III. OS DONS DIVINOS
I PALAVRAS ENVOLVIDAS.
A tradução dom envolve um grande número de palavras hebraicas e gregas:
6: Dldomi, «dar», que aparece por quatrocentas e treze vezes no Novo Testamento, em todas as conexões imagináveis, algumas vezes com a ideia de dar.um presente qualquer e outras vezes, sem esse sentido. Ver Mat. 4:9; 5:31; Mar. 2:26; Luc. 1:32: João 1:12; Rom. 4:20: I Cor. 1:4; Efé. 1:17: Heb. 2:13: Tia. 1:5; I João 3:23,24; Apo. 1:1; 2:7,10,17; 8:2; 9:1, etc.
Além disso, enfoca o dom da graça de Deus, que nos traz a salvação (Rom, 5-:15,16). Essa palavra é usada por dezessete vezes no Novo Testamento, com certa variedade de aplicações. Ver também Rom, 1:11; 6:23; 11:29; 12:6; I Cor. 1:7; 7:7; II Cor. 1:11: I Tim. 4:14; 11 Tim. 1:6; I Ped. 4:10. Essa palavra é usada principalmente para indicar alguma espécie de dom espiritual ou divino.
II ATIVIDADE E ATITUDE DE QUEM DÁ.
Nas antigas sociedades neoliticas e da era do bronze, conforme somos informados através das evidências arqueológicas, a outorga de presentes era uma prática comum. As razões para a doação de presentes eram variadas e isso é refletido nas palavras hebraicas examinadas acima. Membros de uma família se presenteavam mutuamente como sinal de estima e amor. Esses presentes eram conferidos em ocasiões especiais, como por ocasião dos noivados, dos casamentos, de nascimentos e de morte. Também havia presentes dados a superiores, com a finalidade de agradar e esses presentes, algumas vezes, assumiam a natureza de suborno ou peita, quando algum favor especial era buscado, ou quando se esperava evitar que algum castigo fosse aplicado. A adoração religiosa requeria doações da parte dos participantes, a fim de que pudesse ser mantido o culto.
CHAMPLIN, Russell Norman, Enciclopédia de Bíblia Teologia e Filosofia. Vol. 2. Editora Hagnos. pag. 211-212.
No Novo Testamento, escrito em grego, a palavra “dom” assume de igual modo significados diversos. O termo “doma” indica a oferta de um “presente”, “boa coisa” (Mt 7.11); o “pão nosso” é uma dádiva de Deus (Lc 11.13); “dons”, concedidos por Deus aos homens (Ef 4.8), com base no Salmo 68.19. A palavra cháris indica “dom gratuito”, ou “graça” (2 Co 8.4). O termo charisma é muito utilizado em estudos bíblicos, pois tem o significado de “dons do Espírito”, concedidos pela graça de Deus, com propósitos muito elevados; é relacionado ao termo ta charismata, utilizado em 1 Coríntios 12.4,9,28,30,31, que tem o sentido de “dons da graça”. Há o termo grego ta pneumática, usado por Paulo, em 1 Coríntios 12.1; 14.1, que se refere a “dons espirituais”. Em o Novo Testamento, os dons de Deus estão à disposição de todos os que creem, com a finalidade de promover graça, poder e unção à Igreja no exercício de sua missão, de forma que Cristo seja glorificado.
Elinaldo Renovato. Dons espirituais & Ministeriais Servindo a Deus e aos homens com poder extraordinário. Editora CPAD. pag. 12.
Fil 4. 15.Paulo aparentemente está lembrando seus amigos filipenses de que eles ocupavam um lugar único em suas atividades missionárias: nenhuma igreja se associou (gr. ekoinõnèsen), isto é, na obra do evangelho, comigo (Seesemann, op. cit., p. 33) no tocante a dar e receber, senão unicamente vós outros.
Fica clara a intenção de Paulo de selecionar a igreja filipense como sendo a comunidade que ocupava lugar especial em seu afeto e estima. Ele estava pronto para receber donativos (não necessariamente em dinheiro: possivelmente outros itens estariam incluídos). Contudo, a menos que a frase dar e receber seja uma expressão idiomática, não se devendo conferir-lhe um sentido estrito, parece que havia uma transação mútua, de duas mãos, entre igreja e apóstolo. Os filipenses deram e eles também receberam, presumivelmente bens espirituais, da parte de Paulo (como em 1 Co 9:11; cf. Rm 15:27). Eles haviam sustentado Paulo em seus labores apostólicos, desde o começo. Até mesmo antes de ele deixar a Macedonia, os filipenses estavam envolvidos em seu duplo ministério. De 2 Coríntios 11:8; 12:13 se vê que outras igrejas enviaram ajuda ao apóstolo, não sendo, pois, o sustento material dos filipenses a Paulo, que os colocou numa situação privilegiada. O que marcou o relacionamento de Paulo com os filipenses foi que eles deram e receberam e, além disso, podemos presumir, não levantaram objeções como as que Paulo encontrou em Corinto, em razão das quais ele determinou que não receberia pagamento pelo seu ministério ali.
LOPES. Hernandes Dias. Filipenses. Editora Hagnos. pag. 180-181.
Fp 4.15 - Dar e receber. Paulo considerava a relação entre ele e os filipenses como uma via de mão dupla, com ambas as partes ativamente envolvidas no sentido de partilhar tanto dádivas materiais como espirituais.
EarI D. Radmacher: Ronald B. Allen: H. Wayne House. O Novo Comentário Bíblico Novo Testamento com recursos adicionais. Editora Central Gospel. pag. 536.
Rm 12. 6. Tendo, porem, diferentes dons segundo a graça que nos foi dada- Os dons são vários; a graça é um só (Se profecia Ela, considerada um dom extraordinário, é o dom pelo qual os mistérios celestiais são declarados aos homens ou coisas do porvir são preditas. Mas aqui parece significar o dom comum de expor as Escrituras. Profetizamos segundo a analogia da fé. Pedro o expressa assim: de acordo com os oráculos de Deus'';(1Pe 4.11) segundo o teor geral deles; de acordo com o grande sistema de doutrina que é apresentado neles, no tocante ao pecado original, justificação pela fé e presente, intima salvação. Há uma maravilhosa analogia entre todos eles; e uma vez por todas foi entregue aos Santos.''(Judas3)Cada artigo (de doutrinal), portanto, no tocante a qualquer questão, deve ser decidido segundo esta regra; toda a escritura em dúvida (deve ser interpretada de acordo com as grandes verdades que perpassem o todo.
Rm 12. 7. Se ministério - Como diáconos. Se ensino Catecúmenos; para os quais Instrutores particulares eram nomeados. Se exortação- Cuja responsabilidade particular era incentivar os cristãos ao serviço e ao conforta-los nas suas tribulações.
Rm 12. 8. O que preside- Aquele que cuida do rebanho. Quem exerce misericórdia De todas as maneiras. Com alegria- Regozijando-se quem tem tal oportunidade.
Wesley, John. Romanos: notas explicativas. Editora Cedro. pag. 89-90.
Portanto, o apóstolo prossegue: De modo que, tendo diferentes dons, segundo a graça que nos é dada (cf. v. 3): se é profecia, seja ela segundo a medida da fé (6). A palavra dons (charismata) apareceu diversas vezes, com diferentes significados (1.11; 5.15; 6.23; 11.29); “Aqui ela significa uma atualização, uma expressão prática, da graça Ccharis) de Deus, sob a qual a igreja permanece. Neste sentido toda a vida da igreja, e não apenas o seu ministério, é ‘carismática’ ”!6 Profecia é o dom do discurso inspirado; algumas vezes, mas não todas, incluía o poder da predição (At 11.27-28; 21.10-11). O significado de fé (tes pisteos) aqui é o mesmo do versículo 3 (veja os comentários sobre aquele versículo). Medida (analogian) tem provavelmente o mesmo significado do versículo 3. A expressão grega tes pisteos pode ser traduzida como “a fé” no sentido da “fé Cristã”, mas isto não parece ser o que Paulo quer dizer. Como outros cristãos, o profeta precisa ter temperança a respeito da sua atividade e importância.
Paulo prossegue: se é ministério (diakonian), seja em ministrar (7). Diakonia significa simplesmente “serviço” (NASB, RSV) e era usada de maneira geral para todo o serviço cristão (11.13; 1 Co 12.5; Ef 4.12), ou especificamente para o ministério das necessidades temporais e do corpo (1 Co 16.15; 2 Co 8.4; cf. o que reparte, o que exercita misericórdia, v. 8). Já estava a caminho de tornar-se um termo técnico (cf. diácono em 16.1; Fp 1.1; 1 Tm 3.8; cf. At 6.1-4).
Os versículos 7-8 acrescentam: Se é ensinar, haja dedicação ao ensino; ou o que exorta, use esse dom em exortar. Colocada ao lado de ensinar, a palavra exortar sugere pregação. Sobre o significado de exortação (dom de exortar), veja os comentários sobre o versículo 1. No entanto, Barrett nos lembra que precisamos evitar fazer uma distinção muito precisa entre ensinar e exortar. “Cada um destes termos significa uma comunicação da verdade do evangelho ao ouvinte, efetivada de diversas maneiras: em uma delas, é explicada - em outra, é aplicada. Contudo, esta comunicação nunca deve ser explicada sem ser aplicada, nem aplicada sem ser explicada”.
