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Lições antigas CPAD O Apostolo Paulo
Lições antigas CPAD O Apostolo Paulo

                            Origens do Apóstolo Paulo                          

                            LIÇÃO 01 – 07 de Outubro de 2012 

                                As Origens do Apóstolo Paulo

 

TEXTO AUREO 

“Mas o que, para mim, era lucro, isto considerei perda por causa de Cristo”. Fp 3.7 

VERDADE APLICADA 

É fato inegável que a linhagem, o lugar de nascimento e a cultura de Saulo de Tarso contribuíram decisivamente para que o Evangelho fosse divulgado em todo mundo antigo.

 

TEXTOS DE REFERÊNCIA

 

Fp 3.4 - Ainda que também podia confiar na carne; se algum outro cuida que pode confiar na carne, ainda mais eu.

Fp 3 .5 - Circuncidado ao oitavo dia, da linhagem de Israel, da tribo de Benjamim, hebreu de hebreus; quanto à lei, fariseu,

Fp 3.6 - quanto ao zelo, perseguidor da igreja; quanto à justiça que há na lei irrepreensível.

Fp 3.8 - Sim, deveras considero tudo como perda, por causa da sublimidade do conhecimento de Cristo Jesus, meu Senhor; por amor do qual perdi todas as coisas e as considero como refugo, para ganhar a Cristo.

 

Introdução

Para compreender as origens de Paulo – aquele que se tornou o Apóstolo dos gentios, o primeiro bandeirante do evangelho ao lado de Barnabé – exige-se esforço e horas a fio, de leitura e investigação. Ao longo deste trimestre, buscaremos ler e entender sobre ele cujo labor missionário, obra social e trabalho doutrinário fizeram repercutir, através dos séculos, resultados incontestáveis acerca da fé cristã.

 

  1. Seus dados pessoais

Estudaremos, a seguir, as origens daquele que, após Jesus, tornou-se a figura de maior expressão do Novo Testamento. Muitos são os detalhes com respeito à pessoa de Paulo, seu nome, onde nasceu e a grandeza da sua cidade natal. São informações importantes para entender um pouco mais sobre a história desse homem tão brilhante em sua época. Ele continua contribuindo enormemente para com a fé cristã através de sua vida, cartas e teologia.

 

1.1. Nome

O Judeu, natural de Israel, costumava ter o nome seguido pelo nome de seu pai, por exemplo, Jesus, filho de José (Lc 3.23); Tiago, filho de Zebedeu (Mt 4.21); Zacarias, filho de Ba-raquias (Mt 23.35). E, em outros textos, também é indicada a linhagem tribal ou o seu ancestral proeminente (Mt 15.22; At 13.21; Rm 11.1). Porém todo judeu da diáspora, pelo Império Romano afora, tinha dois nomes, um em hebraico e outro latino, ou grego também. O Apóstolo dos Gentios era possuidor de dois nomes, “Saulos” o mesmo que Saul que significa “o desejado”; e um nome latino “Paulus” que significa “pequeno”.

 

 

1.2. Local de nascimento

Oportunamente, Saulo exibia, com muito orgulho, a sua origem natalícia em seu testemunho pessoal (At 21.39). Para ele era uma glória proceder de Tarso e para um centurião ou tribuno romano algo cobiçável, pois ser de Tarso lhe conferia automaticamente o direito de cidadania romana por nascimento, o que era conseguido por alguns com grande soma de dinheiro (At 22.27,28). Geograficamente, a cidade de Tarso se localizava na Cilicia, que, nos dias de Paulo, pertencia à Síria por ter sido anexada por meio de Roma. Tarso era um lugar de belas paisagens, com um centro comercial muito próspero, era uma cidade portuária com grande movimentação de mercadorias e de pessoas.

Atos 21.39 - Paulo respondeu: “Sou judeu, cidadão de Tarso, cidade importante da Cilícia. Permite-me falar ao povo”. Paulo informou a Cláudio Lísias que nascera em Tarso, uma importante cidade que ficava na Cilícia. O seu desejo era válido, porquanto, a fama que essa cidade tinha, devido à sua cultura e erudição, as suas inscrições traziam a seguinte inscrição: “Metrópole autônoma”, ou seja, cidade independente, já que esse governo próprio lhe fora outorgado pelas autoridades romanas. Júlio Cesar dera aos habitantes de Tarso da Cilícia todos os direitos e privilégios da cidadania romana.

Atos 22.27,28 - O comandante dirigiu-se a Paulo e perguntou: “Diga-me, você é cidadão romano?” Ele respondeu: “Sim, sou”. O comandante já poderia estar seriamente comprometido, porquanto era reputado um crime até mesmo amarrar um cidadão romano, segundo já se fizera com Paulo. Porém, a fim de garantir que nenhum outro problema em potencial fosse criado, ele se sentia na obrigação de averiguar pessoalmente se era correta a informação que acabara de dar ao centurião.

Tarso era o que se chamava de “urbs libera” cidade livre, não era uma colônia romana, como era o caso de Filipos.

Atos 22.28 - Então o comandante disse: “Eu precisei pagar um elevado preço por minha cidadania”. Respondeu Paulo: “Eu a tenho por direito de nascimento”. Cláudio Lísias, o comandante, provavelmente era um grego que apenas recentemente obtivera a cidadania romana. Isso pode ser deduzido pelo fato de que os cidadãos recentes com frequência adotavam o nome do imperador então reinante, e “Cláudio” era o nome do imperador reinante. Messalina, esposa do imperador Cláudio, costumava vender títulos de cidadania romana por grandes somas de dinheiro, e, por causa desse exemplo real, o costume se generalizou.

 

1.3. Exuberância de Tarso

Por tornar-se uma célebre cidade, nos dias de Paulo, era considerada uma cidade cosmopolita, seus habitantes eram procedentes de vários lugares do Império. Havia ali um apego e um entusiasmo grande com relação ao aprendizado, chegando a tal ponto que Tarso superou Atenas e Alexandria no Egito com sua universidade. Portanto era uma cidade com forte influência grega muito ligada à filosofia, principalmente estóica. Muitos de seus habitantes eram tecelões e faziam tendas a partir de um tecido grosseiro fabricado com pelo de cabra e tudo indica que Paulo aprendeu tal profissão ali.

Escola Estóica, no grego, stoikoi, os filósofos epicureus e estóicos são mencionados uma única vez em toda a Bíblia, em Atos 17:18, quando é indicado que alguns filósofos dessas escolas puseram-se a contender com o apóstolo Paulo, em Atenas. Dentre os fatos, os filósofos estóicos também rejeitavam a ideia da ressurreição do corpo físico.

Historicamente, a Cilicia foi uma das primeiras a ser anexada por Roma à Síria, entretanto foi, através de Marco Antônio, que Tarso alcançou o status de cidade independente. Esse direito foi confirmado posteriormente por Augusto em 31a.C. Tal privilégio possibilitou aos cidadãos, ali nascidos, o direito de cidadania romana, o que foi conferido a Paulo, se bem que não se sabe a data de seu nascimento, mas calcula-se que Paulo tenha nascido entre 5e8d.C.

 

  1. Origem familiar

A história não nos fornece informações precisas com respeito à família de Paulo, nem se realmente foi casado ou não, mesmo sendo ele capaz de discorrer com maestria sobre relação conjugal. Todavia podemos facilmente compreender o valor que Paulo dava à família. As instruções precisas e os conselhos sábios contidos na sua correspondência às igrejas demonstram fartamente isso.

 

2.1. Hebreu de hebreus

Apesar de não ser mencionado o nome do pai e nem da mãe de Paulo em nenhuma parte do N.T., sabe-se perfeitamente que ele é de ascendência hebraica. Ora, uma coisa importante de saber-se é que para ser considerado israelita, tem de necessariamente ser filho de mãe judia, logo era realmente hebreu, circuncidado ao oitavo dia (Fp 3.5). Portanto isso quer dizer que ele era filho segundo a carne de Abraão, Isaque e Jacó, pertencente à linhagem da tribo de Benjamim (Rm 11.1; Fp 3.5). Não sabemos que circunstâncias levaram os ancestrais de Paulo a imigrar à região da Cilicia e instalarem-se em Tarso. Dentre as várias hipóteses que se possa levantar, uma é a de que seria descendente de um ex-escravo que teria sido prisioneiro de guerra, e a outra, a mais aceita, é de que sua família estaria dentre os judeus da diáspora que moravam numa enorme colônia judaica da época.

 

2.2. Pais

Seu pai era fariseu, isso significa que era membro de um grupo religioso em Israel muito rigoroso quanto à Lei de Moisés e os costumes dos antepassados (At 23.6). Como vários fariseus daquela época tinham seu próprio negócio, era possível que o pai de Paulo fosse um homem assim também, pois pôde financiar os estudos do filho em Jerusalém, o de natureza superior, quando este ainda era bem jovem. Como todo pai dedicado, queria posicionar bem o filho na sociedade judaica de sua época. Não há qualquer registro do nome do pai e da mãe de Paulo. Mas seria o menino Saulo filho único? Claro que não, pois tinha uma irmã provavelmente mais velha - ela morava em Jerusalém e tinha um filho jovem na época em que estava preso na Fortaleza de Antonia. Foi esse moço, seu sobrinho, que o livrou da morte através de informação sigilosa, de uma conspiração dos judeus para tirar-lhe a vida durante o seu translado para Cesaréia (At 23.16-24).

 

2.3. Outros parentes

Na Carta de Paulo aos Romanos, capítulo 16, nas saudações finais; dentre as 36 pessoas mencionadas, três são apontadas como parentes seus quando diz, “Saúda Adrônico e Júnias, meus parentes” (v.7); e em seguida, escreve: “Saudai meu parente Herodião” (v. 11). Daí se conclui que, além de ter parentes, eles eram fiéis que pertenciam à Igreja que estava em Roma. Cremos que, a partir da sua conversão, muitos vieram a se converter depois, ainda que não tenha sido resultado de seu trabalho direto, pois o cristianismo se espalhou no mundo antigo chegando também a Roma rapidamente.

O fato em si de pertencer à descendência de Abraão, ser benjamita circuncidado era para Paulo de Tarso um orgulho, do ponto de vista religiosoe do ponto de vista social chegava a ser uma ostentação. Mas, depois de convertido a Cristo Jesus, o que era reputado por ganho, passou a ser considerado perdido por amor ao Filho de Deus, como escória e algo sem sentido; no afã de conquistar Cristo cada. vez mais. Porém isso só aconteceu depois de sua conversão. Um verdadeiro encontro com Deus nos traz mudanças indeléveis tanto no pensar quanto no agir; evangelho sem transformação é apenas uma religião sem vida.

 

  1. Cultura e personalidade

Sabemos que Paulo estava bem posicionado em sua época, até porque isso lhe garantiria livre trânsito por todo Império Romano. Se Paulo vivesse em nossos dias, com certeza procuraria estar na dianteira, não por uma questão de ostentação, mas pelo rápido deslocamento, livre acesso a todos os lugares possíveis até por uma questão de segurança em tempos de perseguição. Que bom seria ver os obreiros de nossas igrejas buscando tal melhora e aperfeiçoamento.

 

3.1. Cultura judaica e grega

Quando Paulo era pequeno em Tarso, como toda criança judia, ia à escola que ficava ao lado da sinagoga. Aos cinco anos, iniciava seu aprendizado elementar sobre a lei de Moisés baseado em Deuteronômio, e estudava também os Salmos (113 a 118), nos anos subsequentes, estudava a história de Israel e, entre outros estudos, aos doze anos, tinha que aprender, aos pés de um rabino, uma série de preceitos orais e divinos, essa fase pode ter acontecido tanto em Tarso quanto em Jerusalém, pois ele se mudou para lá, ainda bem novo, como ele mesmo chegou a dizer em Atos 22.3. “Mas criei-me nesta cidade (Jerusalém)”. Posteriormente Paulo fez o seu curso superior aos pés de Gamaliel, renomado mestre da sua época, como ele mesmo testemunhou: “aqui fui instruído aos pés de Gamaliel”. Paulo é reconhecidamente o homem mais culto dentre os apóstolos. Mas isso não aconteceu por acaso, seus pais investiram em sua instrução.

Será que entendemos bem o significado de igreja? E, como pais, o que estamos investindo para crescimento d.e nossos filhos? Será que os estamos preparando para irem além de nós? Para se tomarem úteis à sociedade e a Deus? Para seguir nosso legado? Afinal, o que estamos deixando para nossa posteridade? Filhos úteis ou problemáticos?

 

3.2. Evidência de amplos conhecimentos

O mundo antigo estava sob o domínio romano, mas impregnado da cultura grega. Assim, ser bem sucedido e ter “status” social era de vital importância naquela época. No currículo de Paulo, constavam idioma grego, filosofia, história e lendas. Basta olharmos para suas cartas e veremos citações gregas e pensamentos filosóficos comuns, sua viagem a Atenas e seu discurso no areópago para eliminar quaisquer dúvidas sobre a sua vasta cultura postas a serviço do reino de Deus após sua conversão. Outra coisa digna de nota é que Paulo, ao escrever a “Carta aos Romanos”, o maior tratado acerca da salvação, fê-lo em tom jurídico, pois o direito fascinava os romanos.

 

3.3.  Personalidade de Paulo

Paulo era uma pessoa decidida, com conceitos firmes e de muita atitude. Tinha um temperamento voltado para a liderança, nasceu para o comando e sabia desenvolver uma equipe de voluntários num trabalho árduo e sem recompensa financeira. Era uma pessoa capaz de despertar profundo amor e ódio nas pessoas, por ser ele um homem verdadeiro, muito trabalhador e cheio de zelo e de docilidade ao mesmo tempo. Tão foi o apóstolo, que, por mais que se fale a seu respeito, ainda é pouco. Porém o que sabemos a seu respeito é o suficiente para o seguirmos e o imitarmos como ele mesmo disse: “sede meus imitadores, como eu sou também de Cristo” (ICo 11.1; Fp 3.17; lTs 1.6; 2.14; 2Ts 3.7,9; Hb 6.12).

Há, sempre, em nós, um interesse em saber sobre a aparência de Paulo, e nos perguntamos, corno era a sua fisionomia. Não é mesmo? Mas não há quaisquer relatos bíblicos que tratem acerca do assunto. Os coríntios relataram assim sua aparência. “Suas cartas são graves e fortes, mas a presença pessoal dele é fraca” (2Co 10.10). Há relatos do II século de que Paulo era de estatura baixa, calvo, de pernas tortas e barba pontuda. Em sua velhice, a sua saúde era um tanto debilitada, mas são relatos que não podemos ter certeza dada sua longitude no tempo e a I falta de outros testemunhos comprobatórios.

 

Conclusão

Qualquer um que olhasse para o jovem Paulo de Tarso veria nele um fanático, perseguidor soberbo. Mas Deus que vê além do óbvio, do natural, do presente, das origens e das intenções ij do coração, olhou e viu, naquele moço, um poderoso aliado; viu nele um vaso útil para depositar os tesouros do Reino e utilizou-se de tudo quanto Paulo tinha para o futuro engrandecimento da Sua obra aqui na terra. Maravilhosa visão de Deus que deu, a sua Igreja, tal homem como presente.

 

 

 

 A extraordinária conversão de Paulo - Lição 2 - 14 de outubro de 2012

 

LIÇÃO 02 – 14 de Outubro de 2012

 

A extraordinária conversão de Paulo

 

TEXTO AUREO

 

“Então disse eu: Senhor, que farei? E o Senhor disse-me: Levanta-te, e vai a Damasco, e ali se te dirá tudo o que te é ordenado fazer”. At 22.10

 

VERDADE APLICADA

 

Antes que muita coisa de valor possa ser feita no mundo, faz-se necessário um profundo arrependimento e uma mudança radical na vida.

 

TEXTOS DE REFERÊNCIA

 

At 9.3 - E, indo no caminho, aconteceu que, chegando perto de Damasco, subitamente o cercou um resplendor de luz do céu.

At 9.4 - E, caindo em terra, ouviu uma voz que lhe dizia: Saulo, Saulo, por que me persegues?

At 9.5 - E ele disse: Quem és, Senhor? E disse o Senhor: Eu sou Jesus, a quem tu persegues. Duro é para ti recalcitrar contra os aguilhões.

At 9.6 - E ele, tremendo e atônito, disse: Senhor, que queres que eu faça? E disse-lhe o Senhor: Levanta-te, e entra na cidade, e lá te será dito o que te convém fazer.

At 9.17 - E Ananias foi, e entrou na casa e, impondo-lhe as mãos, disse: Irmão Saulo, o Senhor Jesus, que te apareceu no caminho por onde vinhas, me enviou, para que tornes a ver e sejas cheio do Espírito Santo.

 

Introdução

Será estudada, nesta lição, a conversão de Paulo, filho de um fariseu, que, depois de terminar seus estudos, aos pés do doutor da Lei, Gamaliel, pôs-se como arqui-inimigo do Senhor Jesus por causa da sua ignorância em relação à alvorada de uma nova dispensação que surgia no horizonte da história religiosa. Paulo se doía com a nova “Seita do Caminho” que angariava cada vez mais adeptos entre os judeus.

 

  1. Antes da mudança

Quando o jovem Paulo perseguia os seguidores de Jesus, fazia-o nas melhores das intenções, e, naquele contexto social e religioso, era até uma coisa louvável. Nem todo proceder tem a aparência de boas intenções, isso todos sabem. Levados pelo pensamento de que estão fazendo algo para Deus, muitos perseguem, espancam, mutilam e matam aqueles que são fiéis a Cristo, mesmo nos dias atuais.

 

1.1. Saulo, o assolador (At 8.1-3)

Paulo assumiu o papel de assolador, pois o texto nos diz: “E Saulo assolava a igreja”. Ele exalava um ar maligno que inspirava terror nos cristãos primitivos, ou seja, havia elementos que sustentavam aquele seu comportamento agressivo, tais como: a ignorância, a incredulidade e o falso pensamento de que, agindo assim, estivesse fazendo um trabalho para Deus (Jo 16.2), ele mesmo confessou posteriormente: “A mim, que dantes fui blasfemo, e perseguidor, e injurioso; mas alcancei misericórdia, porque o fiz ignorantemente, na incredulidade” (lTm 1.13).

Atos 8.1-3 - O Livro de Atos e as Epístolas fornecem informações suficientes para traçarmos um esboço do começo da vida de Saulo. Ele nasceu em Tarso, na Cilícia, um “hebreu entre hebreus”, “filho de fariseu” e cidadão romano. Foi educado por Gamaliel em Jerusalém e se tornou um fariseu devoto. No tocante à Lei, sua vida era irrepreensível. Era um dos jovens fariseus mais promissores de Jerusalém, a caminho de se tornar um grande líder da fé judaica.

Saulo demonstrou seu zelo pela Lei de maneira bastante clara em sua perseguição à Igreja. Acreditava sinceramente que servia a Deus ao perseguir os cristãos, de modo que o fazia com a consciência tranquila (2 Tm 1.3). Obedecia à luz que conhecia, até que Deus lhe deu mais luz, à qual ele também obedeceu e, assim, se tornou um cristão.

De que maneira Saulo perseguia a Igreja? “Assolava a igreja”; o verbo “assolar” nesse caso descreve um animal selvagem despedaçando a vítima, assim Saulo fazia com os cristãos.

João 16.2 Vocês serão expulsos das sinagogas; de fato, virá o tempo quando quem os matar pensará que está prestando culto a Deus.

1 Timóteo 1.13 - a mim que anteriormente fui blasfemo, perseguidor e insolente; mas alcancei misericórdia, porque o fiz por ignorância e na minha incredulidade;

 

 

1.2. Saulo diante de Estevão (At 8.1; 22.20)

Lucas, o escritor de Atos, destaca a pessoa de Estevão como um discípulo do grupo dos sete (diáconos) de Jerusalém, em virtude da sua devoção a Deus, cultura elevada, que fez extraordinários milagres, sofredor e de grande popularidade entre os gregos e judeus, pois era de uma oratória flamejante e de sabedoria irresistível. Sua popularidade foi além dos termos de Jerusalém e de Israel, pois uma liga das sinagogas espalhadas em vários lugares, uniram-se e enviaram seus representantes para altercarem com Estevão, os quais não puderam resistir a sua sabedoria (At 6.8-10). Eles apelaram para a baixeza de subornarem alguns, a fim de darem falso testemunho de blasfêmia contra Estevão no Supremo Tribunal Judaico, o Sinédrio. Estevão fez a sua defesa improvisada com um discurso que o sentenciou injustamente, sendo, em seguida, levado para ser executado por meio de apedrejamento. Na execução, precisava-se de um oficial que o acompanhasse aos pés de quem se depositavam as roupas dos executores. O nome desse oficial era Saulo, seu nome em hebraico.

Atos 22.20 – Paulo reforça seu argumento no sentido de que a perseguição que encabeçara contra os primitivos cristãos era amarga, como largamente conhecida; portanto, a transformação havida em sua vida, a sua conversão ao cristianismo, seriam encaradas, talvez, com maior respeito, contribuindo assim para conversão de muitos outros. O extremo de seus crimes não fora o homicídio, porquanto fora a principal testemunha de acusação contra Estêvão, e alegrou por vê-lo morrer. O fato de posteriormente ele admitir seu erro, arrependendo-se do mesmo, e passou a anunciar ao mesmo Cristo que antes perseguira, sem dúvida serviriam para convencer a outros sobre o caráter genuíno de sua conversão.

... Estêvão, tua testemunha...” Com base na palavra aqui usada no original grego para traduzir “testemunha” é que surgiu a nossa palavra moderna “mártir”. As primeiras testemunhas do cristianismo com tanta frequência fora martirizadas que o termo passou a ser usada para indicar o testemunho delas, embora isso só tenha ocorrido gradualmente.

SINÉDRIO – Da forma usada nos Evangelhos e em Atos, apalavra significa "conselho". O conselho judeu  assim chamado no Novo Testamento era um corpo aristocrático, aparentemente controlado pelos saduceus, mas que incluía os principais anciãos, e o sumo sacerdote atuava como uma espécie de presidente. Jesus sofreu amarga oposição por parte desse corpo regente, e as referências feitas no Novo Testamento de modo geral se situam no contexto de oposição. Ver Mat. 26.29; João 11.47; Atos 4.5-22; 5.17-43; 6.12-15.

 

1.3. Como Paulo assolava a Igreja? (At 8.3-4)

Naquela ocasião, em que era movida uma grande perseguição, o grupo preeminente, no templo de Jerusalém, e no Sinédrio, era o dos Saduceus, embora os fariseus fossem os mais populares e de maior influência entre os judeus. Esses dois grupos se rivalizavam, mas uniram-se para matarem Jesus e depois para perseguirem a Igreja. Paulo era o seu principal instrumento de assolação, pois tinha autoridade para entrar nas casas, prender os homens e mulheres, castigá-los com surra de varas, e obrigá-los a renunciarem o nome de Jesus, e dEle blasfemando. Quanto aos resistentes, Paulo dava o seu voto para a morte. Tildo isso Paulo fazia com um tempero sentimental de fúria e energia jovem que tinha na ocasião.

Atos 8.3-4 – As predições feitas por Jesus, de que os seus discípulos seriam entregues aos concílios e tribunais, e lançados nas prisões, estavam sendo cumpridas novamente. Esse incidente, naturalmente, como o ódio daqueles homens se intensificava cada vez mais, porquanto, agora não tratavam os discípulos de Cristo nem ao menos com um mínimo de respeito, segundo fora o caso em Atos 3.1-3.

A perseguição faz com a Igreja aquilo que o vento faz com a semente: espalha e aumenta a colheita. A palavra traduzida por “dispersos” (diaspeiro) significa “espalhar sementes”. Os cristãos em Jerusalém eram as sementes de Deus, e a perseguição foi usada por Deus para plantá-los em novo solo, a fim de que dessem frutos (Mt 13.37, 38). Alguns foram espalhados em toda Judeia e Samaria (At. 1.8), enquanto outros foram levados campos mais distantes (At 11.19).

Ele pensava estar realizando um trabalho para Deus, mas, na verdade, ele estava eliminando muitos chamados “heregesem nome daqueles os quais a influência religiosa, estava sendo posta de lado em virtude do descontentamento do povo. Apesar de todo sofrimento, aqueles que saíam dispersos de seu lugar de origem iam anunciando a Palavra, de sorte que não podiam conter o crescimento (At 22.4-5; 26.9-11; Gl 1.13).

 

  1. O que produziu mudança?

O maior desejo do jovem Paulo era fazer algo de valor para Deus, para o judaísmo e para os judeus em si. Ele concluíra que estava absolutamente certo em repelir com veemência aquela doutrina sectária no seio do judaísmo, que mais trazia escândalo do que bem. Afinal, para ele Jesus de Nazaré teve o que mereceu quando, nas mãos dos romanos, caiu sob a acusação de ser um rei ilegítimo, por fazer-se Filho de Deus.

 

2.1. Paulo, confrontado pelo Senhor Jesus (At 9.3-7)

Quando ia a caminho para Damasco, acompanhado da sua comitiva de algozes para perseguirem os cristãos, Paulo, subitamente ao meio-dia, foi envolvido por uma luz mais brilhante que o sol (At 26.13). Nesse momento, caindo por terra, ouve uma voz que lhe disse: “Saulo, Saulo por que me persegues”. Até aquele momento, Jesus ressuscitado era um mito forjado, uma coisa digna de pleno descrédito. Mas, ao perguntar-lhe: “Quem és Senhor?” E ter a resposta: “Eu sou Jesus, a quem persegues. Duro é parati dar coices contra os aguilhões”. Saulo trêmulo, assustado, e sem saber o que fazer diante daquela poderosa voz, pergunta: “O que devo fazer?”. E o Senhor lhe responde: “Levanta-te e entra na cidade e lá te será dito o que convém fazer” (At 9.4-6).

Atos 9.3-7 – A atitude de Saulo era semelhante à de um animal furioso, do qual até o fôlego representa um perigo. Como muitos outros rabinos, acreditavam que era preciso obedecer completamente à Lei antes que o Messias viesse. No entanto, aqueles “hereges” pregavam contra a Lei, o templo e a tradição dos patriarcas (At. 6.11-13). Saulo devastou as igrejas da Judeia (Gl. 1.23) e, em seguida, obteve permissão do sumo sacerdote para perseguir os discípulos de Jesus até em Damasco. Não foi uma iniciativa insignificante, pois contou com a autoridade do supremo concílio dos judeus (At 22.5).

Damasco possuía uma grande população de judeus, e se acredita que houvesse de trinta a quarenta sinagogas na cidade. O fato de haver cristão por lá mostra como a Igreja pregara a mensagem com eficácia. É possível que alguns cristãos de Damasco fossem fugitivos da perseguição em Jerusalém, o explica por que Saulo desejava autoridade para leva-los de volta. Naquela época, os cristãos ainda eram associados às sinagogas judaicas, e seu rompimento só se deu alguns anos depois (Tg 2.2).

Então Saulo estava no chão. Por volta de meio-dia, viu uma luz resplandecente no céu e ouviu uma voz dizer seu nome. Os homens que também estavam com ele também caíram por terra e ouviram um som, mas não compreenderam as palavras proferidas do céu.

Naquele dia, Saulo de Tarso fez algumas grandes descobertas. Em primeiro lugar descobriu, para sua surpresa, que, de fato, Jesus de Nazaré estava vivo! Era acerca desse fato que os cristãos testemunhavam continuamente, mas Saulo se recusara a aceitar tais testemunhos.

Saulo também descobriu que era um pecador perdido e que corria o risco de ser julgado por Deus. “Eu sou Jesus, a quem tu persegues”. Saulo acreditava estar servindo a Deus, quando na realidade quando na verdade estava perseguindo o Messias! Comparadas à santidade de Jesus Cristo, as boas obras de Saulo e seu farisaísmo legalista pareciam trapos imundo. Todos os seus valores mudaram. Ao crer em Jesus Cristo, tornou-se uma nova pessoa.

O que apresentou para Saulo tal experiência? Toda nuvem mística que havia em sita mente, de repente desapareceu. Todo o seu orgulho religioso e jovem fora humilhadotodas as suas atitudes de oposição “àquela seita” foram expostas como crimes diante de sua própriaconsciência e terrivelmente ofensivos a Deus. Quando abriu os olhos, deu conta de que estava cegoe que sua cegueira física se somava à enorme cegueira espiritual. Todavia um consolo existia naquelas palavras: “Lá te será dito o que convém fazer”. Esta experiência seria transmitida posteriormente a pessoas simples e também a reis, governadores, a sumos sacerdotes, etc., chegando às sucessivas gerações, chegaria até nossos dias com poderoso impacto.

 

2.2. Saulo obedece ao Senhor Jesus (At 9.8-9)

Conforme o seu temperamento e cultura, Paulo não se encurvava diante de ninguém, mas, quando se levantou do chão abatido e cego, nada mais restava de oposição nele senão obedecer. A transformação dele aconteceu tanto imediatamente, quando ouviu a voz do Senhor Jesus, quanto na medida em que ele Lhe obedecia. Paulo poderia ter voltado e escolhido outro caminho. Mas o campeão do judaísmo foi vencido pela “voz da Luz que lhe brilhou no caminho”. Para Damasco, Paulo teve de ser conduzido, pois não enxergava mais. Dá pra imaginar o tremor e temor que sobreveio em seus parceiros? Atender aquela voz e entrar na cidade representou a Saulo um sinal incontestável da sua completa conversão; significou um rompimento com todo seu modo de vida; produziu a conversão de um contingente incontável de pessoas em sua época e, ao longo dos séculos, onde seu testemunho foi ouvido.

Os homens levaram Saulo para a cidade, pois o touro furioso, havia se tornado um cordeiro dócil! O líder teve de ser conduzido, pois ficou cego pela visão resplandecente. Seus olhos espirituais foram abertos, mas os olhos físicos haviam sido abertos, mas seus olhos físicos estavam fechados. Deus o humilhara inteiramente, preparando Paulo para ser ministrado por Ananias. Saulo orou e jejuou por três dias (At. 9.11), durante os quais começou a reavaliar suas convicções. Havia sido salvo pela graça, não pela Lei, por meio da fé no Cristo vivo. Deus começou a instruir Saulo e a lhe mostrar a relação entre o evangelho da graça de Deus e a religião mosaica tradicional que havia praticado ao longo da vida.

 

2.3. Resultado da obediência de Paulo

Depois que entrou na cidade, lá permaneceu em jejum absoluto por três dias, até o momento em que Ananias, que depois de alguma resistência à ordem de Jesus, foi visitá-lo e impôs-lhe as mãos, e curou-o na hora. Um sinal incontestável da misericórdia divina a favor de Paulo. Para ele, naquele momento, nada mais restava senão se batizar como um sinal de morte para o pecado e identificação plena com Jesus Cristo, como ele mesmo veio a ensinar depois em suas cartas (Rm 6.1-6; G1 2.20). O arrependimento é um ato de obediência que deve refletir no abandono do pecado para viver uma nova vida, seguido, logo que possível, do batismo em água. Foi a partir daí que Paulo passou a pregar o evangelho publicamente conforme indica o livro de Atos (At 9.19-20). Hoje, não significa que para falar de Jesus é necessário se batizar primeiro, mas é o mais recomendável.

Romanos 6.1-6 – Paulo desejava que compreendêssemos uma doutrina básica. A vida cristã depende do aprendizado cristão; o dever é sempre fundamentado na doutrina. Ao manter um cristão na ignorância, Satanás o impede de ter qualquer poder.

Nessa passagem, Paulo ensina a verdade essencial da identificação do cristão com Jesus Cristo em sua morte, sepultamento e ressurreição. Assim como nos identificamos com Adão no pecado e na condenação, também nos identificamos agora com Cristo na justificação. Em outras palavras, a justificação pela fé não é apenas uma questão legal entre Deus e nós; é um relacionamento vivo. É uma “justificação que dá vida” (Rm 5.18). Estamos em Cristo e somos identificados com ele. Portanto, tudo que aconteceu com Cristo, aconteceu conosco. Quando ele morreu, nós morremos. Quando ressuscitou, nós ressuscitamos. Agora estamos assentados com ele nos lugares celestiais (Ef 2.1-10).

