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A Excelência do Método Canônico
A Excelência do Método Canônico

A Excelência do Método Canônico (I) 

INTRODUÇÃO

 MAURICIO BERWALD

Certa vez, ao tentar recompor uma propositura teológica, vi-me constrangido a resolver uma questão crucial e um tanto incômoda: Que método hermenêutico devo adotar? Eu poderia ter optado pelo método liberal: o histórico-crítico. Ou prosseguir com o preferido por boa parte dos fundamentalistas: o histórico-gramatical. Mas tais opções apresentavam alguns problemas e várias inconsistências. Decidi, então, elaborar uma metodologia que me conduzisse à Bíblia Sagrada, reconsagrando-a como a inspirada, inerrante e completa Palavra de Deus, pois, somente assim, teria condições hermenêuticas e teológicas de alcançar a meta que eu delineara ao esboçar aquela obra.

 

O método que, aqui, exponho e que, a partir deste instante, passo a chamar de canônico, é alicerçado em cinco pressupostos: o fideísta, o linguístico, o histórico, o soteriológico e o edificativo. A estas alturas, a questão já é imperiosa: por que a metodologia é imprescindível ao labor teológico?

 

  1. A IMPORTÂNCIA DO MÉTODO

 

Embora o método não seja um fim em si mesmo, não podemos ignorá-lo no labor teológico. Sem uma metodologia bíblica confiável e fundamentada na genuína fé cristã, jamais viremos a compreender as verdades que o Pai Celeste revela-nos em sua Palavra.

 

  1. Definição de método. O étimo da palavra método provém do grego e significa meio, ou caminho, que se usa para se chegar a determinado fim. Nesse sentido, o método é o processo que, conduzido logicamente, tem por objetivo orientar a pesquisa de um tema quer científico quer filosófico ou teológico.

 

  1. Método hermenêutico-teológico. Enaltecida como ciência divina, a Teologia não dispensa as ferramentas da razão, embora esteja muito acima desta. Doutra forma, não poderia sistematizar, com eficiência, as verdades referentes ao Verdadeiro e Único Deus expostas na alma humana, no mundo natural, na História e, principalmente, na Bíblia Sagrada. Na verdade, os instrumentos da razão não pertencem rigorosamente à Filosofia; sempre estiveram em nosso espírito. O próprio Deus insta seus filhos a arrazoarem com Ele (Is 1.18). Conclui-se que o Criador é um Ser logicamente plausível.

 

No Areópago de Atenas, Paulo fez uso da filosofia grega a fim de expor aos estoicos e epicureus duas coisas: a inutilidade dessa mesma filosofia e a eficácia do Evangelho (At 17.16-31). Em sua apologia, o apóstolo foi mais eloquente que Péricles, mais inquiridor que Sócrates, mais lógico que Aristóteles e muito mais sublime que Platão. Se por um lado, não converteu os filósofos ali reunidos; por outro, constrangeu-os a se calarem. Mas nem por isso deixou de ser evangélico e soteriológico; levou Dâmares, Dionísio e outros ouvintes aos pés de Jesus (At 17:34).

 

  1. O método canônico. O método canônico pode ser descrito como a exegese, que, partindo do Cânon Sagrado, interpreta este mesmo Cânon com os recursos daí advindos. Em palavras mais simples, a Bíblia Sagrada possui recursos suficientes para interpretar a si mesma. Firmado nessa pressuposição áurea, provarei, ao longo desta obra, que a Palavra de Deus não depende das ciências humanas para falar ao nosso coração. Isso não significa que desprezaremos a concorrência da história, da arqueologia e da linguística. Tais recursos terão a sua vez. No entanto, comportar-se-ão como auxiliares submissos e dóceis da Teologia.

 

Achei por bem chamar de canônico a este método, porque todos os instrumentos de que necessito para interpretar as narrativas e proposições sagradas encontram-se no cânon da própria Bíblia. Tal procedimento, usado pelos apóstolos para interpretar cristologicamente os profetas, fora utilizado originalmente por estes a fim de virem a entender, com base nos escritos de seus predecessores, os sinais dos tempos. Haja vista Daniel. Indagando a sorte dos judeus exilados em Babilônia, ele só logrou compreender o mistério das Setenta Semanas, após debruçar-se sobre os escritos de Jeremias (Dn 9:1,2).