O que reparte, faça-o com liberalidade (8; en aploteti, NASB, RSV; “com todo o seu coração”, NEB). Esta é a generosidade liberal e sincera que vem da compaixão e da sinceridade de propósito (cf. Mt 6.1-4). O que preside (ho proistamenos), com cuidado Gen spoude, “com zelo”, RSV). Esta pode ser uma exortação aos pais cristãos para que presidam os seus lares com diligência (1 Tm 3.4). Também pode ser dirigida àqueles que presidem as igrejas (1 Ts 5.12; 1 Tm 5.17). Não há qualquer indicação no Novo Testamento de que o “presidente” presidia um culto cristão de pregação e ensino (como o presidente de uma sinagoga judaica), na Ceia do Senhor, ou em uma reunião da igreja convocada com objetivos de deliberação ou disciplina. Também não está claro se este trabalho ou função era exercido conjunta ou alternadamente com outras pessoas. Entretanto, era um charisma do Espírito tanto quanto a profecia ou os ensinos.
O que exercita misericórdia, com alegria sugere que quando um homem pratica a caridade, deve fazê-lo com um coração alegre. “Para um cristão, a caridade é uma alegria e não uma obrigação”.
Baseando-se em 12.6-8, Maclaren faz um comentário sobre “Graça e Graças”. 1) A graça que dá os dons, 6a; 2) As graças que vêm da graça, 6ò-8; 3) O exercício das graças, 60-8.
Donald S. Metz. Comentário Bíblico Beacon. Editora CPAD. Vol. 8. pag. 163-164.
Rm 12.6 — Dons. A palavra grega (chárisma) é uma regência às habilidades determinadas por Deus, as quais deveriam ser utilizadas para edificar os membros do corpo de Cristo. Embora os dons de Deus não possam ser cancelados ou mudados (Rm 11.29), eles podem ser administrados e podem ser desenvolvidos (1 Pe 4-10).
Profecia. Esta palavra é usada aqui como uma referência geral a todos os dons espirituais que envolvem o anúncio da Palavra de Deus. Por exemplo, em 1 Co 14-3, o termo exortação é um dom relacionado à profecia. Em um sentido mais estrito, profecia significa a revelação da vontade de Deus em uma situação particular (At 13.1-3).
Rm 12.7,8 — Ministério. Ou seja, serviço. Esse é um dom que está em contraste com os dons relacionados ao falar, ou anunciar, algo (1 Pe 4.11). A Bíblia lista cinco dons relacionados com a pregação: profecia, ensino, encorajamento, palavra de sabedoria e palavra de conhecimento. Além disso, são nomeados sete dons de serviço: socorro, misericórdia, fé, discernimento de espíritos, liderança, administração e mordomia.
EarI D. Radmacher: Ronald B. Allen: H. Wayne House. O Novo Comentário Bíblico Novo Testamento com recursos adicionais. Editora Central Gospel. pag. 394.
II OS DONS ESPIRITUAIS E MINISTERIAIS.
A Igreja, como “Corpo de Cristo”, precisa de poder, de unção e de manifestações espirituais, que se expressam genuinamente através dos dons espirituais. Esses dons são indispensáveis à unidade e à ação da Igreja, por diversas razões.
1) Na espera pela vinda de Jesus. Em toda a sua história, desde sua fundação por Jesus Cristo, a Igreja tem sido a instituição mais atacada pelas forças do mal. Ela nasceu debaixo da perseguição. Impérios humanos tentaram destruí-la, apagando seu nome da face da terra. Filosofias humanistas e materialistas tentaram sufocá-la, abafando sua mensagem; sistemas políticos totalitários e ateístas, a serviço do Diabo, tentaram eliminar sua influência no mundo.
Os ataques contra a integridade espiritual da Igreja continuam, ao longo dos séculos. Como Noiva do Cordeiro, Ela precisa de poder para vencer às mais diferentes investidas malignas, na longa espera pelo Noivo. Ainda que, no século XXI, haja, no meio das igrejas locais, recursos que os primeiros cristãos não possuíam, em termos teológicos, educacionais ou tecnológicos, o único recurso que lhe dá condições de suplantar o império do mal é o Poder do Espírito Santo. E este poder se manifesta na operação sobrenatural dos dons espirituais.
2) Os dons espirituais fazem a diferença. Na parábola das Dez Virgens (Mt 25.1-13), Jesus demonstrou a seus discípulos que a chegada do Noivo poderia demorar. As cinco virgens loucas representam a parte da Igreja que não estará preparada para esperar a Volta de Jesus. As virgens prudentes representam os crentes salvos, que, além de terem o “azeite” nas lâmpadas, ou em suas vidas e testemunho, têm “azeite” nas vasilhas de reserva.
O “azeite” representa a presença e o poder do Espírito Santo na vida dos crentes que vão subir ao encontro do Senhor Jesus Cristo (cf. 1 Ts
4.16,17). Os dons espirituais é que fazem a diferença, atuando no meio da igreja, nesses “tempos trabalhosos” (2 Tm 3.1), em que a pecaminosidade e a rebeldia contra Deus estão aumentando. Há milhares e milhares de “igrejas”, mas só vão subir ao encontro do Noivo os crentes salvos, santos e irrepreensíveis para a vinda de Jesus (1 Ts 5.23).
3) Os dons podem ser abundantes. A igreja de Corinto é um exemplo eloquente de que uma igreja cristã pode experimentar a ocorrência de uma variedade enorme de dons espirituais. Na introdução à sua primeira Carta aos Coríntios, Paulo tece considerações elogiosas àqueles crentes, acentuando que nenhum dom (espiritual) lhes faltava, “esperando a manifestação de nosso Senhor Jesus Cristo” (1 Co 1.7), que os haveria de confirmar até o fim para serem” irrepreensíveis no Dia de Nosso Senhor Jesus Cristo (1 Co 1.8).
4) Os dons são indispensáveis à evangelização. A missão da Igreja, levada a efeito através das igrejas locais, é de proclamar o evangelho. Nos tempos pós-modernos, a incredulidade, a frieza e a indiferença pelo evangelho de Cristo é tão grande e tão latente, que, sem a manifestação espiritual de forma evidente, as pessoas não vão saber discernir entre os falsos evangelhos e o verdadeiro evangelho de Jesus. Sempre houve essa necessidade.
Nos primórdios da evangelização, através de Jesus Cristo, as pessoas criam nEle, a ponto de multidões segui-lo, não só pela sua mensagem que tinha autoridade, e fazia diferença (Jo 7.46), mas, principalmente, por causa dos sinais e prodígios que Ele fazia.
Os dons espirituais devem ser utilizados na igreja, respeitados os requisitos e condições estabelecidos na palavra de Deus. Fora disso, há o risco de haver manifestações espúrias ou falsas em relação ao verdadeiro caráter dos dons.
A divisão da Bíblia em capítulos só ocorreu em 1227 e, em versículos, em 1551.2 Quando se lê o capítulo 12 de 1 Coríntios, sobre os dons espirituais e se passa para o capítulo seguinte, sobre o amor cristão, tem-se a impressão de que são temas distintos. Na verdade, originalmente, antes da divisão da Bíblia em capítulos, o texto dos capítulos 12 a 14 trata do mesmo tema dos dons.
Paulo termina o capítulo 12, com sua belíssima dissertação sobre os dons espirituais, com uma exortação por demais relevante, dizendo: “Portanto, procurai com zelo os melhores dons; e eu vos mostrarei um caminho ainda mais excelente” (1 Co 12.31 — grifo nosso). Que “caminho ainda mais excelente” é esse? A resposta vem de imediato, na ligação entre o último versículo do capítulo 12 e o primeiro versículo do capítulo 13, quando o apóstolo dá sequência ao seu precioso ensino sobre os dons espirituais. E afirma de modo peremptório: “Ainda que eu falasse as línguas dos homens e dos anjos e não tivesse caridade, seria como o metal que soa ou como o sino que tine. E ainda que tivesse o dom de profecia, e conhecesse todos os mistérios e toda a ciência, e ainda que tivesse toda a fé, de maneira tal que transportasse os montes, e não tivesse caridade, nada seria” (1 Co 13.1,2).
A GENUIDADE DOS DONS ESPIRITUAIS
Fica bem claro que, se os crentes tiverem dons espirituais em abundância, mas não tiverem amor, o exercício desses carismas de nada adianta diante de Deus. Nesses dois versículos Paulo mostra a síntese da inutilidade dos dons, quando usados sem amor.
A Palavra de Deus deve ser a referência número um para qualquer atividade ou manifestação na igreja? “Lâmpada para os meus pés é tua palavra e luz, para o meu caminho” (SI 119.105). E o Espírito Santo quem inspira a Palavra de Deus e a seus escritores. Logo, não há nenhuma justificativa para que um dom seja exercido em desacordo com os preceitos da Palavra de Deus.
A fonte primordial e única de qualquer doutrina, na igreja cristã, é a Palavra de Deus. É altamente danoso para a integridade espiritual de qualquer igreja, quando um líder, ou um outro membro da igreja, apresenta como doutrina aquilo que não tem fundamento na Bíblia. Determinado obreiro ensinou que os crentes que possuem internet estão em pecado. Para se dizer que algo é pecado é necessário fundamentar na Palavra de Deus. Na realidade, tal ensino é fruto de opinião pessoal do líder. Do contrário, é imposição autoritária, que só traz prejuízo à obra do Senhor. Ensinar que quem usa a internet de maneira ilícita, para visualizar coisas que não agradam a Deus, está pecando, é correto, mas afirmar que possuir internet é pecado é abuso de autoridade ministerial. Não há necessidade de outra fonte de doutrina além da Palavra de Deus (G1 1.8,9).
