Teologia Sistematica Cristologia (1)
CRISTOLOGIA (2) João 1.1-5,9-14.
O termo “Cristologia” procede de duas palavras gregas, “Christos”, que significa “Ungido”, “Messias”, e “logia”, traduzido por “estudo”, “ciência” ou “tratado”. Cristologia é o estudo da pessoa, natureza, obra e ofício de Cristo, segundo as Escrituras. No que diz respeito à natureza de Cristo, esta é singular, pois ao mesmo tempo em que Jesus Cristo é Deus, no sentido pleno e absoluto do termo, também assumiu a natureza humana, com exceção do pecado, era sua totalidade e perfeição. Jesus era, em sua encarnação, plenamente Deus e completamente humano em todas as áreas de sua vida. No entanto, duas verdades devem ser afirmadas: 1) as duas naturezas nunca se confundem; 2) as duas naturezas não implicam duas personalidades. As naturezas divina e humana coexistem com suas diferenças, mantendo suas características peculiares em uma mesma pessoa. Assim, Jesus e perfeito em divindade e perfeito em humanidade; verdadeiro Deus e verdadeiro homem.
Palavra Chave
Esvaziamento: Do grego ekenōsen, “esvaziar”. Doutrina que trata da auto-renúncia de Jesus ao assumir a natureza humana, porém, sem deixar de ser Deus.Discorrendo sobre a dupla natureza de Nosso Senhor, escreveu admiravelmente J. Blanchard: “Quando Jesus desceu à terra não deixou de ser Deus; quando voltou ao céu não deixou de ser homem”.
Se não crermos em Jesus como verdadeiro homem e verdadeiro Deus, como haveremos de recebê-lo como o Nosso Suficiente Salvador? Ver 2 Tm 2.8; Jo 1.14; Fp 2.7,8.
Nesta lição, entraremos a estudar a Cristologia: o estudo ordenado e sistemático de Cristo Jesus na Bíblia. Principiando com as profecias do Antigo Testamento, vai a nossa abordagem até ao triunfo final do Nazareno. Como não poderemos apresentar uma cristologia exaustiva, buscaremos expor essa doce e maravilhosa doutrina em sua essência.
- A ENCARNAÇÃO DO VERBO DE DEUS
A encarnação do Verbo de Deus não é um mero conceito teológico; é um dos maiores mistérios das Sagradas Escrituras, sem a qual seria impossível a nossa redenção.
- O Verbo de Deus. Abrindo o seu evangelho, escreve João: “E o Verbo se fez carne e habitou entre nós, e vimos a sua glória, como a glória do Unigênito do Pai, cheio de graça e de verdade” (Jo 1.14). Deixa o evangelista bem patente que o Filho de Deus, que se encontrava no seio do Pai, foi concebido pelo Espírito Santo para habitar entre nós (Sl 2.7; Is 7.14; Jo 1.18;3.16). Por que João denomina-o Verbo de Deus? Sendo Cristo o executivo do Pai, todas as coisas vieram à existência por intermédio dEle; sem Ele, nada do que é, existiria.
- O esvaziamento de Cristo. Em sua encarnação, o Cristo tornou-se em tudo semelhante a nós, exceto quanto à natureza pecaminosa e ao pecado (Fp 2.7,8 - ARA).
Em que consistiu o auto-esvaziamento de Cristo? Certamente não esvaziara-se Ele de sua divindade; porquanto, em todo o seu ministério terreno, manteve-a incólume. Aliás, foi Ele, em seu estado de humilhação, reconhecido como Deus (Jo 1.49; 20.28). Consideremos, ainda, a sua oração sacerdotal no Getsêmane. Ele não reivindica ao Pai a sua divindade, porquanto esta lhe é um atributo intrínseco; reivindica, sim, aquela imarcescível e eterna glória (Jo 17.5).
- A concepção virginal do Filho de Deus. Na concepção do Verbo de Deus, não houve o que se convencionou chamar de nascimento virginal; o que realmente se deu foi o mistério da concepção virginal, conforme profetizou Isaías: “Eis que uma virgem conceberá, e dará à luz um filho, e será o seu nome Emanuel” (Is 7.14; Mt 1.25-24; Lc 1.35). Seu nascimento ocorreu em Belém conforme o registro de Lc 2.3-12.