Está morto para o pecado (vv. 2-5). A ilustração de Paulo é o batismo. O termo grego tem dois significados: 1º literal – mergulhar ou submergir; e 2º figurativo – ser identificado com. Um exemplo do segundo caso é 1 Coríntios 10.2 “tendo sido batizados, assim na nuvem como no mar, com respeito a Moisés”. A nação de Israel foi identificada com seu líder, Moisés, quando cruzou o mar vermelho.

Ao que parece, Paulo tem em mente tanto o sentido literal quanto o figurativo, pois usa a experiência do batismo com água para lembra-lo de sua identificação com Cristo por meio do batismo com o Espírito Santo.

 

  1. Consequências dessa mudança

Evidentemente, que a conversão de Paulo teve muitos efeitos no reino de Deus e no mundo, que talvez seja difícil enumerá-los e esquadrinhá-los na sua exata proporção. Mas abordaremos apenas alguns principais que são arrolados por Lucas no livro de Atos.

 

3.1. Paulo passou a pregar o evangelho

A graça de Deus salvadora alcançou um inimigo implacável, eliminando assim um agente que causava grande dano e tirava a paz dos judeus convertidos. Embora fosse Paulo um assolador da Igreja, Deus é aquele que contempla aquilo que está além do patente e do discernimento humano. Alguns anos depois, Paulo teve chance de conhecer os discípulos de Jerusalém. Todavia ele ainda estava sob a mira e a desconfiança deles. Pois não havia passado, ainda, tanto tempo assim daquela cruel perseguição. Sendo Paulo um homem muito ativo, logo passou a pregar ousadamente no nome de Jesus, tanto em Damasco quanto em Jerusalém, e sua presença gerava insegurança e clima ruim entre os discípulos, pois alguns judeus helenizados, dados à discussão, resolveram matá-lo, quer dizer, o ex-perseguidor passou a ser perseguido.

 

3.2. Paulo sofreu perseguição

A perseguição pelo fato de pregar o evangelho e fortalecer os novos convertidos a Cristo Jesus se tomou algo constante em sua vida, e Paulo conviveu, desde o início de sua pregação, até a sua morte. Imediatamente a sua mudança radical, quando começou a pregar, foi perseguido em Damasco, depois em Jerusalém e no restante de seu trabalho missionário. Como ele desejava ardentemente o crescimento do evangelho ao longo do Império Romano, orou a Deus para que Ele lhe tirasse a vara da perseguição de suas costas. Visto que concluísse que o evangelho se desenvolveria muito mais rápido num ambiente tranquilo, pois as pessoas estavam famintas de Deus. Mas o senhor Jesus apenas lhe disse que a sua graça lhe bastava (2Co 12.9).

Como consequência da perseguição implacável, Paulo teve de fugir muitas vezes. Como por exemplo: quando soube da conspiração contra a sua vida em Damasco. Muito mais coisas aconteceram do que, às vezes, podemos imaginar nesse respeito. Por exemplo, em suas viagens como transeunte sofreu várias vezes nas mãos de salteadores onde as estradas não eram guarnecidas; em Tessalônica, depois de tomar uma surra pública de vara e ser preso injustamente, foi convidado a se retirar da cidade. Hoje em vários lugares um ministro evangélico é respeitado, mas nem sempre foi assim. Todavia, isso teve um efeito positivo para o evangelho, pois a perseguição por si só eliminava os falsos irmãos e maus obreiros, visto que não estavam dispostos a sofrerem pela causa do evangelho.

 

3.3.  O crescimento da Igreja

Tendo Jesus Cristo transformado um inimigo tão voraz em servo, agora a comunidade cristã espalhada pela Judéia, Galiléia e Samaria desfrutava de paz e vivia harmonicamente entre si. Consequentemente cresciam, e várias pessoas se convertiam dia a dia (At 9.31). As vezes, imaginamos que a igreja só cresce mediante a perseguição, mas ela cresce também e melhor quando está em condições favoráveis de paz.

 

Conclusão

A conversão de Paulo de Tarso é um legado insofismável da história Universal, pois a mensagem dele sobreviveu a sua morte, a pessoa dele jamais foi esquecida com o passar dos séculos. Na sua conversão podemos saber como o Senhor Jesus transforma um inimigo em servo e em vaso útil, tornando-o portador de Sua mensagem.

 

 

O discipulado do Apóstolo Paulo - Lição 3 - 21 de outubro de 2012

 

LIÇÃO 03 – 21 de Outubro de 2012

 

O discipulado do Apóstolo Paulo

 

TEXTO AUREO

 

“Vindo ter comigo, e apresentando-se, disse-me: Saulo, irmão, recobra a vista. E naquela mesma hora o vi”. At 22.13

 

VERDADE APLICADA

 

Todos os grandes homens de Deus, em algum momento da sua vida, precisaram do cuidado de outros irmãos na fé, até mesmo, com menos potencial do que eles.

 

TEXTOS DE REFERÊNCIA

 

At 9.13 - E respondeu Ananias: Senhor, a muitos ouvi acerca deste homem, quantos males tem feito aos teus santos em Jerusalém;

At 9.14 - E aqui tem poder dos principais dos sacerdotes para prender a todos os que invocam o teu nome.

At 9.15 - Disse-lhe, porém, o Senhor: Vai, porque este é para mim um vaso escolhido, para levar o meu nome diante dos gentios, e dos reis e dos filhos de Israel.

At 9.16 - E eu lhe mostrarei quanto deve padecer pelo meu nome.

At 9.17 - E Ananias foi, e entrou na casa e, impondo-lhe as mãos, disse: Irmão Saulo, o Senhor Jesus, que te apareceu no caminho por onde vinhas, me enviou, para que tomes a ver e sejas cheio do Espírito Santo.

At 9.18 - E logo lhe caíram dos olhos como que umas escamas, e recuperou a vista; e, levantando-se, foi batizado.

 

Introdução

Paulo era um homem de grande valor para o judaísmo, uma pessoa preparada desde o seu nascimento, na convivência, na escola da sinagoga e, até, finalmente, tornar-se um pupilo do famoso Gamaliel. Tudo isso para lutar apologética e juridicamente pela causa do judaísmo do mundo pagão de sua época. Mas bastou uma aparição do Filho de Deus em sua glória para abater todo o seu orgulho genealógico, toda a soberba intelectual e ignorância espiritual.

 

  1. A necessidade de cuidado

Após o encontro de Paulo com Jesus, no caminho de Damasco, ele fora curado e imediatamente começou a pregar. Isso aconteceu, mas não tão imediatamente, pois levou alguns dias. Veremos que foi necessário pelo menos três dias aguardando outra resposta de Jesus.

 

1.1. Paulo não podia ver (At 9.8a)

A Bíblia omite que tipo de transporte Saulo estava usando para chegar a Damasco, afirmar conclusivamente que Saulo caiu do cavalo é dizer uma coisa que a Bíblia não diz. Cavalos e mulas eram animais muito caros e a maioria das pessoas costumavam viajar muito a pé. Enquanto Paulo estava a caminho, acompanhado de alguns que formavam a sua comitiva, por volta de meio-dia, repentinamente brilhou uma forte luz do céu ao redor de Paulo, e tal luz falava com ele referindo-se ao seu nome hebraico, “Saulo, Saulo, porque me persegues?”. Depois de palestrar com a luz, levantou-se do chão, mas a ninguém via (At 22.6). Precisou terminar a viagem conforme as instruções do Senhor Jesus, mas agora amparado.

“Patético era o quadro do dominador Saulo, vitorioso perseguidor e conquistador dos discípulos, que agora era uma criança inofensiva”. (Robestson, in loc.)

Paulo vira algo que os outros não puderam ver (embora também soubesse que algo poderosíssimo havia ocorrido, a saber, a presença da glória do Senhor Jesus Cristo). Essa visão modificou todo o curso da história humana, tendo afetado os destinos de milhões de criaturas humanas.

Atos 22.6 - “Por volta do meio-dia, eu me aproximava de Damasco, quando de repente uma forte luz

vinda do céu brilhou ao meu redor.

A alma de Saulo de Tarso vinha cheia de trevas e ímpetos de violência, numa piedade que transparecia na forma de ódio e malícia, o contrário exato de todas as reais qualidades de um autêntico caráter espiritual. Somente a luz divina, proveniente dos céus, poderia modificar tão densas trevas espirituais como as de Saulo de Tarso.

Ele caiu cego para esse mundo e para suas tolas convicções. Todavia, sua visão se abriu para ver o mundo sob uma nova perspectiva. Paulo estava agora dependente do Senhor. Mas o Senhor misericordiosamente o acolheu e se encarregam de cuidar dele através de Ananias, como já observamos. A vida espiritual de Paulo estava sendo construída sobre uma nova base a partir daquele encontro no caminho de Damasco em diantee Paulo cooperava para alcançar o seu crescimento pessoal no Senhor. Novos convertidos, ainda que venham se tornar gigantes da fé precisam inicialmente de acompanhamentoeste é outro fator que o ministério da igreja precisa pensar e agir sobre ele.

 

 

1.2. Limitado para andar (At 9.8b)

Paulo, agora cego, foi conduzido pelas mãos de outros ao seu destino. Dessa maneira, o Senhor Jesus o estava humilhando, abatendo-o para que Paulo aprendesse mais sobre Ele. O andar de Paulo por melhor que fosse não estava agradando a Deus, e essa sua arrogância natural precisava ser abatida até o chão a fim de aprender um novo andar, que repetidamente Paulo ensina e relembra às igrejas que fundou. Deus resiste ao soberbo e pessoas normais evitam o soberbo. Mas, no caso de Paulo, era um agir divino na experiência dele para que ficasse marcado para sempre. Depois, quando necessário, ele testemunhava dessa sua queda visando a que alguém se convertesse.

Os homens levaram Saulo para a cidade, pois o “touro furioso”, havia se tornado um “cordeiro dócil!” O líder teve de ser conduzido, pois ficou cego pela visão resplandecente. Seus olhos espirituais foram abertos, mas seus olhos físicos estavam fechados. Deus o humilhara inteiramente, preparando Paulo para ser ministrado por Ananias. Saulo orou e jejuou por três dias (At. 9.11), durante os quais começou a reavaliar suas convicções. Havia sido salvo pela graça, não pela Lei, por meio da fé no Cristo vivo. Deus começou a instruir Saulo e a lhe mostrar a relação entre o evangelho da graça de Deus e a religião mosaica tradicional que havia praticado ao longo da vida.

 

1.3. Sem comer e beber (At 9.9)

Onde estava hospedado, Paulo permaneceu sem comer e beber, entendendo a grandeza de seu pecado. Dá para imaginar a agonia em sua alma e as lembranças de determinados momentos em que havia perseguido os discípulos do Senhor Jesus. Mesmo depois de muito tempo, ele demonstra esse sentimento nas suas cartas (Fp 3.6; lTm 1.13). Mas por outro lado o que lhe confortava, era o fato de Jesus lhe ter aparecido e falado, impedindo a sua completa perdição. O jejum é uma forma de demonstrar fraqueza, auto humilhação diante de Deus, visando buscar e praticar a vontade de Deus. É também uma maneira de romper com as ataduras firmes da ignorância espiritual, injustiças cometidas, e falta de fé. Não se jejua para conseguir o perdão de Deus, o preço já foi pago, antes, jejua-se para que a vontade divina seja exercida e fortalecida em nós.

Filipenses 3.6 - “quanto ao zelo, perseguidor da igreja”. Ele sabe como a mensagem do evangelho é revoltante para toda pessoa séria em termos morais e religiosos. Porque precisamente isso fora o jovem Saulo de Tarso: um moço impecável, sincero e devoto, “quanto à justiça, à justiça na lei, irrepreensível”. Quando lhe apresentavam os mandamentos, podia afirmar com o jovem rico: “Tudo isso tenho observado desde a minha juventude”. Por essa razão ele também era conhecido nos mais altos escalões, um personagem promissor, ao qual desde já se confiavam importantes tarefas (At 9.2).

1 Timóteo 1.13 – “Que outrora fui blasfemo, perseguidor e violento”. Ele, que mais tarde teve de sofrer perseguições e foi maltratado, havia pessoalmente torturado os cristãos. Mais de uma vez Paulo apontou, em sua proclamação, para seu passado sombrio. Não se pode descartar que nas prisões, injúrias, maus tratos e temores que ele sofreu como servo de Cristo, o apóstolo teve de se recordar de que no passado cometera as mesmas humilhações contra outros.

“Mas foi-me concedida misericórdia, porque agi na ignorância, quando não tinha fé”. A justificativa diz “que para seu pecar estava posto um limite, que deixou espaço livre para a misericórdia” (Schlatter). Porque somente a persistência intencional e obstinada em uma condição de ignorância leva a atrevimento e impenitência, que provocam o juízo. Jesus intercede pelos que o crucificam: Pai, perdoa-lhes, porque não sabem o que fazem. O que fazem é pecado, até mesmo quando acontece por ignorância. Somente quando souberem o que fizeram sua atitude mostrará se aceitarão o perdão e então confessarão como pessoas agora iluminadas: pecamos. Foi assim que Paulo agiu. Jamais se desculpa por seu agir condenável, apenas indica o motivo pelo qual foi possível que seu pecado não lhe custasse a vida, mas a compaixão de Deus o atingisse. Quando Jesus o confrontou, superando assim sua ignorância, Paulo se afastou do pecado de sua incredulidade e confessou Jesus como Senhor, passando a servi-lo.

 

  1. A visão de cuidado

O Senhor Jesus havia começado uma obra de conversão ao aparecer repentinamente para Paulo. Mas continuou operando no sentido de aperfeiçoar a fé que começara a despontar. Deus não começa nada que não possa terminar e tudo faz com perfeição. Todavia essa segunda parte ficaria por conta de Ananias, um legítimo representante do Senhor Jesus pertencente à igreja de Damasco.

 

2.1. Levanta-te e vai à... (At 9.11)

Paulo estava hospedado em residência de um certo Judas, ali em Damasco, e repousava aguardando uma resposta do Senhor Jesus. E ela veio, pois Paulo tivera uma visão espiritual disso, ao ver entrar um homem chamado Ananias e impondo as mãos sobre ele para que fosse curado. Simultaneamente, Ananias recebeu em visão a orientação para ir num lugar exato, pois ele estava orando e aguardando resposta. Pensemos uma coisa, o Senhor Jesus não poderia curar Paulo diretamente? É claro que sim. Ou então, se Judas, o anfitrião de Paulo fosse um discípulo, e tudo indica que ele o era, não poderia curá-lo através dele? Perfeitamente. Mas por que Cristo não fez assim? Para que a experiência de Paulo tivesse testemunhas e ele mesmo sempre tivesse aceso em sua lembrança. Outra coisa é que Cristo deseja usar os vários membros do seu corpo para edificação espiritual mútua.

“Cristo toma conta da obra de suas próprias mãos. Aquele que havia ferido, curaria; aquele que havia espancado mostraria compaixão; aquele que havia perseguido consolaria”. Mattew Henry

Ananias encontrava-se à disposição de Deus, mas certamente não se sentia ansioso por obedecer. O fato de Saulo estar “orando” em vez de “caçando” deveria ter servido de estímulo a Ananias.

“A oração é o autógrafo do Espírito Santo sobre o coração renovado”, disse Charles Spurgeon. Saulo havia deixado de crer em si mesmo e passou a crer no Senhor, esperando que lhe mostrasse o que fazer.

2.2. Punha sobre ele a mão... (At 9.12)

É importante também notar que, nessa passagem, o Senhor Jesus demonstra que Paulo estava avisado, em visão, de que o próprio Ananias iria ao seu encontro para curá-lo. E essa cura sucederia mediante a imposição de mãos de Ananias. O ato de impor às mãos é abençoador, capaz de transferir virtudes que vão além do calor humano. Na verdade, o poder de Deus é completo em si mesmo e não se faz necessário impor as mãos. Todavia se torna muito importante e marcante para quem recebe tal imposição. O Senhor Jesus fez isso incontáveis vezes, e as Escrituras determinam que se imponham as mãos sobre os enfermos e eles serão curados (Mc 16.18; At 4.30).

Jesus age na vida de Saulo através de Ananias, assim como repetidamente realiza sua obra em um irmão por intermédio de outro irmão.

 

2.3. Senhor, de muitos ouvi... (At 9.13)

Quando Ananias entendeu que se tratava de Saulo, o perseguidor, arguiu o Senhor acerca de seu procedimento. Os males que tinha causado aos santos através da perseguição em Jerusalém, eram bem nítidos para ele. Reconhecemos que era uma missão difícil a ser realizada, mas o Senhor disse a Ananias que Paulo já o aguardava, pois já o tinha visto numa visão, entrando onde estava, e impondo-lhes as mãos, e curando-o de sua cegueira. Foi importante Ananias ter esse relevante detalhe para que executasse essa missão sem temor, visto que a fama de Paulo como perseguidor oficial do judaísmo corria entre as colônias judaicas para onde os cristãos fugiram. Quanto à visão simultânea de Ananias e Paulo, o sentido disso era para que não houvesse dúvida alguma de que o Senhor estava orquestrando a situação mostrando que era seguro para ambos.

Instintivamente Ananias levanta objeções. A intenção de Lucas não deve ter sido afirmar que Ananias queria dizer a Jesus: “Para lá não quero ir, tenho medo.” Pelo contrário, o diálogo entre Ananias e seu Senhor trata do “nome” de Jesus. Ananias alega: “Afinal, esse homem merece transigência e graça?” “E para aqui trouxe autorização dos principais sacerdotes para prender a todos os que invocam o teu nome.” Também Ananias percebe que no ataque de Saulo aos cristãos o alvo real é o nome de Jesus. Apenas a partir desse dado a resposta de Jesus ganha impacto e magnitude: “Vai, porque este é para mim um instrumento escolhido para levar o meu nome perante os gentios e reis, bem como perante os filhos de Israel.” Precisamente aquele que queria exterminar o nome de Jesus da terra levará esse nome para dentro do mundo como mais ninguém.

Será que Ananias temia Paulo? É possível que não, porque ele em conversa com o Senhor fala apenas acerca dos males que aquele moço tinha imposto à igreja em Jerusalém, além do mais tinha autorização dos principais sacerdotes para prender os santos em Damasco. Ananias era um homem de muita coragem e, nessa conversa com o Senhor, não demonstrou qualquer temor pessoal, mas uma preocupação com, a comunidade dos fiéis a Cristo em Damasco. O maior temor de Ananias era beneficiar um possível inimigo do evangelho, vindo isso a se tornar em grande mal para os cristãos. O que aprendemos com tudo isso? É que o Senhor demonstrou cuidado com ambos, dando-lhes visões que se encaixavam perfeitamente.

 

  1. A missão cumprida

É interessantíssimo que o Senhor se permite arguir por Ananias e com ele palestra, ainda que brevemente. Depois de Ananias falar o que pensava demonstrando a necessidade de prudência, as providências para que tudo saísse perfeitamente em ordem e segurança estavam sendo tomadas naquele momento, em que Paulo como já foi dito, simultaneamente tinha uma visão acerca do próprio Ananias (At 9.15,16).

 

3.1. Ananias foi ao encontro de Paulo (At 9.17)

Uma vez que tudo se tornara claro para Ananias, ele entendeu que se deveria apressar. Pois Paulo de Tarso não poderia ficar esperando indefinidamente em casa de Judas. Assim, pôs-se a caminho para achar o endereço que o Senhor lhe havia mostrado. A narrativa que se segue demonstra diligência, fé e muita alegria de Ananias ao encontrar a Paulo. Suas palavras são auspiciosas e demonstram conhecimento de tudo o que estava se passando, pois ele disse, “Irmão Saulo, o Senhor Jesus, que te apareceu no caminho por onde vinhas, me enviou, para que tornes a ver e sejas cheio do Espírito Santo”.

Tão importante é para o Senhor a irmandade dos seus. Ao mesmo tempo, a ação de Jesus adquire determinação e clareza. A cura não é “acaso” ou “natureza”, mas a dádiva do próprio Jesus pela mão do irmão. Para isso, no entanto, não há necessidade da mão de um importante apóstolo. Um simples cristão como Ananias pode fazê-lo.

 

3.2. Paulo foi batizado (At 9.18)

O certo é que Paulo estava deitado ou sentado, de qualquer maneira sua posição indicava estar esperando, ou pelo menos se recuperando do tratamento de choque recebido da parte do Senhor. O texto não afirma claramente quem batizou Paulo, mas diz que ele “foi batizado”. É bem provável que tenha sido o próprio Ananias quem realizou o seu batismo ou outra pessoa próxima. No caso dos judeus, o batismo ocorria imediatamente, pois eles apenas aceitavam as promessas de Deus reveladas no Antigo Testamento, uma vez identificando que o homem Jesus era mesmo o Messias, tudo acontecia automaticamente.

Diante do que foi acima expostofica uma pergunta: porque hoje não se batiza imediatamente como nos dias do Novo Testamento? Usando unia linguagem bem atual, o motivo é o seguintepara os judeus, tratava-se de uma atualização através do cumprimento das promessas de Deus na vida pessoal deles. E como alguém que compra um software e depois recebe a sua atualização tornando-o mais eficaz. Por issoaté hojealguns judeus ao aceitarem Jesus como o Cristodizem“agora estou completo”. E, de fato. Jesus prometeu a eles e a todos os que cressem uma “vida plena”quando disse: “eu vim para que tenham vida, e a tenham com abundância” (Jo 10.10b). Hoje muitas igrejas preferem aplicar um ensino elementar sobre a vida cristãpara depois ou durante o estudo, batizarem o novo convertido. Isso é cuidado com a própria pessoa e não um impedimento em si.

 

3.3.  Paulo com outros discípulos (At 9.19)

Após o batismo, Paulo se alimenta, pois ele estava afligindo seu corpo físico com o jejum até aquele momento. Mas também a sua alma sofria por lembrar-se de que, como oficial do Sinédrio, perseguira implacavelmente inofensivos cristãos tratando-os como bandidos. A comida lhe confortou, Deus lhe perdoou, mas, a partir dali, usou a sua vida para Deus. Ao que tudo indica, Ananias era um líder local, e ali em Damasco, Paulo pôde permanecer alguns dias, até que foi à Arábia, ficando por três anos conforme seu pequeno relato autobiográfico (G11.17).

Com o batismo acaba seu jejum: “Alimentou-se e recuperou as forças.” Não era mais tempo de luto. Tomou sua prime ira refeição, com certeza do mesmo modo como o primeiro cristianismo em Jerusalém: louvando a Deus com júbilo e singeleza de coração (At 2.46). Cumpre supor que para ele essa refeição também se tornou ao mesmo tempo a celebração da “ceia do Senhor”. Então o “recuperar as forças” era físico e espiritual, fortalecendo, na unidade de “refeição” e “celebração da ceia do Senhor”, toda a pessoa de Saulo para o imenso serviço que começaria imediatamente.

 

Conclusão

Os cuidados básicos desfrutados por Paulo de ser assistido, batizado, usufruindo da convivência com outros discípulos mais experientes são os mesmos direitos de todo o cristão neófito que entra nas milícias do Senhor Jesus Cristo. Se isso for ignorado, estar-se-á gerando um cristianismo normal.

 

 

 

O progresso espiritual do Apóstolo Paulo - Lição 4 - 28 de outubro de 2012

 

LIÇÃO 04 – 28 de Outubro de 2012

 

O progresso espiritual do Apóstolo Paulo

 

TEXTO AUREO

 

“Mas somente tinham ouvido dizer: Aquele que já nos perseguiu anuncia agora a fé que antes destruía”. G11.23

 

VERDADE APLICADA

 

Cada cristão tem o dever de ajudar espiritualmente ao seu semelhante.

 

TEXTOS DE REFERÊNCIA

 

At 9.20 - E logo nas sinagogas pregava a Cristo, que este é o Filho de Deus.

At 9.21 - E todos os que o ouviam estavam atônitos, e diziam: Não é este o que em Jerusalém perseguia os que invocavam este nome, e para isso veio aqui, para os levar presos aos principais dos sacerdotes?

At 9.25 - Tomando-o de noite os discípulos o desceram, dentro de um cesto, pelo muro.

At 9.26 - E, quando Saulo chegou a Jerusalém, procurava ajuntar-se aos discípulos, mas todos o temiam, não crendo que fosse discípulo.

At 9.27 - Então Barnabé, tomando-o consigo, o trouxe aos apóstolos, e lhes contou como no caminho ele vira ao Senhor e lhe falara, e como em Damasco falara ousadamente no nome de Jesus.

At 9.28 - E andava com eles em Jerusalém, entrando e saindo,

 

Introdução

Depois que Paulo reconfigurou a sua mente através da sua Conversão a Cristo, o que não levou muito tempo, dada a sua vontade inquebrantável de crescimento, ele passou a viver de acordo com as suas novas convicções. Isso evidenciou a profunda transformação que sofreu no caminho de Damasco, e essa transformação, a cada tempo, tanto mais se evidenciava. Será estudado aqui como se processou o desenvolvimento espiritual de Paulo.

 

  1. O esforço evangelístico de Paulo

A convivência com os irmãos de Damasco era muito boa, disso ninguém duvida, mas Paulo era uma pessoa com o temperamento e a vontade de demonstrar gratidão a Deus, e crescer espiritualmente. Sentia a necessidade de compartilhar tão logo a sua dramática conversão, e quem de fato era Jesus de Nazaré.

 

1.1. Pregando nas sinagogas (At 9.20)

O autor de Atos omite o fato de Paulo ter viajado para Arábia, mas Paulo, ao escrever aos gálatas, informa que, três anos após a sua conversão, ele foi das regiões da Arábia paia Jerusalém (Gl 1.17-18). Entretanto, no texto supracitado, Paulo expõe o fato de ter estado em Damasco novamente, e, conforme os maiores detalhes escritos por Lucas lá esteve pregando. Fica uma pergunta no ar: Por que teria Paulo ido à Arábia, e o que ficou fazendo naqueles três anos? Embora não tenhamos detalhes, sabemos que ele ali parou para refletir sobre a sua decisão, visando-a fortalecer. Todavia é certo que ele procurou falar de Jesus causando algum tipo de problema na Arábia. Por isso retomou a Damasco, e, aos sábados, vestia-se com os trajes de fariseu, e, indo às sinagogas, dali pregava acerca de Jesus ressuscitado.

Nisto, porém, Saulo revela-se por inteiro: “E logo pregava, nas sinagogas, a Jesus.” É próprio de sua natureza empenhar-se resolutamente. Ao mesmo tempo, porém, ele também entendeu sua conversão da forma correta. Afinal, desde o início ela não foi simplesmente sua própria salvação e bem-aventurança, mas vocação para o serviço. E para Paulo esse serviço não era um adendo amargo para a doce salvação recebida. Ele sempre percebia a profundidade da misericórdia que lhe fora concedida (2Co 4.1; 1Tm 1.12s) justamente na incumbência do serviço. Por essa razão ele imediatamente se torna o “arauto” de seu Rei. Novamente usa-se o termo “ser arauto” para “proclamar”. As sinagogas – nas cidades grandes com numerosa população de judeus havia sempre várias casas de oração judaicas – são o local em que deve soar o grito do arauto para o Rei de Israel.

O conteúdo de sua proclamação é uma única frase de significado imensurável: “Este é o Filho de Deus.” Pedro falara aos israelitas acerca do “Servo de Deus”. Não tocara no mistério da pessoa de Jesus. Paulo, porém, imediatamente vai além. Sua experiência no encontro com Jesus e o que entendeu sobre Jesus a partir disso fez com que captasse a ligação integral de Jesus com Deus. De acordo com o entendimento judaico o Messias também podia ser um simples ser humano. Paulo, porém, viu: o Messias Jesus não se encontrava entre as pessoas, nem mesmo como a maior e mais gloriosa delas. Ele veio de Deus e subsistia “em forma de Deus” (Fp 2.6).

Galatas 1.17-18. Paulo não temia a conseqüência integral. Nem subi a Jerusalém para os que já eram apóstolos antes de mim. O chamado: Subamos a Jerusalém! Estava no sangue de todo judeu devoto, fazendo os corações bater mais depressa. Contudo o lugar de Paulo não era mais aos pés dos co-apóstolos lá na cidade santa. Ele reconhecia a vantagem cronológica deles, assim como sua dignidade especial (Gl 2.2), mas o próprio Deus lhe havia interditado o caminho em direção da dependência deles na questão da missão aos gentios.

No presente contexto era importante para ele o fato de ter permanecido longe da instrução dos de Jerusalém. Mas parti para as regiões da Arábia. Que fez ele ali? Como está no contexto da demonstração de sua obediência imediata diante de sua incumbência missionária, é provável que pregasse. É provável que por meio dessa pregação, como em quase todos os lugares de sua atuação, também se tenha tornado malquisto na Arábia (At 9.22 -25; 2Co 11.32,33). Isso dificilmente teria acontecido se ele tivesse permanecido para meditar num lugar solitário.  E voltei, outra vez, para Damasco. Ele diz, outra vez: Portanto, ele já havia entrado na cidade anteriormente, o que coincide com At 9.8-25; 22.11-16; 26.20, e podia pressupor esse conhecimento entre seus leitores. No entanto, por mais inconstante e fugitivo que ele fosse, evitou Jerusalém. Com a distância geográfica manteve também uma distância pessoal das demais autoridades. Seu evangelho é independente e do mesmo valor.

 

 

1.2. O espanto dos que o ouviam (At 9.21)

Os comentários sobre a conversão de Paulo se tomaram notórios no seio da igreja (Gl 1.23). Era uma enorme surpresa ouvir o jovem Paulo muito bem trajado como fariseu, aos sábados, nas sinagogas de Damasco. Ele era um ótimo orador, mas ouvi-lo, agora, apresentando o Nazareno morto na cruz, como o Cristo prometido, causava espanto. Afinal, não era Paulo aquele que antes recebera cartas para prender os dissidentes? Como agora procura convencer que esse Jesus é o Cristo? Realmente o espanto e a confusão impregnavam a plateia.

Entre os judeus de Damasco formam-se perplexa confusão e consternação, porque Paulo não se deteve em reflexões teóricas acerca de Jesus, mas “demonstrou que esse é o Messias”. Assim, cada israelita estava sendo confrontado com a decisão prática. É preciso estar à disposição do Messias de Israel com todo o coração e toda a vida. Paulo “demonstrou” isso com base na Sagrada Escritura.

Galatas 1.23. As igrejas da Judéia tinham de Paulo apenas uma idéia restrita como pregador cristão: Ouviam somente dizer: Aquele que, antes, nos perseguia, agora, prega a fé que, outrora, procurava destruir. Divulga-se nas igrejas da Judéia a conversão que não era algo comum. Reconhecem uma intervenção do alto, formulando-o de maneira marcante.

 

1.3. Seu esforço apologético (At 9.22)

Paulo se esforçava para convencer os membros das sinagogas locais de Damasco, quanto à messianidade de Jesus de Nazaré. E, inicialmente, ele encontrava certa dificuldade, por causa da incredulidade e, possivelmente, das muitas altercações por parte dos ouvintes mais conservadores. Entretanto, com o passar do tempo, observamos que Paulo se fortalecia cada vez mais, quer dizer, mais em graça, e mais em argumentação e persuasão, de maneira que seus ouvintes começaram a ficar confusos quanto a sua opinião original. O ser humano pode chegar a conhecer a verdade, mas preferir a tradição na qual recebeu dos seus pais, ou mesmo por uma questão de orgulho se recusar a mudar da opinião que tanto creu, ensinou, ou discutiu. Por isso o texto de Lucas nos diz que “se esforçava muito mais” num esforço apologético.

A maior barreira encontrada por Paulo era o terror que havia espalhado quando perseguidor. Para servir a Deus ele teve de andar na contramão de tudo o que viveu para crer. Podemos observar que, desde cedo, Paulo se definiu por uma carreira evangelística em sua vida cristã. Embora inicialmente não haja nenhum registro de um trabalho substancial seja na Arábia, em Damasco ou Jerusalém. Todavia uma coisa ia ficando cada vez mais nítida na pessoa de Paulo, era a sua disposição evangelística sacrificial por amora Cristo. O que tomou um ensaio para a evangelização no mundo pagão do Império Romano.

 

  1. Fugindo de Damasco

Quando se entende que o governante de Damasco era alguém delegado pelo rei Aretas IV, da Arábia, conclui-se facilmente que a estada de Paulo de Tarso lá na Arábia não foi tão tranquila como se imagina. Sua própria palavra define como foi: “Em Damasco, o que governava sob o rei Aretas pôs guardas às portas da cidade dos damascenos, para me prenderem” (2Co 11.32). O contexto imediato do que Paulo trata escrevendo aos coríntios fala das humilhações, perseguições, açoites, fugas, etc., vividas ao longo de seu ministério exatamente nessa época. Assim, pode-se supor que essa indisposição não foi apenas por causa de seu trabalho em Damasco, mas na Arábia também.