Os dons espirituais são parte das riquezas sobrenaturais, concedidas pelo Espírito Santo aos servos do Senhor, com o objetivo de servir à igreja. Jamais o portador de um dom deve orgulhar-se e portar-se de modo arrogante ou autoritário. Deve agir, sabendo que “Temos, porém, esse tesouro em vasos de barro, para que a excelência do poder seja de Deus e não de nós” (2 Co 4.7). Nunca devemos esquecer de que o Espírito Santo glorifica a Cristo e não ao homem (Jo 16.14). Se o que tem o dom não tiver essa consciência de humildade, poderá perder a graça para usá-lo. Deus não admite que o seu louvor seja transferido para ninguém.
Elinaldo Renovato. Dons espirituais & Ministeriais Servindo a Deus e aos homens com poder extraordinário. Editora CPAD. pag. 16-20.
OS DONS DO ESPÍRITO SANTO
Os dons são faculdades da pessoa divina operando no crente.
OS DONS VOCACIONAIS Romanos 12 : 6 - 8
Repartir Dividir, Distribuir;
Presidir Aquele que dirige;
Misericórdia Sentimento doloroso causado pela miséria de outro.
Autor desconhecido.
I Cor 12.4-6 — Dons. A palavra usada para dons, pela primeira vez, contrasta com pneumaúkon de 1 Coríntios 12.1. Charismata se refere a dons da graça de Deus em cada cristão, por meio dos quais Deus pode fortalecer Seu povo. Diversidade aparece nos versículos 4 ,5 e 6 sob a forma da mesma palavra grega. Observe a diversidade na obra da Trindade. No versículo 4, o Espírito distribui cada um deles ao cristão (1 Co 12.11). No versículo 5, o Filho de Deus determina ao cristão o modo específico como o dom é manifestado no corpo (1 Co 12.12-27).
No versículo 6, o Pai provê a força ao cristão no exercício do dom (1 Co 12.28). Deus opera Sua vontade por meio de Seu povo de muitas maneiras. Ninguém foi colocado no corpo para ser igual a outro membro nem para exercer a mesma função. O Espírito é o mesmo [...] o Senhor é o mesmo [...] o mesmo Deus. Embora as pessoas recebam dons diferentes do Altíssimo, Deus e Sua obra estão unidos. Sejam quais forem os dons que diversas pessoas tenham ou não, o único Deus opera todas essas coisas (v. 11).
12.7-11 — A cada um para o que for útil expressa o principal ensino de Paulo sobre a obra do Espírito. Deus opera nos cristãos para beneficiar todo o corpo, não simplesmente o cristão isoladamente (v. 25,26). O cristão é um veículo por meio do qual Deus opera a fortificação e unidade de todo o corpo, e não a finalidade da obra de Deus.
Porque a um [...] e a outro. As duas palavras gregas (allos [...] heteros) enfatizam a diversidade e iniciam uma lista de charismata que são distribuídos por Deus por todo o Seu Corpo. A ninguém é dado todos os dons, nem a todos é dado um único dom, como o de línguas. Pelo contrário, os vários charismata, ou dons da graça, são distribuídos para que haja diversidade no corpo unificado.
Os vários dons — de ciência, sabedoria, fé, de curar, operação de maravilhas, profecia, o dom de discernir os espíritos, a variedade de línguas, a interpretação das línguas — provavelmente, eram muito perceptíveis para os coríntios, mas é difícil para nós, dois mil anos depois, conhecermos sua natureza exata.
Palavra da ciência parece ser a capacidade de discursar a respeito da doutrina; não o conhecimento em si, mas a habilidade do discurso.
Palavra da sabedoria é completamente o oposto da palavra da ciência e se refere às obras práticas ou éticas do conhecimento, similares ao que se observa em Provérbios. Este dom ajudou a solucionar o problema da distribuição de alimento em Atos 6. Fé parece ser a capacidade de crer que Deus é capaz de feitos extraordinários.
Operação de maravilhas, provavelmente, seria a capacidade de realizar obras como as de Moisés, os profetas, ou talvez alguns milagres da natureza que se observam nos Evangelhos. Note que Deus particularmente usou estes dons para confirmar a verdade proferida por meio dos primeiros apóstolos (Hb 2.3,4).
Profecia é o prenúncio ou a predição da revelação de Deus, seja a “nova” revelação ou a elucidação divina do que já se sabe. Mais do que um simples ensino ou pregação, esta ação é fruto da capacitação, mas não da inspiração, do Espírito.
Pedro demonstrou este dom no Pentecostes.
O dom de discernir os espíritos pode referir-se à capacidade de distinguir as obras de Deus da atividade demoníaca na igreja.
A variedade de línguas, provavelmente, faz menção à capacidade de o indivíduo falar várias línguas que jamais estudou. A interpretação de línguas é a capacidade de explicar ou interpretar as línguas faladas na congregação, para que todo o grupo de cristãos possa beneficiar-se com a oração feita (1 Co 14-16) por quem fala em línguas (1 Co 14-13,28). Como quer, não como nós queremos. Se os cristãos devem ou não buscar algum dos dons do Espírito é uma questão discutida em 1 Coríntios 12.31.
12.12-31 — Paulo tenta ajudar os cristãos coríntios carnais a abandonarem seus desejos carnais e buscarem a unidade do corpo e servirem com os dons que Deus lhes dera (v. 7,25,26).
12.12-14 — Porque [...] pois [...] Porque. Observe o desenvolvimento da ideia enquanto o Espírito de Deus continua a dar a Cristo a glória (Jo 16.12-14; 1 Co 12.3).
12.12.13 — Assim é Cristo também. A analogia do corpo humano ilustra a necessidade de unidade na diversidade no Corpo de Cristo.
12.13 — Um. O apóstolo continua a enfatizar a unidade: um Espírito, um corpo, um Espírito.
Paulo nega que o Espírito esteja dividido nos grupos mencionados nos capítulos 3 e 4- Todos os cristãos (v. 3) estão cheios do mesmo Deus. Todos nós fomos batizados em um Espírito. Cristo, a Cabeça do Corpo, exaltada e que ascendeu ao céu, é o Agente ativo que põe o novo membro do Corpo na esfera do Espírito Santo, para que ele seja cuidado e protegido. Todos os cristãos são batizados, formando o Corpo, na esfera do Espírito Santo e, por isso, fazem parte do Corpo de Cristo, quer judeus, quer gregos, quer servos, quer livres. Ninguém é superior a ninguém na Igreja de Cristo; todos entram da mesma forma: pela fé na promessa de Abraão (G1 3.26-29). Cada um de nós tem a mesma porção do mesmo Espírito de Deus: todos temos bebido de um Espírito (v. 13c).
Alguns dos coríntios — provavelmente os pneumatikon (v. 1) — acreditavam que somente determinados indivíduos com dons estavam, especialmente, em harmonia com o Espírito, mas Paulo põe cada cristão em pé de igualdade no Espírito. Dificilmente, beber se refere ao fato de todos participarem do mesmo cálice da ceia do Senhor. O Espírito não somente nos envolve no batismo, mas, uma vez que temos bebido dele, também habita em nós.
EarI D. Radmacher: Ronald B. Allen: H. Wayne House. O Novo Comentário Bíblico Novo Testamento com recursos adicionais. Editora Central Gospel. pag. 433-435.
Outros assuntos podiam ser adiados até que o apóstolo pudesse ser capaz de realizar seu plano de visitar Corinto, mas o assunto abordado por ele nesta secção precisava ser resolvido logo: Mas sobre as coisas espirituais, isto é, os dons e poderes, irmãos, não quero que sejais ignorantes. Queria ensinar os uso correto dos dons espirituais, exatamente assim como lhes dera a informação correta sobre a celebração da ceia do Senhor. Pois com estes dons estava ligada certa porção de perigo, visto que eram, falando de modo mais geral, fenômenos sobrenaturais que precediam do Espírito e que pertenciam à Sua esfera. Ele, para colocar seus ouvintes na posição correta frente à admoestação que está para fazer, e para conservá-los no adequado estado de humildade quanto à sua total falta de mérito na aceitação destes dons, lembra-os de sua anterior situação gentia: Sabeis que uma vez éreis gentios, sendo levados aos ídolos mudos, do modo como éreis conduzidos. Aqui estão expressos dois pensamentos, a saber, que o paganismo é uma alienação do verdadeiro Deus, e que ele é uma escravidão da pior espécie.
Ser conduzido ao culto de ídolos, os quais o apóstolo caracteriza como mudos, sem voz, Sl. 115. 5; 135. 16, caracteriza todo o mundo pagão. Os gentios são levados a este culto tolo e fútil. Seus sacerdotes sabem muito bem do fato que o que afirmam não tem fundamento. Conservam, porém, o povo sob supersticiosa escravidão. Segundo o aceno de seus sacerdotes os gentios ignorantes se prostravam em culto aos seus ídolos mortos, cuja mudez fazia parte de sua nulidade, e que jamais retornaram com uma só resposta, não importando quão urgente fosse a súplica. O conhecimento de sua situação anterior foi assim como sempre, fazendo, por meio do contraste, aparecer em suas mentes a graça de Deus de modo ainda mais maravilhoso.