 

Se lermos atentamente o Salmo 119, constataremos que Davi, ao servir-se do método canônico, veio a conhecer em sua essência o espírito da Lei que o Senhor entregara a Moisés. Já os escribas e fariseus, por outro lado, entorpecidos pelo magistério dos anciãos, foram incapazes de ver, no Antigo Testamento, a chegada do Novo. Ainda hoje, quando os judeus põem-se a ler a Lei, os Profetas e os Escritos veem-se toldados pelo véu de sua hermenêutica viciada pela incredulidade (2 Co 3:15,16). No desprezo pelo método canônico, são incapazes de contemplar a Jesus nas Escrituras que têm em mãos (Rm 10:8-13). E, ainda que haja eruditos competentes entre eles, não conseguem desenvolver uma cristologia mínima. Como podem ler o capítulo 53 de Isaías e não contemplar, ali, o Cristo ferido e humilhado de Deus?

 

Vejamos, a seguir, os pressupostos básicos do método canônico. Tais pressupostos, aliás, não são ignorados apenas pela comunidade hermenêutica de Israel; ignoram-nos, igualmente, a academia teológica cristã pós-moderna.

 

A Excelência do Método Canônico (II)

  1. O PRESSUPOSTO FIDEÍSTA

 

Sem fé, não podemos dialogar com os autores da Bíblia Sagrada; diante de seus escritos, não há alternativas intermediárias. Ou cremos que Deus os inspirou, ou neles desacreditamos de vez. A experiência mostra-nos que ninguém, ao abrir as Escrituras, queda-se indiferente e apático. Desse encontro, sairemos crentes, amando o Senhor acima de todas as coisas, ou, incrédulos, negando-lhe sistematicamente a existência e a obra.

 

A Bíblia requer de cada um de seus leitores, intérpretes e expoentes decisões radicais e, às vezes, sacrifícios supremos. Ela tem autoridade, inclusive, para constranger-nos à morte em defesa da santíssima fé (Jd 1.20). Não bastasse tal perspectiva, encoraja-nos ainda a não amarmos a própria vida (Ap 12.11). Ora, só o Altíssimo pode exigir-nos tais oferendas. Por esse motivo, temos de acreditar, sem hesitação, serem o Antigo e o Novo Testamento a Palavra de Deus. Caso contrário, não nos aventuraremos a morrer por seus ensinos.

 

Do que acima dissemos, logo concluímos: somente homens inspirados por Deus teriam condições de instar-nos a semelhantes despojamentos, pois eles próprios, convictos de sua chamada, imolaram-se no altar do serviço divino (Hb 11.35-40). Portanto, a Bíblia Sagrada tem de ser, necessariamente, a inspirada, a inerrante e a completa Palavra de Deus. Que ela, pois, seja aceita, obedecida e interpretada fideisticamente. Este é o pressuposto fundamental do método canônico de interpretação das Escrituras.

 

  1. O fideísmo hermenêutico. O fideísmo hermenêutico não abomina a razão, nem repele os instrumentos que ela oferece. Ao invés de desprezá-la como lacaia, ou adorá-la como deusa suprema, os exegetas canônicos sabem como pô-la no lugar mais apropriado. Sendo assim, não a olhemos como a lacaia desprezível, nem como a deusa absoluta e voluntariosa. Vejamo-la tão somente como a criada submissa e dócil, cuja missão é auxiliar-nos a sistematizar os oráculos e doutrinas que nos entesouraram os profetas e apóstolos.

 

Através desse método, adentremos a Bíblia Sagrada, acreditando amorosa e piedosamente que ela é, de fato, a Palavra de Deus. Se para chegarmos ao seu Autor temos de crer que Ele existe, outra atitude não devemos ostentar em relação ao seu Livro (Hb 1.6). Portanto, se não estivermos certos de que os santos profetas hebreus e os apóstolos de Jesus Cristo falaram inspirados pelo Espírito Santo, jamais agradaremos a Deus, pois tanto estes como aqueles transmitiram-nos, fidedignamente, os arcanos divinos (2 Pe 1.20,21).

 

Dois personagens bíblicos exemplificam de que maneira devemos apresentar-nos perante a Palavra de Deus. Um é positivo. O outro, além de negativo, é irreverente e cruel. Se um é fideísta, o outro é contrário a fé e inimigo declarado de Jeová.