 

2.1. Conselho de morte (At 9.23,24)

A pregação de Paulo era forte, persuasiva, e cheia de poder. Ela deixava alguns confusos, convencia a outros e o resultado é que, com o passar dos dias, ele se tornava cada vez mais influente. Vendo que Paulo caia na graça de muitos, e que, com uma pregação convincente, crescia cada vez mais, os religiosos judeus, reunidos em conselho local, concluíram que nada havia que pudesse ser feito, senão eliminarem Paulo. É importante lembrar que o Príncipe deste mundo não ficaria de braços cruzados à medida que o seu reino estava sendo saqueado, ele reagiria tentando corromper ou eliminar o servo de Deus a ele dedicado. Caso não conseguisse, dificultaria ao máximo para que o obreiro de Cristo desistisse de fazer a obra de Deus.

Atos 9.23 - Decorridos muitos dias, os judeus decidiram de comum acordo matá-lo.

Não há maneira para que homens perversos e violentos, armadores de ciladas e homicidas, sejam homens de Deus; mas era isso que aqueles “... judeus...”, aqui referidos, diziam ser. Eram os líderes reconhecidos da igreja judaica, visitantes permanentes do templo de Jerusalém, praticantes constantes das cerimônias e dos ritos legais exarados no Antigo Testamento, autoridades civis e religiosas, conhecedoras das Escrituras do A.T., cidadãos respeitáveis, que os demais chamavam de “rabinos”. Imaginavam-se pregadores e protetores da revelação divina.

Atos 9.24 - mas Saulo ficou sabendo do plano deles. Dia e noite eles vigiavam as portas da cidade a fim de matá-lo.

Quanto odiavam a Saulo, e quão resolvidos estavam em mata-lo. Porém, nenhum homem de Deus morre antes do tempo, porquanto os seus dias estão numerados e ordenados, e ele vive cada um deles. E nisso nos é dado a observar a providência de Deus.

Foi aquela uma bem planejada tentativa de assassinato, e é evidente que o governador da cidade contavam com os guardas, que ordinariamente vigiavam a cidade, incluindo as sentinelas postadas nos portões para que dessem o alarme, a fim de apanharem a Paulo se porventura ele tentasse sair da cidade. Não há de se duvidar que o plano teria sido bem-sucedido, se Deus não houvesse guardado a Saulo na palma de sua mão, fazendo o plano urdido chegar ao seu conhecimento, através de meios que desconhecemos, e iluminando-o quanto ao meio de fugir da cidade.

 

2.2. A fuga de Paulo (At 9.25)

Havia um entrosamento muito firme entre Paulo e os discípulos dali de Damasco, e, pelo risco que eles assumiram em salvá-lo, isso ficou claramente demonstrado. Paulo não era diferente de seu mestre. Sua influência fazia com que muitos o odiassem, mas também fazia com que vários outros fossem capazes de arriscar a própria vida por ele (Rm 16.4). Quando Paulo teve conhecimento do estratagema contra sua vida teve de fugir, mas, qual o por quê de tudo isso? A resposta está no seu trabalho que: incomodava, crescia, e se fortalecia cada vez mais. Como dizem por aí: “ninguém chuta um cão morto”.

Atos 9.25 - Mas os seus discípulos o levaram de noite e o fizeram descer num cesto, através de uma abertura na muralha.

Paulo, no trecho de II Coríntios 11.33, diz-nos especificamente como essa fuga se realizou. Foi através de “...janela...” Isso parece subentender que ele foi arriado através de uma janela de uma casa ou edificação qualquer que havia à beira do muro, ou que essa janela era uma abertura na própria muralha, de tal modo que essa janela era, ao mesmo tempo, janela do muro e de uma casa contígua. Tais “janelas” têm sido observadas em tempos modernos, tanto nas muralhas de Damasco como em outras localidades antigas do oriente; e é evidente que isso é o que está em foco aqui. Pode se comparar isso com o trecho de Js 2.15, pois foi através de um plano desse que Raabe permitiu que os espias fugissem de Jericó.

Romanos 16.4 - Eles pela minha vida expuseram suas cabeças. E isto não lhes agradeço eu só, mas também todas as igrejas dos gentios..

A expressão “...expuseram suas cabeças...”, se for traduzida literalmente, dirá: “expuseram seus pescoços”, o que é uma alusão ao machado do verdugo. Pois quando um homem era executado por decapitação, punha o pescoço sobre o bloco de madeira. Paulo, pois, dá a entender que, ao servirem juntamente com ele, por serem seus companheiros de luta, Priscila e Áquila, por mais de uma vez poderiam ter sido mortos em meio às tribulações que assediavam àquele Apóstolo.

“...também todas as igrejas dos gentios...” A questão das ações de graças, em face da dedicação desse casal, não poderia terminar com Paulo, porquanto todas as igrejas gentílicas (o que talvez indique, especialmente, aquelas que havia na Ásia Menor) deveriam mostrar-se gratas para com o papel desempenhado por Priscila e Áquila, no ministério do evangelho naquela regiões. Priscila e Áquila tinham sido figuras centrais, instrumentos poderosos nas mãos de Jesus Cristo naqueles territórios. Muitas almas haviam sido conduzidas aos pés de Cristo, tendo sido também firmadas na doutrina cristã, direta ou indiretamente, por meio deles.

 

2.3. De Damasco para o mundo (At 9.23-24)

Os detalhes da fuga de Paulo são interessantes, o sucesso dela dependeu da cumplicidade e ajuda dos irmãos dali, observe que ele escapou à noite, pelo muro da cidade, num cesto descido através de uma corda. A partir de então, o que se sabe é que ele foi para Jerusalém, onde sua vida foi marcada pela atividade evangelizadora nos anos seguintes. Ainda que, aparentemente em algum momento de sua história, não tenha sido bem sucedido, seu exemplo vívido permanece como fonte de inspiração a todos os missionários posteriores.

Com a fuga de Paulo da cidade de Damasco para escapar da morteaprendemos que em momentos de perseguiçãodevemos fugir para preservação da vidaevidentemente. E o Senhor Jesus mesmo disse, “se vos perseguirdes em urna cidade, fujam para outra”. Fazer isso nada tem a ver com covardia ou falta de fé, e simcolaborar com a economia divina. Afinal, mais vale um discípulo produtivo vivo do que morto, visto que o morto não adora a Deus nesse mundo e nem fala de Jesus em lugar nenhum!

 

  1. Chegada de Paulo a Jerusalém e a sua partida

Dentre tantos lugares que Paulo poderia ter ido pelo vasto Império Romano, em sua fuga, ele decidiu ir a Jerusalém. Mas com que interesse? O que fica claro, conforme narrou posteriormente, era que ele tinha como objetivo primário que era o de ver Pedro (Gl 1.18). Todavia, por algum motivo, não o encontrou de imediato, encontrando apenas dificuldades com alguns irmãos que não tinham certeza da sua genuína conversão.

 

3.1. A dificuldade de entrosamento (At 9.26)

Para os cristãos de Jerusalém, a conversão de Paulo não passava de “fachada” para tentar aprisionar depois. Aliás, a sua conversão, de certa maneira, era algo recente e os traumas relacionados à pessoa dele eram enormes. Então, Paulo procurava se ajuntar a eles, porém eles com medo o evitavam. Ele já havia sido beneficiado pela oração de Estevão, pela acolhida calorosa e perdoadora de Ananias, mas faltava alguém que lhe servisse de conexão para ajudá-lo quanto à dificuldade de entrosamento. Havia um motivo sério que impedia as pessoas dele se aproximar, posto que muitas feridas ainda estivessem abertas na vida de algumas famílias cristãs de Jerusalém. Entretanto, é difícil entender como em alguns lugares, certos novos convertidos e crentes, vindos de outras cidades distantes não conseguem entrosamento, porque alguns grupos da igreja local se cristalizam em torno de si impedindo a integração de novatos ou recém-chegados.

Atos 9.26 - Quando chegou a Jerusalém, tentou reunir-se aos discípulos, mas todos estavam com medo dele, não acreditando que fosse realmente um discípulo.

“Quando chegou a Jerusalém…” O próprio Paulo afirmou em Gl 1.18-20 sobre sua primeira permanência em Jerusalém. Ainda que tenham transcorrido “muitos” dias até o atentado e a fuga de Damasco, eles perfazem aproximadamente “três anos”, como Paulo escreve em Gl 1.18. Porém Lucas, que em muitos pontos de seu livro deixa de apresentar em detalhe tudo o que indubitavelmente aconteceu, não menciona o que nos informa o próprio Paulo: “Parti para as regiões da Arábia e voltei, outra vez, para Damasco” (Gl 1.17). Saulo não permaneceu ininterruptamente em Damasco, mas de lá foi para a “Arábia”. Essa região não era a Arábia de hoje, que representa apenas um remanescente do grande reino dos nabateus, mas que no tempo dos apóstolos se estendia até Damasco, tendo como capital P etra (a antiga Edom). Diversas pessoas levantaram a suposição de que Paulo teria vivido ali alguns anos de silêncio e reclusão, a fim de refletir sobre toda a sua concepção do cristianismo, e preparando-se assim para seu ministério futuro. Porém a “Arábia” não era um deserto tranquilo: no tempo dos nabateus era uma região civilizada conquistada diante do deserto, com cidades ativas. O Saulo que “logo” atua como arauto de Jesus nas sinagogas e que “demonstra” sua dignidade de Messias e de Filho de Deus não carecia desse tempo de quietude. Não, ele esteve atuando como missionário nas cidades da Arábia. E somente então, quando “voltou outra vez a Damasco” e deu prosseguimento à atividade evangelística, o conflito extremo eclodiu.

 

3.2. Barnabé o apresenta aos apóstolos (At 9.27-28)

Barnabé era um líder de elevada estatura espiritual “que insistia em crer no melhor dos outros”. Era certo que ele evitou Paulo quando ainda era um perseguidor, mas agora, ao saber que se convertera, deixou aflorar as boas lembranças de um conhecimento anterior, de um tempo possível em que estudaram juntos. É certo que ele averiguou a história recente da conversão e tomou conhecimento da palavra profética de Ananias: de que Paulo era um vaso escolhido para anunciar o nome do Senhor. Diante de tantas evidências, ou seja, de como Paulo vira o Senhor e lhe falara da sua disposição em anunciar ousadamente no nome do Senhor, Barnabé fez a ponte, servindo de conexão entre os apóstolos e Paulo. Foi a partir daí que Paulo passou andar com eles em Jerusalém, entrando e saindo.

Atos 9.27 - Então Barnabé o levou aos apóstolos e lhes contou como, no caminho, Saulo vira o Senhor, que lhe falara, e como em Damasco ele havia pregado corajosamente em nome de Jesus.

Atos 9.28 - Assim, Saulo ficou com eles, e andava com liberdade em Jerusalém, pregando corajosamente em nome do Senhor.

O informe pessoal de Paulo sobre sua permanência em Jerusalém leva a supor, a princípio, apenas uma breve e tranquila visita a Pedro. E, com base em Gl 1.19 certamente temos de corrigir a referência sintética de Lucas: “Mas Barnabé, tomando-o consigo, levou-o aos apóstolos”: Paulo viu na ocasião somente a Pedro e o irmão do Senhor, Tiago. É o que ele assevera expressamente. Do mesmo modo, porém, a breve nota da carta aos Gálatas, porque no contexto da carta o interesse de Paulo se concentra numa única coisa, que é explicitar toda sua autonomia e independência em relação aos primeiros apóstolos. Num ponto, no entanto, o relato de Lucas não suscita dúvidas: Paulo chega aos apóstolos como cristão e testemunha de Jesus de forma totalmente independente: “E contou-lhes como ele vira o Senhor no caminho, e que este lhe falara, e como em Damasco pregara ousadamente em nome de Jesus.” É compreensível que mesmo depois dos três anos de trabalho em Damasco e na Arábia houvesse suspeitas e rejeição entre os cristãos de Jerusalém contra o perseguidor de outrora. Haviam sofrido demais por meio dele. Não é explicado por que Barnabé o avaliou de outra maneira e foi tomado de plena confiança nele. No entanto, o que é importante para os crentes relembrar, é que ocasionalmente, a vida do crente é inteiramente nova. Existe pessoas que como Saulo, transforma-se em nova criatura. Ai do homem que se posta no caminho deles e que, devido o seu passado, se recusam a permiti-lhes o direito de serem transformados. Muito melhor é entrar em jogo com um homem e perder, do que perder um homem por recusar dar-lhe uma chance!

 

3.3.  Seu retorno a Tarso (At 9.29-31)

Paulo era “sui generis”, quer dizer, uma pessoa muito peculiar. Não se acomodava a rotinas, era ousado e como tal anunciava o nome de Jesus. Essa coragem o colocava constantemente em risco, principalmente quando decidiu falar e disputar contra os helenistas, os judeus de fala grega a quem Estevão antes tivera também testemunhando de Jesus. Quando os irmãos souberam que os helenistas procuravam matá-lo, aí decidiram o aconselhar deixar Jerusalém e o acompanharam até Cesaréia onde havia um porto construído por Herodes. Então partiu Paulo para Tarso, sua terra natal, e os irmãos puderam respirar aliviados, pois senão ele teria o mesmo destino de Estevão.

O termo Sui generis, de origem latina, significa, literalmente, "de seu próprio gênero", ou seja, "único em seu gênero".

Agora pensemos em Barnabé, ele foi uma bênção e um instrumento eficaz para eliminar toda a suspeita, quanto à pessoa de Paulo e em relação à conversão dele, possibilitando assim a sua comunhão com os apóstolos que estavam em Jerusalém. Na qualidade de obreiro, Barnabé, jamais deixou a desejar pelo fato de crer e dar oportunidade a Paulo, e é assim que os líderes da casa do Senhor devem agiresquecendo o passado descrente da pessoa, mas buscando crer e dar a oportunidade de desenvolvimento aos que chegam depois. Isso não nos isentará de termos outras decepções. Porém, nos dará a possibilidade de colher preciosa joia para o trabalho do Senhorcomo foi Paulo de Tarso, o Apóstolo dos Gentios.

 

Conclusão

O progresso espiritual de uma pessoa é evidenciado pela sua forma de proceder. Qualquer pessoa pode experimentar progresso ou retrocesso espiritual. Paulo demonstrou seu progresso de algumas maneiras como foi visto nesta lição. Que possamos seguir suas pegadas corajosas, para continuar nosso progresso espiritual.

 

 

 

Paulo e Barnabé, aliados na obra do Senhor - Lição 5 - 04 de Novembro de 2012

 

LIÇÃO 05 – 04 de Novembro de 2012

 

Paulo e Barnabé, aliados na obra do Senhor

 

TEXTO AUREO

 

“Portanto, meus amados irmãos, sede firmes e constantes, sempre abundantes na obra do Senhor, sabendo que o vosso trabalho não é vão no Senhor”. ICo 15.58

 

VERDADE APLICADA

 

O grande segredo para o crescimento espiritual e ministerial na obra do Senhor reside na perseverança e aprendizado constante.

 

TEXTOS DE REFERÊNCIA

 

At 11.25 - E partiu Barnabé para Tarso, a buscar Saulo; e, achando-o, o conduziu para Antioquia.

At 11.26 - E sucedeu que todo um ano se reuniram naquela igreja, e ensinaram muita gente; e em Antioquia foram os discípulos, pela primeira vez, chamados cristãos.

At 11.27 - E naqueles dias desceram profetas de Jerusalém para Antioquia.

At 11.28 - E, levantando-se um deles, por nome Ágabo, dava a entender pelo Espírito, que haveria uma grande fome em todo o mundo, e isso aconteceu no tempo de Cláudio César.

At 11.29 - E os discípulos determinaram mandar, cada um conforme o que pudesse, socorro aos irmãos que habitavam na Judéia.

At 11.30 - O que eles com efeito fizeram, enviando-o aos anciãos por mão de Barnabé e de Saulo.

 

Introdução

Quando Paulo retornou à sua cidade natal (Tarso) pareceu um desfecho um tanto melancólico dado por Lucas. Mas ai ele passa a narrar vividamente os atos de Pedro, para depois retornar a trajetória de Paulo como um assistente de talento. Aqui estudaremos um pouco do perfil de Paulo que atendendo um convite para auxiliar Barnabé, teve um contínuo progresso espiritual e ministerial em Antioquia.

 

  1. Paulo, um companheiro em potencial

Aquele era um momento surpreendente de crescimento e multiplicação de conversões nas regiões da Judéia, Galileia e Samaria, e os irmãos que saíram dispersos por causa da perseguição iam anunciando a Palavra por onde passavam, de maneira que muitos judeus se convertiam cada vez mais ao Senhor.

 

1.1. Antioquia, uma igreja crescente (At 11.20,21)

Grande número de pessoas se converteu ao Senhor em Antioquia, mas o fato de ser uma igreja fora dos termos de Israel e mista, ainda era algo complicado para os apóstolos em Jerusalém. O motivo era preconceito. Por esse motivo, Pedro, o primeiro a entrar na casa de um centurião romano e pregar a salvação em Cristo teve que se explicar por entrar na residência de um pagão incircunciso, ainda que piedoso e dirigido por revelação divina (At 11.4-18). É claro que essa notícia se espalhou na comunidade dos fiéis a Cristo, estimulando muitos a falarem de Jesus aos não judeus também. A igreja de Antioquia cresceu de tal maneira que alcançou mais expressão do que Jerusalém com o passar do tempo.

Quando os cristãos foram dispersos durante a perseguição de Paulo contra a Igreja (At 8:11), alguns chegaram até Antioquia, a capital da Síria, a quase 500 quilômetros ao norte de Jerusalém (é importante não confundir essa cidade com Antioquia da Pisídia; ver At 13:14). Havia pelo menos dezesseis cidades chamadas Antioquia no mundo antigo, mas esta era uma das maiores.

Com cerca de meio milhão de habitantes, Antioquia era a terceira maior cidade do império romano, depois de Roma e Alexandria. Suas construções grandiosas contribuíram para que fosse chamada de "Antioquia, a Cidade Dourada, Rainha do Oriente". Sua rua principal tinha mais de 7 quilômetros de extensão; era calçada de mármore e ladeada de colunas desse mesmo material. Naquela época, era a única cidade do mundo antigo com iluminação noturna.

Porto movimentado e centro de luxo e de cultura, Antioquia atraía pessoas de todo tipo, inclusive oficiais romanos aposentados e abastados que passavam os dias conversando nas casas de banho ou apostando nas corridas. Com sua enorme população cosmopolita e seu grande poder político e comercial, a cidade oferecia à igreja oportunidades extraordinárias de evangelismo.

Antioquia era uma cidade perversa, superada apenas, talvez, pela cidade de Corinto. Apesar de todas as divindades sírias, gregas e romanas que os cidadãos de Antioquia adoravam, os santuários locais eram consagrados a Dafne, cuja veneração incluía práticas imorais. Nas palavras de lames A. Kelso "Antioquia era a Nova York do mundo antigo. Lá, onde todos os deuses da Antiguidade eram adorados, era preciso que Cristo fosse exaltado".

Quando os cristãos perseguidos chegaram a Antioquia, não se sentiram nem um pouco intimidados pela grandiosidade das construções ou pelo orgulho dos cidadãos. Tinham a Palavra de Deus em seus lábios e a mão de Deus sobre seu testemunho, e muitos pecadores arrependeram-se e creram. Foi uma obra espetacular da graça maravilhosa de Deus.

 

 

1.2. Barnabé o enviado (At 11.22-24)

Quando aquele fenômeno de crescimento da igreja em Antioquia chegou ao conhecimento da liderança de Jerusalém, a igreja enviou Barnabé com a finalidade de legitimar Antioquia. Barnabé era homem generoso, benquisto entre os apóstolos, e de grande reputação na igreja. A pessoa perfeita para aquele momento. Eusébio de Cesaréia afirma que Barnabé foi um dos setenta discípulos do Senhor Jesus (H. Eclesiástica, L.l Cap.12,1). Em virtude do seu perfil tolerante e empreendedor, Barnabé trabalhou de modo tão excelente que a comunidade dos crentes cresceu com muita qualidade (At 11.24). Porém ele observou que Paulo era um companheiro perfeito para aquele trabalho.

Os líderes da igreja em Jerusalém tinham a responsabilidade de "pastorear" o rebanho disperso, que passou a incluir congregações gentias de lugares distantes como a Síria. Ao que parece, os apóstolos ministravam fora de Jerusalém naquela ocasião, de modo que os presbíteros enviaram Barnabé a Antioquia, a fim de descobrir o que se passava entre os gentios. Foi uma escolha sábia, pois Barnabé fez jus ao seu nome, "filho de exortação" (At 4:36).

Atos 11:24 apresenta um "perfil espiritual" de Barnabé que nos parece ser um exemplo de vida cristã a ser imitado. Era um homem justo, que obedecia à Palavra em sua vida diária e, portanto, de caráter irrepreensível. Era cheio do Espírito, o que explica a eficácia de seu ministério. O fato de ser um homem de fé fica evidente na maneira de exortar a igreja e, mais tarde, também de exortar Saulo. Os novos cristãos e as novas igrejas precisam de pessoas como Barnabé para encorajá-los em seu crescimento e ministério.

De que maneira Barnabé foi um estímulo a esses cristãos gentios? Em primeiro lugar, se regozijou com o que viu. Adorar a Deus com gentios foi uma experiência nova para ele, mas abordou essa situação com uma atitude positiva, sem procurar Coisas para criticar. Aquele ministério era obra de Deus, e Barnabé agradeceu pela graça divina.

Ao ensinar a Palavra de Deus ao povo, enfatizou a devoção do coração. A expressão "permanecer no Senhor" não significa que deviam "manter-se salvos". A mesma graça que nos salvou também nos guarda (1 Co 15:10; Hb 13:9). Essa expressão traz à memória a admoestação de Josué a Israel em Josué 22:5. Permanecer no Senhor é amar ao Senhor, andar em seus caminhos, obedecer à sua Palavra e servi-lo de todo o coração. Significa que pertencemos somente a ele e que cultivamos nossa devoção a ele. "Ninguém pode servir a dois senhores" (Mt 6:24).

O trabalho de Barnabé em Antioquia teve dois resultados maravilhosos. Em primeiro lugar, o testemunho da igreja causou grande impacto na cidade, de modo que "muita gente se uniu ao Senhor" (At 11:24). Quando os cristãos estão fundamentados na Palavra, seu testemunho aos perdidos é vivo e eficaz e há um equilíbrio dentro da igreja entre a edificação e o evangelismo, entre o ensinamento e o testemunho.

 

1.3. Paulo é convidado para trabalhar (At 11.25)

Barnabé tinha uma convicção de que Paulo, ao ouvir o relato das grandezas de Deus em Antioquia, e a sua responsabilidade pastoral ali naquela cidade, interessar-se-ia em acompanhá-lo. Barnabé partiu em busca de Paulo, até que, finalmente, o achou. Diante do relato de Barnabé, Paulo aceitou prontamente ir com ele para Antioquia a fim de auxiliá-lo. Aí vemos o verdadeiro coração de um servo de Deus. Paulo aceitou ficar em Tarso da Cilicia trabalhando com tendas, ofício que aprendera quando mais novo, mas diante da necessidade, dispôs-se a trabalhar em Antioquia. Parece incrível, mas todas as grandes personalidades de destaque nas páginas sagradas estavam ocupadas quando foram chamadas. Um chamado divino deve sempre ter prioridade na vida de quem serve a Deus.

O crescimento da igreja criou a necessidade de mais pessoas para ajudar, de modo que Barnabé foi até Tarso e chamou Saulo. Mas por que ir a um lugar tão distante só para encontrar um assistente? Por que não pedir que a igreja de Jerusalém enviasse Nicolau, um diácono nascido em Antioquia? (At 6:5). Porque Barnabé sabia que Deus havia incumbido Saulo de ministrar aos gentios (At 9:15; 22:21; 26:27). Convém lembrar que Barnabé fez amizade com Saulo em Jerusalém (At 9:26, 27) e, sem dúvida, os dois conversavam sobre o chamado especial que Saulo havia recebido de Deus.

O fato de Barnabé se unir a Paulo nos revela algumas preciosas Lições. PrimeiraDeus apenas usam eficientemente aquele que estiver disponível e amadurecido para um trabalho de grande envergadura, nesse aspecto, isso leva tempo. Outro detalhe é que a ansiedade para trabalhar não cooperará em nada, poderá sim, até atrapalhar. Se Paulo insistisse em Damasco ou Jerusalém, perderia a chance de ser o vaso útil que foi em tantos outros lugares. O fato de Barnabé buscar a Paulo demonstra a sua capacidade de crer em outros e dar chance para demonstrarem o seu exercício e potencial Barnabé jamais será esquecido por causa da sua elevada estatura espiritual e largueza de espirito.

 

  1. O trabalho de Barnabé e Paulo

A igreja em Antioquia principiou com elementos judeus, depois helénicos, e por fim gentios. Essa massa de pessoas vindas de diferentes lugares com culturas diferentes, no entanto, tinham uma coisa em comum, o fato de crerem em Jesus Cristo. A fé em Jesus foi o agente agregador que os reuniu eliminando vantajosamente todas as diferenças e possibilitando a realização posterior da obra missionária no Império Romano.

 

2.1. A prioridade no ensino (At 11.26)

Quando pensamos na integração de Paulo junto aos irmãos de Antioquia, lembra que tudo foi diferente de Damasco e Jerusalém por causa da aceitação de seu trabalho junto a Barnabé. A princípio, ambos laboraram firmemente no ensino durante um ano inteiro; eles foram sábios o suficiente para realizarem um trabalho pastoral e missionário sem negligenciar a instrução. Esse cuidado foi tão decisivo e salutar para aquela igreja que os fiéis se esforçaram para se parecer cada vez mais com Jesus, o Cristo. Note que por causa do ensino acompanhado de bom testemunho, pela primeira vez, os crentes em Jesus foram chamados cristãos (At 11.26; Mt 22.29; Pv 18.15).

O que Barnabé fez por Saulo precisa ser colocado em prática nas igrejas de hoje. Os cristãos maduros precisam chamar outros membros do corpo e encorajá-los em seu serviço ao Senhor. Uma das políticas de D L. Moody era dar alguma incumbência a todos os recém-convertidos. A princípio, poderia ser alguma tarefa simples, como distribuir hinários ou receber as pessoas na entrada da igreja, mas cada convertido deveria ter uma ocupação. Como mencionamos anteriormente, Moody costumava dizer: "É melhor colocar dez homens para trabalhar do que fazer o serviço de dez homens”. Muitos dos "assistentes" de Moody tornaram-se excelentes obreiros cristãos trabalhando de modo independente e multiplicando o testemunho da Palavra.

Em Antioquia, os discípulos de Jesus Cristo foram chamados pela primeira vez de cristãos. O sufixo em latim correspondente ao nosso “ão” significa "pertencente ao partido de". Como forma de zombaria, os cidadãos de Antioquia juntaram o sufixo em latim ao nome grego "Cristo" (N. do T.: do grego Christós - o que foi ungido), resultando na designação cristão. O termo aparece apenas três vezes no Novo Testamento: em Atos 11:26; 26:28 e 1 Pedro 4:16.

Infelizmente, a palavra cristão perdeu muito de seu significado ao longo dos séculos e não quer dizer mais "aquele que deixou o pecado, creu em Jesus Cristo e recebeu a salvação pela graça" (At 11:21-23). Muita gente que não nasceu de novo se considera "cristão" simplesmente porque afirma não ser "pagão". Afinal, participa de uma igreja, frequenta os cultos com certa regularidade e, de vez em quando, até contribui para o trabalho da igreja! Mas é preciso mais do que isso para o pecador tornar-se filho de Deus. É preciso arrependimento do pecado e fé em Jesus Cristo, que morreu por nossos pecados na cruz e ressuscitou para nos dar vida eterna.

Os seguidores de Cristo na Igreja primitiva sofreram por serem cristãos (1 Pe 4:16). David Otis Fuller certa vez perguntou: "Se você fosse preso sob a acusação de ser cristão, haveria provas suficientes para condená-lo?" Ótima pergunta! E a resposta é uma questão de vida ou morte.

 

2.2. Proveram socorro aos necessitados (At 11.28-29)

Como o cenário político era muito inconstante, as crises assolavam facilmente, somado às catástrofes naturais como em nossos dias, isso por si só gerava muitos necessitados de pão no mundo afora. Todavia, nesses dias, em que Barnabé e Paulo estavam em Antioquia, desceu de Jerusalém uma comitiva de profetas, não se sabe o propósito exato deles nessa visita, mas a fama do crescimento da igreja em Antioquia contribuiu decisivamente para isso (At 11.26). O exercício ministerial de profeta era um ofício comum naqueles dias que contribuía uniformemente para o crescimento da igreja, junto com os apóstolos. E um daqueles profetas vindo com a comitiva de Jerusalém, por nome Ágabo, anunciou uma fome que se abateria por sobre todo o mundo (At 11.27), “e isso aconteceu no tempo de Cláudio César”.

O Espírito disse a Ágabo (ver At 21:10, 11) que logo haveria uma grande fome, o que de fato ocorreu no reinado de Cláudio César (41 - 54 d.C.), quando as colheitas foram escassas durante vários anos. Os escritores da Antiguidade citam pelo menos quatro grandes fomes: duas em Roma, uma na Grécia e outra na Judéia. A escassez de alimentos na Judéia foi especialmente grave e, de acordo com o historiador judeu Josefo, muitas pessoas morreram por falta de recursos para comprar a pouca comida que havia disponível.

Ágabo entregou sua mensagem aos cristãos de Antioquia, e eles resolveram ajudar seus irmãos cristãos da Judéia. A finalidade de uma profecia genuína não é de satisfazer nossa curiosidade sobre o futuro, mas sim de encorajar nosso coração a fazer a vontade de Deus. Os cristãos não podiam impedir a vinda da fome, mas podiam mandar ajuda aos necessitados.

Esta passagem ilustra um princípio espiritual importante: se as pessoas foram uma bênção espiritual para nós, devemos ministrar-lhes por meio de nossos recursos materiais. "Mas aquele que está sendo instruído na palavra faça participante de todas as coisas boas aquele que o instrui" (Cl 6:6). Os cristãos de Jerusalém haviam levado o evangelho a Antioquia. Enviaram Barnabé para exortar os recém-convertidos. Nada mais certo do que os gentios de Antioquia retribuírem e enviarem a ajuda material de que seus irmãos e irmãs na Judéia precisavam. Alguns anos depois, Saulo recolheria uma oferta parecida das igrejas gentias e a levaria aos cristãos de Jerusalém (At 24:17); ver também Rm 15:23-28).

É importante observar que havia ocorrido uma mudança na igreja de Jerusalém. Antes, ninguém da igreja precisava de coisa alguma (At 4:34), nem era necessário pedir a ajuda de outros. Aqueles primeiros anos foram como "o Paraíso na terra", enquanto Deus abençoava seu povo ricamente e os usava para testemunhar à nação incrédula. Foram "tempos de refrigério" do Senhor (At 3:20). À medida que a mensagem passou dos judeus para os samaritanos e gentios, o "programa de partilha" de Jerusalém foi desaparecendo, e as coisas voltaram ao normal.

O parâmetro bíblico para a oferta nos dias de hoje não é Atos 2:44, 45 e 4:31-35, mas sim Atos 11:29: "cada um conforme as suas posses". Os ensinamentos de Paulo em 2 Coríntios 8 e 9 seguem esse parâmetro. A prática do "comunismo cristão" só se deu em Jerusalém como medida temporária, enquanto o evangelho era pregado "primeiro aos judeus". Como o cuidado de Deus pelo povo de Israel no deserto, foi uma demonstração prática das bênçãos que Deus concederia, caso a nação se arrependesse e cresse.