Maria, como as demais mulheres, sentiu as dores de parto ao dar à luz a Cristo; e, Jesus, à nossa semelhança, deixou o ventre materno, natural e não sobrenaturalmente, ao nascer em Belém de Judá. Portanto, se o seu nascimento foi natural, a sua concepção, frisamos, foi um ato miraculoso operado pelo Espírito Santo, conforme registra Lucas 1.30-35.
- OS TRÊS OFÍCIOS DE CRISTO
Escreveu Robert Murray M. Cheyne: “Se eu pudesse ouvir Cristo intercedendo por mim no quarto ao lado, não temeria um milhão de inimigos. No entanto, a distância não faz diferença: ele está intercedendo por mim!”. Além de ser o nosso sacerdote é o Senhor Jesus o esperado profeta e o Rei dos reis. Somente Ele teve condições de exercer, concomitantemente, os três ofícios sagrados do Antigo Testamento.
- O Profeta que havia de vir. Como profeta, Jesus não se limitou a revelar o futuro. Ele ensinou, repreendeu os soberbos e realizou sinais e maravilhas, levando a todos a uma singular admiração (Lc 7.16). Leia Deuteronômio 18.15.
- O Sacerdote segundo a ordem de Melquisedeque. Os sumos sacerdotes, segundo a ordem de Arão, quando morriam, eram substituídos por seus filhos. O Senhor Jesus, contudo, porquanto eterno e Pai da eternidade, tem um sacerdócio eterno (Sl 110.4; Hb 5.6; 7.21). Morrendo em nosso lugar e por nós, vencendo a morte pela ressurreição, intercede ininterruptamente pelos que o recebem como Salvador, garantindo-nos, assim, eterna salvação (Hb 5.9). O que dizer da oração sacerdotal de Cristo? (Jo 17). Sumo sacerdote, segundo a ordem de Melquisedeque, foi o Senhor Jesus, no sacrifício vicário do Gólgota, o oficiante e a vítima ao oferecer-se, de uma vez por todas, para resgatar-nos de nossos pecados (Hb 7.26-28).
- O Rei dos reis. Após a sua ressurreição, e já prestes a subir ao Pai, afirmou: “É-me dado todo o poder no céu e na terra” (Mt 28.18). Naquele momento, assumia Jesus o governo não somente do mundo, como de Israel e da Igreja. Ele é o soberano dos reis da terra (Ap 1.5). É o rei de Israel e cabeça da Igreja (Jo 1.49; Cl 1.18). Como herdeiro do trono de Davi, assumirá o governo do mundo durante o Milênio, levando as nações remanescentes à plena obediência (Is 11.1-10; Ap 19.16).
III. A MORTE VICÁRIA E A RESSURREIÇÃO DE CRISTO
De forma enfática asseverou Thomas Brooks: “O sangue de Cristo é a chave do céu”. Afinal, o que seria o Evangelho sem a morte de Nosso Senhor? Nem Evangelho haveria; ela é a garantia de nossa vida eterna.
- A morte vicária de Cristo. Jesus não morreu na cruz como se fora um mártir; Ele morreu vicariamente como o único e suficiente Salvador da humanidade, a fim de garantir-nos a salvação: “Porque primeiramente vos entreguei o que também recebi: que Cristo morreu por nossos pecados, segundo as Escrituras” (1 Co 15.3). A morte de Cristo é assim descrita pelo evangelista: “E, clamando Jesus com grande voz, disse: Pai, nas tuas mãos entrego o meu espírito. E, havendo dito isso, expirou” (Lc 23.46). Quem, assim, atesta a morte de Nosso Senhor é o evangelista Lucas, o médico amado. Jesus, portanto, não sofreu um desmaio como salientam os inimigos da fé; Ele, de fato, morreu e foi sepultado.
- A ressurreição de Jesus. A ressurreição de Cristo é a principal doutrina do Novo Testamento. Ao expor o seu fato e historicidade, afirmou Paulo: “E, se Cristo não ressuscitou, logo é vã a nossa pregação, e também é vã a vossa fé” (1 Co 15.14). Diante do exposto pelo apóstolo, ousamos afirmar: A ressurreição de Jesus foi completa e não meramente espiritual. Sua ressurreição física pode ser amplamente demonstrada (Jo 20.24-28).
Em 1 Coríntios 15, conhecido como o grande capítulo da ressurreição, afiança Paulo que o Senhor ressurreto, além de ser visto pelos 12 e por mais alguns discípulos, foi contemplado por mais de quinhentos irmãos. E o testemunho dos guardas romanos? E a comprovação dos próprios inimigos do Senhor que, contrariados, viram-se constrangidos a admitir o fato da ressurreição se bem que, em seguida, urdiram a grande mentira? (Mt 28.11-15).