 

No capítulo 36 de Jeremias, espantamo-nos com a atitude de Jeoaquim diante das Escrituras Sagradas. Ao ouvir a leitura das advertências, denúncias e lamentações do profeta Jeremias, o rei de Judá deixou-se tomar por uma ira que ia além da irracionalidade. E, agora, já tomado pela loucura, arrebata o rolo sagrado às mãos de Jeudi, um de seus cortesãos mais próximos, corta-o com o canivete de escrivão, e lança-o ao braseiro (Jr 36.20-27).

 

Essa é a atitude dos que, embora próximos à Palavra de Deus, acham-se distanciados do Deus da Palavra. Desprezando-a, arrebatam-na como propriedade sua. E, manipulando o canivete de uma hermenêutica diabolicamente crítica e pretensamente histórica, põem-se a retalhar os oráculos divinos. Aqui, cortam as promessas; ali, recortam as admoestações. Mais adiante, fatiam as advertências quanto à santificação, sem a qual ninguém verá o Senhor. Não satisfeitos, ainda sulcam os sinais que anunciam a volta de Nosso Senhor.

 

O canivete do liberalismo teológico nunca esteve tão afiado. Nestes dois mil anos de peregrinação da Igreja, muitos são os hermeneutas e exegetas, que, zombando de Deus, fracionam-lhe a Palavra. E, da cumeeira de suas inquisições e saberes, lançam-na ao fogo de academias ímpias e custodiadas por Satanás. 

 

Deixemos, porém, o exemplo do rei de Judá, e concentremo-nos na atitude do Rei dos Judeus e de todos os gentios.

 

Já exposto à tentação no deserto, o Senhor Jesus dá início ao seu ministério com um sermão na sinagoga de Nazaré, cidade onde fora criado. Num gesto litúrgico, põe-se de pé a fim de ler a Escritura Sagrada. Providencialmente, o guardião do culto entregara-lhe o rolo, no qual se achava o profeta Isaías. Mesmo antes de proferir qualquer elocução, todos ali veem, até mesmo os que se recusam a ver, que, naquele instante, o Verbo conjuga-se com a Palavra (Lc 4.16,17).

Pausado e solene, o Senhor lê os versículos iniciais do capítulo 61 de Isaías. Antes mesmo da exegese do texto, todos já sabem estar perante uma profecia messiânica. Mudo, o Filho demonstra, eloquentemente, proceder do Pai. E, assim, declara o que cada um já sabia. Jesus, pela Palavra, revela a Palavra de Deus, porquanto é a própria Palavra de Deus.

 

Ao ler a Escritura, Jesus sabia que o profeta falara inspirado pelo Espírito Santo. A partir dessa convicção, o método canônico, fluída e docemente, encarrega-se de revelar o real significado do texto. Ele faz uma exegese viva do oráculo que o seu próprio Espírito inspirara (1Pe 1.10,11). Quanto a nós, se de fato somos imitadores de Cristo, aproximemo-nos da Bíblia Sagrada com igual certeza. 

 

Antes de o Verbo ir à Palavra, em Nazaré, teve de enfrentar o tentador, que, afeito ao deserto e à mentira, manipulou com expressiva magia o método histórico-crítico. Num primeiro momento, o Diabo induz o Filho de Deus a descrer da própria filiação divina. Na instância seguinte, força-o a abdicar-se de seu trono milenário, para adorá-lo como o deus deste século. Mas Jesus, interpretando canonicamente a Escritura, rebateu, com a Escritura, o mau uso que o Diabo fazia da mesma Escritura. Temos, aí, um dos mais memoráveis embates entre o método canônico e o pós-moderno.

 

Só utilizará com eficácia o método canônico quem acredita ser a Bíblia Sagrada a inspirada, a inerrante e a completa Palavra de Deus. Se este é o seu caso, ouse declarar como o apóstolo Paulo: “Tendo, porém, o mesmo espírito da fé, como está escrito: Eu cri; por isso falei. Também nós cremos; por isso, também falamos” (2 Co 4.13).

 

A Excelência do Método Canônico (III)

III. O PRESSUPOSTO LINGUÍSTICO

 

Minha primeira Bíblia, ganhei-a de meu saudoso pai. Recoberta de um couro forte e luzidio, que a protegia dos ímpetos e desleixos de um adolescente de 14 anos, era um presente belo e não muito barato para aqueles dias. De imediato, pus-me a lê-la; diversas vezes eu a li. Até em voz alta eu a li. Sua linguagem clássica e preciosa não me assustou. Aqui, deparava-me com uma palavra difícil; ali, com um termo ainda peregrino. Mas não me demorei a adaptar-me à belíssima tradução de João Ferreira de Almeida Revista e Atualizada.