 

2.3. Representantes de Antioquia (At 11.30)

É muito interessante que os discípulos resolveram enviar suprimentos aos irmãos que habitavam na Judéia através de seus representantes legítimos, a saber, Barnabé e Paulo. Eles receberam a palavra profética, mas deliberaram entre si cooperar, a fim de mitigar a fome dos irmãos na Judéia. Para ambos os líderes restou a alternativa feliz de representá-los conduzindo o donativo que demonstrava carinho e gratidão aos irmãos de lá. Através desse fato, aprende-se que nem toda a iniciativa deve começar exclusivamente com a liderança, mas esta pode ser conduzida a organizar, enviar ou mesmo representar a assembleia local dos crentes numa obra social.

O fato de a igreja escolher Barnabé e Saulo para levar a oferta a Jerusalém mostra sua confiança neles. Esses dois homens trabalhavam juntos no ensino da Palavra e uniram esforços no ministério prático de assistência aos cristãos necessitados de Jerusalém. Por certo, também ministraram a Palavra pelo caminho, ao percorrerem a longa jornada de Antioquia a Jerusalém. Em pouco tempo, o Espírito levaria esses dois amigos a se unirem para levar o evangelho aos gentios de outras terras (At 13:1 ss); ainda percorreriam muitos quilômetros juntos.

Essa experiência dos cristãos judeus de receber a ajuda dos gentios contribuiu para que desenvolvessem uma atitude de humildade? Talvez. Mas também foi uma demonstração belíssima de amor e um testemunho maravilhoso da união da Igreja. Como disse Sir Winston Churchill “Sobrevivemos com o que recebemos por nosso trabalho, mas verdadeiramente vivemos de acordo com o que contribuímos”.

O labor ministerial, em Antioquia, de Barnabé e Paulo consistiu até esse momento em: ensinar, levantar donativos para os irmãos necessitados da Judéia juntos com os anciãos locaise por fim, representar a igreja de Antioquia na condução dos respectivos donativos. Foi trabalho duro, mas altamente compensador. Devemos, sobretudo, entender que a comunidade cristã dali foi liderada sob a indicação de Jerusalém, que recaiu sobre Barnabé. Repetimos isso intencionalmente lembrando a necessidade que há em. se conduzir a igreja sob a orientação do Espírito Santo, dentro de uma política séria de bom senso que. vise com fim últimoo desenvolvimento da igreja local num bairro ou cidade.

 

  1. Oretorno da missão representativa

Barnabé e Paulo provaram mutuamente ser bons parceiros na seara do Senhor. Barnabé estava satisfeito por ter buscado Paulo como companheiro na missão pastoral em Antioquia. E Paulo, por sua vez, estava demonstrando ser um assistente de talento ao lado de Barnabé, sempre dentro de suas expectativas.

 

3.1. A Palavra crescia e multiplicava-se (At 12.24)

O escritor de Atos nos dá uma nota do grande crescimento da obra do Senhor não apenas em Antioquia da Síria, mas também nas regiões da Judéia. Antioquia alcançou um momento de crescimento e de multiplicação por todo seu termo. Na verdade, a perseguição contra os cristãos os forçou a se espalharem, aumentou o seu fervor e a disposição em anunciar as boas novas, o que, finalmente, contribuiu para aumentá-la. Embora pareça um assunto solto do autor, Lucas, ao dar uma visão rápida do que estava acontecendo, estava preparando o leitor para saber do movimento missionário que já estava por florescer envolvendo os dois campeões, Barnabé e Paulo. Parece que, às vezes, toma-se necessário um pouco de perseguição para que se chegue ao ponto certo em que Deus possa usar o homem. José entendeu isso perfeitamente depois de trabalhado por Deus (Gn 45.7,8).

A Igreja primitiva não tinha qualquer influência política nem amigos em altos escalões para "mexer os pauzinhos" por eles. Em vez disso, se dirigiam ao trono mais elevado de todos, o trono da graça. Os primeiros cristãos eram um povo de oração, pois sabiam que Deus poderia resolver seus problemas. O trono glorioso de Deus era muito maior do que o trono de Herodes, o exército celestial de Deus poderia derrotar os frágeis soldados de Herodes a qualquer momento! Não precisavam pagar subornos para conseguir que se fizesse justiça. Simplesmente levavam seu pleito à Suprema Corte e o entregavam ao Senhor! Qual foi o resultado de tudo isso? “A palavra do Senhor crescia e se multiplicava” (At 12:24). Trata-se de mais um dos resumos ou "relatórios de progresso" de Lucas, dos quais o primeiro se encontra em Atos 6:7 (ver 9:31; 16:5; 19:20; 28:31). Lucas esta cumprindo o propósito de seu livro ao mostrar como, a partir de suas origens modestas em Jerusalém, a Igreja espalhou-se por todo o mundo romano. Que grande estímulo para nós hoje! No início de Atos 12, Herodes parecia no controle, e tudo indicava que a Igreja perdia a batalha. Mas, no final do capítulo Herodes está morto, enquanto a Igreja está bem viva e crescendo rapidamente! Era uma Igreja que orava, por isso foi bem-sucedida.

Quando estava em dificuldades, a missionária Isobel Kuhn orava: "Se este obstáculo vem de ti, Senhor, eu o aceito; mas, se vem de Satanás, eu o rejeito e também a todas as suas obras em nome do Calvário!" E Alan Redpath costuma dizer: "Vamos manter a cabeça erguida e os joelhos dobrados - a vitória está do nosso lado!"

 

3.2. Retornaram acompanhados (At 12.25)

Mesmo com o enorme crescimento e multiplicação da Igreja, a situação não era tranquila em Jerusalém e nos arredores para os fiéis, pois Herodes Agripa I, neto de Herodes, o Grande, reinava e procurava agradar aos judeus observando os seus costumes e perseguindo os cristãos. Tiago, filho de Zebedeu, foi executado sob suas ordens e Pedro escapou da prisão sobrenaturalmente por intercessão da Igreja. Na fuga, Pedro se dirigiu à casa de Maria, mãe de João Marcos, onde muitos irmãos estavam orando. Ao que tudo indica, ao levar os donativos Paulo e Barnabé aproveitaram para agregar João Marcos entre eles (At 12.25; 13.5). João Marcos trouxe uma vitalidade a mais e pôde estar entre os notáveis pioneiros do Evangelho, tais como Pedro, Barnabé e Paulo.

 

3.3.  Retorno com um devocional intensificado

Quando Barnabé e Paulo chegaram de viagem, evidentemente eles apresentaram o novo companheiro à Igreja de Antioquia, João Marcos (At 13.5). Após o retomo de Barnabé e Paulo, verifica-se uma intensificação na busca a Deus com orações e jejuns da liderança da Igreja. O Espírito Santo é o principal responsável por essa fome de Deus e pela sede do estabelecimento de sua vontade na terra gerado nos crentes. É claro que a viagem cooperou para isso, mas Deus sempre esteve por trás de tudo o que acontecia naquele momento. Devemos entender que, quando o próprio Deus quer estabelecer mudanças, elevar a Igreja local a patamares espirituais mais profundos, ele vai usar aqueles que estão disponíveis, mais acessíveis ao seu agir (Jr 1.5-9).

Quando Barnabé trouxe João Marcos consigo na viagem, será que alguém perguntou: Será que não há gente competente aqui em Antioquia que posso auxilia?' nossos líderes? Por que trazer mais um obreiro de Jerusalém? João Marcos tinha certos predicados que o tomava uma pessoa desejável de se ter por perto. Reflitamos um pouco que Barnabé era muito benquisto entre os apóstolosEusébio de Cesaréiaafirma que ele foi um dos setenta discípuloscomo já dissemos anteriormente, além do mais, o cenáculo de oração onde se reuniam muitos crentes em Jerusalém, ficava na casa de sua irmã, para onde Pedro fugiu da prisão. Pedro demonstrou grande carinho por João Marcos que já deveria possuir muito antes de escrever a sua carta (IPe 5.13). Acreditamos que a pureza cristã daqueles irmãos e as qualidades de Marcos não davam margem para issocomo acontece em muitas das nossas igrejas quando chega alguém novo.

 

Conclusão

Percebe-se, ao longo desta lição, que a figura de Paulo, quando veio de Tarso para Antioquia, não apareceu muito. Senão ensinando a Igreja junto com Barnabé e, evidentemente, com outros mestres locais. Paulo era um assistente de valor, mas que reconhecia a sua posição na Igreja e honrava seu colega que lhe dera tamanho privilégio ao convidá-lo como assistente direto. Paulo soube aproveitar as oportunidades que lhe davam.

 

 

A qualidade de Paulo como missionário - Lição 06 – 11 de Novembro de 2012

 

LIÇÃO 06 – 11 de Novembro de 2012

 

A qualidade de Paulo como missionário

 

TEXTO AUREO

 

“E, servindo eles ao Senhor, e jejuando, disse o Espírito Santo: Apartai-me a Barnabé e a Saulo para a obra a que os tenho chamado”. At 13.2

 

VERDADE APLICADA

 

“Quando um homem aceita a Cristo e Ele se torna de fato o seu Senhor, todos os dons, bens, talentos, e vida são transferidos para o reino de Deus”

 

TEXTOS DE REFERÊNCIA

 

2Tm 2.2 - E o que de mim, entre muitas testemunhas, ouviste, confia-o a homens fiéis, que sejam idôneos para também ensinarem os outros.

2Tm 2.3 - Sofre, pois, comigo, as aflições, como bom soldado de Jesus Cristo.

2Tm 2.4 - Ninguém que milita se embaraça com negócios desta vida, a fim de agradar àquele que o alistou para a guerra.

2Tm 2.5 - E, se alguém também milita, não é coroado se não militar legitimamente.

 

Introdução

Em lição anterior, foi visto que a carreira espiritual de um homem que chega atingir elevados patamares é construída com apoio de vários outros que depositaram nele a sua confiança. Serão estatuadas aqui algumas das muitas qualidades que foram cumuladas com a ajuda desses obreiros, resultado de esforço próprio e de uma crescente comunhão com Cristo Jesus.

 

  1. Um vaso bem acabado

Paulo bem sabia da sua chamada para trabalhar entre os gentios, na verdade, ele herdou o zelo missionário dos fariseus e demais judeus que se esforçavam para trazer para o judaísmo os pagãos.

 

1.1. Um obreiro preparado (At 13.1,2)

Quando o Espírito Santo falou ao coração da Igreja e a liderança onde Barnabé e Paulo estavam, ordenou que eles fossem separados para a obra previamente determinada pelo conselho divino (At 13.2). Paulo já era um homem preparado por Deus para aquele momento, assim como Barnabé. Todavia, eles continuaram aprendendo no trabalho missionário, mesmo que já tivessem um conhecimento teórico com base na experiência dos fariseus proselitistas, algumas experiências anteriores, etc. Observe que ele já falava grego e latim, além do aramaico que era a língua falada em Israel; a sua cidadania romana lhe conferia ampla mobilidade em todo o império romano com todos os direitos assegurados a um cidadão comum de Roma, sem contar que aprendera fazer tendas quando mais novo. Tudo isso foi muito útil.

O falecido Henry Martyn, missionário na índia e na Pérsia, disse certa vez: "O Espírito de Cristo é o espírito de missões, e quanto mais nos aproximamos de Cristo, mais intensamente missionários devemos nos tornar". Paulo (Saulo) e Barnabé tiveram essa experiência ao ministrar em Antioquia e ao ser chamados pelo Espírito para levar o evangelho ao mundo romano.

Até então, Jerusalém havia sido o centro do ministério cristão, e Pedro fora o principal apóstolo. Desse ponto em diante, Antioquia da Síria torna-se o novo centro (At 11:19), e Paulo, o novo líder. É o evangelho em movimento!

Lucas relaciona cinco homens que ministravam na igreja: Barnabé, sobre o qual já lemos (At 4:36, 37; 9:27; 11:22-26); Simeão, que talvez fosse da África, uma vez que tinha o sobrenome "Níger” (ou "negro"); Lúcio de Cirene, que talvez tenha sido um dos fundadores da igreja em Antioquia (At 11:20); Manaém, um amigo íntimo (ou talvez um irmão adotivo) de Herodes Antipas, que havia mandado matar João Batista; e Saulo (Paulo), o último da lista, mas que em breve seria o primeiro.

Estes homens serviam ao Senhor como "profetas e mestres" nas igrejas locais. Os profetas ajudaram a lançar os alicerces da Igreja ao proclamarem a Palavra de Deus (Ef 2:20; 1 Co 14:29-32). Eram mais "proclamadores" do que "prenunciadores", apesar de, em algumas ocasiões, anunciarem coisas vindouras (At 11:27-30). Os mestres ajudaram a fundamentar os convertidos nas doutrinas da fé (2 Tm 2:2).

Deus já havia chamado Paulo para ministrar aos gentios (At 9:15; 21:1 7-21) e convocou Barnabé a trabalhar com ele. A igreja confirmou seu chamado e os enviou para o campo missionário. Faz parte do ministério do Espírito Santo, trabalhando por meio da igreja local, preparar e chamar cristãos para ir a outras partes e servir.

 

 

1.2. Um obreiro experiente

Ninguém nasce experiente em alguma coisa, todos aprendem com os outros, pela observação e pelos próprios erros. Paulo foi adquirindo experiência pouco a pouco na sua carreira cristã, mas de forma muito substancial pelos lugares por que passou como: nas regiões da Arábia, em Damasco, em Jerusalém, na Cilicia e agora em Antioquia da Síria ao lado de Barnabé. Deus foi lhe preparando ao longo de sua vida e não de uma vez, mas depois chegara a hora de ser lançado como uma flecha polida no coração dos gentios pela Palavra de Deus. Todavia, deve-se lembrar de que sempre haverá novas situações na obra de Deus, em que as nossas experiências são insuficientes. Quando isso acontece, é porque Deus quer que seja usada fé e não nossos conhecimentos anteriores. Paulo possuía uma vantagem que jamais deve ser ignorada, a presença e a revelação divina.

 

1.3. Um servo submisso

Nem Barnabé, nem Paulo fizeram qualquer questionamento sobre ir mundo afora ao longo do Império Romano. Em verdade, Deus já vinha trabalhando desde antes, falando, confirmando e provendo experiências para o momento devido que havia chegado ali em Antioquia. Paulo aprendeu ouvir a voz do Senhor desde o caminho de Damasco em diante. Com esse ouvir, ele atendia prontamente como um servo. Tanto para trabalhar, quanto para não trabalhar (At 16.6,7); tanto para fugir de uma cidade que ficara para dar testemunho, quanto para suportar as pressões de uma perseguição por amor aos escolhidos (At 18.9,1022.17,18). Aqui reside um grande segredo, quando se aprende a atender a voz do Senhor prontamente, ele vai falando mais e mais conosco.

At 16.6,7 – Paulo e seus companheiros viajaram pela região da Frígia e da Galácia, tendo sido impedidos pelo Espírito Santo de pregar a palavra na província da Ásia.

Quando chegaram à fronteira da Mísia, tentaram entrar na Bitínia, mas o Espírito de Jesus os impediu.

Depois de visitar as igrejas que havia fundado, Paulo tentou desbravar novos territórios para o Senhor viajando rumo ao Oriente, para a Ásia Menor, à Bitínia, mas o Senhor fechou a porta. Não sabemos de que maneira Deus revelou sua vontade sobre essa questão, mas podemos imaginar que Paulo ficou decepcionado e, talvez, um tanto desanimado. Tudo corria tão bem em sua segunda viagem e essas portas fechadas devem tê-lo pego de surpresa. Contudo, é reconfortante ver que mesmo os apóstolos não sabiam sempre com toda clareza qual era a vontade de Deus para seu ministério! Deus já havia planejado que a mensagem chegaria a esses lugares em outra ocasião (At 18:19 - 19:41; ver 1 Pe 1:1).

Em sua graça soberana, Deus conduziu Paulo ao Ocidente, em direção à Europa, não para o Oriente, em direção à Ásia. Em Trôade, Paulo teve uma visão na qual um homem o chamou para ir à Macedônia. "Nada fortalece mais um homem do que um pedido de socorro", escreveu George MacDonald, e, mais que depressa, Paulo atendeu ao pedido da visão.

At 18.9,10 - Certa noite o Senhor falou a Paulo em visão: “Não tenha medo, continue falando e não fique calado, pois estou com você, e ninguém vai lhe fazer mal ou feri-lo, porque tenho muita gente nesta cidade”.

A conversão de Crispo, um importante líder judeu, criou mais oportunidades e causou mais oposição do inimigo! Por certo, a comunidade judaica em Corinto ficou furiosa com o sucesso de Paulo e fez todo o possível para calá-lo e se livrar dele. Lucas não dá detalhes, mas tenho a impressão de que entre Atos 18:8 e 9, a situação tornou-se particularmente perigosa e difícil. Talvez Paulo estivesse pensando em deixar a cidade, quando o Senhor dirigiu-se a ele e lhe deu a segurança de que precisava.

É típico do Senhor nos falar quando estamos mais necessitados. Ele nos diz com ternura: "Não temas!" e, quaisquer que sejam as circunstâncias, suas palavras acalmam a tempestade em nosso coração. Foi assim que deu segurança a Abraão (Gn 15:1), Isaque (Gn 26:24) e Jacó (Gn 46:3), bem como a Josafá (2 Cr 20:15-17), Daniel (Dn 10:12,19), Maria (Lc 1:30) e Pedro (Lc 5:10). Algumas passagens bastante apropriadas sobre as quais meditamos quando nos sentimos sozinhos e derrotados são Hebreus 13:5 e Isaías 41:10 e 43:1-7, e, depois de refletir sobre essas palavras, podemos nos apropriar, pela fé, da presença de Deus. Ele está conosco!

Um famoso pregador inglês G. Campbell Morgan costumava ler a Bíblia todas as semanas para duas senhoras de idade. Uma noite, quanto terminou de ler as últimas palavras de Mateus 28, Morgan disse às duas senhoras:

- Que promessa maravilhosa!

- Meu jovem - uma delas respondeu isso não é uma promessa, é uma certeza!

Jesus já havia aparecido a Paulo na estrada para Damasco (At 9:1-6; 26:12-18) e também lhe apareceria no templo (At 22:17, 18). Paulo seria encorajado novamente pelo Senhor quando estivesse preso em Jerusalém (At 23:11) e, posteriormente, em Roma (2 Tm 4:16, 17). O anjo do Senhor também apareceria a Paulo, em meio à tempestade, para garantir a segurança dos passageiros e da tripulação (At 27:23-25). Um dos nomes de Jesus é "Emanuel - Deus conosco" (Mt 1:23), e ele faz jus a esse nome.

Paulo foi encorajado não apenas pela presença do Senhor, mas também por suas promessas. Jesus garantiu a seu apóstolo que ninguém lhe faria mal e que ele conduziria muitos pecadores ao Salvador. A declaração: "Tenho muito povo nesta cidade" deixa implícita a doutrina da eleição divina, pois "o Senhor conhece os que lhe pertencem" (2 Tm 2:19). A Igreja de Deus é constituída de pessoas "[escolhidas] nele antes da fundação do mundo" (Ef 1:4; ver também At 13:48).

Atos 22.17,18  - “Quando voltei a Jerusalém, estando eu a orar no templo, caí em êxtase e vi o Senhor que me dizia: ‘Depressa! Saia de Jerusalém imediatamente, pois não aceitarão seu testemunho a meu respeito’.

 

  1. Um soldado valoroso

Quando Barnabé e Paulo saíram de Antioquia sob as ordens do Senhor levaram como cooperador a João Marcos, com a finalidade de ele instruir sobre os rudimentos da fé aos novos convertidos e batizá-los, enquanto os missionários se dedicariam mais a pregar aos ainda não convertidos.

 

2.1. Um servo Sofredor

Depois de Chipre, terra natal de Barnabé, Paulo assumiu a liderança da missão. Evidentemente, que Paulo foi sempre o que assumiu mais riscos em prol do Evangelho, por causa do seu jeito mais ousado de falar. Em Antioquia da Psídia, por causa da multidão que creu, Paulo foi banido da cidade (At 13.50); em Icônio, eles fugiram a tempo para não serem apedrejados (At 14.6); em Listra, Paulo curou a um coxo de nascença, sendo apedrejado depois pelos judeus de Antioquia e Icônio, e jogado no lixão da cidade (At 14.19). O próprio Paulo ensinava que, “por muitas tribulações nos importa entrar no Reino de Deus” (At 14.22). Os sofrimentos e humilhações foram incontáveis ao longo do seu ministério apostólico entre os gentios. Por isso disse a Timóteo: “Sofre, pois, comigo, as aflições, como bom soldado de Jesus Cristo”.

 

2.2. Um missionário estrategista

O que traz vitória na guerra é uma boa estratégia, e Paulo era um ótimo estrategista na evangelização. Ele sempre priorizava os judeus, pois estavam organizados nas cidades e tinham a sua sinagoga. Ali eles já desenvolviam um trabalho de proselitismo ao derredor, entre os gentios, o que facilitava muito para o trabalho de Paulo, por isso, como fariseu que era, ia aos sábados nas sinagogas e pregava a todos os que estivessem lá.

 

2.3.  Um líder adaptável

Paulo era flexível em seu método de abordagem, para os judeus ele falava como sendo judeu, ele usava a Lei, com os Profetas lhes relembrando às promessas de um Messias sofredor, etc. Mas para com os gentios, ele falava como se fosse gentio, de maneira que falava positivamente do Criador de todas as coisas e que enviara seu Filho, como fez em Listra. Como ele mesmo escreveu: Fiz-me de escravo, de judeu, de fraco, enfim, “Fiz-me tudo para todos, para por todos os meios chegar a salvar alguns” (ICo 9.22b). Paulo, em seus dias, enfrentava uma diversidade cultural muito grande, porém a mensagem do evangelho não é privilégio de alguns, e sim, para todos os povos. Assim, quando abordava as pessoas, ele procurava um ponto de contato social ou cultural que o identificasse com seus ouvintes e eliminasse as barreiras piscológicas para aplicar o evangelho com eficácia. Logo, fica claro, que ele não chegava impondo a sua cultura ou desrespeitando as outras crenças, mas anunciava, com muito tato, a salvação em Jesus Cristo.

I Coríntios 9.22 - Para com os fracos tornei-me fraco, para ganhar os fracos. Tornei-me tudo para com todos, para de alguma forma salvar alguns.

Uma dificuldade especial das igrejas eram os “fracos”. De fato oneravam qualquer vida eclesial. Será que realmente deviam ser conquistados e introduzidos na igreja?  Não seria mais compensador empenhar-se apenas pelas pessoas fortes e capazes? Por isto, os “fortes” e os “livres” não estavam dispostos a empenhar -se seriamente por esses fracos. Pudemos ver isto no capítulo 8 desta carta. Paulo sempre lutou para que também os fracos tivessem seu local pleno na igreja (1Ts 5.14; Rm 14.1; 15.1). Tentou ganhar também a eles, tornando-se por isso “um fraco para com os fracos”. Não destacou a sua força, sobrecarregando os fracos, mas compreendeu-os e respeitou-os em sua fraqueza.

Em seguida Paulo resume tudo numa frase que exprime, de modo inesquecivelmente conciso, uma regra básica de toda a evangelização: “Fiz-me tudo para com todos, com o fim de, por todos os modos, salvar alguns.” O evangelista não exige, mas serve. Por isso busca o outro no lugar em que este verdadeiramente se encontra. Aquilo que o Filho de Deus realizou em grandes proporções ao se tornar humano, seu emissário agora realiza diante de todas as diferentes pessoas às quais chega. Não os interpreta intelectualmente a partir de uma altura superior, mas ele “se faz tudo para eles”; chega até eles de fato em seu ambiente de vida e vive com eles, assim como o santo Filho de Deus partilhou conosco todo o destino humano até no sofrimento e na morte. Em Paulo isso se tornou singularmente evidente quando ele, o israelita circuncidado e ex-fariseu, partilhou integralmente a vida “sem lei” das pessoas das outras nações. Seu objetivo é ganhar.

Para Paulo “ganhar” é essencialmente “salvar”. Por isso Paulo considera todas as pessoas como “perdidas” que precisam ser salvas pela palavra da cruz. E diante desse alvo extraordinariamente grande e necessário acontece essa entrega ao ministério em sua vida. Paulo é muito sóbrio nesta questão. Ele não pensa que nessa dedicação aos outros tenha encontrado o método seguro para alcançar a “todos” e salvar a todos. Porém, com a penosa seriedade de suas múltiplas experiências, ele escreve: “com o fim de, por todos os modos, salvar alguns”. Também nesse ponto temos de aprender dele. Constantemente procuramos métodos eficazes e facilmente medimos nosso trabalho pelos grandes números que atingimos. Quantas pessoas, porém, realmente “salvamos”, isso é outra questão. Poderemos ficar cheios de gratidão se forem os mesmos “alguns” de que fala uma pessoa como Paulo.

Os métodos de Deus continuam os mesmos no que tange a obra missionária, eles são homens chamados por Ele, cheios do Espírito Santo, verdadeiros soldados valorosos. Ele está interessado em pessoas dispostas a agradarem-lhe, soldados que lutem comprometidos com a vitória de seu Reino. É bem verdade que há alguns que entram numa guerra com intenções dolosas, inclusive de se enriquecerem com os espólios. Esse é. o mesmo sentimento de Acã que pensou em tirar vantagens para si, ignorando todo um contexto de vidas que se perderam por causa da sua ganância e loucura (Js 7.21).

 

  1. Um homem resignado

A carreira de um homem é determinada pelo constante preparo, e pela dedicação integral no exercício da sua escolha. Nos antigos jogos gregos de Olímpia, que inspirou a moderna olimpíada, era declarada uma trégua entre as cidades que se rivalizavam para que os atletas chegassem com segurança, tais homens representavam a sua cidade de origem, e, no retorno, eram celebrados como heróis por elas quando campeões. Paulo era, portanto, um homem tal qual um atleta do Reino de Deus que tinha em mente alcançar uma coroa que não se deteriora.

 

3.1. O objetivo de Paulo (1Co 9.26a)

Paulo, como atleta-missionário, tinha uma marca a atingir, isso significa dedicação integral, ele não podia se distrair com outra coisa que o afastasse de seu alvo. A sua dedicação era tão intensa que não admitia desistências como no caso de João Marcos, que diante de Perge na Panfília os deixou. Se bem que lá era um lugar montanhoso, arriscado e infestado de ladrões. Contudo, para Paulo, tratava-se apenas de um obstáculo a ser vencido a fim de chegar ao seu destino, ele tinha uma marca a atingir; depois de apedrejado em Listra, e ali dado como morto, Paulo escapou, mas em seguida levanta-se e entra na cidade novamente. Tentamos entender o que havia na mente de Paulo, para que mesmo tomando uma surra de varas em praça pública e sendo injustamente preso, ainda assim insistia em permanecer em Filipos (At 16.37-39). Posteriormente, Paulo mesmo dá uma resposta: “Prossigo para o alvo, pelo prêmio da soberana vocação de Deus em Cristo Jesus” (Fp 3.14).

Essa renúncia obviamente não é brincadeira. Paulo mostra isso em sua própria vida. “Portanto corro, não como indeciso;”. A palavra que Paulo utiliza na realidade significa “de maneira imprecisa”. Não corre de forma a não conseguir reconhecer para onde, afinal, se dirige sua corrida.

 

3.2. Assim combato, não como batendo no ar (1Co 9.26b)

Os desafios de um missionário são grandiosos, existe um combate pelo estabelecimento do Reino de Deus e bem sabemos que Satanás de alguma forma contra-atacará. À medida que um obreiro vai tendo êxito, ele tentará distrair o servo de Deus consigo mesmo, fazendo-o achar-se mais santo, um escolhido de Deus, e um anjo do céu na terra. Paulo não admitia perda de tempo, pois o elemento com que trabalha é eterno. Assim, quando ele achava que tinha terminado o seu testemunho em determinado lugar, mudava-se para outro, pois a vida é curta, o tempo passa, e aquela geração se não for evangelizada, perder-se-á. Ao mirar para as santas Escrituras, elas são confrontadas com o elevado padrão dos primórdios evangelizadores.

Não se parece com um boxeador que “golpeia o ar” a esmo. Tudo em seu corpo está concentrado e direcionado para o alvo. Nos coríntios ele constatava aquela ambivalência e duplicidade que também hoje deteriora o ser cristão. O olhar dirige-se a dois alvos ao mesmo tempo. Sem dúvida não se deseja perder a eternidade, mas o desejo e o empenho valem sobre tudo também para a prosperidade terrena. No entanto, a corrida daquele que corre ao mesmo tempo para dois alvos torna-se necessariamente “imprecisa” e “incerta”.

Não dá mais para constatar para onde o cristão está correndo, afinal. Em sua luta ele já não golpeia com seriedade, não vê mais o inimigo que quer acabar com sua vida; por isso o cristão talvez ainda lute, mas com muita frequência “como alguém que golpeia o ar”.

 

3.3. Para alcançar uma coroa incorruptível (1Co 9.25)

Numa olimpíada, o descumprimento das regras implicava penalidades e até na eliminação da competição como acontece em nossos dias. Por outro lado, qualquer prêmio que não represente uma participação legítima não tem valor. No Reino de Deus, a desclassificação é muito real, só que, às vezes, o atleta (crente) nem percebe que foi eliminado. O sofrimento e a ingratidão no trabalho ministerial pode tornar um coração muito ressentido, insensível e, é assim que muitos, na verdade, estão fazendo a obra de Deus. Imaginando que tem a aceitação dele, quando, na verdade, estão desclassificados há tempos, e tudo, quanto fizerem, não terá louvor algum diante de Deus. Noutras palavras, significa que a coroa incorruptível, de justiça, imarcescível jamais será alcançada por um desclassificado. Para evitar a desclassificação, o obreiro esmurra o próprio corpo e o reduz à escravidão, para que ao evangelizar a outros não seja desqualificado (ICo 9.27). É desse homem que estamos falando. Paulo assim o fez.

Agrega-se a isso um segundo elemento que os coríntios igualmente conhecem da atividade esportiva: “Todo aquele que luta, em tudo se domina.”. O atleta evita determinadas coisas durante o treinamento, não porque fossem “ruins” ou “proibidas” em si. Sua abstinência tampouco é um fim em si mesmo nem tem valor em si. Serve apenas ao grande alvo de alcançar o prêmio da vitória, e simplesmente é

parte objetiva dele, quando se visa obter a coroa almejada. Obviamente no esporte trata-se apenas de uma “coroa perecível”. Diante dos cristãos está a “coroa imperecível” da vida eterna. Então o cristão pode e precisa evitar decididamente tudo o que poderia atrapalhá-lo na corrida para esse alvo. Não está em questão se algo é “pecaminoso” ou talvez, ainda assim, “permitido” ou até muito bom e valioso. A abstinência em si tampouco é algo “superior” e “mais valioso”. Não estão em jogo quaisquer leis ou proibições. A acusação do legalismo aqui erraria completamente o alvo. O que está em jogo é unicamente o alvo eterno e a necessária e deliberada renúncia a tudo o que me poderia me privar desse alvo extraordinário.

Por essa razão Paulo também se restringe à declaração bem genérica: “comedido em todos os aspectos”. O que ameaça deter e travar cada cristão em sua carreira pode ser muito diversificado. O que não prejudica em nada a esta pessoa pode vir a ser um sério perigo para outra. Nessa questão não há regras gerais. Contudo cada cristão precisa prestar atenção com profunda seriedade e decidida clareza àquilo que tenta impedir que justamente ele chegue ao alvo. É isso que ele terá de deixar de lado, por mais “inofensivo” ou “precioso” que possa ser.

Bem poderíamos falar sobre as viagens missionárias de Paulo, dos lugares por que passou e das aventuras descritas por Lucas, mas, como missionáriopreferimos escrever acerca da sua pessoa e postura. O seu legado a nós deixado foi, sobretudo, o exemplo marcante do seu ser que impregnou de Cristo o mundo, como ele mesmo chegou a dizer: “somos o bom cheiro de Cristo”. Tal odor não perdeu seu vigor. Pois ainda perfuma, influencia, e transforma vidas.

 

Conclusão

Ele foi um vaso escolhido para levar o nome de Cristo, um soldado valoroso, um estrategista do Reino, um fazedor de tendas, um plantador de igrejas, um homem que trouxe, no corpo, as marcas de Cristo. O que fez a diferença na vida de Paulo foi o preparo constante e a dedicação intensa. Os mesmos princípios que, se levados a efeito, trarão impacto também ao nosso trabalho.    