Os coríntios, porém, ainda não entenderam exatamente a maneira como o Espírito de Deus realizou Sua obra em seus corações, como exercia Seu poder. Isto levou Paulo a prosseguir na instrução deles. Por isso, para que pudessem formar um juízo correto das operações e dos dons do Espírito, ele os informa que ninguém quando fala no Espírito de Deus diz: Jesus está amaldiçoado; e ninguém pode dizer: Jesus é Senhor, se não somente no Espírito Santo. Os espíritos da falsidade e o da verdade estavam lutando entre si em Corinto, e aqui está registrado o grito de guerra de cada partido. Aquilo que estava amaldiçoado ou anátema, no sentido como usado pelos judeus, era votado a Deus para a destruição, como estando sob Sua maldição. Dizer que alguém ou alguma coisa era anátema foi pronunciar o juramento da execração sobre a pessoa ou coisa em questão. Os judeus fanáticos fizeram este seu brado em seu ataque incessante contra a religião cristã, e a expressão tão chamativa foi capaz de ser abarcada pelas hordas gentias sempre que foi colocada em movimento qualquer demonstração contra os cristãos. Desde o princípio estava, pois, certo que ninguém que usava esta forma de blasfêmia podia ser considerado como alguém que falava pelo Espírito de Deus. Sem interessar qual fosse neste sentido sua pretensão, o fato permaneceu que um tal blasfemador estava e precisava permanecer fora do âmbito do cristianismo até que mudasse completamente. Nesse ponto também merece ser considerada a observação de Lutero: “Pois o que ele aqui chama ‘amaldiçoar Jesus’ não é somente isto, que uma pessoa blasfema publicamente e amaldiçoa o nome ou a pessoa de Cristo, como o fizeram os judeus ateus ou os gentios.... mas [isto também é feito] quando qualquer um dentre os cristãos louva o Espírito Santo, mas não prega corretamente a Cristo como o fundamento de nossa salvação, mas o negligencia e o rejeita em favor de algo diferente, com o pretexto que isto se deriva do Espírito Santo e é muito melhor e mais necessário do que a doutrina comum do evangelho.”15) Por outro, a sincera confissão: Jesus é Senhor, é um produto de verdadeira fé, e por isso não pode ser feito pela razão e força de qualquer pessoa. Cf. 1.Jo. 4. 2ss. É um reconhecimento de Cristo com a plena percepção de Sua obra da redenção, tal como operada pelo poder do Espírito Santo. Mas, visto que esta confissão pública é a obra principal dos pastores cristãos, segue que estas obras do apóstolo se aplicam a estes com força invulgar. “Chamar Jesus o Senhor é confessar-se Seu servo e só buscar sua honra, como alguém que foi enviado por Ele ou que tem Sua palavra e mandamento. Pois aqui ele fala principalmente do ofício que prega de Cristo e que traz Seu mandamento. Onde este ministério está em uso e dirige as pessoas a Cristo (como para o Senhor), isto com certeza é a pregação do Espírito Santo.... Desta forma também não pode ser feito sem o Espírito santo, quando qualquer cristão em seu labor ou em sua situação chama com toda sinceridade Cristo seu Senhor, isto é, conclui com certeza que nisso O está servindo.”16)
Esta unidade na fé na confissão traz agora ricos frutos em “distribuições de dons da graça, serviços e trabalhos”: Mas há distribuições, diversidades, variedades de dons, mas o mesmo Espírito; e há variedade de ministérios, mas o mesmo Senhor; e há variedades de efeitos, mas o mesmo Deus que opera, que realiza, tudo em todos. Aqui o apóstolo contrasta os ídolos mudos dos gentios com o Deus trino onipotente dos cristãos, sendo que o primeiro é incapaz de falar ou de exercer qualquer poder, mas o último se revela com onipotente poder na igreja e na congregação dos santos. O Espírito, o Senhor e Deus Pai estão incessante e graciosamente ativos na edificação da igreja por meio dos talentos que concederam aos cristãos individuais. Todos os eminentes dotes, qualificações, capacidades dos cristãos, e que são algo particular à sua condição como cristãos, sejam os de curar, de milagres, de línguas, de profecia, de excelente exposição da Bíblia, de edificante aplicação da palavra, são concedidos pelo Espírito Santo, por aquele um Espírito. E estes dons maravilhosos da graça são aplicados na igreja nos vários ofícios e ministérios, que são as múltiplas funções e esferas de trabalho, Ef. 4. 12, mas sempre sob a direção do único Senhor, Jesus Cristo, o Rei da Igreja, e a feitos a Ele. É no interesse Dele que os cristãos sempre deviam usar seus dons, cada um sem exceção qualquer na forma como Cristo lhos repartiu. Pois, somente quando os vários dons, nos multiformes ofícios e postos, forem usados no serviço do único Senhor, será alcançado o propósito do Senhor quando concedeu os dons. Desta forma há, finalmente vários efeitos das atividades dos cristãos, proporcionais aos dons e à sua posição de trabalho. Mas é um só Deus que constantemente efetua tudo quanto é necessário para o bem de Sua igreja, e Ele reparte a todos os verdadeiros cristãos incessantemente do rico tesouro dos Seus dons. Desta forma o Deus trino é o manancial de toda graça e poder na igreja, sendo o despenseiro imediato de todo bem e dom perfeito. “O Espírito acende o fogo dos dons da edificação, o Filho direciona os raios dos ministérios da edificação, o Pai cria o calor das forças de edificação: Numa essência indivisa o Deus trino governa Sua igreja; que insulto causar divisões em seu meio!”17)
KRETZMANN. Paul E. Comentário Popular da Bíblia Novo Testamento. Editora Concordia Publishing House.
Há outros trechos de Paulo onde é empregado o termo grego «charismata», como nos versículos quatro, nove, vinte e oito, trinta e trinta e um deste capítulo. Essa palavra é traduzida por «dom», em Rom. 1:11; 6:23; 11:29; 12:6; II Cor. 1:11; 4:14; 1:16 e 4:10. Aqui, entretanto, é usada a palavra grega «pneumatikon», que significa «(coisas) espirituais». Portanto, podem estar aqui em foco os «poderes» ou «manifestações espirituais», embora essas manifestações sejam definidas como «dons», no restante deste décimo segundo capítulo. Essa palavra pode ser do gênero masculino ou do gênero neutro, o que significa que pode indicar pessoas ou coisas, respectivamente; mas aqui a ideia de «coisas» se torna auto-evidente.
«...a respeito...» Provavelmente uma referência à inquirição feita pelos crentes de Corinto, em uma missiva dirigida a Paulo, como também se vê em I Cor. 7:1. Ou então essa expressão pode ser uma simples designação de modificação de assunto, em que se passaria para outro tema.
«...não quero que sejais ignorantes...» Essa fórmula paulina indica os assuntos que merecem nossa cautelosa atenção. (Ver I Cor. 10:1 e comparar com Rom. 1:13; 11:25; II Cor. 1:8; I Tes. 4:13). Porém, também pode estar subentendido que a despeito de todo o seu pretenso conhecimento, bem como da posse de tais dons, devido ao seu abuso, faltava-lhes o conhecimento essencial a respeito desses dons e de seu propósito. Aqueles coríntios vinham usando os dons espirituais para sua própria exaltação, como parte de suas facções e de sua adoração a «heróis», ao invés de fazerem-no para a glória de Cristo. Ora, isso era uma «ignorância» essencial sobre a questão da natureza e do uso dos dons espirituais.
«...irmãos...» Essa palavra é de vez em quando usada por Paulo para suavizar suas declarações ásperas, mostrando seu afeto, reconhecendo que estava identificado com eles, em Cristo, conforme tem sido frequentemente empregado em outros trechos desta epístola. (Ver I Cor. 1:11,26; 2:1; 3:1 e 10:1). Paulo também empregou a expressão «meus amados», em I Cor. 10:14. Mas, em I Cor. 11:1, volta ele a empregar a palavra «irmãos».
«...ignorantes...», isto é, acerca dos meios, dos usos e dos propósitos dos dons espirituais, especialmente em face do fato que servem para exaltar a Jesus Cristo e devem proceder da parte do Espírito Santo (ver o terceiro versículo deste capítulo), em contraste com sua anterior idolatria, que envolvia todas as modalidades de elementos prejudiciais (ver o segundo versículo). Os verdadeiros dons espirituais e seu devido emprego devem ser encarados como um sinal digno de confiança que os crentes de Corinto tinham abandonado sua adoração idólatra, pertencendo agora a um novo Senhor. Porém, os abusos por eles cometidos punham tudo isso em dúvida.
O grande derramamento do Espírito, que se observa na posse e uso dos autênticos dons espirituais, é tema da profecia de Joel. Até mesmo a antiga literatura judaica se referia ao mesmo como sinal da «nova era». Porém, o emprego desses dons espirituais deve ser feito de acordo com regras espirituais, pois, de outro modo, nada significarão.
«Tendo os crentes de Corinto se desviado de um cristianismo simples, prático, agora empregavam os dons do Espírito sem qualquer preocupação de edificarem a igreja. Antes, davam maior valor às características mais espetaculares, aquelas que eram capazes de mais facilmente impressionar os sentidos. Por essa razão é que Paulo se sentiu constrangido a instruí-los no ‘verdadeiro e correto uso desses dons, advertindo-os contra a possibilidade de confundir a inspiração genuína com a excitação fanática (Neander, in loc.).
CHAMPLIN, Russell Norman, O Novo Testamento Interpretado versículo por versículo. Editora Candeias. Vol. 4. pag. 189-190.