 

Não sei quantas vezes li aquela Bíblia. Em suas páginas, hoje amarelecidas e algumas já rotas, sentava-me aos pés dos santos profetas e dos apóstolos de Jesus Cristo. E, apesar da sublimidade de seus ensinamentos, jamais deixei de compreender o que Deus, pela inspiração do Espírito Santo, revelara-lhes. Por isso, hoje, todas as vezes que abro minhas Bíblias, quer no vernáculo quer noutras línguas, parto deste pressuposto: Deus fala aos seus filhos numa linguagem que lhes é comum, franca e perfeitamente compreensível. Essa acomodação do Pai Celeste às nossas limitações realça-lhe ainda mais o amor.

 

  1. O pressuposto linguístico. O segundo pressuposto do método canônico é, para o crente fiel, algo que beira à obviedade: Deus, o real autor da Bíblia Sagrada, revela-nos a sua Palavra em nossa própria linguagem. Aliás, a língua que hoje falamos, em que pese a confusão de Babel, com Ele aprendemos. Não diz Moisés, em Gêneses, que o Senhor, sempre à tardinha, descia ao Éden para conversar com o seu jardineiro? (Gn 3.8). A comunicação entre o Criador e a criatura era aberta e sem ruídos. Até mesmo o homicida Caim era capaz de discernir a voz do Juiz de toda a Terra (Gn 4.6-14).

 

Ao enviar Ezequiel a protestar contra as apostasias da Casa de Judá, o Senhor foi-lhe energicamente claro: “Pois tu não és enviado a um povo de estranha fala, nem de língua difícil, mas à casa de Israel; nem a muitos povos de estranha fala, e de língua difícil, cujas palavras não possas entender; se eu aos tais te enviara, certamente te dariam ouvidos” (Ez 3.5,6). De fato, os judeus não demoraram a entender que, apesar da linguagem humana, era o próprio Deus quem lhes falava. E, não obstante os símbolos apocalípticos, eles logo vieram a compreender a gravidade das advertências de Jeová.

 

Ao escrever aos coríntios, sempre tão exigentes e intolerantes, Paulo afiança-lhes que, embora inspirado pelo Espírito Santo, não usava palavras que lhes fossem desconhecidas: “Porque nenhuma outra coisa vos escrevemos, além das que ledes e bem compreendeis; e espero que o compreendereis de todo” (2 Co 1.13). De fato, em suas cartas, havia algumas coisas difíceis de entender. Todavia, o apóstolo jamais deixou de escrever no vernáculo de seus leitores imediatos; nenhum vocábulo angélico utilizava. Os que as torciam, pretextando dificuldades hermenêuticas, foram duramente censurados por Pedro (2 Pe 3:15). A mensagem divina, portanto, ainda que à primeira vista pareça-nos ininteligível, sempre nos virá numa linguagem humana. Afinal, o Pai Celeste, no Filho, fez-se Emanuel para revelar-nos os mistérios e as belezas do Evangelho.

 

  1. Deus, o comunicador por excelência. Deus fala-nos por intermédio da natureza, da consciência e da História. E, através de sua Palavra, transmite-nos plenamente a sua boa e perfeita vontade. A comunicação é inerente à sua natureza. Ele é um ser autorrevelativo. Por isso, confiou-nos a Bíblia Sagrada. Ao lê-la, convencemo-nos de que tudo quanto nela foi escrito, para a nossa redenção o foi (Rm 15.4). Em suas narrativas e proposições, ouvimos-lhe claramente a voz, intimando-nos a uma doce e indelével comunhão.

 

A bem da verdade, nem de hermenêutica formal carecemos, pois o Espírito Santo, sendo o real intérprete da Bíblia, leva-nos a entendê-la perfeitamente (Jo 14.25). É claro que não devemos desprezar os que nos interpretam a Palavra, pois, na jornada para o céu, sempre precisaremos, aqui na terra, de um exegeta como Filipe a fim de explicar-nos o que não lograrmos entender (At 8.30). Além do mais, o próprio Deus instituiu o ministério Cristão, visando o nosso aperfeiçoamento hermenêutico (Ef 4.11-13). Sob a luz do Consolador, jamais nos faltará a luz verdadeira.