 

 

Paulo e sua missão entre os gentios - Lição 7 – 18 de Novembro de 2012

 

LIÇÃO 07 – 18 de Novembro de 2012

 

Paulo e sua missão entre os gentios

 

TEXTO AUREO

 

“Para o que (digo a verdade em Cristo, não minto) fui constituído pregador, e apóstolo, e doutor dos gentios na fé e na verdade”. lTm 2.7

 

VERDADE APLICADA

 

O anunciador das boas novas deve estar preparado para ser uma luz na vida daqueles que ainda estão em trevas.

 

TEXTOS DE REFERÊNCIA

 

At 26.20 - Antes anunciei primeiramente aos que estão em Damasco e em Jerusalém, e por toda a terra da Judéia, e aos gentios, que se emendassem e se convertessem a Deus, fazendo obras dignas de arrependimento.

At 26.21 - Por causa disto os judeus lançaram mão de mim no templo, e procuraram matar-me.

At 26.22 - Mas, alcançando socorro de Deus, ainda até ao dia de hoje permaneço dando testemunho tanto a pequenos como a grandes, não dizendo nada mais do que o que os profetas e Moisés disseram que devia acontecer,

At 26.23 - Isto é, que o Cristo devia padecer, e sendo o primeiro da ressurreição dentre os mortos, devia anunciar a luz a este povo e aos gentios.

 

Introdução

A chamada de Paulo para pregar aos gentios não começa em Antioquia da Síria junto com Barnabé, na verdade, começa com a visão celestial, em Damasco, que o conduziu por toda a sua vida. A epifania experimentada, no caminho de Damasco, por Paulo foi para ele uma aparição tão real do Senhor que ele se considerava tão apóstolo de Jesus Cristo, quanto os que com Ele conviveram.

EPIFANIA – (Do grego epipháneia, mostrar, aparecer) Manifestação da divindade. Referência ao aparecimento de Cristo para executar o plano redentivo de Deus em sua primeira vinda. Sua segunda vinda é assim também cognominada.

 

  1. Pregador e apóstolo

A autoridade de Paulo repousa sobre sua chamada na aparição do Senhor Jesus no caminho de Damasco. É muito interessante que ele não se permitia diminuir visto que entendia a operação da graça em seu favor para a honra do apostolado, a fim de no serviço do Senhor, conduzir as pessoas do mundo gentílico a crer em Cristo, e a Ele se tornar obedientes (Rm 1.5).

 

1.1. Apóstolo, um ministro de Cristo

Paulo se considerava um apóstolo e ministro de Cristo, com base na visão que teve do Senhor, no seu volume de trabalho e sofrimento por causa dos escolhidos, como ele mesmo disse: “tudo sofro por amor aos escolhidos”. Apóstolo significa apenas “enviado”, mas com missão específica. Embora, na língua portuguesa, ministro tenha uma conotação de honra, significa em grego, “diákonos”, um servo. Ou seja, Paulo era enviado como um servo distinto de Cristo aos gentios. Fica uma pergunta: enviado para quê? “Para que eles também alcancem a salvação” (2Tm 2.10).

2 Timóteo 2.10 - Por este motivo, tudo suporto por amor dos eleitos, para que também eles alcancem a salvação que está em Cristo Jesus com glória eterna.

O amor suporta tudo. Paulo não está amargurado nem desesperado. Está sofrendo, porém seu sofrimento ocorre “em Cristo”, acontece por causa do evangelho, por amor daqueles que Deus escolheu, amou e santificou em Cristo. Paulo sabe do sofrimento vicário em prol da igreja dos eleitos. Assim ele descarta qualquer ideia de mérito. Os eleitos não alcançam a salvação nele ou por causa dos sofrimentos dele, mas em Jesus e por meio da morte dele na cruz. Só Jesus traz a salvação aos pecadores e com ela a glória eterna, que forma um nítido contraste com os padecimentos temporais. Sem dúvida existe para os eleitos o perigo de não permanecerem na graça, de, pelo contrário, vacilarem nas tribulações e caírem. Por meio de seu sofrimento, ou melhor, por meio de seu comportamento no sofrimento (ação de graças, paciência, testemunho ousado, amor ao inimigo, intercessão) Paulo visa contribuir para que alcancem a salvação, assim como ele mesmo tem a certeza de que terá participação na salvação.

 

 

1.2. Pregador da Palavra de Cristo

Para alcançar a salvação, um direito da humanidade herdado através do sacrifício de Jesus de Nazaré, é necessário conhecer esse direito e como tomar posse dele. Isso se dá pela pregação do Evangelho. Ora, Paulo foi constituído anunciador desse direito aos gentios. A exposição desse direito é feita minuciosamente na Carta aos Romanos, em tom jurídico que agradava aos cidadãos de Roma, tornando assim a mensagem muito clara para eles. Na verdade essa Carta tem impactado gerações e gerações por onde ela tem sido lida e estudada através dos séculos.

 

1.3. A Palavra de Cristo nele fez a diferença

Paulo tinha uma convicção da importância do seu papel no anúncio da salvação entre os gentios. Mas de onde vinha essa convicção? Bem, de certa forma já falamos sobre isso, porém devemos entender o quanto esse tema se reveste de importância. A convicção vinha da própria palavra de Cristo a ele e da sua visão espiritual que eram traduzidas em atitudes. Na sinagoga de Antioquia da Psídia, ele revelou isso de maneira surpreendente quando disse: “Porque o Senhor assim no-lo mandou: Eu te pus para luz dos gentios, a fim de que sejas para salvação até os confins da terra” (At 13.47). É muito importante conhecer o nosso papel no reino de Deus, pois é muito triste desperdiçar a vida e não conhecer para o que fomos chamados.

Atos 13.47 - Pois assim o Senhor nos ordenou: “Eu fiz de você luz para os gentios, para que você leve a salvação até aos confins da terra”.

Essa é a incumbência já dada, em Isaías 49.6, ao “servo de Deus”: “Eu te constituí para luz dos gentios, a fim de que sejas para salvação até aos confins da terra”! De forma ousada Paulo relaciona

essa palavra, dita ao “servo de Deus”, a seu próprio serviço de mensageiro. Isto é possível porque o

Senhor entra pessoalmente em cena por meio do enviado. Em toda a evangelização o verdadeiro evangelista é o próprio Jesus. Sendo ele a “luz dos gentios”, é também por meio de seus mensageiros

que ele gera “salvação até aos confins da terra”.

Em audiência com o Rei Agripaquando estava preso em Cesaréia, Paulo pôde expor os motivos que o levavam a anunciar a sua mensagem aos gentios e ser preso por causa disso. Nessa audiência, ele fez questão de dizer ao Rei: “pelo que não fui desobediente à visão celestial. É conveniente lembrarmos que estamos vivendo dias em que nossa atenção é desviada facilmente desse foco soteriológico para as questões políticas. Devemos amarrar nossa atenção na visão evangelizadora comprometida com a Palavra, visto que é a maneira mais eficaz de contribuir com a redenção da nossa geração.

 

  1. Doutor na fé

A expressão “doutor dos gentios na fé” significa instrutor ou “mestre” como é traduzida na Bíblia ARC (Almeida Revista e Corrigida). Paulo em lTm 2.7 considera-se um mestre na fé e não na crença. Embora pareça ser a mesma coisa, não é. Pois a prática da crença religiosa não envolve necessariamente uma fé viva, capaz de salvar o indivíduo, nem tampouco toda crença religiosa se ocupa com a salvação da alma das pessoas; a fé faz parte da espiritualidade; a crença faz parte da religiosidade. Todavia, a Palavra de Cristo promove a fé, salvando a pessoa do seu pecado, do seu vazio, e da falta da comunhão com Deus, aperfeiçoando-o nas boas obras.

1 Timóteo 2.7 - Para isso fui designado pregador e apóstolo (digo-lhes a verdade, não minto.), mestre da verdadeira fé aos gentios.

Cristo morreu por "todos os homens", e Deus deseja que "todos os homens sejam salvos". De que maneira essa boa-nova pode chegar ao mundo pecador? Deus chama e ordena mensageiros para levar o evangelho aos pecadores perdidos. Paulo era um des­ses mensageiros: era pregador (arauto do Rei), apóstolo (enviado com uma comissão especial) e mestre. O mesmo Deus que de­termina o fim (a salvação dos perdidos), tam­bém determina os meios para alcançar esse fim: a oração e a pregação da Palavra. Essa boa-nova não é apenas para os judeus, mas também para os gentios.

Se a base para a oração é a obra sacrificial de Jesus Cristo na cruz, a oração é uma atividade extremamente importante na igreja. Deixar de orar é o mesmo que desprezar a cruz! Orar apenas por si mesmo é negar o alcance mundial da cuz. Ignorar as almas perdidas é ignorar a cruz. "Todos os homens (pessoas)": esse é o conceito-chave do pará­grafo: oramos por "todos", pois Cristo mor­reu por "todos" e Deus deseja que "todos" sejam salvos. Devemos nos entregar a Deus a fim de ser parte deste plano mundial para alcançar os perdidos antes que seja tarde demais.

 

2.1. Paulo, um especialista na fé salvadora

Muitos estudiosos judeus reconheciam que os sacrifícios oferecidos no templo eram insuficientes para executar a salvação no indivíduo. Isso é demonstrado em algumas partes do A.T. Pois, mesmo Abraão não alcançou a justiça de Deus somente pelas obras, mas pelo exercício da fé. Desse assunto, Paulo entendeu e ensinou bastante, visto que havia o pensamento de que as esmolas, as boas obras, jejuns e orações eram elementos que conduziriam a salvação da alma.

Esse assunto é importantíssimo, e nós, cristãos, deveríamos dominá-lo com excelência. Mas, para. isso, precisamos de obreiros que vivam essa realidade e sejam especialistas na fé objetivaquer dizer, bíblica somente. Assim como os judeus, a igreja cristã caiu nessa mesma areia movediça das boas obras, não que elas devem deixar de ser feitas. Claro que não. Lembremos-nos de Lutero, que, ao estudar a Carta aos Romanos, foi impactado pela declaração paulina que diz: “Porque nele se descobre a justiça de Deus de fé em fé, como está escrito: Mas o justo viverá da fé” (Rm 1.17).

 

2.2. Paulo expõe a fé com base firme

No mundo helénico, as pessoas davam muito valor a coisas racionais, lógicas, e cheias de estética. Noutras palavras, uma bela argumentação. Porém, dessa maneira as pessoas podiam ficar facilmente reféns daquele que, com muita arte, expressava-se bem, mesmo que fosse com sofismas. Ainda que, na correspondência paulina; haja citações de pensadores gregos, mas o seu pensamento base repousa sobre a obra salvadora efetuada na cruz de Cristo, uma loucura para os gregos e escândalo para os judeus.

 

2.3.  Paulo explica a razão de seu método

O ser humano costuma ter uma inclinação doentia em crenças religiosas que não conduzem à paz com Deus e uma alegria de vida. Facilmente pode ser levado por um discurso filosófico bonito, mas incapaz de produzir salvação. Quando Paulo se dirigia aos gregos e demais pagãos de seu tempo, levava apenas a simples palavra de Cristo para que a fé de seus ouvintes se apoiasse não na sabedoria humana, a fim de que eles não viessem a se vangloriar: “Como está escrito: aquele que se gloria, glorie-se no Senhor” (ICo 1.30,31), mas na sabedoria de Deus. Aos nossos irmãos convém uma nota importante aqui, que Paulo não prega contra a filosofia, nem incentiva a ignorância, mas se utiliza de alguns elementos gregos para a comunicação da sua mensagem, quando entendia ser necessário, mui especialmente quando se tratava de uma comunidade helénica de crentes, ou crentes em potencial.

1 Coríntios 1.30,31 - É, porém, por iniciativa dele que vocês estão em Cristo Jesus, o qual se tornou sabedoria de Deus para nós, isto é, justiça, santidade e redenção, para que, como está escrito: “Quem se gloriar, glorie-se no Senhor”.

Uma vez que todo aquele que crê está "em Cristo" e tem tudo de que necessita, por que competir entre si ou se comparar uns com os outros? Foi o Senhor quem fez tudo! "Aquele que se gloria, glorie-se no Senhor" (1 Co 1:31, uma citação de Jr 9:24, repetida em 2 Co 10:17).

As bênçãos espirituais de que precisa­mos não são abstrações que escapam por entre nossos dedos; antes, se encontram to­das na Pessoa de Jesus Cristo. Ele é nossa sabedoria (Cl 2:3), nossa justiça (2 Co 5:21),nossa santificação (Jo 17:19) e nossa reden­ção (Rm 3:24).

Na verdade, a ênfase dessa passagem é que Deus mostra sua sabedoria por meio da justiça, da santificação e da redenção que temos em Cristo. Cada um desses termos teológicos tem um significa especial para os cristãos. A justiça refere-se a nossa posição diante de Deus. Fomos justificados: Deus nos declarou justos em Jesus Cristo. No entan­to, também somos santificados, separados para pertencer a Deus e lhe servir. A reden­ção enfatiza o fato de que somos livres por­que Jesus Cristo pagou o preço por nós na cruz. Quando Cristo voltar, todos os que creram experimentarão a redenção plena.

Assim, em certo sentido, temos aqui os três tempos da salvação: fomos salvos do castigo do pecado (justiça); estamos sendo salvos do poder do pecado (santificação) e seremos salvos da presença do pecado (re­denção). Cada cristão tem todas essas bên­çãos em Jesus Cristo!

Assim, por que se gloriar em homens? O que Paulo tem que nós não temos? Pedro tem mais de Jesus Cristo do que nós? De­vemos nos gloriar no Senhor, não em nós mesmos ou em nossos líderes espirituais.

Ao relembrar este capítulo, podemos ver quais eram os erros que os coríntios come­tiam e que contribuíam para criar problemas na igreja. Em vez de viverem à altura de seu santo chamado, seguiam os padrões do mun­do. Ignoravam o fato de que eram chamados para ter maravilhosa comunhão espiritual com o Senhor e uns com os outros. Antes, se identificavam com líderes humanos e criavam divisões na igreja. Em vez de glorificar a Deus e à graça, agradavam a si mesmos e se gabavam de homens. Eram um igreja depravada, dividida e desonrada!

Antes, porém, de julgar os coríntios, de­vemos examinar nossas igrejas e nossa vida.  Fomos chamados para ser santos, para ter comunhão e para glorificar a Deus. Vivemos à altura desse chamado?

O fato de Paulo se considerar um mestre da fé, em relação ao mundo gentílico, não significava que ele se utilizasse de palavras que soam como bajulação de seus ouvintes, ou que despertam admiração para si, ou ainda em tom imprecatório, isto é, de condenação como muitos fazem. Paulo era um especialista da fé que, na simplicidade de Cristoprocurava ser entendido para ganhar as almas de seus ouvintes. Assim como ele, insistimos que precisamos de especialistas em Deus, mas que sejam especializados na comunicação da Palavra da fé. Chega de enrolação, meninices, e perda de tempo no púlpito, e fora dele.

 

  1. Doutor na verdade

Devemos lembrar que os líderes de sinagogas e fariseus eram muito proselitistas entre os gentios, tendo pessoas que frequentavam a sinagoga, mas que não aderiam ao judaísmo por causa da dolorosa circuncisão que era requerida. Quando nossos campeões pregaram a palavra da fé, não tocaram nesse assunto, logo, estava implícito que desobrigaram aqueles, dentre os gentios, que se convertiam a Cristo, ao ato da circuncisão. Com isso eles ficaram felizes! Era esse o público alvo de Paulo, mas dentre eles, vinham muitos judeus também.

O termo "Prosélito" provém do koiné, presente na Septuaginta, estrangeiros e forasteiros em Israel um "peregrino na terra", e no Novo Testamento significa convertidos ao Judaísmo de outras religiões.

 

3.1. Advogados dos gentios

Não se sabe a mando de quem, mas subiram da Judéia alguns indivíduos que começaram a ensinar paralelamente a necessidade da circuncisão em Antioquia (At 15.1). Todavia Paulo e Barnabé começaram a rechaçar tais argumentos com veemência, de forma que virou uma contenda séria contra tais indivíduos, os quais Lucas omite dizer quem eram. Paulo e Barnabé entendiam que se não dessem um basta naquele fermento, todo o trabalho de anos que estavam desempenhando em Antioquia e no restante do mundo helénico donde acabaram de chegar, perder-se-ia. Se não defendermos a obra que Deus nos confiou a fazer, quem a defenderá? Devemos vigiar as raposas e raposinhas em nossa vinha (At 15.2).

Atos 15.1 e 2 - Alguns homens desceram da Judéia para Antioquia e passaram a ensinar aos irmãos:

“Se vocês não forem circuncidados conforme o costume ensinado por Moisés, não poderão ser salvos”.

Isso levou Paulo e Barnabé a uma grande contenda e discussão com eles. Assim, Paulo e Barnabé foram designados, junto com outros, para irem a Jerusalém tratar dessa questão com os apóstolos e com os presbíteros.

Tudo começou quando alguns mestres ju­deus legalistas chegaram a Antioquia e ensi­naram que, a fim de ser salvos, os gentios deveriam receber a circuncisão e obedecer à Lei de Moisés. Esses homens eram ligados à congregação de Jerusalém, mas não eram autorizados por ela (At 15:24). Identificados com os fariseus (At 15:5), esses "falsos irmãos" desejavam privar tanto cristãos judeus quan­to gentios da liberdade em Cristo (Cl 2:1-10; 5:1).

Não causa grande surpresa saber que havia pessoas na igreja de Jerusalém defen­dendo energicamente a Lei de Moisés sem conhecer a relação entre a Lei e a graça. Eram judeus ensinados a respeitar e a obedecer à Lei de Moisés, e, afinal de contas, as epístolas aos Romanos, Gálatas e Hebreus ainda não haviam sido escritas! Havia um grande grupo de sacerdotes na congrega­ção de Jerusalém (At 6:7), bem como de pessoas que ainda seguiam algumas das prá­ticas do Antigo Testamento (ver At 21:20-26). Era um período de transição, e tempos assim são sempre difíceis.

O que esses legalistas faziam e por que eram tão perigosos? Tentavam misturar a Lei e a graça e colocar vinho novo em odres velhos e frágeis (Lc 5:36-39). Costuravam o véu rasgado do santuário (Lc 23:45) e colo­cavam obstáculos no caminho novo e vivo para Deus aberto por Jesus ao morrer na cruz (Hb 10:19-25). Reconstruíam o muro de separação entre judeus e gentios que Jesus derrubara no Calvário (Ef 2:14-16). Colocavam o jugo pesado do judaísmo so­bre os ombros dos gentios (At 15:10; Gl 5:1) e pediam que a igreja saísse da luz e fosse para as sombras (Cl 2:16, 17; Hb 10:1).

 

3.2. A primeira assembleia

Em função do problema da circuncisão, a igreja de Jerusalém, os apóstolos e presbíteros se reuniram para discutir o problema (ano de 51 d.C.). Onde foram apresentados os indivíduos que estavam tentando impor a observância da lei cerimonial nos crentes gentios (At 15.5). Na reunião, Barnabé e Paulo trouxeram um relatório do trabalho entre os gentios com vivacidade, mas o clima da reunião não permitiu uma alegria maior. Pedro deu uma nota a favor do trabalho entre os gentios sem as obrigações cerimoniais, e foi de grande peso, e Tiago que presidia a reunião deu os arremates finais, concordando com Pedro, Barnabé e Paulo, mas com ressalvas da Lei. De qualquer forma, o que ficou decidido, ficou a contento.

Atos 15.5 - Então se levantaram alguns do partido religioso dos fariseus que haviam crido e disseram: “É necessário circuncidá-los e exigir deles que obedeçam à Lei de Moisés”.

Após esse relato intervêm “alguns” e dizem: “É necessário circuncidá-los e determinar-lhes que observem a lei de Moisés.” Agora são informados mais detalhes sobre esses “alguns”, de modo que os possamos compreender melhor. Eram cristãos “do partido dos fariseus que haviam crido”.

Esses homens não haviam sido quebrantados pelo encontro com Jesus até a essência de seu ser, como Paulo (cf. At 9.3). Sua justiça própria ainda não havia sido destroçada completamente. Continuavam

sendo “fariseus”, devotos severos, apegados à lei, que somente “haviam crido” quando reconheceram

em Jesus o prometido Messias de Israel. Para eles era algo totalmente inconcebível que agora gentios

pudessem vir ao Messias Jesus e ser salvos sem pertencer ao povo eleito de Deus pela circuncisão e pela aceitação da lei.

 

3.3. Anunciando uma nova disposição

De certa forma, o cristianismo, na mentalidade de muitos, ainda não tinha vida própria, ele mais parecia uma cisão no judaísmo. Em parte, isso é verdade, visto que a igreja saiu da sinagoga, principalmente onde Paulo e Barnabé evangelizaram. Nesse tempo, ainda era muito o número de judeus que compunham a igreja, entretanto, com o passar dos tempos, a igreja foi se esparramando mais entre os gentios. Por outro lado, a vinda de Jesus Cristo eliminou toda pompa ritual de sacrifícios, de vestes paramentais, suntuosidade do templo, e até a circuncisão. Era então um novo tempo, uma nova era que, em verdade, o concílio apenas estava ratificando, mas que precisava ser anunciada como um antídoto contra os judaizantes.

Ao longo do tempo, Paulo teve que continuar defendendo a causa dos gentios contra as imposições dos judaizantes. Ele, ao escrever acerca da circuncisão, disse aos coríntios: “A circuncisão, em si, não é nada”; disse aos gálatas, “Porque em Cristo Jesus nem a circuncisão, nem a incircuncisão têm virtude alguma, mas sim o ser uma nova criatura" (Gl 6.15); e aos filipenses escreveu: “Nós é que somos a circuncisão, nós que adoramos a Deus no Espírito” (Fp 3.3). Se Paulo não fosse um douto rui verdade cristã não teria, entendido esse novo tempo.

 

Conclusão

O propósito de Paulo entre os gentios foi ensinar sobre a salvação sem a necessidade dos adereços da Lei. Com preparo teológico relevante, o apóstolo ensinou eficientemente ao seu público alvo, inspirando uma fé contagiante e inteligente entre os gentios. Suas pregações e cartas conseguiram apresentar a Jesus Cristo como Filho de Deus, poder de Deus e sabedoria de Deus a humanidade. Graças a Deus pelo empenho e dedicação desse apóstolo que foi uni instrumento poderoso nas mãos do Senhor.

 

 

 

O Apóstolo Paulo e o Espírito Santo –

Lição 08 – 25 de Novembro de 2012

 

LIÇÃO 08 – 25 de Novembro de 2012

 

O Apóstolo Paulo e o Espírito Santo

 

TEXTO AUREO

 

“O qual nos fez também capazes de ser ministros dum Novo Testamento, não da letra, mas do Espírito; porque a letra mata, e o Espírito vivifica”. 2Co 3.6

 

VERDADE APLICADA

 

Paulo, como ministro de Cristo, deseja que seus leitores entendam a nova dispensação do Espírito que chega até os nossos dias.

 

TEXTOS DE REFERÊNCIA

 

Ef 3.1 - Por esta causa eu, Paulo, sou o prisioneiro de Jesus Cristo por vós, os gentios;

Ef 3.2 - Se é que tendes ouvido a dispensação da graça de Deus, que para convosco me foi dada;

Ef 3.3 - Como me foi este mistério manifestado pela revelação, como antes um pouco vos escrevi;

Ef 3.4 - Por isso, quando ledes, podeis perceber a minha compreensão do mistério de Cristo,

Ef 3.5 - O qual noutros séculos não foi manifestado aos filhos dos homens, como agora tem sido revelado pelo Espírito aos seus santos apóstolos e profetas;

Ef 3.6 - A saber, que os gentios são co-herdeiros, e de um mesmo corpo, e participantes da promessa em Cristo pelo evangelho;

 

Introdução

Não se sabe exatamente quando, mas se sabe que, após a conversão de Paulo, ele entendeu que se tratava de uma nova dispensação divina que estava presenciando. E, como tal, ele deveria pregar o evangelho ciente do agir de Deus, diferenciado para essa nova época, que se despontava no horizonte da história. Vejamos alguns principais ensinamentos de Paulo acerca do Espírito Santo nesta lição.

 

  1. Antiga e Nova aliança

Aos seus leitores de Corinto, Paulo se autodenomina como um dos ministros de Deus de uma Nova Aliança (2Co 3.6). Tal pensamento divide a história religiosa do ponto de vista de um judeu convertido em duas seções: Antiga e Nova Aliança. Foi dessa expressão de Paulo que se nominou as duas grandes divisões principais da Bíblia de Antigo e Novo Testamento. Essa Nova Aliança é iniciada com a vinda de Jesus, mais especificamente depois de sua morte e ressurreição. Porém é o “Espírito do Deus vivente” que entra em cena atuando no interior dos crentes em Jesus, transformando-os positivamente.

2 Coríntios 3.6 - Ele nos capacitou para sermos ministros de uma nova aliança, não da letra, mas do Espírito; pois a letra mata, mas o Espírito vivifica.

Ao ler este capítulo, observam-se as de­signações diferentes que Paulo usa para a antiga e para a nova aliança ao contrastá-las. Em 2 Coríntios 3:6, "a letra" refere-se à Lei da antiga aliança, enquanto "o espírito" refere-se à mensagem de graça da nova aliança. Paulo não contrasta duas aborda­gens à Bíblia, uma "interpretação literal” e outra "espiritual". Lembra seus leitores de que a Lei da antiga aliança não é capaz de dar vida; é um ministério de morte (Gl 3:21). O evangelho dá vida aos que crêem por causa da obra de Jesus Cristo na cruz. Paulo não sugere que a Lei foi um erro; ou que seu ministério não era importante. Pelo contrário! O apóstolo sabia que o pecador precisa ser condenado pela Lei e conscientizado de seu total desamparo antes de ser salvo pela graça de Deus. João Batista proclamou uma mensagem de julgamento, preparando o caminho para Jesus e para sua mensagem de graça salvadora. Um ministério legalista traz morte. Os pregadores que se especializam em regras e em regulamentos mantêm sua congre­gação sob uma nuvem escura de culpa, que acaba com sua alegria e poder e também com a eficácia de seu testemunho para Cristo. Os cristãos que estão sempre se medindo, comparando "resultados" e compe­tindo uns com os outros logo descobrem que se tornaram dependentes da carne, não do poder do Espírito. Jamais existiu qual quer norma ou preceito capaz de transformar a vida de uma pessoa; nem mesmo os Dez Mandamentos têm esse poder. So­mente a graça de Deus, ministrada pelo Espírito de Deus, pode transformar peca­dores em epístolas vivas que glorificam Je­sus Cristo.

A Lei da antiga aliança, com sua ênfase sobre a obediência exterior, foi uma preparação para a mensagem da graça da nova aliança, com sua ênfase sobre a transformação interior do coração.

 

1.1. O Espírito como escritor (2 Co 3.2-6)

É curiosa a maneira como o Espírito Santo age nesse novo tempo. Ele atua através de seus ministros escrevendo as leis de Deus no coração de carne dos crentes em Cristo. De sorte que eles se tornam a carta de Cristo lida por todos os homens. Note que essa nova realidade espiritual se contrapõe ã velha, que era de “coração de pedra” (Ez 11.19-20). Mas que Deus havia prometido transformar os corações no Antigo Testamento, e agora estava cumprindo a sua Palavra através do Espírito Santo. Nos dias de Moisés, ele subiu em Horebe e de lá trouxe as tábuas da lei de Deus, os homens deveriam cumpri-las, porém, eles não conseguiam resistir à sedução da adoração pagã e seus próprios impulsos. No entanto, os crentes em Jesus Cristo contavam com um recurso adicional para obedecerem a Deus: a pessoa do Espírito Santo, ao escritor da própria lei.

2 Co 3.2-6 - Os judaizantes gabavam-se de ter "cartas de recomendação" (2 Co 3:1) de pessoas importantes da igreja de Jerusalém e chama­vam a atenção do povo para o fato de que Paulo não tinha credenciais desse tipo. É triste quando uma pessoa mede seu valor por aquilo que outros dizem a seu respeito, não por aquilo que Deus sabe sobre ela. Paulo não precisava de qualquer credencial dos líderes da igreja: sua vida e seu ministé­rio eram as únicas credenciais necessárias.

Quando Deus deu a Lei, escreveu-a em tábuas de pedra colocadas dentro da arca da aliança. Mesmo que os israelitas pudes­sem ler as duas tábuas, essa experiência não transformaria a vida deles. A Lei é algo exte­rior, e as pessoas precisam de poder interior para que sua vida seja transformada. O legalista pode nos admoestar com suas in­junções, "Faça isso!" ou "Não faça aqui­lo!", mas não é capaz de nos dar poder para obedecer. Se obedecemos, muitas ve­zes não o fazemos de coração e acabamos em uma situação pior do que antes!

O ministério da graça transforma o cora­ção. O Espírito de Deus usa a Palavra de Deus e a escreve no coração. Os coríntios eram pecadores perversos quando Paulo os encontrou pela primeira vez, mas seu minis­tério do evangelho da graça de Deus havia transformado a vida deles completamente (1 Co 6:9-11). Sua experiência da graça de Deus certamente significava muito mais para eles do que as cartas de recomenda­ção que os falsos mestres portavam. Os cris­tãos de Corinto estavam gravados, em amor, no coração de Paulo, e o Espírito de Deus escrevera a verdade no coração dos corín­tios, transformando-os em epístolas vivas de Cristo.

A prova de um ministério bem-sucedido não são as estatísticas ou o que a imprensa diz, mas sim as vidas transformadas. É muito mais fácil um legalista gabar-se, pois pode "medir"' seu ministério por parâmetros ex­teriores.

 

 

1.2. O Espírito como ministro (2Co 3.8)

Ao escrever, no interior dos cristãos, a vontade de Deus, tal ministério do Espírito vem acompanhado de uma glória sobre-excelente. Se Moisés, ao receber as tábuas da Lei, estava todo envolto da glória de Deus, a ponto de os filhos de Israel não poderem fitar a sua face, fica uma exclamação, “como não será de maior glória o ministério do Espírito!” (2Co 3.8). A glória na face de Moisés foi forte o suficiente para que usasse um lenço, mas com o tempo ela desvaneceu; a glória, porém, da nova aliança, cujo Espírito é seu ministro direto operando um ministério de vida, é muito maior glória nos fiéis. Observemos que a igreja fiel tem glória divina, justiça divina, maior glória, e glória permanente. Todos esses dons são concedidos mediante o operar do Espírito Santo segundo a multiforme sabedoria de Deus!

2 Coríntios 3.8 - Não será o ministério do Espírito ainda muito mais glorioso?

Quando Moisés desceu do monte, depois de con­versar com Deus, seu rosto resplandecia com a glória de Deus. Essa foi uma parte da gló­ria revelada na transmissão da Lei, e certa­mente tal manifestação impressionou o povo. Em seguida, Paulo argumenta do me­nor para o maior: se houve glória na transmissão da Lei que trazia morte, quanto não deve haver em um ministério que traz vida!

Legalistas como os judaizantes gostam de engrandecer a glória da Lei e de minimi­zar suas limitações. Em sua epístola às igre­jas da Galácia, Paulo ressalta as deficiências da Lei; ela não é capaz de justificar o peca­dor (Gl 2:16), não tem poder de conceder o Espírito Santo (Gl 3:2), de dar uma herança (Gl 3:18), de dar vida (Gl 3:21) nem de dar liberdade (Gl 4:8-10). A glória da Lei é, na verdade, a glória de um ministério de morte.

 

1.3. Transformados pelo Espírito (2Co 3.12-18)

Antes como servos do pecado, o ser humano estava coberto de vergonha e muitos nem percebia isso, outros já estavam acomodados à situação. Mas agora libertos do pecado pelo sangue remidor de Jesus Cristo, todos foram transformados em servos de Deus. Não precisamos mais ter vergonha, podemos pelos méritos de Cristo desfrutar de liberdade, pois o Espírito do Senhor está no homem. Diferentemente de Moisés que como ministro de um concerto glorioso, mas transitório, percebia o seu desvanecer, escondendo assim o rosto debaixo de um véu, porém, à medida que o tempo passa, como servos de Jesus Cristo, o homem se mantém em comunhão com Ele, e, com o rosto descoberto, há a transformação subindo a diferentes degraus de glória.

2 Coríntios 3.12-18 - Quando fazemos parte de um ministério de glória crescente, podemos ser ousados em nossas declarações, e Paulo não disfarça o seu destemor. Ao contrário de Moisés, Pau­lo não tem o que esconder.