Soube o apóstolo Paulo sintetizar, de maneira singular a vida de Nosso Senhor em 1 Tm 3.16. “E, sem dúvida alguma, grande é o mistério da piedade: Aquele que se manifestou em carne foi justificado em espírito, visto dos anjos, pregado aos gentios, crido no mundo e recebido acima, na glória”.Esse é o Cristo que pregamos. Verdadeiro homem e verdadeiro Deus. Somente nEle e através dEle pode o ser humano obter a vida eterna. Sem Cristo, ninguém chegará a Deus. Amém.
“Jesus uniu na sua pessoa as duas naturezas perfeitas.
- Jesus teve, no seu nascimento, duas naturezas distintas. Pela concepção sobrenatural de Maria, Jesus herdou do seu Pai, pela operação do Espírito Santo (Lc 1.35), a natureza divina com todas as suas características. De Maria ele recebeu a natureza humana. As suas naturezas divina e humana se uniram na constituição de sua pessoa de modo perfeito. As duas naturezas não se misturam, isto é, Jesus não ficou com a sua divindade ‘humanizada’ ou com a sua natureza humana ‘divinizada’. Quando Jesus se fez homem, continuou sendo Deus verdadeiro, mesmo estando sob a forma de homem verdadeiro. As duas naturezas operavam simultâneas e separadamente na sua pessoa. Jamais houve conflito entre as duas naturezas, porque Jesus, como homem, seja nas suas determinações ou autoconsciência, sempre conforme a direção do Espírito Santo, sujeitava-se à vontade de Deus, de acordo com a sua natureza divina (Jo 4.34; 5.30; 6.38; Sl 40.8; Mt 26.39). Assim, Jesus possuía duas naturezas em uma só personalidade, as quais operavam de modo harmonioso e perfeito, em uma união indissolúvel e eterna.
- Ouro e madeira dois símbolos de Cristo. Essa realidade tem um símbolo maravilhoso na arca do tabernáculo. A arca era feita de madeira de cetim, coberta de ouro (Êx 25.10-22). A tampa da arca, chamada de propiciatório, era o lugar onde o sangue da expiação era aspergido. A arca é um símbolo de Jesus como ‘o nosso Mediador’, que revestido de glória está no santuário do céu, onde entrou com o sangue da expiação (Hb 9.5-7,11,12,24). Assim como a madeira da arca (símbolo da humanidade de Cristo) não se misturava com o ouro (símbolo da divindade de Cristo), assim também as duas naturezas de Jesus permaneciam juntas, formando a nossa arca perfeita. Glória a Jesus!
- As duas naturezas operavam lado a lado na vida de Jesus. Essa operação prova sempre que Ele era homem verdadeiro e também Deus verdadeiro. Vejamos aqui alguns exemplos:
- a) Jesus nasceu em toda a humildade (Lc 1.12; 2 Co 8.9, natureza humana), mas o seu nascimento foi honrado por uma multidão de anjos, que o exaltaram como Messias (Lc 2.9-14; natureza divina).
- b) Jesus foi batizado como outros seres humanos, sujeitando-se à justiça divina (Mt 3.15, natureza humana), porém Deus falou naquela ocasião: ‘Este é o meu Filho’ (Mt 3.17, natureza divina).
- c) Jesus foi tentado, como todos os demais homens (Lc 4.1-13; Hb 4.15, natureza humana), mas, tendo Ele vencido, os anjos o serviram (Mt 4.11, natureza divina).
- d) Jesus dormiu de cansaço no barco, apesar da grande tempestade (Mt 8.24, natureza humana), mas depois levantou-se e repreendeu o vento e as ondas (Mt 8.26, natureza divina). Se Ele tivesse sido só Deus, jamais ficaria cansado (Sl 121.4,5).
- e) Jesus, cansado de andar, assentou-se junto à fonte para descansar (Jo 4.6, natureza humana), porém ali Ele descobriu a situação espiritual da mulher, e lhe revelou o caminho da salvação (Jo 4.7-29, natureza divina).
- f) Diante da morte do seu amigo Lázaro, Jesus chorou (Jo 11.33-35, natureza humana), mas ali orou ao seu Pai, e mandou Lázaro sair da sepultura (Jo 11.32-43, nature
za divina).