Ministérios são serviços ou funções exercidos na igreja local, como parte do Corpo de Cristo, que é a sua Igreja. No âmbito cristão, ministérios são serviços que devem ser exercidos por pessoas que tenham a mentalidade de servas de Cristo. Quem não pode ser servo não pode ser ministro na Igreja de Cristo. Ele disse que não veio para ser servido, mas para ser servo (Mt 20.28).
O LADO ESPIRITUAL DA IGREJA
Igreja de Jesus Cristo é espiritual e humana. No lado espiritual, precisa de poder espiritual, de sabedoria espiritual, de capacitação espiritual. Daí, a necessidade dos dons espirituais, como foi visto no item anterior. O lado espiritual reflete a natureza da Igreja como organismo, ou o Corpo de Cristo, Paulo discerniu bem o aspecto espiritual da Igreja, como organismo espiritual ao dizer: “Antes, seguindo a verdade em caridade, cresçamos em tudo naquele que é a cabeça, Cristo, do qual todo o corpo, bem ajustado e ligado pelo auxílio de todas as juntas, segundo a justa operação de cada parte, faz o aumento do corpo, para sua edificação em amor” (Ef 4.15,16).
O LADO HUMANO DA IGREJA
No lado humano, a Igreja precisa de liderança. E esta não pode ser exercida apenas pela capacidade humana, intelectual, teológica, por mais que tais capacitações sejam importantes. A liderança eclesiástica deve ser espiritual, ministerial e administrativa. Os ministérios ou serviços (gr. diakonion), indispensáveis ao ordenamento e o funcionamento da igreja dependem da graça de Deus. Os dons ministeriais fortalecem a unidade da Igreja, atuando de modo equilibrado ao lado dos espirituais.
Os líderes cristãos podem ter formação secular ou teológica, mas não podem prescindir da legitimação através dos dons que os capacitam para liderar o Corpo de Cristo na Terra. Antes de tudo, precisam ter convicção da chamada de Deus para serem servos-líderes.
Jesus, o Dono e Senhor da Igreja, só dá dons a homens que têm esse perfil de homens-servos. Os dons espirituais estão à disposição de todos os crentes, de todos os salvos. Mas os dons ministeriais são específicos para homens que têm a chamada de Deus para o ministério de servir à Igreja.
Elinaldo Renovato. Dons espirituais & Ministeriais Servindo a Deus e aos homens com poder extraordinário. Editora CPAD. pag. 20-21.
Ef 4.11. Paulo passa a falar agora dos dons específicos que Ele deu aos homens. A luz dos versículos 7, 8 não devemos entender concedeu como um mero equivalente para “designou”. Todos, em seus ministérios particulares, são dons de Deus à Igreja. “Devemos a Cristo o fato de termos ministros do evangelho”, diz Calvino. A Igreja pode indicar homens para diferentes trabalhos e funções, mas, a menos que tenham os dons do Espírito e sejam, portanto, eles mesmos os dons de Cristo à Sua Igreja, sua indicação será sem valor. A expressão também “serve para lembrar aos ministros que os dons do Espírito não são para enriquecimento pessoal, e sim para enriquecimento da Igreja” (Allan).
Se esta epístola tivesse sido escrita numa data posterior, conforme o pensamento de alguns, seria quase impossível não existir referência ao ministério local dos bispos, presbíteros e diáconos, os quais se tornaram da maior importância para a Igreja. Assim, o apóstolo não está pensando nos ministros de Cristo em seus ofícios, mas sim em seus dons espirituais específicos e suas tarefas, e havia muitos que não estavam limitados a uma determinada localidade no exercício de suas funções para a edificação da Igreja. Este fato explica a seleção que encontramos aqui e na lista semelhante em 1 Coríntios 12:28.
Em primeiro lugar estavam os apóstolos. A palavra apóstolos é usada no Novo Testamento com três sentidos diferentes. Podia significar simplesmente um mensageiro, como é aparentemente o caso em Filipenses 2:25 sentido esse que podemos deixar de lado aqui. Era usada acima de tudo para os doze, que por todo o Novo Testamento ocuparam uma posição especial e preeminente (1 Co 15:5; Ap 21:14). Mas lemos a respeito de outros como apóstolos, não apenas o próprio Paulo e Barnabé (At 14:14), mas também Tiago, o irmão do Senhor (G1 1:19), Silas (1 Ts 2:7), e Júnias e Andrônico que são mencionados apenas em Romanos 16:7. De fato, parece terem existido alguns que podem ser verdadeiramente chamados de apóstolos (1 Co 15:7), mas que não conhecemos nem de nome. De acordo com as palavras de Paulo em 1 Coríntios 9:1 parece que uma das qualidades para o apostolado era a de ter visto o Senhor Jesus ressurreto, e de ter sido enviado por Ele, e, dessa forma, ter assumido pessoalmente o compromisso como membro considerado fundador (Ef 2:20), consagrado ao trabalho de edificação da Igreja. 1 Se a qualificação para ser apóstolo era a de ter visto o Senhor ressurreto e de ter sido enviado por Ele, a prova de ser apóstolo eram seus labores no poder de Cristo, inclusive “por sinais, prodígios e poderes miraculosos” (2 Co 12:12).
Os profetas (veja comentário sobre 2:20 e 3:5) estavam intimamente associados a eles na obra da edificação da Igreja a partir de seus fundamentos e eram, portanto, essenciais como dons de Cristo à Igreja. É difícil, para nós, ver de uma forma isolada o ministério dos profetas, mas eles se destacam claramente no Novo Testamento como homens de fala inspirada, cujo ministério da palavra foi da máxima importância para a jovem Igreja. As vezes podiam prever o futuro, como em Atos 11:28 e 21:9, 11, mas tal como os profetas do Antigo Testamento, sua grande obra era proclamar a palavra de Deus. Isto podia acontecer quando mostravam os pecados dos homens com poder convencedor (1 Co 14:24), ou quando fortaleciam a Igreja pela palavra de exortação. Esta segunda ideia está claramente ilustrada em Atos 15:32, onde se diz que “Judas e Silas, que eram também profetas, consolaram os irmãos com muitos conselhos e os fortaleceram”.
A partir da própria definição de apóstolo é evidente que seu ministério devia cessar com a morte da primeira geração da Igreja. O ministério, ou pelo menos o nome, de profeta também logo morreu na Igreja. Sua obra, que era receber e declarar a palavra de Deus sob inspiração direta do Espírito, era mais vital antes da existência de um cânon das Escrituras do Novo Testamento. Em escritos do segundo século lemos acerca de profetas, mas em importância decrescente. Os escritos apostólicos começavam a ser lidos largamente e aceitos como autorizados, e estes foram paulatinamente substituindo a autoridade dos profetas. Ao mesmo tempo, o ministério local assumiu cada vez mais importância, maior que a dos ministros itinerantes, e a isto, acrescentou-se o problema de que surgiram muitos falsos mestres e “profetas” por conta própria que iam de lugar em lugar, como vendedores ambulantes, cada um a oferecer sua mercadoria.
A seguir, vêm os evangelistas. Apenas duas outras referências no Novo Testamento aos evangelistas podem nos guiar às suas funções e trabalho. Em Atos 21:8 Filipe, cujas quatro filhas eram profetisas, é chamado de evangelista, e em 2 Tm 4:5 Paulo chama Timóteo para fazer “o trabalho de um evangelista”. Podemos presumir que o trabalho deles era uma obra itinerante de pregação orientada pelos apóstolos, e parece ser justo chamá-los de “a milícia missionária da Igreja” (Barclay).
Juntos então, aparecem os pastores e mestres (palavras ligadas pelo mesmo artigo em grego). É possível que esta frase descreva os ministros da igreja local, enquanto as três primeiras categorias são consideradas como pertencentes à Igreja universal. Mais provavelmente, o pensamento dominante é ainda de funções e dons espirituais. Apóstolos e evangelistas têm a tarefa específica de plantar a Igreja em cada lugar, profetas a de trazer uma palavra específica de Deus para uma dada situação. Os pastores e mestres são dotados para assumirem a responsabilidade pela edificação da Igreja dia a dia. Não há uma nítida linha divisória entre os dois. Os deveres do pastor são: prover o rebanho de alimento espiritual e procurar protegê-lo de perigos espirituais. Nosso Senhor utilizou esta palavra em João 10:11,14 para descrever Sua própria obra, sendo sempre Ele mesmo, o sumo Pastor (Hb 13:20; 1 Pe 2:25; 5:4), sob Quem os homens são chamados a pastorear “o rebanho de Deus” (1 Pe 5:2; Jo 21:15; At 20:28). Cada pastor deve ser “apto para ensinar” (1 Tm 3,2; Tt 1:9), embora seja evidente que alguns possuem preeminentemente o dom de ensino, e pode-se dizer que formam uma divisão particular do ministério dentro da Igreja e que são um dom especial de Cristo a Seu povo (At 13:1; Rm 12:7, 1 Co 12:28).
O que é feito para os santos, e pelos santos, é para a edificação do corpo de Cristo. A palavra oikodome foi utilizada em 2:21, mas tem aqui um sentido mais amplo. A Igreja vai sendo construída e aumentada e seus membros são edificados, à medida que cada membro usa seus dons individuais segundo o que o Senhor da Igreja ordena, e, desta forma, cada crente desempenha um serviço espiritual para com seus companheiros no Corpo e para com a Cabeça. Não há necessariamente confusão de metáforas quanto ao sentido dado a oikodomê com o corpo, mas o apóstolo acha que a metáfora do corpo é mais adequada do que qualquer outra por causa do que deseja falar logo adiante a respeito do crescimento e unidade da Igreja.