Quando Moisés desceu do monte onde havia estado em comunhão íntima com Deus, seu rosto brilhava com um reflexo da glória divina. Enquanto Moisés falava com o povo, os israelitas podiam ver essa glória em seu rosto e se impressionavam com ela. No entanto, Moisés sabia que a glória desvane­ceria, de modo que, ao terminar de instruir o povo, cobriu o rosto com um véu. Com isso, evitou que vissem a glória desapare­cer, pois, afinal, quem deseja seguir um lí­der cuja glória está sumindo?

O termo traduzido por "terminação”, em 2 Coríntios 3:13, tem dois sentidos: "pro­pósito" e "final". O véu evitou que o povo visse o "final" da glória enquanto esta des­vanecia. No entanto, também os impediu de entender o "propósito" por trás dessa gló­ria desvanecedora. A Lei havia acabado de ser instituída, e o povo ainda não estava pre­parado para descobrir que esse sistema glo­rioso era apenas temporário. Ainda não lhes havia sido revelado que a Lei era uma pre­paração para algo maior.

Paulo nutria especial amor por Israel e um desejo ardente de ver a salvação de seu povo (Rm 9:1-3). Por que o povo judeu rejeitou seu Cristo? Como missionário aos gentios, Pau­lo vira muitos gentios crerem no Senhor, mas os judeus seu próprio povo, rejeitavam a verdade e perseguiam Paulo e a igreja.

O motivo dessa rejeição era a presença de um "véu espiritual" sobre a mente e o coração dos judeus. Seus "olhos espirituais" haviam sido cegados, de modo que, ao ler as Escrituras do Antigo Testamento, não con­seguiam enxergar a verdade sobre seu Mes­sias. Apesar de as Escrituras serem lidas sistematicamente nas sinagogas, o povo judeu não compreendia a mensagem espiritual que Deus havia lhes dado. A causa dessa ceguei­ra era a própria religião judaica.

Existe alguma esperança para os filhos perdidos de Israel? Sem dúvida! "Quando, porém, algum deles se converte ao Senhor “crendo em Jesus Cristo”, o véu lhe é retira­do" (2 Co 3:16).

O véu é removido pelo Espírito de Deus, e os que crêem recebem visão espiritual. Nenhum pecador seja ele judeu ou gen­tio pode se entregar a Cristo sem o minis­tério do Espírito de Deus. "Ora, o Senhor é o Espírito" (2 Co 3:17). Trata-se de uma de­claração arrojada da divindade do Espírito Santo: ele é Deus. Os judaizantes que inva­diram a igreja em Corinto dependiam da Lei para transformar a vida das pessoas, mas so­mente o Espírito de Deus tem o poder de realizar uma transformação espiritual. A Lei só traz escravidão, mas o Espírito nos dá uma vida de liberdade. "Porque não recebestes o espírito de escravidão, para viverdes, outra vez, atemorizados, mas recebestes o espíri­to de adoção, baseados no qual clamamos: Aba, Pai" (Rm 8:15). Como nação, o Israel de hoje é espiritualmente cego; mas isso não significa que judeus, como indivíduos, não possam ser salvos. A Igreja de hoje precisa recuperar seu senso de responsabilidade com os judeus. Somos devedores ao povo de Israel, pois por meio dele recebemos todas as nossas bênçãos espirituais. "Porque a salvação vem dos judeus" (Jo 4:22). A única maneira de "quitarmos" essa dívida é compartilhando o evangelho com esse povo e orando por sua salvação (Rm 10:1).

Podemos observar que Paulo trabalhou com figuras contrastantes para que ficasse bem nítido o que ele queria transmitir. Por exemplo, tábuas de pedra e corações de carne transformados pelo Espírito; glória transitória por meio da lei mosaica e glória sobre-excelente e permanente pelo Espírito em seus ministros; antes servos do pecado e cheios de vergonha, mas agora somos transformados como que pelo Espírito de glória em glória.

 

  1. Andando na carne ou no Espírito

Aos seus leitores de Roma, Paulo ousadamente se inclui no rol dos carentes do agir sobrenatural do Espírito Santo. Ao tratar do relacionamento dos crentes com a Lei mosaica, a comunidade cristã romana mista de judeus e gentios, Paulo procura mostrar que, em Cristo, todos estão livres do conflito que a lei normalmente gera, como uma mulher que, agora viúva, fica livre para casar-se novamente sem impedimento algum. Semelhante ao tópico anterior, Paulo descreve a luta no interior para obedecer à lei, assim se considera um homem carnal, escravo do pecado, um miserável, mas que finalmente, descobriu uma maneira vitoriosa de viver através de Cristo e de acordo com o Espírito Santo (Rm 7.14,24,25).

 

2.1. A lei libertadora do Espírito (Rm 7.25; 8.2)

A agonia do neófito na fé, ou do ignorante quanto a sua nova realidade espiritual foi descrita de três maneiras diferentes: “carnal, escravo e miserável”. Em Cristo, este homem tem recursos para abandonar essa vida desgraçada sob o controle do pecado, isto é, uma lei interior que lhe dominava impiedosamente, para viver agora sem condenação alguma, livre do poder do pecado, vitoriosamente e cantando um cântico de vitória (Rm 8.31-39). Ao estar em Cristo, o cristão esclarecido, passa a andar segundo o Espírito. Andar segundo o Espírito é um contraponto de andar na carne, que é inimizade contra Deus e gera morte.

Romanos 7.25 - Graças (seja) a Deus por Jesus Cristo, nosso Senhor. De maneira que eu, de mim mesmo, com a mente, sou escravo da lei de Deus, mas, segundo a carne, da lei do pecado.

Nesse momento brota do cristão Paulo um “graças!” a Deus: Graças (seja) a Deus por Jesus Cristo, nosso Senhor. Para ele há salvação à vista, pois Rm 8.1-4 já está em seus pensamentos.

Depois dessa exclamação interposta, continua falando o eu de Rm 7, dando o arremate na sua miséria. De maneira que eu, de mim mesmo, com a mente, sou escravo da lei de Deus, mas, segundo a carne, da lei do pecado. Essa sentença de lamentação encontra em Gl 2.20 um contraste de júbilo. Lá um “eu” diferente confessa: Cristo vive em mim, e eu vivo com toda a minha constituição de criatura (“na carne”) para esse Cristo! Aqui, porém, ouvimos: Nada de bom vive em mim, sou dominado tenazmente pela lei do pecado. A boa lei de Deus é mera letra para mim (v. 6). Ela se estende até o meu querer, mas não até o realizar. Sua fraqueza é flagrante.

Romanos 8.2 - Porque a lei do Espírito da vida, em Cristo Jesus, te livrou da lei do pecado e da morte.

Fomos libertos da lei do pecado e da morte. Temos vida no Espírito. Em Cristo, passamos para uma esfera de existência com­pletamente distinta. Paulo descreve a "lei do pecado e da morte" em Romanos 7:7-25 e a "lei do Espírito da vida" em Romanos 8: A Lei não tem mais jurisdição sobre nós; estamos mortos para a Lei (Rm 7:4) e livres da Lei (Rm 8:2).

 

2.2. A nova posição em Espírito: “Filhos de Deus” (Rm 8.12-17)

O crente não precisa viver em temor, com medo de seu antigo senhorio cruel e seu jagunço escravizador, o pecado. Satanás e o pecado foram depostos de nossa vida e agora nos tomamos filhos de Deus. De que maneira? Quando o Espírito Santo veio habitar em nós, Ele é o Espírito de Adoção, “pelo qual clamamos: Aba, Pai”. É bom relembrar que a justificação em Cristo, é o ato em que o homem é declarado justo pela obra redentora de Jesus de Nazaré na cruz do Calvário. O ato da justificação é aplicado ao indivíduo que crê, confessa a Cristo arrependido de seus pecados.

Romanos 8.12-17 - Não basta ter o Espírito, é preciso pertencer ao Espíri­to! Só então, ele compartilhará conosco a vida abundante a nosso dispor em Cristo. Não devemos coisa alguma à carne, pois a carne só causou problemas em nossa vida. Temos obrigação com o Espírito Santo, pois foi ele que nos convenceu de nosso peca­do, relevou Cristo a nós e nos concedeu vi­da eterna, quando cremos em Jesus. Por isso, ele é "Espírito de vida", capaz de nos con­ceder o poder de que precisamos para obe­decer a Cristo e de nos capacitar a ser mais semelhantes a Cristo.

Mas também é Espírito de morte, pois nos capacita a "mortificar" os atos pecamino­sos do corpo. Ao entregar os membros do corpo ao Espírito (Rm 6:12-17), ele aplicará em nós a morte e a ressurreição de Cristo. Mortificará as coisas da carne e reproduzirá as coisas do Espírito.

O Espírito Santo também é "Espírito de adoção" (Rm 8:14-17). No Novo Testamento, o termo adoção significa "ser aceito na famí­lia como um filho adulto". Quando chegamos a Deus, passamos a fazer parte de sua família pelo novo nascimento. Mas, no instante em que nascemos para a família de Deus, ele nos adota e nos confere a posição de filho adulto. Um bebê não sabe andar, falar, tomar decisões nem usar os bens da família. Mas o cristão pode fazer todas essas coisas, a partir do momento em que nasce de novo. Pode andar e ser "guiado pelo Espírito" (Rm 8:14). Nesse caso, o verbo significa "ser voluntariamente conduzido". Quando nos entregamos ao Espírito, ele nos guia por meio de sua Palavra cada dia. Não estamos sob a escravidão da Lei e não temos medo de agir. Temos a liberdade do Espírito e se­guimos a Cristo. O cristão também pode dizer: "Aba, Pai" (Rm 8:15). Não seria es­pantoso se um bebê recém-nascido olhasse para seu pai e o cumprimentasse? Primeiro, o Espírito diz: "Aba, Pai" a nós (Gl 4:6), en­tão nós dizemos as mesmas palavras a Deus ("Aba" significa "papai", uma forma cari­nhosa de tratamento). Um bebê não é capaz de assinar cheques, mas, pela fé, o filho de Deus pode lançar mão de suas riquezas espirituais, pois é her­deiro de Deus e co-herdeiro com Cristo (Rm 8:17). O Espírito nos ensina pela Palavra, e, então, recebemos a riqueza de Deus pela fé. Que grande emoção termos o "Espírito de adoção" operando em nossa vida!

O cristão não precisa ser derrotado. Pode entregar o corpo ao Espírito e, pela fé, ven­cer a velha natureza. O Espírito de vida lhe dá poder para isso. O Espírito de morte per­mite que o cristão vença a carne, e o Espírito de adoção o enriquece e o conduz dentro da vontade de Deus.

 

2.3.  Ministérios do Espírito para hoje: “esperança e intercessão” (Rm 8.23-27)

Todo cristão genuíno pode celebrar: “adeus senhorio cruel, adeus pecado escravizador, adeus temor para sempre”. As dificuldades naturais acontecerão normalmente, os problemas e angústias continuarão. Estas são as nossas fraquezas próprias dessa vida. Com o pecado resolvido em Cristo e segundo o novo andar pelo Espírito, mesmo experimentando essas fraquezas contamos com a intercessão do Consolador. Essa nova realidade espiritual nos traz uma suprema esperança, a redenção do nosso corpo mediante a ressurreição ou transformação na vinda de Jesus (Rm 8.23). Estes são os dois ministérios do Espírito Santo hoje junto ao crente: gerar uma viva esperança pela sua presença e interceder por ele em suas fraquezas.

Romanos 8.23-27 - O motivo pelo qual gememos é o fato de ter­mos experimentado "as primícias do Espíri­to", um antegozo da glória vindoura. Assim como a nação de Israel provou as primícias da terra de Canaã quando os espias volta­ram (Nm 13:23-27), também nós, cristãos, provamos as bênçãos do céu por intermé­dio do ministério do Espírito. Isso desperta em nós o desejo de ver o Senhor, de receber  um novo corpo e de viver com ele e de lhe servir para sempre. Aguardamos a "adoção", que é a redenção do corpo quando Cristo voltar (Fp 3:20,21). Esse é o ponto culminan­te da "adoção" que acontece no momento da conversão, quando o "Espírito de adoção" nos insere na família de Deus como filhos adultos. Quando Cristo voltar, participaremos plenamente de sua herança.

Enquanto isso, aguardamos com espe­rança. "Porque, na esperança, fomos salvos" (Rm 8:24). Que esperança? "A bendita es­perança e a manifestação da glória do nos­so grande Deus e Salvador Cristo Jesus" (Tt 2:13). O melhor ainda está por vir! O cristão não se frustra ao ver e experimentar o sofri­mento e a dor neste mundo. Sabemos que o sofrimento é temporário e, um dia, dará lugar à glória eterna.

Deus se preocupa com as provações de seu povo. Quando ministrava na Terra, Jesus gemeu ao ver o que o pecado fazia com a huma­nidade (Mc 7:34; Jo 11:33, 38). Hoje, o Es­pírito continua a gemer conosco e sente o peso de nossas fraquezas e sofrimentos. Mas o Espírito não se atém a gemer. Ele ora por nós por meio desses gemidos, a fim de que sejamos conduzidos para a vontade de Deus. Nem sempre sabemos qual é a vonta­de de Deus. Nem sempre sabemos orar, mas o Espírito intercede por nós para que viva­mos dentro da vontade de Deus, apesar do sofrimento. O Espírito "nos assiste em nossa fraqueza".

O cristão não precisa desanimar em momentos de sofrimento e de provação, pois sabe que Deus trabalha no mundo (Rm 8:28) e que o Senhor tem um plano perfeito (Rm 8:29). Seu plano tem dois objetivos: nosso bem e sua glória.

Aqui possivelmente surgirão algumas dúvidas quanto ao conceito de fraqueza. Este é entendido hoje como a tendência e a própria prática pecaminosa. O que não deixa de ser. Mas Paulo conceitua isso como viver carnal, pois o indivíduo ainda conseguiu estabilidade na fé e na prática. No entanto fraqueza, de acordo com a ótica de Paulo, é apresentada como: a tribulação, a angústia, a perseguição, a fome, a nudez, o perigo ou a espada que os cristãos estão sujeitos aqui (Rm 8.35; 2Co 12.10). Ensinar o crente a evitar o pecado é eficiente, mas há outro nível a ser aprendido, que é tornar-se inimigo do pecado e odiá-lo. Melhor ainda seria, ensinar o cristão a viver segundo o Espírito, ou seja, a estar acima de um viver carnal.

 

  1. Guerreando através do Espírito

Quer aceitemos ou não, estamos envolvidos na maior guerra cósmica da luz contra as trevas; do bem contra o mal. Ao entrarmos na fragata da salvação, estamos em guerra, não existe zona neutra, mas importa que aprendamos a guerrear segundo Deus.

 

3.1. Não entristeçais o Espírito (Ef 4.30)

O primeiro aspecto a ser considerado é quem somos em Cristo hoje, a nossa identidade espiritual de agora. Se estamos em Cristo, fomos selados com o Espírito e por Ele temos acesso ao Pai (Ef 1.13; 2.18). Logo, está claro que devemos andar segundo o código do Reino de Deus, que, em submissão à Palavra do Rei, Ele nos transmitirá a direção do Caminho, que é Cristo, e esse Caminho nos levará para longe do lugar onde estávamos conectados, fazendo-nos conhecer a nova natureza herdada e como agradar àquele que agora nos ilumina. Note como Paulo escreve: “não deis lugar ao diabo”; e também diz: “não entristeçais o Espírito” que nos marcou para a vitória final. Uma vida sem vigilância, irresponsável, nos colocaria sob o domínio do reino das trevas de outra vez. É preciso romper com toda a vida passada, a vida pecaminosa (Ef 4.25-32).

Efésios 4.30 - E não entristeçais o Espírito de Deus, no qual fostes selados para o dia da redenção.

Este versículo adverte sobre vários pecados de atitude e desenvolvem um pouco mais aquilo que Paulo escreveu sobre a ira. A amargura refere-se a uma hostilidade arraigada que cor­rompe o ser interior. Alguém faz algo que nos contraria, e nutrimos uma disposição negativa para com essa pessoa. ''Maridos, amai vossa esposa e não a trateis com amar­gura" (Cl 3:19). A amargura conduz à cólera, que é a manifestação exterior e explosiva de sentimentos interiores. A raiva e a ira com frequência levam ao tumulto ("gritaria") e à maledicência ("blasfémia"). O primeiro caso envolve um conflito corporal, e o se­gundo, um conflito verbal. É difícil crer que um cristão possa agir dessa maneira, mas isso acontece e, por esse motivo, o salmista nos adverte: "Oh! Como é bom e agradável viverem unidos os irmãos!" (SI 133:1).

A amargura e ira, muitas vezes decor­rentes de situações triviais, são capazes de destruir lares, igrejas e amizades.

Paulo apresenta três motivos pelos quais devemos evitar a amargura. Em primeiro lu­gar, ela entristece o Espírito Santo. Ele habi­ta dentro do cristão, e, quando o coração está cheio de amargura e de ira, o Espírito se entristece. Os que são pais têm uma ideia desse sentimento quando vêem os filhos brigando em casa. O Espírito Santo encon­tra sua maior alegria em um ambiente de amor, alegria e paz, pois esses são o "fruto do Espírito" que ele produz em nossa vida quando lhe obedecemos. O Espírito Santo não pode nos deixar, pois nos selou até o dia em que Cristo voltará para nos levar para nosso lar. Não perdemos a salvação por cau­sa de nossas atitudes pecaminosas, mas, sem dúvida alguma, perdemos a alegria da salva­ção e a plenitude das bênçãos do Espírito.

Em segundo lugar, nosso pecado entristece a Deus o Filho, que morreu por nós. Em ter­ceiro lugar, entristece a Deus o Pai, que nos perdoou quando aceitamos a Cristo. Aqui, Paulo identifica, de maneira específica, a causa fundamental da atitude amargurada: nossa incapacidade de perdoar. Um espíri­to rancoroso dá espaço ao trabalho do diabo e se torna um campo de batalha para os cris­tãos. Se alguém nos magoa, intencionalmen­te ou não, e não perdoamos essa pessoa, começamos a desenvolver uma amargura que endurece nosso coração. Devemos ter um coração terno e bondoso, mas, em vez disso, ficamos com o coração empedernido e amargurado. Na verdade, não estamos magoando a pessoa que nos feriu, mas ape­nas a nós mesmos. A amargura no coração nos faz tratar os outros da mesma forma que Satanás os trata, quando deveríamos tratá-los como Deus nos tratou. Em sua graça e bondade, ele nos perdoou, e devemos per­doar os outros. Não perdoamos para nosso próprio bem (apesar de sermos abençoados nesse processo), nem para o bem dos outros, mas sim por amor a Jesus Cristo. Aprender a perdoar e a esquecer é um dos segredos da vida cristã feliz.

Assim, devemos andar de modo puro, porque somos membros uns dos outros; Satanás quer espaço para agir em nossa vida; devemos compartilhar com os outros; deve­mos edificar uns aos outros; e não devemos entristecer a Deus. Afinal, fomos ressuscita­dos dentre os mortos... então por que ainda usar vestes de mortos? Jesus nos diz o mes­mo que falou sobre Lázaro: "Desatai-o e deixai-o ir".

 

3.2. Ante a embriaguez, enchei-vos do Espírito (Ef 5.18)

Nenhum soldado entra numa guerra embriagado, isso é suicídio. Qual será o comandante que permitiria um soldado bêbado guerrear? A não ser que quisesse a morte do tal soldado. Atualmente, dirigir sob o efeito do álcool é crime, imagine ir para uma batalha? A embriaguez gera dissolução, isto é, gera uma vida dissoluta, descontrolada e pródiga. Por causa da embriaguez, seja pelo álcool, uso de drogas, ou outro prazer viciante, vai se dissolvendo a vida do indivíduo: ele perde suas economias, perde o respeito da família, oportunidades profissionais, etc. Oposto ao prazer viciante, está proposto o encher-se do Espírito, que é encher-se da presença de Cristo.

Efésios 5.18 - E não vos embriagueis com vinho, em que há devassidão, mas enchei-vos do Espírito,

Neste versículo Paulo cita um comportamento que não está em sintonia com a vontade do Senhor: “Não vos embriagueis com vinho.” Ele cita a tradução grega de Pv 23.31, onde consta: “Não vos embriagueis com vinho, mas falai com pessoas justas e falai ao andar.” Todo o trecho descreve as consequências inebriantes e humilhantes do consumo desmesurado de bebida alcoólica. Em Ef 5.11 já houve uma alusão a Rm 13.12s por meio do tema de “dia e noite”, mas isso é agora reforçado pela menção da vida desregrada (“comilança e bebedeiras”).

O vinho traz em seu bojo um perigo: quando se ultrapassa a medida recomendada ao beber, o resultado é “dissolução”, desleixo. Além de Tt 1.6 e 1Pe 4.4, também a “parábola do filho pródigo” (Lc 15.13) usa esta palavra. Por isso ela também pode referir-se ao conjunto de “condutas de farras e esbanjamento” que transcende a esfera da comida e bebida.

Em lugar de encher-se com vinho Paulo exorta para encher-se com o Espírito. Os cristãos não devem ser marcados pela insensatez e dissolução. Pelo contrário, o Espírito Santo deve capacitar os crentes para a sabedoria e sobriedade.

"Enchei-vos do Espírito" é a ordem de Deus, e ele espera que obedeçamos. Trata-se de um imperativo no plural, de modo que se aplica a todos os cristãos, não apenas a uns poucos escolhidos. O verbo é usado no tem­po presente "continuem enchendo-vos" referindo-se, portanto, a uma experiência que devemos desfrutar constantemente, não apenas em ocasiões especiais. O verbo também é passivo. Não enchemos a nós mes­mos; antes, permitimos que o Espírito nos encha. Nesse contexto, o verbo "encher" não tem relação alguma com quantidade ou conteúdo, como se fôssemos receptáculos vazios que precisam de certa quantia de combustível espiritual para prosseguir. Na Bíblia, encher significa "ser controlado por". "Todos na sinagoga, ouvindo estas coisas, se encheram de ira" (Lc 4:28), ou seja, "se deixaram controlar pela ira" e, por isso, tentaram matar Jesus. "Mas os judeus, vendo as multidões, tomaram-se de inveja" (At 13:45), isto é, controlados pela inveja, os judeus opuseram-se ao ministério de Paulo e Barnabé. Ser "cheio do Espírito" é ser con­trolado todo o tempo pelo Espírito em nos­sa mente, em nossas emoções e na vontade.

Quando uma pessoa aceita a Cristo como Salvador, é batizada imediatamente peio Espírito e passa a fazer parte do corpo de Cristo (1 Co 12:13). Em momento algum, o Novo Testamento ordena que sejamos batizados pelo Espírito, pois essa é uma ex­periência definitiva que ocorre na conver­são. Em Pentecostes, os cristãos foram batizados pelo Espírito quando este desceu sobre eles, formando, desse modo, o corpo de Cristo (At 1:4, 5). Mas também "ficaram cheios do Espírito Santo" (At 2:4), e foi esse preenchimento que lhes deu o poder de que precisavam para testemunhar de Cristo (At 1:8). Em Atos 2, os cristãos judeus foram balizados pelo Espírito, e em Atos 10, os cristãos gentios experimentaram o mesmo batismo (At 10:44-48; 11:15-17). Assim, o corpo de Cristo formou-se com judeus e gen­tios (Ef 2:11-22). Esse batismo histórico, em dois estágios, nunca mais se repetiu, assim como também não houve outro Calvário. No entanto, esse batismo torna-se pessoal quando o pecador aceita a Cristo e o Espíri­to passa a habitar dentro dele, inserindo-o no corpo de Cristo. O batismo do Espírito significa que passamos a pertencer ao cor­po de Cristo, enquanto o preenchimento com o Espírito significa que meu corpo per­tence a Cristo.

Costumamos pensar no poder do Espírito como o elemento necessário para pregar e testemunhar, o que é uma ideia correta (ver At 4:8, 31; 6:3, 5; 7:55; 13:9; os apósto­los foram cheios do Espírito repetidamente depois da experiência inicial em Pentecos­tes). Mas Paulo escreve que a plenitude do Espírito também é necessária no lar. A fim de que nosso lar seja um pedaço do céu na Terra, devemos ser controlados pelo Espírito Santo. Mas como uma pessoa pode saber se está cheia ou não do Espírito? Paulo afir­ma que há três evidências da plenitude do Espírito na vida do cristão: ele é alegre (Ef 5:19), agradecido (Ef 5:20) e submisso (Ef 5:21-33). Paulo não menciona milagres, lín­guas ou manifestações especiais. Afirma que o lar pode ser um pedaço do céu na Terra, se todos os membros da família forem con­solados pelo Espírito e forem alegres, agra­decidos e submissos.

 

3.3. Guerreando no Espírito: “Espada e oração” (Ef 6.17.18)

As armas da nossa guerra não são carnais, só se pode lutar com as armas e com os recursos que Deus oferece pelo Espírito Santo. É necessário fortalecer pela adoração, enchendo-nos do Espírito, como é visto no tópico acima. Mas precisamos nos revestir de Cristo, a nossa armadura espiritual. Nosso inimigo não são os homens, pois estes são fantoches de Satanás e seus asseclas (Ef 6.11-12). O Espírito Santo aplica em nós a armadura através da oração fervorosa, perseverante e abrangente (Ef 6.18). Temos recursos de defesa e ataque que, ao nos revestirmos deles e por meio da atenção cuidadosa e da ousadia no batalhar, garantiremos a nossa sobrevivência e vitória diária.

Efésios 6.17.18 - A solicitação “tomai o capacete” aponta para o começo da luta, visto que durante a marcha essa proteção pesada não era usada na cabeça. A expressão “capacete da salvação” igualmente é oriunda de Is 59.17, referindo-se ali a Jeová. Aqui trata-se mais uma vez da salvação em Jesus Cristo, pela qual o crente é envolvido, da mesma forma como o v. 14 falava acerca da “couraça da justiça”. Em 1Ts 5.8 Paulo combina couraça com fé e amor e capacete com esperança.

O final da lista é formado pela única arma de ataque, a espada curta. Is 49.2 fala da boca do servo de Deus, que Deus fez “como uma espada afiada”. Os 6.5 diz a este respeito: “Por isso, os abato por meio dos profetas; mato-os pela palavra da minha boca; para que meu direito saia como a luz” (cf. também Jr 23.29). Isso já prefigura a interpretação de Paulo: a palavra de Deus age como uma espada afiada, visto que não é falatório vazio, mas palavra do Espírito. Essa qualidade do falar divino, ao contrário da palavra humana, é atestada de múltiplas maneiras nas Sagradas Escrituras. Começando pela poderosa palavra de Deus na criação (Sl 33.9), passando por Jesus Cristo, “o Verbo” (Jo 1.14), cujas palavras são Espírito e vida (Jo 6.63), que se distingue fundamentalmente de todas as demais pregações (Mt 7.28s; Jo 7.46), chegando até as testemunhas de Jesus Cristo, que em seu serviço experimentam constantemente a qualidade arguidora e divisora da palavra de Deus: Em todos os lugares torna-se perceptível a poderosa característica espiritual da palavra de Deus.

Quando analisamos o conjunto da descrição dessa armadura, vemos que descrições como “lutador de Deus”, “militante de Deus” ou “soldado de Cristo”, que se originaram dessa passagem ao longo da história da igreja, não são apropriadas. Aqui não se fala do herói audacioso, que marcha para a batalha em defesa de seu Deus. Pelo contrário, trata-se da proteção abrangente de Cristo, que ele concede a seus seguidores que do contrário estariam irremediavelmente abandonados. Tudo o que os equipa e capacita para resistir ou atacar é obra do próprio Cristo, que ele conquistou e propiciou aos seus, como Senhor crucificado e ressuscitado. Unicamente pela confiança exclusiva nele os cristãos são preservados em todos os conflitos; somente assim seu ministério é frutífero, visto que unicamente a espada do Espírito faz com que estrangeiros se tornem filhos (Ef 2.12s). Por isso a descrição da “armadura plena” é seguida diretamente pela exortação para que intercedam e sejam vigilantes.

Gramaticalmente sem dúvida é possível relacionar a formulação “com toda oração e súplica” com o particípio traduzido por “orando”. Contudo é mais plausível a ligação estreita com o trecho precedente e, portanto, a dependência do imperativo do v. 14: “Firmai o pé… com toda a oração e súplica.” No conteúdo as expressões “o ração” e “súplica” estão muito próximas entre si. Diversas passagens sugerem tão somente uma diferença entre uma definição genérica da oração (como Cornélio, no sentido da “conduta devota”: At 10.31) e a intenção concretamente mencionada da intercessão (em Zacarias na prece por um filho: Lc 1.13).

A intensidade da convocação para a oração é fortemente realçada pelas quatro repetições de “toda” neste versículo: “com toda oração”; “em todo tempo”; “com toda perseverança”; “por todos os santos”.

Aquilo que Paulo diz a respeito de si mesmo em vista de suas congregações, agora é solicitado aos destinatários da carta. Na ligação com Deus pela oração constante por meio de Jesus Cristo os cristãos são preparados e aprovados para a luta. Como membro da igreja de Jesus Cristo, porém, o cristão nunca pode pensar somente em si mesmo, mas sempre dirigirá seu foco à ligação universal entre os crentes: “todos os santos”. O NT incute inúmeras vezes que a oração deve ser praticada sem cessar. Tal oração acontece “no Espírito”. Na verdade ela é viabilizada somente pelo fato de que os cristãos receberam o Espírito de Deus. Por intermédio deste, eles têm condições de invocar a Deus como Pai (Mt 6.9), como Abba (Rm 8.15). Ao mesmo tempo é o Espírito Santo que representa os que oram pessoalmente perante Deus, porque eles muitas vezes não conseguem reconhecer com clareza o conteúdo e objetivo de sua oração (Rm 8.26s).

A convocação para orar é seguida da exortação à vigilância na intercessão persistente (cf. At 1.14; 2.42; Rm 12.12; Cl 4.2). A combinação de “orar” e “vigiar” originam-se das palavras de Jesus aos discípulos (Lc 21.36; Mt 26.41; Mc 14.38). Grundmann ressalta a importância da oração vigilante para toda a igreja, ao sintetizar: “A oração fecha um laço firme em torno da igreja que luta, enraizando-a no poder de Deus.” Para que o laço não se rompa, mas seja atado com firmeza cada vez maior, e para que as raízes penetrem cada vez mais fundo na esfera da força e vontade de Deus, são necessárias persistência e constância… A oração não é apenas uma prática devota, mas um trabalho sério, uma parte da luta e da condição de batalha espiritual”.

Que Paulo se considerava um soldado da cruz de Cristo, a combater o bom combate da fé contra o reino das trevas e sira capital espiritual “Roma-babilônica”, isso sabemos. Sua estratégia era levantarao longo do Império Romano, frentes de batalha nas cidades que viessem a sufocar o paganismo reinante, a política opressora e a corrupção que levaram o mesmo Império lentamente a cair. Essas frentes eram pequenas assembleias cristãs espalhadas, cujos adeptos procuravam viver em santidade e pregando Jesus Cristo. Os pagãos e as autoridades romanas entenderam a declaração de guerra, por issotrataram de perseguir e eliminar os crentes o máximo que puderam ocasionalmente.

 

Conclusão

O Espírito Santo é quem cuida de fazer a nossa inserção no Reino de Deus, convencendo-nos das nossas injustiças e conduzindo-nos a Cristo Jesus para receber sua justiça. Que faz parte da proposta divina através da Nova Aliança, que nos faz triunfar em Cristo, com seu bom cheiro de vitória.

 

 

O evangelho do Apóstolo Paulo e sua pedagogia - Lição 9 – 02 de Dezembro de 2012

 

LIÇÃO 09 – 02 de Dezembro de 2012

 

O evangelho do Apóstolo Paulo e sua pedagogia

 

TEXTO AUREO

 

“E desta maneira me esforcei por anunciar o evangelho, não onde Cristo foi nomeado, para não edificar sobre fundamento alheio”. Rm 15.20

 

VERDADE APLICADA

 

O alvo principal do ensino cristão é apresentar a Deus todo homem perfeito em Jesus Cristo.

 

TEXTOS DE REFERÊNCIA

 

Rm 1.14 - Eu sou devedor, tanto a gregos como a bárbaros, tanto a sábios como a ignorantes.