 

  1. O Evangelho em todas as línguas. Constrangido pela sedição dos filhos de Noé a confundir-lhes a língua, em Sinear, o amoroso Senhor nem por isso abandonou-os (Gn 11.1-9). E, agora, mesmo espalhando-os pelos continentes e ilhas de um mundo vasto e ainda ignoto, jamais deixou de visitá-los em suas etnias, culturas e idiomas. No Dia de Pentecostes, demonstrando mais uma vez a sua graça, reverte a confusão de Babel, e fala à multidão de nações representadas em Jerusalém através das línguas que repartira entre os apóstolos e discípulos de Cristo (At 2.1-11).

 

Se Deus confundiu-nos a linguagem em Babel, não nos deixou confusos em Jerusalém. Falando as línguas mais longínquas, reuniu, num só corpo, os estrangeiros que, em Sinear, dispersara. De tal modo Ele nos comunicou a mensagem evangélica que, hoje, embora provenientes dos países mais longínquos e das culturas mais distantes e diversas, todos sentimo-nos irmãos, pois como irmãos fomos batizados no corpo de Cristo (Gl 3.27,28).

 

A fim de não alijar nenhum grupo linguístico, ou dialetal, o Senhor Jesus ordenou aos seus discípulos que, indo por todo mundo, pregassem o Evangelho a toda a criatura (Mt 28.19,20). Tal ordenança começou a ser cumprida a partir de Jerusalém, em aramaico. Em seguida, os discípulos alcançaram Antioquia, em grego, e, depois, Roma, em latim. Até os bárbaros da perdida Malta ouviram falar de Cristo em seu próprio dialeto. Quanto a nós, a verdade divina nos é comunicada ao coração num português compreensível, simples e belo.

 

Conclui-se, pois, que Deus, através da Bíblia Sagrada, comunica-nos uma mensagem clara, direta e eficazmente redentora. A partir deste pressuposto, aproximemo-nos de sua Palavra, acreditando que, lendo-a, conheceremos a intervenção do Pai Celeste em cada etapa da História.

 

. A Excelência do Método Canônico (IV)

O PRESSUPOSTO HISTÓRICO

 

Em junho de 2013, achava-me internado num hospital do Rio de Janeiro, quando, certa tarde, recebi a visita de um enfermeiro. Ali estava, explicou-me ele gentilmente, não para administrar-me qualquer medicação, mas para falar-me de seu trauma como estudante de teologia. Sem perder tempo, relatou-me que um de seus professores, depois de alertá-lo de que, naquele seminário, não se perdia tempo com oração, nem com a leitura devocional da Bíblia, aconselhou-o a descartar, como história verídica, os onze primeiros capítulos do Gênesis. Tal postura, aos olhos daquele mestre, segundo pude depreender das palavras do esforçado profissional da saúde, era sinal de maturidade teológica.

 

Diante de um quadro tão catastrófico, só me cabia uma coisa: aconselhá-lo a deixar aquela instituição de ensino imediatamente e, sozinho, longe de tais professores, mas sempre com a ajuda do Espírito Santo, pôr-se a meditar nas Sagradas Escrituras. Louvo a Deus, todavia, pelas escolas teológicas que ainda primam pela ortodoxia bíblica.

 

Ao estudar a Bíblia, pelo método canônico, eu jamais deixei de partir deste pressuposto: as Sagradas Escrituras são um livro histórico confiável e digno de toda a aceitação.

 

  1. A linguagem da Bíblia é histórica. Ao contrário do estilo poético do autor da Epopeia de Gilgamesh, lenda suméria do segundo milênio antes de Cristo, o autor do Gênesis inicia a narrativa sagrada, afirmando claramente, que, “no princípio, criou Deus os Céus e a Terra” (Gn 1.1). Decorridos 15 séculos, desde a redação do primeiro livro do Antigo Testamento, o Senhor Jesus, ao inaugurar o Testamento Novo, atesta a veracidade histórica da obra mosaica (Mt 19.4,5). O que disto se conclui? Antes de tudo, que estamos diante de fatos verídicos, não de estorinhas da carocha.