Ef 13. Todas as três frases no versículo 12 descrevem o processo que ocorre na vida da Igreja. Mas o apóstolo jamais poderia pensar em um processo sem fixar os olhos no alvo. O verbo empregado no princípio do versículo (katantaõ) é usado nove vezes em Atos com referência aos viajantes que chegam a seu destino.1 (At 26:7 e Fp 3:11 para uso semelhante ao daqui). E o ponto de chegada da jornada da Igreja é descrito de três modos. O primeiro é a unidade da fé. Quando a fé (veja comentário sobre o versículo 5) é corretamente participada, pessoas com diferentes origens de erro e ignorância chegam a uma compreensão crescente da única “esperança”, a uma dependência também crescente do único “Senhor”, e, assim sendo, a uma apreciação progressiva do único “corpo”. O alvo, portanto, deve ser a unidade na fé.
Segundo, embora já se tenha dito o suficiente para tornar isto evidente, enfatiza-se que fé não é apenas aceitar-se uma coleção de dog mas, e obter-se assim a unidade. É algo mais profundo e mais pessoal. É a unidade no pleno conhecimento do Filho de Deus (veja comentário sobre 1:17). Jamais conheceremos uma pessoa apenas com a mente; e o conhecimento de uma tal Pessoa deve envolver a mais profunda comunhão. Pois esta Pessoa é o Filho de Deus, e esta é uma das raras vezes, em todas as epístolas paulinas, que este título aparece (Rm 1:4; G1 2:20; 1 Ts 1:10). Quando Paulo fala da relação do Senhor com Sua Igreja e com o propósito do Pai, em geral usa o título “Cristo”, mas “quando O descreve como o objeto daquela fé e conhecimento em que nossa unidade será finalmente compreendida” (Robinson), fala dEle em Sua posição única como o Filho de Deus.
Mas esse conhecimento, que é comunhão com o Filho de Deus, envolve a experiência plena de vida “em Cristo”, e, portanto, de desenvolvimento até a perfeita varonilidade, à medida da estatura da plenitude de Cristo. Todas as diferentes expressões aqui falam de maturidade. A palavra traduzida por perfeita (teleios) possui a conotação de desenvolvimento pleno em 1 Coríntios 2:6; 14:20 e Hebreus 5:14. Varonilidade significa aqui o estado de ser adulto, como em 1 Coríntios 13:11, onde a palavra também é contrastada com nêpios, que é usada no próximo versículo aqui para designar crianças. O singular, além do mais, expressa novamente o pensamento de que maturidade envolve unidade; os “muitos” devem se tornar um “novo homem” (2:15). Então a palavra usada para estatura, que pode ter o sentido de idade (Jo 9:21, 23) ou de estatura física (Lc 19:3), fala figuradamente de maturidade, cujo padrão é nada menos que a plenitude de Cristo. Tal como em 1:23, alguns interpretam esta expressão como “a medida do Cristo perfeito”, perfeição esta que Ele atinge ao preencher-se de Sua Igreja. Outros entendem a expressão como aquilo que Cristo preenche. Parece-nos que a melhor interpretação é a mesma que de 1:23, isto é, como posse completa dos dons e graça de Cristo, os quais Ele procura dar aos homens. Ele mesmo possui a própria plenitude de Deus (Cl 1:19; 2:9); Ele quer que o cristão seja preenchido de tudo o que Ele possa comunicar. É irrelevante que este alvo possa ou não ser alcançado nesta vida. O importante é que o cristão deve marchar firme para frente levado por esta alta ambição.
Ef 4.14. Não mais deve haver imaturidade, que é própria de meninos (nêpioi), e que é caracterizada pela instabilidade face às pressões das diferentes doutrinas e padrões de vida. A expressão agitados de um lado para outro corresponde à forma verbal do substantivo kludõn, que é usado em Lucas 8:24 com referência à “fúria das águas” do mar da Galileia, e em Tiago 1:6 sobre a “onda do mar”; RV neste último caso é o vento que agita as ondas, mas aqui em Efésios a ilustração diz respeito a um barco sacudido pela tempestade e levado ao redor. O verbo grego periphero que se encontra traduzido mais vivamente na NEB amiúde dá a ideia de uma agitação tão violenta que pode tontear uma pessoa. Os cristãos já percebiam a necessidade de se manterem firmes contra os vários tipos de vento de doutrina que a epístola correlata — Aos Colossenses — bem mostra. Suas atividades são primeiramente descritas pela palavra kubia, que literalmente significa “jogar dados”, dando então a ideia de trapaça, fraude ou artimanha-, e, segundo, por astúcia (panourgia), palavra que foi usada como relação aos inquisidores de nosso Senhor em Lucas 20:23 e em 2 Coríntios 11:3 acerca da astúcia da serpente. Quando os homens se desviam do caminho da verdade (a palavra grega planê, “erro”, significa literalmente “desvio”), não hesitam em usar planos enganosos e meios astutos para levar outros a segui-los. O indivíduo instável e sem leme é facilmente desviado de seu rumo, pois não existem apenas aqueles que são enganados e se desviam sem o perceber, mas há também aqueles que aguardam a ocasião, e induzem outros ao erro (2 Tm 3:13).
Ef 4.15. Os pregadores da verdade, por sua parte, não podem nem devem usar esses métodos (2 Co 4:2); devem agir com toda simplicidade e retidão, mas ao mesmo tempo estarem prevenidos quanto aos métodos que seus inimigos podem usar. São embaixadores da verdade e devem ser encontrados seguindo a verdade1 Além do mais, devem fazê-lo em amor. Aquilo que os cristãos defendem e a maneira como o fazem, deve estar em contraste total com os homens mencionados no versículo 14. Estes homens enganam os outros em benefício próprio, ao passo que o cristão deve levar adiante a verdade a fim de trazer benefício espiritual a outros, e deve ser feito de uma forma tão cativante como só o amor será capaz de fazê-lo. Então, por meio de uma metáfora completamente diferente daquela que usou para descrever o indivíduo imaturo como “agitado ao redor”, semelhante a um pequeno barco num temporal, diz que eles crescerão em maturidade espiritual e em estabilidade. Esse crescimento é em Cristo, e o desenvolvimento da vida de modo a ser encontrado mais e mais nEle; tudo, portanto cada parte da vida, encontra seu centro, objeto e alvo em relação a Ele e em união com Ele. A preposição poderia também ser traduzida “em direção de” ou “até”, de forma que o crescimento objetivando Sua perfeita humanidade seja o padrão, como ficou expresso no versículo 13.
Não se pense que aqui o apóstolo toma a significação de “crescimento” e de “Cabeça” de forma a confundir ambas as ideias. Devemos considerar primeiro, a ideia de crescimento, e então separadamente, a ideia de Cristo como o cabeça. Isto já foi expresso em 1:22 e o será novamente em 5:23. Tanto o crescimento, como a própria atividade de cada um dos membros, estão sob Sua direção. Os membros só podem ser saudáveis e fortes quando cada um é obediente ao Seu controle. O próximo versículo desenvolve este ponto.
Ef 4.16. É somente de Cristo, como Cabeça, que o corpo recebe toda sua capacidade para crescer e para desenvolver sua atividade, recebendo assim uma direção única para funcionar como entidade coordenada. Colossenses 2:19 é um texto paralelo bem próximo deste versículo, e ambos deveriam ser estudados em conjunto, embora não se encontre ali a palavra que é traduzida por bem ajustado. Essa palavra só aparece outra vez no Novo Testamento em Ef. 2:21. Deriva de uma palavra (harmos) que designa um tipo de junta ou amarração usada na construção de edifícios, ou para as juntas de articulação do corpo. O segundo particípio (sunbibazomenon) é empregado para a ação de reunir, ligar coisas ou pessoas, para reconciliar aqueles que tenham brigado e também para relacionar fatos ou argumentos num plano de aula ou programa de ensino. Assim, ambos os particípios têm o sentido daquela unidade funcional que se torna possível entre os membros, quando orientados pelo Cabeça. Mas depois desses particípios o grego já se torna difícil. A palavra traduzida junta (haphê) possui inúmeros significados. Denota basicamente “toque”, de sorte que pode significar “contato”, “ponto de contato” ou “pegas”, e estes sentidos levaram os comentadores a uma variedade de interpretações. O uso da palavra tanto no contexto quanto no âmbito restrito da medicina justifica a sua tradução por “junta”, e assim, afirma que é pelo auxilio de toda junta, com que o corpo é equipado, é que o crescimento e funcionamento verdadeiros se tornam possíveis. Em outras palavras, o corpo depende para seu crescimento e atividade: da direção do Senhor, de Sua provisão para tudo o que necessita (compare versículos 11, 12), e também do bom relacionamento entre os membros.