Rm 1.15 - E assim, quanto está em mim, estou pronto para também vos anunciar o evangelho, a vós que estais em Roma.

Rm 1.16 - Porque não me envergonho do evangelho de Cristo, pois é o poder de Deus para salvação de todo aquele que crê; primeiro do judeu, e também do grego.

Rm 1.17 - Porque nele se descobre a justiça de Deus de fé em fé, como está escrito: Mas o justo viverá da fé.

 

Romanos 15.20 – Texto Áureo

De modo surpreendente Paulo dá a conhecer um princípio, que resultava menos de sua vocação que de experiências posteriores. (Nisso), porém, esforçando-me, deste modo, por pregar o evangelho, não onde Cristo já fora anunciado, para não edificar sobre fundamento alheio.  Em 2Co 10.12-18, onde ele assume a mesma posição, transparece também seu motivo. Ele visa distanciar-se daqueles missionários que o seguiam, missionavam atrás dele, espionavam-no e se apoderavam, ávidos de vanglória, da sua obra. Ele evitava qualquer atrito. Por razão semelhante também não fazia valer nas igrejas recém-fundadas o seu direito por sustento material: “Tudo faço por causa do evangelho” (1Co 9.23). Indiretamente, ele novamente dá a entender aos romanos: entre vocês terei apenas um papel de visitante, mas auxiliem-me no meu trabalho pioneiro na Espanha, unicamente por amor ao evangelho!

 

Introdução

Paulo se tornou doutor dos gentios e assim considerava-se por causa da sua dedicação ao ensino que objetivava apresentar todo homem a Deus, perfeito em Cristo Jesus. Este foi um projeto muito ambicioso pelo qual lutou incansavelmente até os últimos momentos de sua vida. Esse ainda hoje é o alvo mais nobre da pedagogia cristã pelo qual se deve lutar.

 

  1. Objetivo de firmar convicções

É surpreendentemente maravilhoso ver como o ensino paulino se depara com públicos diferentes, e mesmo assim, ele se ajusta à necessidade dessa heterogeneidade humana. Aos romanos, a dinâmica pedagógica de Paulo se ajusta à necessidade de um conhecimento aprofundado acerca da salvação, em tom pertencente ao direito, visando aprofundar suas convicções.

 

1.1. O homem precisa da justificação

A comunicação e o ensino de Paulo partem de um ponto que venha despertar o interesse. Por exemplo, Paulo ao escrever para os romanos, ensina sobre a salvação, mas parte do ponto de vista jurídico, capaz de despertar e fixar a atenção dos seus leitores, que têm um gosto peculiar pela jurisprudência. Paulo demonstra que todos são pecadores, todos estão sob condenação, e por isso, precisam de justificação. No entanto o homem é por si mesmo incapaz de alcançar essa justificação, mas ela lhe é oferecida gratuitamente, pela fé, e por graça mediante a redenção que há em Cristo Jesus (Rm 3.23-25). Esse tom jurídico é em si uma maneira interessante de se aprender sobre a salvação.

Romanos 3.23-25 - Neste ponto, Paulo insere brevemente no seu raciocínio o resultado de 1.18–3.20. Porque não há distinção (entre judeus e gentios): pois todos pecaram e carecem da glória de Deus. De acordo com Sl 8.5,6, o ser humano na verdade está logo abaixo de Deus. Como reflexo de Deus ele traz sobre a cabeça uma coroa de glória, com a Criação aos seus pés. Ele, porém, possui essa dignidade somente quando persevera na adoração de Deus, assim como a lua somente brilha quando está voltada para o sol. Por meio da trágica alteração de percurso mencionada e m 1.21, o ser humano perdeu sua irradiação prevista por Deus. Em 1.24-32 e 3.10-18 Paulo retratou o ser humano desviado de Deus e, por isso, assustadoramente sem brilho. Segundo 2.7,10, no juízo final estará em jogo a pergunta se Deus nos conferirá esse brilho reluzente da dignidade humana original.

Depois que Paulo trouxe mais uma vez à presença o ser humano silenciado sob a acusação e apagado sob a ira de Deus, ele afirma, como elemento de contraste, sobre o mesmo ser humano: tão logo chega à fé em Cristo, é justificado por Deus. É justo para Deus, capaz para Deus e, desse modo, inteiramente capaz de viver. Paulo assevera duplamente que para isso não se abre uma contabilidade. A pessoa é declarada livre gratuitamente, sem custos, mas sem que a declaração por isso fosse “barata”. É muito comum recebermos de graça o que não tem valor, porém de Deus recebemos justamente o que é impagável e, por isso, impossível de adquirir por dinheiro. O “desconto” total se explica nesse caso como pura graça.

Ao mesmo tempo, graça acontece aqui em correlações jurídicas. Ela é concebida como um processo intrajudicial. Pois nosso pecado produziu uma situação jurídica. Transportou-nos para a condição de escravos (Rm 6; Jo 8.34). Sofremos desenvolvimentos compulsórios que não só nos vitimam injustamente, mas que também merecemos. Pois também diante de Deus é justo que o nosso mal não nos faça bem, que colhamos o que semeamos (Gl 6.7). Ou seja, o poder do pecado pode exibir uma “ordem de execução” divina. Sob esse aspecto, sofremos não apenas a infâmia satânica, mas também juízo divino. “A força do pecado é a lei (divina!)” (1Co 15.56). Em consequência, o que precisamos não é “só o amor”. Perdão “sem mais nem menos” não conduz à liberdade. Para haver redenção verdadeira é preciso proceder de forma correta. Para isso, é necessário anular o direito do nosso pecado. A afirmação da graça de Deus tem por base legal o ato legal da morte de Cristo. Para valorizá-la, Paulo utiliza em Rm pelo menos três metáforas jurídicas: “redenção” (v. 24), do direito da família, “propiciação” (v. 25), do direito sacro, e em 5.1-11 “reconciliação” (5.11), do direito internacional.

Somos declarados livres por Deus mediante a redenção (que aconteceu) em Cristo Jesus. O resgate era originalmente uma instituição do direito israelita da família. Quando um israelita estava endividado ao extremo, seu parente mais próximo intervinha em favor dele com tudo que tinha e que podia fazer, como seu “resgatador”. Essa instituição de redenção por compra serve na Bíblia também como parábola do agir redentor de Deus em Israel no Egito, depois, no cativeiro babilônico, e finalmente em Isaías, bem como no NT, como acontecimento em favor de todos os povos.

O NT apresenta 18 passagens que falam do resgate. São configuradas de maneiras diferentes, mas sua mensagem fundamental é a seguinte: o próprio Deus é esse parente mais próximo de todas as pessoas (Sl 27.10). Incondicionalmente, ele intervém em favor de suas criaturas escravizadas e deportadas. São exatamente a culpa, aflição e vergonha que o convocam como “resgatador”. Em Cristo ele se fixou nessa função. Ali ele é plenamente “resgatador”. Visto que compra não é roubo, e sim um ato legal, o resgate em Cristo Jesus constitui o negócio mais confiável do mundo.

Paulo bem sabia quão importante era afirmar as convicções através do ensino, o eixo principal de sua mensagem é Cristo Jesus, o crucificado. A cultura paganizada de sua época precisava ser alterada, pela cultura da fé cristã (Hb 11.6). Os deuses tinham o seu domínio na crença, daquelas civilizações, mas não tinham respostas do dilema eterno posto no coração humano. Mas os cristãos deforma tão simples se tornaram uma poderosa ameaça por causa do que criam, do que experimentavam, e do que testemunhavam com as suas vidas, correndo severos riscos em muitos lugares.

 

 

1.2. A fé no evangelho é o único elemento capaz de justificar o homem

Todos concordam que a justificação é um ato exclusivo de Deus (Rm 3.21-23). E não é uma doutrina nova nas Escrituras, mas presente no Antigo Testamento, e mui claramente demonstrada na vida do patriarca Abraão (Rm 4.1-5). Por isso, o Apóstolo Paulo se utiliza da figura desse personagem, para exemplificar que a justificação é consumada no coração humano pela fé, mas que, sobretudo, precisa ser entendida para depois ser experimentada (Rm 10.17).

Rm 3.21-23 – Debaixo da Lei do Antigo Testamento, a justificação dava-se quando o homem se comportava bem; mas, sob o evangelho, a justificação se dá quan­do o homem crê. A Lei em si revela a justiça de Deus, pois "a lei é santa; e o mandamen­to, santo, e justo, e bom" (Rm 7:12). Além disso, a Lei dava testemunho dessa justifica­ção do evangelho, apesar de ela própria não ter poder para justificar. Começando em Gé­nesis 3:15 e continuando ao longo de todo o Antigo Testamento, vemos o testemunho da salvação pela fé em Jesus Cristo. Os sacri­fícios, as profecias e os tipos do Antigo Testa­mento, bem como as principais "Escrituras do evangelho" (como Is 53), davam teste­munho dessa verdade. A Lei podia afirmar a justiça de Deus, mas não podia oferecê-la ao homem pecador, pois somente Jesus Cris­to pode fazer isso (ver Gl 2:21).

 (v. 22a). O va­lor da fé consiste no valor de seu objeto. Todos os seres humanos creem em alguma coisa, mesmo que seja apenas em si mes­mos; o cristão, porém, crê em Jesus Cristo. A justiça da Lei é uma recompensa por obras realizadas. A justiça do evangelho é uma dádiva concedida por meio da fé. Muita gen­te diz: "Eu acredito em Deus!", mas não é isso o que nos salva. O que salva e justifica o pecador é a fé pessoal e individual em Jesus Cristo. Até mesmo os demónios no in­ferno creem em Deus e estremecem; no en­tanto isso não os salva (Tg 2:19).

 (w. 22b, 23). Deus deu sua Lei aos judeus e não aos gentios; mas as boas novas da salvação por meio de Cristo são para todos, pois todos precisam ser sal­vos. Em se tratando de condenação, não há diferença alguma entre judeus e gentios. "To­dos pecaram e estão aquém da glória de Deus" (Rm 3:23, tradução literal). Deus declarou todos os homens culpados para que pudesse oferecer a todos o dom gratui­to da salvação.

 

Rm 4.1-5 - Paulo aborda a questão controvertida entre cristãos e judeus quanto à experiência central de Abraão. Que, pois, diremos ter alcançado Abraão, nosso pai segundo a carne? Em todo caso encontrou graça, pois é assim que o termo “alcançar” pode ser completado a partir de uma expressão bíblica. Nisso Paulo e seus adversários eram unânimes. Porém, por meio de que ele chegou a esse estado de graça? Que o tornou correto diante de Deus, de modo que ele foi chamado “amigo de Deus” (Tg 2.23)? A deduzir da continuação no v. 2, a resposta adversária era: Cumprimento exemplar da lei rendeu-lhe o louvor de Deus! Nisso é preciso levar em conta a doutrina judaica de que Abraão já tinha conhecimento da lei do Sinai, ainda que não em forma escrita, observando-a exemplarmente ponto por ponto. Desse modo adquiriu um saldo positivo de boas obras, que reverteria em benefício de seus descendentes no juízo final. Se não forem capazes de quitar seus pecados através de méritos próprios, usufruem do tesouro de méritos dele. Sob esse aspecto, sem a justiça transbordante das obras de Abraão, sucumbia para os judeus a esperança da salvação.

(v 2)  Paulo aguça agora a interpretação judaica: Porque, se Abraão foi justificado por obras (da lei), tem (algo) de que se gloriar. Poderia triunfar no juízo com sua própria justiça. Contra isso, porém, levanta-se um protesto exegético. Porém (isso) não (vale) diante de Deus, que fala por intermédio da Escritura.

(v 3) O texto-chave de Gn 15.6 documenta a justiça de Abraão por fé. Pois que diz a Escritura? Abraão creu em Deus, e isso lhe foi imputado para justiça. “Texto-chave” significa nesse caso: Essa forma de imputação não estava apenas limitada àquela situação, mas formou o alicerce da relação propriamente dita entre Abraão e Deus, até o juízo final. Pelo sentido literal daquele texto, fé em Abraão não era praticar com fé as prescrições, mas submeter-se sem reservas à promessa de Deus. Realmente é imprópria a ideia de obedecer mandamentos sobre alimentos, ordens de jejum, ritos e sacrifícios. Logo Abraão, confiante nas promessas, foi a pessoa acertada para Deus, o aliado ideal. Por isso ele lhe declarou solene aceitação misericordiosa, renunciando ao direito de que dispunha de lhe imputar culpa (v. 6-8). É essa deliberação fundamental que sustenta Abraão e o povo que lhe foi prometido. Evidentemente esse “crer” tem uma série de relações com outras manifestações da vontade de Deus. No entanto, quem visa sempre cumprir a vontade de Deus, imperiosamente deve visar Deus pessoalmente. Em cada um dos mandamentos, o decisivo é avançar até o I Mandamento e temer e amar o próprio Deus acima de todas as coisas.

(v 4) O texto de Gn 15.6 desconhece a ideia de creditar contraprestações humanas. Ora, ao que trabalha, o salário não é considerado como favor (segundo a graça), e sim como dívida. Pois nessa hipótese estaria no comando a conta dos méritos, que sobe cada vez mais, até permitir a leitura do resultado, a soma da “justiça”, que pode ser quitada. Para Paulo, porém, vigora a graça, muito em consonância com Rm 3.24; 11.5,6.

(v 5) Portanto, resta apenas a justiça por fé. Mas, ao que não trabalha, porém crê naquele que justifica o ímpio, a sua fé lhe é atribuída como justiça. O patriarca está sendo contado, sem que seja dito expressamente, entre as pessoas sem Deus. Talvez a intenção de Paulo também seja apontar para a descendência gentílica de Abraão. Em todo caso ele desafia incrivelmente a interpretação judaica de Abraão, sim, ele afronta inicialmente qualquer percepção tradicional de direito. Reside nisso um dilema, que será solucionado só no final do capítulo, mas que agora estava sendo sentido como tal.

 

Rm 10.17 - Depois de refutar a ideia de um automatismo da fé sob a pregação, Paulo tem condições de afirmar duas coisas sobre o surgimento da fé: E, assim, a fé vem pela pregação. Antes que venha a fé, vem a mensagem. Mas a pregação, pela palavra de Cristo. Por trás da boca do mensageiro está a boca do Cristo ressuscitado.

 

1.3. Jesus Cristo é o preço pago para nossa justificação

Não é possível apresentar o homem perfeito a Deus sem Cristo Jesus, sem que Ele se torne o tema central nos nossos próprios ensinamentos. Afinal, foi Ele quem foi entregue à morte e ressuscitou para a nossa justificação (Rm 4.25). A graça da justificação pela fé no Cristo ressuscitado é para todos os homens. Tal verdade deve ser levada com muito empenho para que este alicerce soteriológico fique inabalável nas pessoas.

soteriologia é o estudo da salvação humana. A palavra é formada a partir de dois termos gregos (Soterios), que significa "salvação" e (logos), que significa "palavra", ou "princípio".

 

Rm 4.25 – o qual foi entregue por causa das nossas transgressões e ressuscitou por causa da nossa justificação.

Um dito homogêneo, cuidadosamente formulado, sobre esse Senhor enfeixa, no final, todo o bloco da carta desde 3.21. Na forma de uma confissão que é apoiada por todas as comunidades, Paulo recoloca mais uma vez a mensagem fundamental da morte propiciatória de Jesus, de Rm 3.25: o qual foi entregue por causa das nossas transgressões. Essa ação de Deus está presente também como base para Paulo nas demais exposições (p. ex., 5.9,10; 6.10; 8.3,32-34). Além disso, porém, o nexo com o v. 17b direciona especificamente para a ação da Páscoa, que ainda estava ausente em 3.24,25: e ressuscitou por causa da nossa justificação. Para o “por causa”, tanto na frase inicial, quanto no período posterior desse versículo, são possíveis diferentes explicações.

  • A preposição “por causa” poderia ter ambas as vezes um sentido causal (justificativo). Então teremos para ambas as ações a seguinte correlação: Cristo morreu em nosso lugar, “por causa” de nossos pecados. Desse modo ele restabeleceu a nossa justiça, p. ex., no sentido de 5.9: “sendo justificados pelo seu sangue”. Sob essa premissa, ou seja, “por causa” de nossa justiça perfeita, Deus em seguida respondeu por meio de uma segunda ação, despertando Jesus da morte. Vista dessa maneira, a ressurreição constituiu o resplandecente “sim” e “Amém” de Deus à obra já consumada na cruz (Jo 19.30). Ela a qualificou como inegável. Páscoa é o quebra-dúvidas (1Co 15.17). Nenhuma experiência negativa será capaz de superá-la.
  • No entanto, também se pode fazer uso da possibilidade linguística de que esse “por causa” ocasionalmente pode especificar um sentido final (indicação da finalidade). Nesse caso mantém-se na parte inicial o sentido causal como acima, mas entende-se a continuação como finalidade e parafraseando: Cristo foi ressuscitado “com a intenção” da nossa justificação, do estabelecimento e da preservação da nossa justiça. Vista assim, a ação de Deus na Páscoa não foi somente uma confirmação retrospectiva da expiação perfeita, Deus não se limitou a uma limpeza do passado, não apenas restabeleceu o ponto zero, mas aponta, a partir da Páscoa, para um “algo mais”. Páscoa é ruptura voltada para a frente, em direção da novidade de uma vida para Deus (5.2; 6.4b,10,11). Cristo foi enaltecido, a fim de salvar também os reconciliados para todo o futuro “pela sua vida” (5.10). Seu justificar contínuo (8.34; Hb 7.25) “dá vida” (5.18). Os textos paralelos aqui referidos indicam com que força esses pensamentos ocuparão o próximo bloco da carta.

Essa foi uma questão muito pertinente que gerou muitas dúvidas e precisava de muito esclarecimento naquela época. A forma de recurso usado por Paulo para eliminação delas era o ensino quando estava presente, mas quando ausente, a través de suas cartas, procurou cuidadosamente eliminar qualquer dúvida. Visto que a insegurança, nesse assunto, gera prejuízos irreparáveis.

 

  1. Paulo e a construção do conhecimento

A pregação e o ensino cristãos não eram o único meio de promover a moral da sociedade greco-romana. Mas a construção do pensamento cristão através de Paulo, parte do conceito de autoridade das Escrituras, evidentemente do Antigo Testamento (posto que, naquele tempo, era o que se tinha documentado e ratificado como inspirado por Deus).

 

2.1. Tudo parte das Escrituras

O ponto de apoio paulino para a comunicação, convencimento e instrução de seu auditório, não vinham de si mesmo. Ele mesmo se recusa a usar linguagem floreada, rebuscada e lisonjeira, mas usa a simples e direta como uma espada. Sua mensagem também não vinha de pensamentos filosóficos correntes de sua época, isso não significa que não encontremos citações diretas e indiretas de mestres e filósofos em suas pregações e cartas. O seu cuidado era que a vida cristã de seus ouvintes e destinatários não repousassem sobre qualquer elemento pessoal, filosófico ou humano. Que o conhecimento e vida prática deles partissem das Escrituras e do Senhor Jesus (Rm 15.4; 2Tm 3.16). Ele é a sabedoria, o logos, e o poder de Deus. Se hoje a igreja local se desprender do eixo do conhecimento revelado, perderá o sentido de sua existência.

2Tm 3.16 - Toda a Escritura é inspirada por Deus e útil para o ensino, para a repreensão, para a correção e para a instrução na justiça,

“Toda a Escritura é inspirada por Deus” A doutrina da inspiração das Es­crituras é de importância vital e também é uma doutrina que Satanás tem atacado des­de o princípio ("É assim que Deus disse...?" [Gn 3:1]). É inconcebível que Deus desse a seu povo um livro no qual não pudessem confiar. Ele é o Deus da verdade (Dt 32:4); Jesus Cristo é "a verdade" (Jo 14:6); e "o Espírito é a verdade" (1 Jo 5:6). Jesus afir­mou acerca das Escrituras: "a tua palavra é a verdade" (Jo 17:17). O Espírito Santo de Deus usou homens de Deus para escrever a Palavra de Deus (2 Pe 1:20, 21). O Espírito não apagou as ca­racterísticas naturais dos escritores. Antes, em sua providência, Deus preparou escrito­res para a tarefa de redigir as Escrituras. Cada um deles tem seu estilo e vocabulário pró­prios. Cada livro da Bíblia originou-se de um conjunto específico de circunstâncias. Ao preparar os homens, ao conduzir a história e ao operar por meio do Espírito, Deus rea­lizou o milagre das Escrituras.

Não se deve pensar no termo "inspira­ção" da forma que o mundo o entende hoje, quando diz: "sem dúvida, Shakespeare foi um escritor inspirado". A inspiração bíblica refere-se à influência sobrenatural do Espíri­to Santo sobre os escritores, garantindo que as palavras que escreveram seriam precisas e fidedignas. A revelação é a comunicação da verdade ao ser humano por Deus; a ins­piração é relacionada ao registro dessa co­municação de maneira confiável.

Tudo o que a Bíblia afirma a respeito de si mesma, do ser humano, de Deus, da vida, da morte, da história, da ciência e de qual­quer outro assunto é verdade, isso não sig­nifica que todas as declarações encontradas na Bíblia sejam verdadeiras, pois ela registra as mentiras dos homens e de Satanás. Mas o registro é verdadeiro.

As Escrituras são úteis (v. 16b). São úteis para o ensino (aquilo que é certo), para a repreensão (aquilo que é errado), para a correção (como fazer o que é certo) e para a educação na justiça (como permanecer no caminho certo). O cristão que estuda a Bíblia e que aplica o que aprende cresce em santi­dade e evita muitas ciladas deste mundo.

 

2.2. Fé para entender

A pedagogia paulina se baseia na fé que parte da revelação, como disse Agostinho: “Eu creio para entender”. Nas Escrituras, constatamos que a fé e a razão andam juntas, e não divorciadas. Mas reconhecemos que a fé tem capacidade de ir mais além do que os olhos podem ver, tocar, e sentir (ICo 2.9). A superioridade da fé que repousa na revelação é capaz de aceitar o que a razão rejeita, demonstrando depois ser perfeitamente racional. Como disse certo teólogo, “Onde a razão para a fé caminha, prossegue vitoriosamente”. Tertuliano também disse: “Creio porque é absurdo, se não fosse absurdo não haveria necessidade da fé, bastariam os sentidos ou a razão”. Por mais chocante que possa parecer, o conhecimento de Deus, a salvação em Cristo e uma vida cristã abençoada é alicerçada sobre a “fé que atua pelo amor” (G1 5.6; Hb 11.1-2).

ICo 2.9 - Mas, como está escrito: As coisas que o olho não viu, e o ouvido não ouviu, e não subiram ao coração do homem, são as que Deus preparou para os que o amam.

Este versículo é usa­do com frequência em funerais e aplicado ao céu, mas sua aplicação principal diz respeito à vida do cristão hoje. O versículo seguinte deixa claro que Deus está nos re­velando tais coisas aqui e agora.

Trata-se de uma citação (adaptada) de Isaías 64:4. O contexto imediato é relacio­nado a Israel no cativeiro, esperando o livramento de Deus. A nação havia pecado e, como disciplina, fora mandada para a Babi­lónia. O povo clamou a Deus, pedindo que descesse para livrá-los. Depois de setenta anos de exílio. Deus respondeu a suas ora­ções. Deus tinha planos para seu povo, e ninguém precisava temer coisa alguma (Jr 29:11).

Paulo aplicou esse princípio à igreja. Quaisquer que sejam as circunstâncias, nos­so futuro está seguro em Jesus Cristo. Na verdade, os planos de Deus para seu povo são tão maravilhosos que nossa mente não é capaz sequer de começar a concebê-los ou a compreendê-los! Deus ordenou tais coi­sas para sua glória (1 Co 2:7). É glória desde a Terra até o céu!

Para os que amam a Deus, todo dia é um bom dia (Rm 8:28). Pode não parecer bom ou podemos não sentir que é bom, mas quando Deus realiza seu plano, podemos ter certeza de que é o melhor. É quando deixamos de crer no Senhor ou lhe obede­cer, quando nosso amor por ele esfria, que a vida se torna sombria. Se caminharmos com Deus em sabedoria, desfrutaremos suas bênçãos.

Consideramos nesta passagem duas ver­dades fundamentais acerca do evangelho: o cerne da mensagem é a morte de Cristo, e ela faz parte do grande plano eterno do Pai. Os cristãos em Corinto haviam esqueci­do o preço pago por sua salvação; havia deixado de olhar para a cruz. Também esta­vam se ocupando de questões secundárias, coisas de criança, pois haviam deixado de se maravilhar com a magnitude do plano de Deus para eles. Era necessário que vol­tassem ao ministério do Espírito Santo.

 

Hb 11.1-2 - Ora, a fé é a certeza daquilo que esperamos e a prova das coisas que não vemos. Pois foi por meio dela que os antigos receberam bom testemunho.

Não se trata de uma definição da fé, mas sim de uma descrição do que ela faz e de como funciona. A verdadeira fé bíblica não consiste em um otimismo cego nem em um sentimento forçado de "espero que [...]". Também não é uma aquiescência intelectual à doutrina. Certamente não é crer apesar das evidências, pois isso seria superstição!

A verdadeira fé bíblica é uma obediência confiante à Palavra de Deus apesar das cir­cunstâncias e consequências. Convém ler a frase anterior novamente e deixar que ela penetre a mente e o coração. Essa fé funciona de maneira bastante sim­ples. Deus fala, e ouvimos sua Palavra. Confiamos em sua Palavra e agimos de acordo com ela, a despeito das circunstâncias e das consequências. As circunstâncias podem ser impossíveis e as consequências assustadoras e desconhecidas. Ainda assim, obedece­mos à Palavra de Deus e cremos que ele fará o que é certo e o que é melhor.

O mundo incrédulo não entende a verda­deira fé bíblica, provavelmente porque vê tão pouca fé operando na Igreja de hoje. H. L Mencken, um editor cínico, definiu a fé co­mo "uma crença ilógica na ocorrência do impossível". O mundo não entende que a fé tem o mesmo valor que seu objeto, e que o objeto de nossa fé é Deus. A fé não é um "sentimento" que criamos. É nossa resposta de corpo e alma àquilo que Deus revelou em sua Palavra.

Três termos em Hebreus 11:1-3 resumem a verdadeira fé bíblica: certeza, convicção e testemunho. O termo traduzido por "certe­za" significa, literalmente, "servir de escora, sustentar". A fé é para o cristão aquilo que o alicerce é para a casa: dá confiança e segurança de permanecer em pé com firmeza.

Assim, podemos dizer que ter fé é "estar seguro das coisas que se esperam". A fé do cristão é o meio que Deus usa para lhe dar confiança e segurança de que as promessas serão cumpridas.

A palavra convicção quer dizer "persua­são íntima". É a convicção íntima dada por Deus de que ele cumprirá o que prometeu. A presença no coração da fé recebida de Deus é convicção suficiente de que ele cum­prirá sua Palavra.

O termo testemunho é importante em Hebreus 11. Aparece não apenas no ver­sículo 2, mas também duas vezes no versí­culo 4, uma vez no versículo 5 e uma vez no versículo 39. O resumo em Hebreus 12:1 chama essa lista de homens e mulheres de "grande nuvem de testemunhas". São teste­munhas para nós porque Deus testemunhou para eles. Em cada exemplo citado, Deus deu testemunho da fé desse indivíduo por meio da aprovação de sua vida e ministério.

 

2.3.  A renovação da mente

Passar a viver a fé em Jesus Cristo envolve a renovação da mente. Devemos entender que quando alguém recebe Cristo, ele é regenerado pela Palavra, isto é, nasce como uma criança no reino de Deus. E como todo bebê precisa ser alimentado para o seu pleno desenvolvimento, assim, o novo convertido precisa ser alimentado para o seu pleno desenvolvimento espiritual. Isso significa que o espírito humano é renovado e recebe uma nova disposição e entendimento das coisas de Deus, as quais antes eram impedidas pela cegueira do pecado, da incredulidade e a atuação maligna (2Co 4.3,4). Entretanto, essa mente não é transformada por um milagre, mas com esforço pessoal, pois Paulo diz o seguinte: “sede transformados pela renovação do vosso entendimento, para que experimenteis qual seja a boa, agradável e perfeita vontade de Deus” (Rm 12.1,2).

Rm 12.1,2 - Rogo-vos, pois, irmãos, pelas misericórdias de Deus, que apresenteis o vosso corpo por sacrifício vivo, santo e agradável a Deus, que é o vosso culto racional.

E não vos conformeis com este século, mas transformai-vos pela renovação da vossa mente, para que experimenteis qual seja a boa, agradável e perfeita vontade de Deus.

 (v. 1). Antes de crer em Cristo, usávamos o corpo para prazeres e propósitos pecaminosos; agora que pertencemos ao Senhor, usamos o cor­po para sua glória. O corpo do cristão é o templo de Deus (1 Co 6:19, 20), pois o Espí­rito de Deus habita nele (Rm 8:9). É nosso privilégio glorificar e engrandecer a Cristo com nosso corpo (Fp 1:20, 21).

Assim como Jesus Cristo precisou ter um corpo para realizar a vontade de Deus na Terra, também devemos entregar o corpo a Cristo para que possa continuar a obra de Deus por meio de nós. Devemos entregar os membros de nosso corpo como "instru­mentos de justiça" (Rm 6:13) para o Espírito Santo realizar a obra de Deus. Os sacrifícios do Antigo Testamento eram sacrifícios mor­tos, mas devemos ser sacrifícios vivos.

Há dois "sacrifícios vivos" na Bíblia que ajudam a entender o verdadeiro significado desse conceito. O primeiro é Isaque (Gn 22); o segundo é nosso Senhor Jesus Cristo. Isaque colocou-se voluntariamente no altar e se mostrou disposto a morrer em obe­diência à vontade de Deus, mas o Senhor enviou o cordeiro que tomou seu lugar. Ain­da assim, Isaque "morreu" para si mesmo e se entregou prontamente à vontade de Deus. Quando saiu do altar, Isaque era um "sacri­fício vivo" para a glória de Deus.

É evidente que o Senhor Jesus Cristo é a ilustração perfeita de um "sacrifício vivo", pois, na verdade, morreu como sacrifício em obediência à vontade do Pai. No entanto, ressuscitou e hoje esta no céu como "sacri­fício vivo", levando ainda em seu corpo as marcas do Calvário. Ele é nosso Sumo Sacer­dote (Hb 4:14-16) e nosso Advogado (1 Jo 2:1) diante do trono de Deus.

O termo "apresentar", neste versículo, significa "apresentar-se de uma vez por to­das". Ordena uma entrega definitiva do cor­po ao Senhor, como os noivos se entregam um ao outro na cerimonia de casamento. E essa entrega definitiva que determina o que fazem com o corpo. Paulo apresenta dois motivos para essa consagração: (1) é a atitu­de certa diante de tudo o que Deus fez por nós "Rogo-vos, pois, irmãos, pelas misericórdias de Deus; (2) essa entrega é nosso "culto racional" ou nossa ''adoração espiritual", o que significa que, quando consagramos nosso corpo ao Senhor, cada dia é uma experiência de adoração.

 (V. 2a). O mun­do quer controlar nossa mente, mas Deus quer transformá-la (ver Ef 4:17-24; Cl 3:1-11). O termo traduzido aqui por transformar é o mesmo traduzido por transfigurarem Mateus 17:2. Em nossa língua, equivale à palavra "metamorfose". Descreve uma mudança que ocorre de dentro para fora. O mundo deseja mudar nossa mente e, para isso, exer­ce pressão externa. Mas o Espírito Santo transforma nossa mente, liberando poder interior. Se o mundo controla nossa manei­ra de pensar, somos conformados, mas se Deus controla nossa maneira de pensar, so­mos transformados.

Deus transforma nossa mente e a focaliza nas coisas espirituais usando sua Palavra. Ao passar tempo meditando sobre a Pala­vra de Deus, memorizando-a e assimilando-a em nosso ser interior, aos poucos, Deus torna nossa mente cada vez mais espiritual (ver 2 Co 3:18).

 (v. 2 b). A mente controla o corpo e a volição controla a mente. Muitas pessoas acreditam que podem controlar a volição pela "força de vontade", mas normalmente não são bem-sucedidas. (Essa é a experiência que Paulo relata em Rm 7:15-21.) Somente quando en­tregamos nossa volição a Deus é que seu poder assume o controle e nos dá a força de vontade de que precisamos para ser cris­tãos vitoriosos.