 

Os profetas e apóstolos, instados por Deus a narrar a História Sagrada, não o fizeram pela poesia quimérica e frívola do paganismo. Mas, guiados pelo Espírito, utilizaram-se eles de uma prosa realista, consciente e verdadeira; um estilo mais afeito à historiografia. Assim, ao longo de 1600 anos, reconstituíram fielmente os atos divinos. Isso não significa que a prosa bíblica esteja destituída de poesia, nem que os hagiógrafos não sejam também poetas. Aliás, é justamente na Bíblia, que encontramos os versos mais altos e sublimes. Homero e Hesíodo já não contaram com tal suporte. Por isso, grotescamente divinizaram o humano, e, bizarramente, humanizaram o divino.

 

Se os profetas hebreus retrataram os homens como entes meramente humanos, os poetas gregos, para redimensionar a própria gênese, pintaram meros humanos como se fossem deuses. E, dessa forma, sempre em busca de glória, mitologizaram Aquiles e Héracles; até Heitor foi por eles mitologizado. Apesar de todos esses flagrantes exageros, Aristóteles não se pejou em chamá-los de teólogos. Nesse particular, não sei quem é mais inapropriado: o filósofo grego, ou nós, que, de posse do mesmo vocábulo, outorgamos generosamente o título aos que se consagram às ciências divinas.

 

  1. As evidências históricas. Não vejo os acadêmicos pós-modernos questionarem os relatos de Heródoto (485-430 a.C.), as narrativas de Tucídides (460-411 a.C.) e as exposições de Suetônio (69-141 d.C.). Todavia, quando se põem a dialogar com a Bíblia, exaltam-se tanto, que fazem de sua arenga um monólogo insuportável. Monopolizando o discurso, não permitem o mínimo aparte aos que defendem a historicidade da Bíblia Sagrada.

 

Que as Escrituras são um livro historicamente confiável, não há dúvidas. Na redação do Pentateuco, por exemplo, Moisés, não apenas inspirado, mas igualmente iluminado pelo Espírito Santo, foi buscar informes e rescaldos em documentos como o Livro das Guerras do Senhor (Nm 21.14) e nos poetas que precederam os literatos hebreus (Nm 21.27).

 

Quanto à vida e ao ministério de Jesus Cristo, o que podemos dizer? Apesar da procura insana pelo Jesus Histórico que a academia moderna, desde Albert Schweitzer (1875-1965), busca desvincular do Cristo da Fé, o Filho de Deus pode ser encontrado em cada página da Bíblia e em todos os eventos da História. Acerca dessa discussão, alertamos desde já: assim como não podemos separar as naturezas divina e humana de Jesus, de igual modo não devemos separar o Jesus da História do Cristo da Fé, pois semelhante dicotomia é abominável ao Novo Testamento. Existe apenas um Cristo: o autor e consumador de nossa fé.

 

Os quatro evangelistas, ao narrarem a vida e a obra de Jesus, não o deixam perdido no tempo, nem deslocado no espaço. Eles foram de tal modo criteriosos que Lucas, por exemplo, teve o cuidado de informar, com incrível precisão, que o Filho de Deus veio ao mundo durante o reinado de César Augusto (63 a.C-14 d.C). Sobre a geografia messiânica, pode ser averiguada por qualquer crítico acérrimo e irreconciliável. Portanto, não precisamos sair do Novo Testamento para encontrar o Cristo Histórico, pois o Filho de Deus, ao encarnar-se como o Filho do Homem, fez-se Rei dos reis e Senhor dos senhores.

MMMMMMMMMMMMMMMMMMMMMMMMMMMMMMMMMMMMMMMMMM

 

 

M

 

Star Trek e o ateísmo pós-moderno

 

Antes mesmo de a Apolo 11 pousar na Lua, a Enterprise de Gene Roddenberry (1921-1991) já havia cruzado a fronteira final. Em 1966, o roteirista e produtor norte-americano inaugurou a franquia de Star Trek, na rede de televisão NBC, com uma série de três temporadas. Apesar dos recursos minguados, a produção decolou; foi além do espaço profundo. De repente, os espectadores viram-se na posição de expectadores. Agora, não se limitavam a assistir as aventuras do capitão James T. Kirk; almejavam, agora, representar a Federação Unida de Planetas, nas galáxias mais distantes e desconhecidas.

O que era ficção já beirava à alucinação.