- g) No jardim Jesus foi preso por homens ímpios (Jo 18.1-3,12,13, natureza humana). Porém, quando Ele disse: ‘Sou eu’, todos os soldados caíram por terra (Jo 18.6, natureza divina), e curou a orelha do servo do sumo sacerdote, que Pedro havia cortado (Lc 22.51, natureza divina).
- Jesus, às vezes, deixou voluntariamente de fazer uso das virtudes da natureza divina. Para fazer a vontade de seu Pai e cumprir as Escrituras (Mt 26.54), Jesus se sujeitou à limitação humana, que havia aceitado. Por exemplo, não quis chamar 12 legiões de anjos para o livrar (Mt 26.53)”.(BERGSTÉN, E. Teologia Sistemática. 4.ed. RJ: CPAD, 2005, p.57-9.)
fonte CPAD
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Teologia Sistematica Cristologia (2)
CRISTOLOGIA N.2
Palavra Chave
Logos: Título cristológico que designa o Senhor Jesus como o Eterno, o Criador e o verdadeiro Deus.
Neste trimestre, estudaremos a vida de Jesus em seus aspectos humanos e divinos (Jo 1.14). Iniciaremos com uma reflexão acerca do Filho de Deus como o Verbo divino encarnado. Esta doutrina, claramente exposta no prólogo do evangelho de João, apresenta Jesus como aquEle que possui os atributos exclusivos e únicos da divindade. Nesta lição, portanto, destacaremos a eternidade e o poder criador de nosso Senhor Jesus.
- O SIGNIFICADO DO TERMO “VERBO”
- A revelação gloriosa. O prólogo do Evangelho de João revela várias verdades a respeito da natureza e deidade de nosso Senhor Jesus Cristo. Aprouve ao Espírito Santo revelar oito maravilhosos títulos divinos de Cristo em Jo 1.1-51: Verbo (v.1); Vida (v.4); Luz (v.7); Filho Unigênito de Deus (vv.18,49); Cordeiro de Deus (v.29); Messias (v.41); Rei de Israel (v.49); e Filho do Homem (v.51). A deidade, natureza, identidade, encarnação e missão de nosso glorioso Salvador manifestos em apenas um capítulo! Prostremo-nos reverentemente diante do Senhor, e, assim como o salmista, declaremos: “Tal ciência é para mim maravilhosíssima; tão alta, que não a posso atingir” (Sl 139.6; Rm 11.33; Ef 1.3).
- O Verbo Divino. O termo “Verbo”, aplicado a Jesus, procede do original Logos e, apesar de seu amplo significado secular, “palavra”, “razão”, ou “pensamento”, é usado no versículo 1 com o sentido de “Verbo ou Palavra divina”. O mesmo vocábulo aparece em 1 Jo 1.1 descrevendo o “Verbo da vida”, e no capítulo 5 versículo 7 da mesma epístola, apenas como “Palavra”.
Na Bíblia, o termo “palavra”, quando vinculado a Deus, revela o seu infinito poder criador, protetor e sustentador de todas as coisas criadas, visíveis e invisíveis (Gn 1.3; Sl 33.6,9; 107.20; Hb 1.3; 11.3).
Por conseguinte, em Deus, o crente sempre estará seguro, pois Ele cuida dos seus filhos e, com a sua destra, protege-os do mal (Sl 60.5; 118.15; Is 45.2-8; Mt6.13).
Quando o evangelho de nosso Senhor Jesus Cristo foi anunciado pela igreja cristã no Século I, os vocábulos, “A Palavra” e “O Verbo”, foram satisfatoriamente compreendidos pelos judeus e gregos, pois essas expressões lhes eram conhecidas.
- AS AFIRMAÇÕES DOUTRINÁRIAS DE JOÃO 1.1
- “No princípio era o Verbo” (Jo 1.1a). Esse trecho afirma que Jesus é eterno. A Bíblia assevera: “No princípio criou Deus os céus e a terra” (Gn 1.1). Porém, em Jo 1.1 a Sagrada Escritura vai infinitamente além do fato expresso em Gn 1.1 ao afirmar que “No princípio era”, ou seja, o Verbo já existia. O Senhor Jesus existe antes de todas as coisas, inclusive antes de o tempo ter início: “E ele é antes de todas as coisas, e todas as coisas subsistem por ele” (Cl 1.17).