E agora estamos de volta com uma palavra que se tornou familiar nesta epístola (1,19 e 3:7), pois o apóstolo deixa de considerar os membros e a conexão entre eles para tratar da justa cooperação de todo o corpo. A “energização” de Deus no corpo todo torna possível este funcionamento de cada parte, em sua medida e de acordo com sua necessidade. Então menciona-se mais uma vez o propósito do crescimento, e está claro que cada membro não procura o seu próprio crescimento, mas o do corpo como um todo: não sua própria edificação, mas a edificação do todo. Basicamente, a edificação não é o aumento numérico da Igreja, mas o crescimento espiritual. E este crescimento é acima de tudo em amor. Esta pequena frase aparece novamente (1:4; 3:17; 4:2; 5:2), pois o amor determina que cada membro procurará a edificação de todos. Então, sem dúvida, se houver a comunhão da convivência em amor e a demonstração da verdade em amor, o aumento numérico virá como consequência natural.
Francis Foulkes. Efésios. Introdução e Comentário. Editora Vida Nova. pag. 97-104.
Ef 4.11 O mesmo que levou cativos os poderes também concedeu dons à sua igreja: “os apóstolos, os profetas, os evangelistas, os pastores e mestres”. Diferentemente do v. 7, onde se falava da distribuição de dons individuais para todos os membros da igreja, Paulo aqui designa determinadas pessoas como dom de Cristo. Em vista da proximidade do presente trecho com Ef 1.20-23 é preciso chamar atenção para o fato de que em Ef 1.22 o Cristo exaltado foi “concedido” como cabeça sobre a igreja toda. Logo Cristo é a “dádiva principal” para sua igreja, no seio da qual ele próprio “concede” determinadas pessoas.
De modo diverso da listagem análoga em 1Co 12.28-30, Paulo emprega aqui o artigo definido para cada uma das pessoas. Isso permitiria concluir que na carta aos Efésios não se trata da tarefa em geral, mas do grupo claramente delimitado de representantes incumbidos do serviço específico. Essa diferença também é constatável em relação a Rm 12.6s, onde são arroladas não as respectivas pessoas, mas cada uma das atividades: profecia, diaconia, exortação, etc.
No mesmo sentido Paulo havia falado também em Ef 2.20 do “fundamento dos apóstolos e profetas” e em Ef 3.5 de “seus santos apóstolos e profetas”. Diante das demais considerações em Ef 4.12ss, parece que essa ênfase refere-se especificamente às tarefas de proclamação, direção e ensino. Por isso não são mencionados aqui outros dons da graça que aparecem em Rm 12 e 1Co 12.
Não se deve esquecer que também na primeira carta aos Coríntios os dons da palavra e as pessoas agraciadas com eles aparecem no começo das respectivas listas, de modo que o tratamento do conflito causado por fenômenos entusiastas é marcado por uma clara premissa: isso diz respeito em 1Co 12.8 à palavra da sabedoria e à palavra do conhecimento, dadas pelo Espírito, e em 1Co 12.28 “primeiramente a apóstolos, em segundo lugar a profetas, e em terceiro lugar, a mestres”. A combinação de “profetas e mestres” ocorre em At 13.1. Em 1Tm 2.7 (também em 2Tm 1.11) Paulo relaciona consigo mesmo o serviço de “pregador” (cf. “evangelista”), apóstolo e mestre (dos gentios). É digno de nota que também esse trecho está visivelmente próximo de Ef 4.4ss: a confissão do único Deus e do único Mediador entre Deus e os humanos, que se “deu” como pagamento de resgate, é seguida pela transição para a investidura de Paulo como “arauto” desse evento de salvação.
Segundo esse pensamento Cristo presenteou sua igreja com dons, i. é, com pessoas incumbidas e capacitadas que possuem uma relevância fundamental para a construção e o crescimento da igreja. Trata-se aqui daqueles que proclamaram e explicaram o evangelho da salvação em Jesus Cristo de acordo com a situação atual dos ouvintes, bem como firmaram, exortaram e encorajaram as incipientes igrejas através dessa palavra.
Nesse contexto duas coisas são irrenunciáveis: a importância das referidas pessoas como “detentores de cargo” não vem delas mesmas. Pelo contrário, são presentes do Senhor à igreja dele. Elas, por sua vez, receberam seus dons daquele que é o verdadeiro presente para a igreja (Ef 1.23). Possuem importância fundamental para a constituição da igreja, motivo pelo qual de forma alguma podem ser arbitrariamente substituídos.
Ef 4.12 A finalidade para a qual Cristo concedeu os “dons” é indicada por meio de três segmentos da frase. A concatenação das diversas afirmações entre si apresenta alguns problemas. Em especial cumpre esclarecer se a parte intermediária “para a obra do serviço” se refere aos santos ou aos “detentores de cargos” no sentido daqueles que são incumbidos “de uma obra do serviço”. Uma vez que isso não pode ser decidido unicamente com base na estrutura gramatical, é preciso dar a seguinte explicação a partir do contexto: as diversas pessoas incumbidas foram dadas “para o preparo (grego: pros) dos santos para (grego: eis) a obra do serviço, para (grego: eis) a edificação do corpo de Cristo”. Portanto, o sentido seria este: os “detentores de cargos” têm a tarefa de preparar os crentes a fim de que eles por seu turno possam assumir serviços. O corpo de Cristo é edificado por meio de ambas as atividades – o preparo por meio dos grupos citados (em seu todo, não apenas por pastores e mestres) e a obra dos santos.
O termo “preparar” é empregado no NT no sentido de “equipar”, “firmar”: p. ex., conforme 1Ts 3.10 Paulo visa consolidar a fé dos tessalonicenses acrescentando aquilo que ainda lhes falta. Em 1Co 1.10 o termo refere-se a “cunhar o caráter” em vista da unidade da igreja (cf. Gl 6.1). Nisso os membros da igreja devem ajudar-se uns aos outros (cf. 2Co 13.11). Em consonância, a tarefa dos pregadores, dirigentes e pastores consiste em firmar e fortalecer os crentes na confiança em Jesus Cristo, bem como equipá-los para a percepção de suas próprias tarefas. Na verdade podemos relacionar “a obra do serviço” (grego: ergon diakonias) sobretudo com o serviço ao evangelho, a proclamação. Contudo, isso salienta apenas a característica especial da diaconia incumbida por Jesus Cristo: pelo fato de que o próprio Senhor é o servo (Lc 22.27; Jo 13.4ss) e sua vida, paixão e morte são o “serviço” por excelência (Mc 10.45; par.), que é disseminado exclusivamente pela proclamação do evangelho, por isso toda a diaconia brota dessa palavra e é sustentada por ela. Por essa razão uma diaconia desse tipo é predominantemente “diaconia da reconciliação” (2Co 5.18) e consiste no “serviço ao evangelho” (cf. Fp 2.22).
Em uma forma de expressão comparável ao presente versículo Paulo encoraja os coríntios em 1Co 15.58 a destacar “na obra do Senhor” (cf. 1Co 16.10 a respeito de Timóteo), evidentemente descrevendo assim a abrangência total da atuação cristã. O cumprimento das respectivas tarefas por pessoas santas especificamente incumbidas serve à “edificação do corpo de Cristo”. Foi citada, portanto, a palavra básica da vida da igreja em seu todo: tudo o que acontece dentro da igreja local e na igreja cristã em geral precisa servir à “edificação”. Isso marca a linha básica da argumentação diante da igreja em Corinto: na igreja tem vez não o que talvez até seja lícito, individualmente emocionante, mas só aquilo que edifica (1Co 10.23; 14.3s,14,26), e por isso sobretudo o amor (1Co 8.1).
Ef 4.13 A edificação, o crescimento do corpo de Cristo, estão direcionados para um alvo que é indicado neste versículo. A expressão “chegar” pode significar literalmente alcançar um lugar (diversas vezes em At: p. ex., At 16.1; 18.19; etc.), mas também pode ser usada em sentido figurado (o fim dos tempos chegou: 1Co 10.11). Assim como aqui, em Fp 3.11 ela implica a atenta orientação rumo ao alvo visado, quando Paulo afirma de si: “para alcançar a ressurreição dentre os mortos”.
Pode parecer estranho que desde já a igreja seja a “plenitude de Cristo”, concidadã crente dos santos, família de Deus, pedra no templo santo, e que apesar disso ainda se diga que haverá um crescimento, um vir-a-ser. A mesma duplicação já chamara atenção no contexto da herança colocada à disposição: os direitos já foram transferidos, mas ainda não se tomou posse dela (Ef 1.18; 2.7). Consequentemente a plenitude de Cristo é ponto de partida e alvo de todo o crescimento.
Agora isso passa a ser relacionado a uma situação concreta: na realidade pode haver na igreja uma só fé, visto que esta só pode ser fé em um só Senhor Jesus Cristo (Ef 4.5). Na realidade a “unidade do Espírito” é algo dado, porque o Espírito Santo é um só (Ef 4.3). Não obstante cabe “segurar” essa unidade, ou “chegar” a ela. A força motriz de todos os esforços nessa direção não é a utopia de uma igreja unificada, mas a realidade do único corpo de Cristo.
A unidade da fé está estreitamente ligada à “unidade do conhecimento”, que por sua vez se concentra no “Filho de Deus”. Em Ef 1.17-19 Paulo já suplicara pelo Espírito da sabedoria, para que os leitores reconheçam a esperança e a força resultante da ressurreição de Cristo. De maneira semelhante Cl 2.2 interliga o esforço para que “os corações sejam unidos em amor” e o “conhecimento do mistério de Deus: Cristo”. Por isso uma fé aumentada e um conhecimento aprofundado do Filho de Deus caracterizam o crescimento da unidade eclesial.