 

Neste trecho de nossa jornada nas estrelas, você já deve estar perguntando, querido leitor, por que um teólogo se interessaria por uma série de ficção científica. Afinal, Star Trek não fala de religião nem de credos. Não mostra sinagogas nem mesquitas; nem igrejas chega a mostrar. Ela sequer faz referência ao Cristianismo. Então, por que despender energia e tempo com algo tão disteológico? Não seria mais racional deixar este assunto com os críticos de cinema?

O que mais me chamou a atenção, no referido entretenimento, foi justamente a sua arrogante indiferença aos assuntos espirituais. Na verdade, Star Trek não é tão disteológica quanto aparenta; nas entrelinhas de seus roteiros, é ateológica e nietzschiana.

 

Se atentarmos à metalinguagem de Star Trek, constataremos algo perturbador; sutilmente, anuncia a morte de Deus. O Sr. Roddenberry precisou apenas de um episódio de cinquenta minutos, para destruir toda a religiosidade humana. Segundo o seu vaticínio, na data estelar 1513.1, já não haverá qualquer manifestação teológica ou mística no Cosmo. O século 23 será irreligioso; enfim, teremos o homem como a medida de todas as coisas espirituais, morais, éticas e físicas.

A data estelar, a propósito, foi criada pelo historiador e filólogo francês Joseph Julius Scaliger (1540/1609).

 

De forma sutil e mui sagaz, Roddenberry e seus roteiristas lograram mostrar, sem alarmar os apologetas cristãos, que, daqui a duzentos anos, o Cristianismo será apagado da mente e do coração da humanidade. O que Lênin, Stalin, Mao Tse-tung e Fidel Castro não conseguiram, o criador de Jornada nas Estrelas obteve num único episódio. Ele sequer teve de imprimir a dobra máxima, em sua nave, para fugir aos sentimentos religiosos que, desde Adão e Eva, vêm constrangendo o ser humano a olhar para cima, a fim de contemplar a glória de Deus.

 

Já que estamos nos limites do quadrante Beta, você deve estar indagando, meu querido e paciente leitor, como cheguei a tal conclusão.

 

A fim de responder a esta pergunta, farei outra: Como tipificar uma nave que sai para uma jornada de cinco anos, para explorar o desconhecido, sem ter, entre os seus tripulantes, um único capelão? Na Enterprise não há pastor nem rabino e nem padre. Isso não é normal numa missão rumo ao ignoto. Quando da descoberta do Brasil, em 22 de abril de 1500, havia vários religiosos a bordo das naus portuguesas, entre os quais, o frei Henrique de Coimbra, que oficiou a primeira missa católica em solo brasileiro (1465-1532).

 

Se formos às embarcações batizadas de Enterprise, certificaremos que cada uma delas tinha, e jamais deixará de ter, os seus capelães. No porta-aviões, que leva este nome, o primeiro da classe movido a energia nuclear, havia uma capela ecumênica e, pelo menos, quatro ministros religiosos: um protestante, um católico, um judeu e um muçulmano. Mas na Enterprise do capitão Kirk, não há capela nem capelão; em sua jornada, ele faz questão de reafirmar a preposição ímpia e blasfema de Nietzsche: se Deus ainda não morreu, daqui a dois séculos e meio, o seu óbito já estará lavrado.

 

Agora que já estamos prestes a entrar no quadrante Gama, cabe-nos outra pergunta. Se, na Enterprise de Star Trek, não há representação religiosa, como o imperturbável capitão Kirk lida com as tensões espirituais, morais e psicológicas de seus comandados? Sim, porque tais problemas não podem ser resolvidos pelos avanços tecnológicos. Antes, quanto mais se avança em ciência, mais se avança em tristezas e depressões. Não foi o que ressaltou o Eclesiastes?

 

Para contornar os conflitos humanos, o Sr. Roddenberry criou vários engenheiros da alma humana. O primeiro deles foi o Sr. Spock, oficial de ciências da primeira Enterprise. Natural do planeta Vulcano, ele fora educado a viver pela lógica pura; a razão para ele é a solução para todos os problemas do Universo. Nesse personagem, observamos uma tentativa de se ressuscitar o Iluminismo do Século XVIII, conhecido como a era da filosofia.