O Filho de Deus, além de existir por si mesmo (Jo 5.26), estava com o Pai antes da criação do mundo (Jo 17.5,24). Ele existe por si mesmo e sustenta “todas as coisas pela palavra do seu poder” (Hb 1.3). Isto é consolo e restauração espiritual para o crente, pois o propósito dessa gloriosa encarnação do Verbo divino é prover a “purificação dos nossos pecados”, como afirma a parte final de Hb 1.3 (cf. Jo 1.14). Louvemos ao Verbo, o Criador, Sustentador e Fim de todas as coisas (Ap 1.8).
- “E o Verbo estava com Deus” (Jo 1.1b). O texto é inequívoco: O Filho Unigênito estava com o Pai (Jo 1.18). O Verbo, o Emanuel, não é apenas eterno, mas também distinto do Pai. Essa ortodoxa afirmação aniquila o falso ensino dos modalistas e unicistas que, embora defendam a divindade de Jesus, negam a santa doutrina bíblica da Trindade. Segundo os hereges, Pai, Filho e Espírito Santo são uma só pessoa. Eles não crêem na doutrina da existência de um só Deus que subsiste em três distintas e Santíssimas Pessoas (Mt 28.29). Todavia, esse ensinamento está claramente exposto nas Escrituras. O batismo de Jesus (Mt 3.16,17), sua oração sacerdotal (Jo 17), e a declaração da sua suprema autoridade são refutações clássicas contra essas heresias (Jo 8.17, 18; 1 Jo 2.22-24). Crer e defender a santa doutrina da Trindade não é um privilégio, mas um dever de cada cristão (1 Pe 3.15; Jd v.3).
- “E o Verbo era Deus” (Jo 1.1c). Observe que o conceito expresso nesse versículo é progressivo. Uma declaração (1a; 1b) esclarece a outra até culminar com uma verdade enfática: “e o Verbo era Deus” (1c). Se o prólogo do evangelho de João (1.1-14) fosse o único lugar nas Escrituras em que a divindade do Verbo é afirmada, já teríamos subsídios suficientes para crer e confessar a doutrina. Todavia, esse ensino é asseverado em todo o contexto bíblico (Jo 5.18, 10.30; Cl 2.9). Portanto, inúmeras e inegáveis provas bíblicas atestam que a crença na divindade de Jesus é indispensável para a salvação da alma (1 Co 15.1-4; 1 Tm 6.15,16; Hb 1.1-3; 1 Pe 1.2-5; 1 Jo 5.5.1-13).
III. QUALIDADES DIVINAS DO VERBO
Após apresentar o Verbo divino, enfatizando sua preexistência, natureza e igualdade com o Pai, João descreve alguns de seus atributos e prerrogativas.
- Criador (vv.3,10). O Verbo é apresentado nas Escrituras como o Deus Criador: “Todas as coisas foram feitas por ele, e sem ele nada do que foi feito se fez” (v.3). Ele “estava no mundo, e o mundo foi feito por ele” (v.10). Essa doutrina invalida a crença dos grupos religiosos que dizem ser o Verbo uma mera criatura, e não o Criador. Contudo, a Bíblia é categórica: “Porque nele foram criadas todas as coisas que há no céu e na terra” (Cl 1.16). O Verbo divino não faz parte da criação; transcende-a, pois é o Criador de todas as coisas (Hb 1.1,2,10). Quando a Bíblia afirma que Jesus é o Criador, atribui-lhe o mesmo título pelo qual o Pai é conhecido no Antigo Testamento (Gn 1.1; Jó 33.4; Sl 138.13-18). Assim como o salmista prorrompeu em júbilo diante do Deus Criador, façamos o mesmo perante o Filho, o Criador de todas as coisas: “Ó, vinde, adoremos e prostremo-nos! Ajoelhemos diante do Senhor que nos criou” (Sl 95.6).
- “Nele estava a Vida” (v.4). Jesus declarou que além de possuir a “vida em si mesmo” (Jo 5.26) era a “ressurreição e a vida” (Jo 1 1.25; 5.25). No Antigo Testamento, o Pai é identificado como a fonte e o manancial da vida (Gn 2.7; Dt 30.20; Sl 36.9). Era um título que pertencia exclusiva e unicamente ao Criador de toda vida (Sl 133.3).
Cristo, entretanto, atribuiu a si mesmo essa designação divina (Jo 5.21,26) e, como tal, foi reconhecido seja através de seus ensinos (Jo 5.32-35; 11.25) seja por meio de seus atos milagrosos (Jo 11.42-45; Mt 9.18,19,23-25).
