, porém, participar do seu espírito e dos seus modos (1.8; 3.12; 6.18; cf. Jo 7.6,15,16,18; 2 Co 6.14—7.1).
CONCLUSÃO
Os profetas eram porta-vozes de Deus para ensinar o povo e anunciar as coisas futuras. Os sacerdotes apresentavam o povo a Deus; e os profetas, Deus ao povo.Nenhum povo da Terra experimentou o privilégio de ser instruído pelo Todo-Poderoso por meio dos profetas, a não ser Israel. Este, um povo privilegiado. Porém, privilégio implica responsabilidade, e nisso Israel falhou e sofreu as conseqüências.
Escatológica
Relativo à Escatologia, estudo sistemático e lógico das doutrinas concernentes às últimas coisas: estado intermediário, arrebatamento da Igreja, Grande Tribulação, Milênio, Julgamento Final e o estado perfeito eterno.
Quatro impérios
O leão, o urso, o leopardo e o quarto animal que simbolizam ou revelam os impérios neobabilônico, medo-persa, grego e romano, respectivamente.
fonte pazdosenhor.org /mauricioberwald.comunidades.net