 

Mas, o que de fato gerou o Iluminismo? A sanguinolenta Revolução Francesa (1789-1799) e o sangrento Maximilien François Marie Isidore de Robespierre (1758-1794). Trazendo sempre à mão o Contrato Social de Rosseau, o cidadão Robespierre comprazia-se em condenar seus compatriotas à guilhotina. É claro que o Sr. Spock, nessa linha ficcional, jamais cometeu qualquer atrocidade; não lhe seria nada lógico. Todavia, sua crença na razão em nada diferia do credo de Robespierre. Fazendo as vezes de capelão da nave, tinha a sua própria teologia; acreditava que somente a razão pode dar-nos “vida longa e próspera”, uma antiga bênção rabínica. Essa era a religião da primeira Enterprise.

 

Já na série Star Trek, a Nova Geração, lançada em 28 de setembro de 1987, com 27 milhões de espectadores, o personagem que atuava como capelão já não era um vulcano, mas a empata Deanna Troi. Na ficção, a aventura ocorre 100 anos depois da narrativa da série original. Agora, a nova Enterprise já não está na era da razão. Contaminados pelo pós-modernismo, seus tripulantes trocam o objetivismo de Spock pelo subjetivismo da conselheira Troi.

 

Nessa mesma série, a tecnologia já não aparece como algo distante e dissociado da humanidade. No personagem Data, um oficial cibernético que interage (às vezes, hesitantemente) com os demais a bordo, os roteiristas realçam que, no futuro, a máquina, ao adquirir autoconsciência, experimentará as mesmas questões da existência humana. O comandante Data, porém, está tranquilo; a conselheira Troi tem receitas e simpatias infalíveis até mesmo para o seu cérebro positrônico.

 

A incongruência dessas séries causa estranheza. Ainda que se mostrem irreligiosas, são tão religiosas como qualquer filme confessional. Em seus enredos, há mensagens da Nova Era, recados do espiritismo, reinserções mitológicas e repaginações de crenças animistas. Na Enterprise, de fato, não há capelão evangélico. Mas, em cada episódio, há sempre um medianeiro de cada uma dessas vertentes místicas e contrárias à Bíblia Sagrada, a inspirada e inerrante Palavra de Deus.

 

Suponhamos que, daqui a 200 anos, seja construída uma cosmonave semelhante à Enterprise. Os que viverem nessa época verão, entre os seus tripulantes, um capelão temente a Deus que, feliz ao contemplar o espaço, lerá o Salmo 19. Ainda que essa nave imprima a dobra máxima de sua velocidade, jamais alcançará o pioneirismo; nunca chegará ao lugar onde homem algum jamais esteve. Porque nesse lugar de venturas, já se encontram Enoque e Elias. E, muito em breve, lá estará também a Igreja de Cristo. Quanto aos discípulos de Gene Roddenberry, ainda que se avizinhem das últimas raias do espaço, que não se esqueçam desta advertência do Senhor: “Se te remontares como águia e puseres o teu ninho entre as estrelas, de lá te derribarei, diz o SENHOR” (Ob 1.4).

Via de regra, os autores de ficção científica não levam em conta esta proposição básica: o espaço, embora pareça vazio, é preenchido pelo Criador de todas as coisas. E, se algum dia, alguma Enterprise ameaçar os limites do Cosmo, terá de reconhecer que os Céus e a Terra pertencem ao Senhor, pois Ele tudo criou, inclusive a fronteira final.

 

Enfim, já chegamos ao quadrante Delta; o lugar mais longínquo alcançado por uma nave da série Star Trek. A Voyager, aí aventurando-se, viu-se em grandes dificuldades para achar o caminho de casa. Nesse quadrante, concluímos que tais ficções não passam de alucinações. Daqui a duzentos, ou trezentos anos, se o Senhor Jesus não tiver ainda arrebatado a sua Igreja, o Evangelho estará em cada confim da Terra e a Palavra de Deus em cada quadrante do espaço. E se a Enterprise rumar para o desconhecido, ali haverá um capelão a professar o nome de Jesus Cristo. Entretanto, somente a Igreja chegará onde homem algum jamais esteve: a Jerusalém Celeste. É uma viagem que vai além do Sol e da Galáxia mais longínqua.

 

Se as naves do Sr. Gene Roddenberry só lograram alcançar o quadrante Delta, o Senhor Jesus vai do quadrante Alfa ao Ômega sem impedimento algum. Sim, querido leitor, somente Ele é o princípio e o fim de todas as coisas.

FONTE CPADNEWS / WWW.MAURICIOBERWALD.COMUNIDADES.NET