A vida em Cristo é eterna não apenas no sentido de sua duração, mas por sua qualidade (Cl 3.4; 1 Tm 1.1; 2 Tm 1.10). A vida que provém de Deus é cheia de gozo, paz e alegria. Jesus asseverou-nos: “Eu sou o caminho, e a verdade, e a vida. Ninguém vem ao Pai senão por mim” (Jo 14.6).
- “A luz verdadeira” (v.9). A Palavra de Deus ensina enfaticamente que Deus é Luz (1 Jo 1.5; Sl 27.1) e que “habita na luz inacessível” (1 Tm 6.16). Esse título divino seria também uma designação do Messias, o Servo do Senhor (Is 42.6,7; 9.2; Mt 4.16). O termo “luz” aparece cerca de 20 vezes no evangelho de João (1.4,5,89; 3.19; 8.12; 12.46), e, na maioria das ocasiões, refere-se a Jesus como a luz do mundo (Jo 8.12). No relato da Criação, lemos que Deus, pelo poder de sua Palavra, fez surgir a luz, que desfez o caos (Gn 1.2,3). O Senhor Jesus é a “luz que alumia a todo homem que vem ao mundo” (v.9), e por isso, desfaz o caos da vida humana (2 Co 4.6).
Em Jesus estão reunidas todos os atributos divinos que o descrevem como o único e suficiente Salvador da humanidade. Sua história e suas obras não se limitam ao período entre seu nascimento e sua morte (Hb 13.8). O Filho de Deus esteve presente eternamente, atuando especialmente na História da Salvação. Ele veio como homem e sua glória foi vista pelos de sua geração; realizou a obra da redenção na cruz do Calvário, e retornou ao Céu, de onde dirige a sua Igreja e voltará em glória para estabelecer a paz universal.
“A Palavra na Eternidade (1.1-5)
Os versículos 1 a 4 narram o estado preexistente de Jesus e como Ele agia no plano eterno de Deus. ‘No princípio’ (v.1a) fala da existência eterna da Palavra (o Verbo). As duas frases seguintes expressam a divindade de Jesus e sua relação com Deus Pai. Esta relação é uma dinâmica na qual constantemente são trocadas comunicação e comunhão dentro da deidade. O versículo 2 resume o versículo 1 e prepara para a atividade divina fora da relação da deidade no versículo 3. No versículo 4 Ele é o Criador mediado. O uso da preposição ‘por’ informa o leitor com precisão que o Criador original era Deus Pai que criou todas as coisas pela Palavra. Os verbos que João usa nestes versículos fazem distinção entre o Criador não-criado, a Palavra (o Verbo) e a ordem criada. Numa boa tradução, a RC observa esta distinção: a Palavra (o Verbo) ‘era’ mas ‘todas as coisas foram feitas’. O versículo 4 conta várias coisas para o leitor: 1) A Palavra divina, como Deus Pai, tem vida em si mesma, vida inchada (ou seja, é a fonte da vida eterna). 2) Esta vida revelou a pessoa e natureza de Deus para todas as pessoas. 3) ‘Luz’ neste ponto pertence à revelação autorizada e autêntica de Deus [...]”.(ARRINGTON, F. L; STRONSTAD, R. (eds.) Comentário bíblico Pentecostal: Novo Testamento. 2.ed., RJ: CPAD, 2004, p. 496.)
“No princípio, era o Verbo, e o Verbo estava com Deus, e o Verbo era Deus”.As três incisivas afirmações a respeito da deidade de Jesus são formuladas com base nos diversos sentidos do verbo “eimi”, ou “eu sou”: era, estava, era.Na primeira expressão, “era o Verbo”, o sentido de “era” é “existir”: “No princípio, havia, existia o Logos”. Afirma a preexistência ou eternidade do Filho de Deus.Na segunda sentença, “o Verbo estava com Deus”, “estava” refere-se à posição do Filho de “estar frente a frente com Deus”, idéia reforçada pela preposição “pros” que significa “face a face” ou “frente a frente”. O Logos, portanto, estava “face a face com Deus”. Isto atesta que o Filho é distinto do Pai, mas de natureza idêntica.
Na última oração, “o Verbo era Deus“, é asseverado o “ser” ou a “natureza” da Palavra: Aquele que existe por si mesmo. Por conseguinte, o Verbo era divino. Portanto, no princípio existia o Verbo, e o Verbo estava face a face com Deus, e o Verbo era Deus verdadeiro.FONTE CPAD
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