À unidade corresponde a perfeição. A igreja, “todos nós”, devemos nos tornar “seres humanos perfeitos”: “unidade e perfeição constituem o alvo da igreja, e o Cristo concede participação a cada um nessa unidade e perfeição; ao procurar „chegar‟, impelido pela palavra de Deus, o indivíduo cresce em direção ao alvo da totalidade.”
Discordando de tentativas equivocadas de derivação de concepções gnósticas, o “ser humano perfeito” deve ser entendido como a pessoa amadurecida, adulta. Isso é elucidado pela segunda expressão: “para a medida cheia da plenitude de Cristo”. “Medida plena” é a tradução literal para “medida da idade da vida” ou também “medida da estatura”. Trata-se da “idade adulta” ou da “medida cheia da figura”. O trabalho dos encarregados edifica o corpo de Cristo. Terá alcançado seu tamanho completo “quando todos que são destinados à igreja segundo o plano divino de salvação pertencerem à igreja… A igreja, que é o corpo do Cristo, constitui na estatura completa o pleroma de Cristo.”
Ef 4.14 Tendo esse alvo diante dos olhos, Paulo passa à análise dos problemas com os quais os destinatários da carta estão sendo confrontados. Estabelece uma relação com a figura da pessoa adulta à qual os crentes devem “chegar”, e exorta que superem a imaturidade e a idade infantil: “para que não mais sejamos menores”, que se deixam influenciar facilmente. No NT a pessoa “menor de idade”, a criança, é considerada de diversas maneiras. Por um lado a criança depende de outros, tornando-se modelo de confiança (Mt 18.3) e tem a promessa de receber o reino dos céus (Mt 11.25, cf. 19.14). Por essa razão os crentes podem ser chamados “pequenos filhos de Deus”. Por outro lado destaca-se o aspecto de que o adolescente se deixa ludibriar e carece de firmeza, perfazendo algo que cabe superar (cf. Gl 4.1-3; 1Co 3.1; 13.11).
A falta de firmeza mostra-se particularmente desvantajosa na associação com uma ilustração da navegação: “agitados de um lado para outro pelas ondas e levados ao redor por todo vento de doutrina”. Quando falta crescimento na fé e no conhecimento do Filho de Deus (v. 13) na vida da igreja ou do cristão, quando o trabalho na igreja não serve ao objetivo da edificação do corpo de Cristo, então tal situação se assemelha à de um navio que está indefesamente exposto ao jogo do vento e das ondas. No caso, “toda espécie de doutrina” não se refere ao “calor” externo da perseguição anticristã (cf. 1Pe 4.12), mas à multiplicidade das heresias cristãs.
A figura da navegação transita para a ilustração do jogo de dados. Quem não estiver firme, torna-se joguete. O resultado desse tipo de jogo é aleatório – um contraste total com a certeza da fé, com a posição enraizada no amor de Cristo.
Por meio de um adendo, o jogo, que já é “tortuoso”, passa a ser até mesmo “jogo ludibrioso”: “pelo procedimento com artimanha, que visa o logro”.
Por trás de tal ardileza que se manifesta especialmente por meio de doutrina acessível, agradável, porém enganosa, encontra-se o diabo (cf. Ef 6.11). Sobre essa “artimanha” Paulo também fala em 2Co 11.3: através dela a serpente seduziu Eva para a queda do pecado. Esse processo torna-se exemplo para aquilo que planejam os hereges em Corinto: desviar os crentes da “singeleza e pureza” direcionadas para Cristo. Dessa forma pessoas tornam-se vítimas do “embuste”. Ele se firma quando o “amor pela verdade” é rejeitado, quando a fé na mentira ocupa o espaço da fé na verdade (2Ts 2.10ss). Em contrapartida, o modo de agir de Paulo em suas igrejas sempre se caracterizou por franqueza e retidão, decorrentes do evangelho (cf. 1Ts 2.3: sem engano; 2Co 4.2: sem astúcia).
15 Ao ardil e ao engano são contrapostas “verdade” e “amor”: “e falar a verdade em amor”. Nessa formulação aparece (de forma cruzada) no lugar do engano a verdade, enquanto a artimanha é superada pelo amor.
A expressão “falar a verdade” (grego: aletheuein) ocorre somente neste versículo e em Gl 4.16, podendo também ser traduzida por “ser veraz”. A marca da revelação de Jesus Cristo é a luz, a verdade (cf. Jo 1.14,17; etc.). Em consonância, o evangelho é “palavra da verdade” (Ef 1.13; Cl 1.5; cf. Gl 2.5,14). Logo, também os mensageiros do evangelho são marcados em todo seu serviço pela verdade. Isso é ilustrado, p. ex., de forma impressionante em 2Co 4.2: “Rejeitamos as coisas que, por vergonhosas, se ocultam, não andando com astúcia, nem adulterando a palavra de Deus; antes, nos recomendamos à consciência de todo homem, na presença de Deus, pela manifestação da verdade.”
A verdade deve ser dita “em amor”, pelo que se rejeita qualquer artimanha. A franqueza resultante da verdade alia-se à cordialidade e à retidão que brotam do amor (cf. Fp 2.1). O que vale para a relação entre fé e amor (Ef 1.15) também deve ser aplicado à relação entre verdade e amor: ambos têm origem na revelação de Deus e são confiados aos crentes para o trato uns com os outros.
Por isso não é possível impedir que a verdade seja escândalo apelando ao amor, nem marginalizar o amor em nome da verdade.
Pois a ligação de verdade e amor viabiliza o crescimento da igreja rumo a seu alvo: “e crescer em tudo naquele que é a cabeça, Cristo”.
Com o termo “crescer” Paulo retoma a figura do “ser humano adulto” do v. 13. O termo designa tanto o aumento de cada um na fé (cf. a mesma intenção em Ef 3.16ss), como o crescimento do corpo da igreja (cf. Ef 2.21).
Esse crescimento deve incluir “tudo” (não: o universo) no âmbito da igreja: todo membro, toda atividade no corpo recebe a orientação a partir do cabeça, em direção do qual tudo deve estar voltado. O que vale para cada cristão (aumento na fé, no amor e particularmente no conhecimento do amor de Cristo: Ef 3.17ss) deve impactar toda a igreja.
16 A partir do cabeça resulta, no encerramento dessas considerações sobre a unidade e o crescimento do corpo que Cristo presenteia com dons, o ensejo de ilustrar resumidamente a concomitância e o entrelaçamento desse organismo singular.
Viabilizado por esse cabeça e emanando dele “o corpo todo efetua… o crescimento do corpo para a edificação de si próprio no amor”. O corpo “todo”, até as menores ramificações, recebe de Cristo impulso e vigor para o crescimento, para a edificação. Como em Ef 2.20ss, aparecem também aqui lado a lado as figuras do corpo e da construção. Com o crescimento do corpo em direção do cabeça amplia-se também a construção, favorecendo a sua conclusão. A ligação vital com o cabeça, a única coisa que torna viável esse “efetuar”, exclui a possibilidade de que essa “edificação de si próprio” possa tratar-se de um agir autocrático da igreja. A igreja somente pode ser reconhecida a partir de seu cabeça, Cristo. Toda vez que ela perde isso de vista, o presente trecho visa estimular a retornar para o cabeça.
Todo o corpo é “bem ajustado e consolidado pelo auxílio de toda junta de apoio”. De maneira muito semelhante, Paulo diz, em Cl 2.19: “… o cabeça, a partir do qual o corpo todo é apoiado por articulações e tendões e mantido coeso e cresce pelo agir de Deus.”
Quando se entende o v. 16 como síntese de Ef 4.7-15, as “juntas de apoio”, que possuem uma função central para a coesão do corpo, serão relacionadas com as pessoas incumbidas das tarefas citadas no v. 11.
Também aqui é preciso chamar novamente atenção para o fato de que a tarefa de apoio daqueles especificamente incumbidos apenas é possível a partir de sua ligação vital com o cabeça, uma vez que não representam apenas “dons” para o corpo, mas que também receberam os “dons” pessoalmente de Cristo, de acordo com a vontade dele (Ef 4.7s).
Essa coesão é fomentada “segundo a força atribuída a cada parte”. A formulação “a cada” retoma o v. 7, motivo pelo qual igualmente não deve ser restrito aos que são especificamente encarregados, mas à totalidade dos que creem: a cada um foi concedida, de acordo com a medida do dom de Cristo, a graça com os dons dela decorrentes. De forma análoga o corpo é favorecido por todos os membros. Isso ocorre conforme a força medida para cada parte (cf. Ef 3.7 com vistas ao próprio Paulo).
Assim este versículo sintetiza de fato todo o trecho precedente: partindo da unidade de Deus e de seu agir no corpo de Cristo, o olhar se estende para a multiplicidade dos dons distribuídos aos crentes. Na seqüência, Paulo destaca as tarefas específicas dos apóstolos, profetas, evangelistas, pastores e mestres no preparo dos santos, para que a igreja de Cristo possa alcançar a idade adulta e resistir a doutrinas ardilosas e enganosas. Por fim o apóstolo enfoca novamente a cooperação de todos na edificação do corpo. A característica marcante de toda a incumbência é que a edificação acontece “no amor” (v. 13). Isso sucede quando o conhecimento do amor de Cristo (Ef 3.19) cresce mais e mais e por isso também se fala a verdade em amor (Ef 4.15).
Eberhard Hahn. Comentário Esperança Cartas aos Efésios. Editora Evangélica Esperança./ESTUDAALICAOEBD.BLOGSPOT.COM / WWW.MAURICIOBERWALD.COMUNIDADES.NET