Entregamos nossos desejos a Deus pela oração disciplinada. Ao passarmos tempo em oração, entregamos a Deus nossa volição e oramos como Jesus Cristo: "Faça-se a tua vontade, e não a minha". Devemos orar so­bre todas as coisas e permitir que Deus faça o lhe aprouver em todas as coisas.

 

Em muitas culturas, para o adorador se aproximar de determinada divindade, oferecia-se sacrifício de animais. Isso para o judeu era algo perfeitamente compreensível, visto que fazia parte de sua liturgia religiosa, no templo, a prática do oferecimento de sacrifícios. Note que a ideia original de oferta e de sacrifício em Paulo permanece,  mas agora o crente era Jesus é a oferta viva, oferta santa e oferta que agrada a Deus através do culto racional. A ideia de “culto racional” é profunda, pois, pelo latim, traz consigo o sentido de cultivo, cuidado, honrado e venerado. Já culto, corno está no texto em grego “latreian”, tem o sentido de serviço assalariado ou serviço a Deus. Sendo assim, podemos concluir que: seja o cultivo ou serviço a Deusisso deve ser feito de maneira racional, lógica, mas constante, pois a vida não para.

 

  1. Pedagogia que transforma vidas

A pedagogia de Paulo não é milagreira, mas passa um conteúdo capaz de transformar vidas. Parece contraditório isso, mas a explicação é que não se trata do trabalho de Paulo apenas, e sim, da graça de Deus que opera através da sua vida e suas palavras.

 

3.1. O Conteúdo do evangelho

Falamos acima sobre a importância da renovação da mente. Mas qual o conteúdo usado por Paulo e demais apóstolos capaz de operar isso? Como também já dissemos Jesus é o tema central de seu conteúdo pedagógico, que se apoia no cumprimento fiel das profecias do Antigo Testamento, pelo fato de que Jesus morreu e ressuscitou de acordo com testemunho de muitos fiéis (ICo 15.3-8), um ensino que gera esperança e nutre a fidelidade a Deus. Todavia há três tipos principais do ensino evangélico paulino: primeiro, através do próprio exemplo piedoso de quem ensina, nesse aspecto, o próprio Paulo se oferece como um modelo (ICo 4.16; 11.1); segundo, aqueles destinados a instruir, eliminando dúvidas e a responder questões, como por exemplo, sobre a ressurreição, costumes locais, etc.; terceiro, aqueles ensinos com peso dogmático, ético, ou seja, para obedecer-se. Esses três modelos de ensino continua, e jamais devem deixar de ser empregados na igreja.

ICo 15.3-8 - (v. 3, 4). A expressão antes de tudo significa "o que é de suma impor­tância". O evangelho é a mensagem mais importante que a Igreja pode proclamar. Ape­sar de o envolvimento com as ações sociais e com o aperfeiçoamento humano ser algo louvável, não há motivo algum para esses ministérios tomarem o lugar do evangelho. "Cristo morreu [...] foi sepultado [...] ressus­citou [...] e apareceu [...]" - esses são os fatos históricos fundamentais nos quais o evangelho encontra-se apoiado (1 Co 15:3-5). "Cristo morreu pelos nossos pecados", essa é a explicação teológica dos fatos históricos. Os romanos crucificaram muita gente, mas apenas uma dessas "vítimas" morreu pelos pecados do mundo.

Quando Paulo escreveu "segundo as Escrituras" (1 Co 15:3), referia-se às Escrituras do Antigo Testamento. Grande parte do sis­tema sacrificial do Antigo Testamento apon­tava para Cristo como nosso substituto e Salvador. Também deve ter se lembrado do Dia da Expiação, observado anualmente (Lv 16), e de profecias como Isaías 53.

Mas em que parte do Antigo Testamen­to é declarada a ressurreição de Cristo no terceiro dia? Jesus fala da experiência de Jonas (Mt 12:38-41). Paulo também compara a ressurreição de Cristo com as primícias apresentadas a Deus no dia depois do shabbath seguinte à Páscoa dos judeus (Lv 23:9-14; 1 Co 15:23). Uma vez que o shabbath deve ser sempre o sétimo dia, então o dia depois do shabbath é, necessariamente, o primeiro dia da semana, ou seja, o domingo, o dia da ressurreição de Cristo. No calendário judai­co, esse período equivale a três dias. Além da Festa das Primícias, havia outras profecias sobre a ressurreição do Messias no Antigo Testamento: Salmos 16:8-11 (ver At 2:25-28); Salmos 22:22ss (ver Hb 2:12); Isaías 53:10-12 e Salmos 2:7 (ver At 13:32, 33).

 

 

). Na cruz, Jesus ficou ex­posto aos olhos dos incrédulos; mas, depois da ressurreição, foi visto por seus seguidores, que poderiam dar testemunho da ressur­reição do Mestre (At 1:22; 2:32; 3:15; 5:32). Tanto Pedro quanto os outros apóstolos vi­ram o Cristo ressurreto. Tiago era o meio-irmão de Jesus que se converteu depois que Jesus apareceu a ele (Jo 7:5; At 1:14). Mais de quinhentos irmãos e irmãs o viram ao mesmo tempo (1 Co 15:6), de modo que pode ter sido uma alucinação ou um engano. É possível que esse acontecimento ocorrido antes da ascensão de Cristo Mt 28:16ss).

Todavia, uma das principais da ressurreição foi o próprio Paulo, antes de ser salvo, estava plenamente convicto de que Jesus continuava morto, mudança radical em sua vida, formação que lhe causou sofrimento e per­seguições, sem dúvida é prova de que Jesus, de fato, havia ressuscitado dentre os mortos.

 

ICo 4.16 - Admoesto-vos, portanto, a que sejais meus imitadores.

 “Exorto-vos, pois: sede meus imitadores”. Paulo reitera isso em 1Co 11.1 e declara igualmente aos filipenses (Fp 3.17), aos gálatas (Gl 4.12) e com vistas aos tessalonicenses (1Ts 1.6). Pessoas renascidas não se encontram mais sob a lei. Não se deve dar-lhes, como na instrução rabínica, uma multidão de preceitos específicos, aos quais tenham de seguir. Porém, de acordo com quem hão de conduzir-se em sua nova vida? De acordo com pessoas vivas que lhes servem de exemplo na vida de fé! Também nisso têm a liberdade de ser, filhos que imitam espontaneamente os pais, crescendo assim na vida correta.

 

3.2. O lado pragmático do evangelho

O ensino de Paulo é prático e deve ser acatado pelos crentes em Jesus, que por sua vez, devem ir “na contra-mão” do curso deste mundo. Os cristãos não devem tomar como modelo as formas pagãs tão modernizadas e correntes, tão momentâneas que refletem o domínio do espírito que permeia este mundo sem Deus. Atualmente, a arqueologia tem encontrado vestígios claros que demonstram a licenciosidade em muitos lugares do tempo de Paulo no Império Romano, isso sem contar o muito da literatura daquela época existente também em nossos dias. Diante disso, devemos a cada dia, mais e mais nos identificar com o Filho de Deus, abandonando todo pecado do século presente e buscando insaciavelmente níveis profundos de transformação segundo a imagem de Jesus Cristo, nosso Senhor.

 

3.3. Objetivo de um ensino transformador do evangelho

Principalmente na Carta aos Romanos, encontramos de uma maneira bem organizada os objetivos de um viver transformado. Primeiro todo homem deve viver para agradar a Deus e a vida em comunhão com o Espírito de Deus é que possibilita isso (Rm 8); segundo, essa nova vida em comunhão com Cristo segundo o poder do Espírito Santo é o único meio eficaz de se vencer as paixões da nossa natureza pecaminosa (Rm 8; G1 5.16); terceiro, a vida assim, como expusemos, é o único meio de produzir frutos para Deus através das virtudes cristãs, a única maneira de glorificar o seu nome. Isto se dá pela expressão de emoções sadias tais como amar, ser benigno e alegre com o nosso próximo; pela demonstração de virtudes individuais pelo domínio próprio, mantendo-se longe de vícios de todo o tipo; pelas virtudes demonstradas num relacionamento falando a verdade sempre, sendo paciente e honesto; e por fim, pelas atitudes religiosas corretas, tais como fugir da idolatria e feitiçaria.

O conteúdo do evangelho não consiste apenas na parte teórica, e sim prática. Devemos considerar que o evangelho foi primeiramente vivido, depois de vários anos as histórias foram organizadas e escritas. A dinâmica. da vida exige um evangelho dinâmicoprático sem deixar de ser profundo ao mergulhar em suas águas de conhecimento.

 

Conclusão

O maior alvo do evangelho em relação ao homem é torná-lo perfeito em Jesus Cristo através da justificação pela fé. Onde houver um coração sem Cristo, há ali uma terra cultivável para o desenvolvimento das convicções que toma o homem melhor. O maior alvo do evangelho em relação a Deus é promover a sua glória através do conhecimento de Cristo para a obediência da fé.

 

 

O estilo de liderança do Apóstolo Paulo - Lição 10 - 09 de Dezembro de 2012

 

LIÇÃO 10 – 09 de Dezembro de 2012

 

O estilo de liderança do Apóstolo Paulo

 

TEXTO AUREO

 

“E dou graças ao que me tem confortado, a Cristo Jesus Senhor nosso, porque me teve por fiel, pondo-me no ministério”. lTm l.12

 

VERDADE APLICADA

 

A grandeza de toda e qualquer liderança consiste em reconhecer-se pequeno e dependente de Deus.

 

OBJETIVOS DA LIÇÃO

 

► Mostrar como Paulo se ajustou a uma liderança cristocêntrica, bem diferente da que aprendera antes de sua conversão;

► Apresentar a importância da comunicação, pois liderar é comunicar com eficiência;

► Indicar o meio de perpetuar o seu próprio trabalho enquanto amplia o reino de Deus, descobrindo talentos.

 

TEXTOS DE REFERÊNCIA

 

lTm 1.13 - A mim, que dantes fui blasfemo, e perseguidor, e injurioso; mas alcancei misericórdia, porque o fiz ignorantemente, na incredulidade.

lTm 1.14 - E a graça de nosso Senhor superabundou com a fé e amor que há em Jesus Cristo.

lTm 1.15 - Esta é uma palavra fiel, e digna de toda a aceitação, que Cristo Jesus veio ao mundo, para salvar os pecadores, dos quais eu sou o principal.

lTm 1.16 - Mas por isso alcancei misericórdia, para que em mim, que sou o principal, Jesus Cristo mostrasse toda a sua longanimidade, para exemplo dos que haviam de crer nele para a vida eterna.

 

Introdução

A liderança exercida pelo Apóstolo Paulo tem a influência direta de Jesus Cristo. Sua comunicação tem carisma, coragem e comprometimento. E busca em seus liderados desenvolver seus talentos mais preciosos. 

 

  1. 1Liderança nos moldes de Cristo

Imagine você, quando pela primeira vez, Paulo, ainda não convertido, teve algum contato com o nome Jesus, como um líder religioso da Galileia. Qualquer um que tenha falado com ele, provavelmente lhe passou uma horrível impressão acerca de Jesus e alimentou ódio em seu coração. E interessante como se pode odiar uma pessoa que mal se conhece, apenas porque se falou mal dela, e somando com as noções preconcebidas, tanto mais esse ódio é alimentado. Todavia, após o seu encontro com aquela Luz falante no caminho de Damasco, Paulo passou a amá-lo, e tomou para si o exemplo de liderança de seu Mestre todos os dias de sua vida.

 

1.1. Servir aos outros

Os reis e governadores caem sempre na tentação de se acharem os “escolhidos”, viam-se a si mesmos como filhos dos deuses e sempre exerciam uma política em torno da qual deveriam ser servidos, adorados, e exercer domínio sobre os outros. Não há exageros ao falar isso, pois havia estátuas e sacrifícios oferecidos a esses reis, é possível até citar, por exemplo, os reis romanos, que, com o passar do tempo, não resistiram a tal tentação e acabaram cedendo. Evidentemente, que, para um judeu praticante, isso era inaceitável. Mas essa ideia de ser servido, ser o centro de tudo, permanecia até mesmo nos próprios discípulos. Esse fato Jesus combateu com seu exemplo e ensino, mostrando que, como Filho de Deus, não veio para ser servido e sim para servir. E foi a esse estilo de liderança que Paulo abraçou e viveu.

 

 

1.2. Inspirar aos outros

A liderança por inspiração não era novidade, mas sim um estilo que, apesar da sua eficácia, era desprezado, como em dias atuais, a sua prática ainda o é. Na verdade, liderança cristã tem a sua base no exemplo que visa inspirar a outros a segui-lo. Neste nível, nada é feito por imposição, mas se busca ser transparente e confiável. Enquanto “os governantes” utilizam o poder para impor, controlar, e nunca serem transparentes nas suas decisões com as pessoas, seguindo o exemplo do Mestre, Paulo sempre teve em vista se oferecer como exemplo a ser imitado (ICo 11.1; 2Ts 3.9). Lamentavelmente, a verdadeira liderança é muito combatida no plano ideológico dentro das igrejas.

2Ts 3.9 - não por que não tivéssemos tal direito, mas para que nos tornássemos um modelo para ser imitado por vocês.

Como apóstolo, Paulo tinha o direito de es­perar o sustento financeiro, mas abriu mão desse direito deliberadamente, a fim de ser um exemplo aos recém-convertidos (ver 1 Co 9:6-14). Por meio dessa atitude, mostrou ser um líder cristão maduro. Líderes egoístas usam as pessoas para garantir o próprio sus­tento e estão sempre exigindo seus direitos.

Um líder verdadeiramente dedicado usa seus direitos para edificar as pessoas e coloca seus privilégios de lado por amor aos outros.

O apóstolo já havia se referido a seu exemplo de trabalho na epístola anterior (1 Ts 2:9). Os leitores sabiam que Paulo e seus colaboradores não tiraram seu sustento de qualquer igreja recém-formada. Antes, deram o exemplo ao suprir as próprias ne­cessidades e ao ajudar a suprir as necessi­dades de outros. Paulo admoesta os leitores a seguirem o exemplo dado por ele e seus colaboradores.

As influências mais marcantes são exer­cidas por meio da vida piedosa e do sacrifício. Um líder pode apelar para a autoridade da Palavra, mas se não for capaz de apontar para o próprio exemplo de obediência, seu povo não lhe dará ouvidos. Eis a diferença entre autoridade e grandeza. Um líder ad­quire grandeza ao obedecer à Palavra e ser­vir a seu povo de acordo com a vontade de Deus. A autoridade vem do cargo, enquanto a grandeza vem da prática e do exemplo. A grandeza confere ao líder o direito de exer­cer autoridade.

Todo obreiro cristão tem o direito de re­ceber sustento da igreja onde serve ao Se­nhor (Lc 10:7; Cl 6:6; 1 Tm 5:17, 18). Não devemos usar o exemplo de Paulo como desculpa para não sustentar os servos de Deus. Mas todo servo de Deus tem o privi­légio de colocar de lado esse direito para a glória de Deus. Paulo o fez para que fosse um exemplo aos recém-convertidos de Tessalônica.

Essa política de Paulo não apenas era um estímulo para os recém-convertidos como também servia para calar seus acusa­dores. Havia, em todas as cidades, mestres itinerantes que "vendiam seus produtos" pelo preço que conseguissem. Paulo não de­sejava ser colocado na mesma categoria que eles. Também não desejava que incrédulos dissessem que ele pregava o evangelho por dinheiro. Segundo sua afirmação em 1 Co­ríntios 9, seu desejo era oferecer o evange­lho gratuitamente, a fim de não permitir que o dinheiro fosse um empecilho para ganhar almas perdidas.

 

1.3. Crer no melhor que há nos outros

Um líder inspirador usa o seu exemplo para influenciar os outros. Desta maneira, ele é forçado a crer no melhor que neles há. Talvez nenhum pudesse ver qualidades em Pedro para ser um líder, nem tampouco em Paulo, pois ambos eram muito desqualificados em muitos aspectos. Note que nem mesmo eles queriam tal encargo a princípio, todavia foram escolhidos e conquistados pelo Senhor Jesus. Tal escolha resultou no abundante crescimento da Igreja cristã. Barnabé tem o seu justo destaque, pois, segundo o livro de Atos, tornou-se o exemplo mais notável neste aspecto, quando apresentou Saulo aos apóstolos, depois o convidou para trabalhar em Antioquia da Síria, e deu oportunidade a João Marcos de ser cooperador.

Atentos ao que acima foi dito, percebemos que a liderança paulina repousa sobre o exemplo de Jesus Cristo. Logo ela não comporta certas expressões e posturas tão correntes em nossos dias, corno por exemplo: “Olhem para Jesus e não para mim porque eu falho”. Por mais humilde que pareça, tal expressão não reflete o padrão de Jesus, Paulo e Pedro que se possuem como exemplo (IPe 5.2-3). Outra falácia nem sempre abertamente dita é: “faça o que eu mando, mas não faça o que eu faço”. Tal comportamento não só soa como mau exemplo, mas também como despótico. Talvez a pior de todas, que gera desconfiança entre o rebanho de Cristo é: "maldito o homem que confia no homem”. Trata-se de um erro grosseiro de interpretação de Jr 17.5 que na verdade censura autoconfiança exacerbada.

 

  1. Liderança e comunicação paulina

Liderar em qualquer estilo é comunicar, mas o estilo paulino nos moldes de Jesus Cristo leva essa comunicação com algumas considerações preliminares. Como Paulo liderava então? Vejamos alguns pontos principais.

 

2.1. Carisma

Do ponto de vista de Atos, Paulo é apresentado como um homem cuja comunicação exala abundante graça. Considerando o seu trabalho em Antioquia ao lado de Barnabé e também nas viagens missionárias, ele foi um ótimo comunicador diante de reis, governadores e sacerdotes. Chegando a ser confundido na cidade de Listra com Mercúrio, o deus mensageiro dos gregos e da eloquência, sofrendo posteriormente um terrível apedrejamento por recusar a apoteose (At 14.12). Todavia, nem sempre foi assim, pois do ponto de vista estético diante de alguns que tinham profundo conhecimento de oratória diziam: “As cartas, com efeito, dizem, são graves e fortes; mas a presença pessoal dele é fraca, e a palavra desprezível” (2Co 10.10). Fica claro também que tal palavra procedia de opositores seus de dentro de Corinto, sem discernimento espiritual. Liderar é ministrar biblicamente boas palavras aos cansados, e isso Paulo fazia muito bem, mesmo que sua linguagem fosse destituída de floreios (Is 50.4).

At 14.12 - A Barnabé chamavam Zeus e a Paulo Hermes, porque era ele quem trazia a palavra.

Os milagres, por si mesmos, não convencem ninguém de seus pecados nem produzem fé. É preciso que sejam acompa­nhados da Palavra (At 14:3). Tratava-se de uma multidão supersticiosa, que interpretou os acontecimentos à luz da própria teolo­gia. Identificaram Barnabé com Júpiter (Zeus), o maior dos deuses, e Paulo com Mercúrio (Hermes), o mensageiro dos deu­ses. Júpiter era o padroeiro da cidade, de modo que o sacerdote de Júpiter viu nessa ocasião uma excelente oportunidade de ganhar projeção e levar o povo a honrar seu deus.

 

2Co 10.10 - Afirmando que possui essa autoridade de seu Senhor, Paulo “não se envergonhará” dela. Essa autoridade se evidenciará como real em sua visita, “para que não pareça ser meu intuito intimidar-vos por meio de cartas. As cartas, com efeito, dizem, são graves e fortes; mas a presença física dele é insignificante, e a palavra, desprezível.” Logo no começo dessa última seção da carta Paulo havia feito alusão aquilo que os adversários afirmavam sarcasticamente sobre ele: “De longe esse Paulo é tão audacioso, falando palavras poderosas, mas quando se encontra olho no  olho diante da igreja e de nós, ele é “insignificante” e não tem coragem para nada.” Em Corinto, porém, igualmente se comentava que as cartas do apóstolo eram impressionantes e poderosas. Mas, quando o escritor dessas cartas impactantes aparecia ao vivo diante deles, como parecia fraco! Tampouco sabe falar, falar de maneira desenvolta e cativante. Certamente contribuía para essa sentença a valorização grega da arte da retórica. Não obstante, precisamos aprender a não fabricar uma imagem equivocada do apóstolo baseada nos desejos da veneração cristã de heróis.

 

2.2. Coragem

A ousadia na comunicação de Paulo era algo constante e abundante. A visão equilibrada de si mesmo fazia dele uma pessoa odiada em muitos lugares. Quer dizer, ele não se sentia superior ou inferior no trato com as pessoas, mas entendia que exercia sua liderança mediante a sobre-excelente graça divina. Pois se fosse olhar para sua história de perseguidor, seria um homem indigno. Nem por isso ele se anulou diante do brilho dos apóstolos, quando precisou repreender Pedro em público, fê-lo; quando precisou contender com os judaizantes ao lado de Barnabé, não deixou para depois; e mesmo o próprio Barnabé, foi alvo de sua reprovação por querer dar mais uma chance àquele que abortara a missão diante de Perge na Panfília. A humildade de um líder não impede que o mesmo exponha o seu pensamento.

 

2.3.  Comprometimento

Todo grande comunicador costuma despertar grandes sonhos nos outros, fazer promessas e marcar compromissos. Porém, o verdadeiro líder cristão é um homem de palavra, que sustenta o que diz; aborrece a palavra fingida e a duplicidade de caráter. Só promete o que vai cumprir, e caso não cumpra, arrepende-se e explica o porquê do não cumprimento, pedindo desculpas. Paulo se tornou um homem notável por ser fidelíssimo ao que dizia e não permitia ou tolerava que seus obreiros fossem de “língua dobre” (lTm 3.8). Mas houve vezes que ficou impedido de atender alguns compromissos, mesmo assim reconheceu a falha em suas cartas (Rm 1.13; 15.22,23; lTs 2.17).

Paulo foi obreiro que tinha, em mira, um alvo no qual resumia toda a sua vida, ser bem sucedido para ele consistia em não perder o foco de seu objetivo, que era exclusivamente agradar a Cristo (Fp 3.8.14). Todo líder que tem uma visão clara, para onde vai, os outros se sentem inspirados a segui-lo. Aí a clareza da comunicação daquilo que se pretende se toma algo fundamental em relação ao grupo que se propõe influenciar. Deixemos a ingenuidade de que liderar é estar de bem com todos. A política celestial reprova issoessa postura não reflete um líder totalmente entregue nas mãos de Cristo, e sim, um político mundano muito mal feito. Acima de tudo, um líder espiritual é um homem de fé cujo destino repousa nas mãos de Deus. Isso parece ser idealista, platônico, mas não é, trata-se de um realismo espiritual que se escaparmos dele, tudo mais diante de Deus será palha, madeira e feno, não suportarei o seu fogo.

 

  1. Liderança que desenvolve talentos

Uma das qualidades de Paulo, em seu ministério evangélico, era de ter olhos abertos para identificar líderes e possibilitar desenvolvê-los. Naquele momento, em que a fé cristã ainda emergia, era difícil arranjar candidatos ao ministério, pelos motivos que veremos mais adiante. Contudo Paulo não facilitava as coisas, mas estimulava seus ouvintes (lTm 3.1).

lTm 3.1 - Esta afirmação é digna de confiança: Se alguém deseja ser bispo a, deseja uma nobre função.

De acordo com o Novo Testamento, os ter­mos "bispo", "pastor" e "presbítero" são sinônimos. A palavra bispo significa "supervisor", e os presbíteros têm a responsabili­dade de supervisionar o trabalho da igreja (At 20:17, 28; 1 Pe 5:1-3). "Presbítero" é a tradução do termo grego presbutes, que sig­nifica "um ancião". Paulo usa o termo pres­bitério em 1 Timóteo 4:14, referindo-se não a uma denominação, mas ao conjunto de presbíteros da assembleia que ordenaram Timóteo. Os presbíteros e bispos (dois no­mes para o mesmo cargo, Tt 1:5, 7) eram pessoas maduras, com sabedoria espiritual e experiência espiritual. Por fim, o termo "pastor" também tem o sentido de "pastor de ovelhas", aquele que conduz e cuida do rebanho de Deus.

Quando comparamos as qualificações apresentadas nesta passagem para os bispos com aquelas apresentadas para os pres­bíteros em Tito 1:5-9, vemos que, na verda­de, todas se referem ao mesmo cargo. No período apostólico, a organização da igreja era bastante simples: havia os pastores (bis­pos, presbíteros) e os diáconos (Fp 1:1). Ao que parece, vários presbíteros supervisio­navam o trabalho de cada igreja, alguns de­les encarregados de "presidir" (trabalhar com a organização e o governo), outros, de ensinar (1 Tm 5:17).

Mas era necessário que esses homens fossem qualificados.

 

3.1. Dificuldades em achar interessados no ministério

A extensão da capacidade de um líder varia, tal princípio é largamente exposto nas Escrituras, porém ela pode ser ampliada ou reduzida com o próprio exercício da liderança. Um líder exemplar tende a confiar e dar oportunidade aos outros mais facilmente, é como se seus olhos estivessem sempre abertos para seus liderados e para Deus, visando ampliar o Reino. As principais dificuldades daquela época em arranjar interessados no ministério: Primeiro, ser diácono ou presbítero não trazia status, como em muitos lugares hoje; segundo, muitas vezes não havia remuneração alguma na maioria dos lugares, exceto, o obreiro titular; terceiro, muitos não se interessavam principalmente por causa da perseguição dos próprios conterrâneos e chefes do lugar, como ainda hoje acontece. Contudo, não devemos imaginar que não havia candidato algum, pois sempre havia alguém, mas era uma escolha mais bem pensada, visto que se tratava de assumir inúmeros riscos.

 

3.2. Olhos e ouvidos abertos para identificar líderes

Paulo tinha os seus olhos e ouvidos abertos para identificar líderes que pudessem prosseguir na obra. Na segunda viagem missionária, ele levou consigo Silas, em meio à viagem, tomou também Timóteo que tinha bom testemunho dos de Listra e Icônio, e vários engrossaram essa lista, tais como: Tito, Lucas, Epafras, e tantos outros que talvez nunca saibamos. Paulo mais parecia um viveiro de líderes ambulantes, sem, contudo, declinar na qualidade das exigências ministeriais.

 

3.3. Coração aberto para dar oportunidades

O grande segredo para um homem identificar talentos é ser líder de fato, ter certo conhecimento de si mesmo, da sua chamada, e ser exemplo. Assim, tal líder jamais se sentirá inseguro, ameaçado ou com ciúmes. O ministério tem seus riscos peculiares, algumas vezes será vítima de ingratidão, traído e abandonado, mas o seu coração estará sempre conectado ao trono de Deus e aberto aqui na terra para dar oportunidade a homens e mulheres para o desenvolvimento ministerial. Paulo é um exemplo sobejo nesse aspecto, tanto de dar oportunidade quanto de ser abandonado, por exemplo, João Marcos, Demas, etc. Todavia, ele não guardava rancor, quanto a João Marcos, Paulo reconheceu o seu grande valor tendo-o em alta estima (2Tm 4.11).

Atualmente vivemos uma crise de integridade que dificulta a apresentação de obreiros e obreiras em muitos setores da igreja. Por esse motivomuitos ignoram certas exigências facilitando o acesso e gerando problemas futuros com isso. O próprio Paulo recomendou a Timóteo, “não imponhas as mãos precipitadamentenem participes dos pecados alheios, conserva-te a ti mesmo puro” (lTm 5.22). A pressão de ter uma grande igreja composta por vários obreiros sem qualidade cristã existe é real e tentadora. Não se deve estreitar o caminho, pois ele por si mesmo já é estreito, e nem. se deve facilitar o palmilhar ministerial além do bom senso bíblico, para que não aconteça de acabar envolvido em pecados alheios.

 

Conclusão

Não se deve pensar que os tempos de Paulo eram melhores que os de hoje, e jamais desejar que aquele tempo retome. Pois, afinal, nada mudaria. Mas podemos nos valer de todo o acervo histórico de experiência cristã em termos de liderança, e resgatarmos os princípios que nortearam o trabalho de Paulo como servo líder. Duas coisas foram profundamente marcantes na carreira ministerial do Apóstolo dos gentios: o desejo de agradar a Cristo e a sua longanimidade admirável.

 

 

 

Paulo e o bom combate da oração Lição 11 - 16 de Dezembro de 2012

 

LIÇÃO 11 – 16 de Dezembro de 2012

 

Paulo e o bom combate da oração

 

TEXTO AUREO

 

“Porque quero que saibais quão grande combate tenho por vós, e pelos que estão em Laodicéia, e por quantos não viram o meu rosto em carne”. Cl 2.1

 

VERDADE APLICADA

 

Quando a igreja descobre o valor e o poder da oração intercessória, seu alcance se torna maior, e seu poder sobressai onde quer que esteja.

 

OBJETIVOS DA LIÇÃO

 

► Conhecer a figura de Paulo mais profundamente como um exemplo de intercessor;

► Apresentar algumas frentes de combate de oração de Paulo;

► Notar alguns dos principais ensinos de Paulo sobre a prática da oração.

 

TEXTOS DE REFERÊNCIA

 

Ef 3.14 - Por causa disto me ponho de joelhos perante o Pai de nosso Senhor Jesus Cristo,

Ef 3.15 - Do qual toda a família nos céus e na terra toma o nome,

Ef 3.16 - Para que, segundo as riquezas da sua glória, vos conceda que sejais corroborados com poder pelo seu Espírito no homem interior;

Ef 3.17 - Para que Cristo habite pela fé nos vossos corações; a fim de, estando arraigados e fundados em amor,

Ef 3.18 - Poderdes perfeitamente compreender, com todos os santos, qual seja a largura, e o comprimento, e a altura, e a profundidade,

Ef 3.19 - E conhecer o amor de Cristo, que excede todo o entendimento, para que sejais cheios de toda a plenitude de Deus.

 

 

2:1: Pois quero que saibais quão grande luta tenho por vós, e pelos que estão em Loodicéia, e por quantos não viram a minha pessoa;

Em Col. 1:29 é usada a metáfora do atletismo, com o uso da palavra «afadigo», que no grego é «agonizo», indicando os labores extremamente diligentes de Paulo em prol do evangelho. Agora ele pinta seu serviço em favor de Cristo como a nobre «competição» (no grego, «agona»). A forma verbal, com seu derivado nominativo, talvez já tivesse adquirido uma espécie de sentido semitécnico para indicar o martírio e a vida dos mártires em potencial, que se ocupavam no conflito contra as forças do mal. No segundo século de nossa era, essas palavras tinham tal sentido. Pelo menos, o martírio, e a vida que conduz ao menos, nunca são vistos nas Escrituras como uma resistência passiva, mas antes, como uma luta ativa pelo bem e contra as forças do mal.

Paulo já havia mostrado que tinha o direito de escrever aos crentes de Colossos, convencendo-os do erro, por causa de sua comissão divina e do escopo universal do seu ministério (ver os versículos vinte e cinco a vinte e nove do primeiro capítulo); e agora diz que tinha esse direito devido ao seu interesse pessoal por aqueles crentes, e porque lutava pessoalmente em favor deles, não sendo eles uma questão indiferente para ele. Sua ansiedade não estava limitada às igrejas por ele fundadas. Ele era apóstolo dos gentios. Até mesmo o trabalho em Colossos fora, indiretamente, fruto do seu labor (ver Col. 1:7 e ss.), porquanto Epafras labutava sob a sua autoridade, e, mui provavelmente, se convertera sob o seu ministério.

“...pelos laodicenses..." Evidentemente Paulo também não trabalhara em Laodicéia, lugar que distava cerca  de cento e trinta quilómetros de Éfeso e menos de trinta e cinco quilómetros de Colossos; mas, tal como no caso de Colossos, provavelmente também fora o originador indireto da igreja daquele lugar. Fica implícito que os crentes de Laodicéia também vinham sendo atacados por alguma heresia similar à de Colossos, pelo que Paulo também se preocupava por eles, ao ponto de tornar-se uma «competição», uma questão agonizante para ele. É provável que Paulo aluda aqui, indiretamente, ao seu aprisionamento, talvez em Éfeso, que ficava tão próximo, e que fora ocasionado por seus labores naquela área, como também ao seu contínuo ministério de oração em favor deles. Também podem estar em foco certos mensageiros que ele lhes enviara, a fim de encorajá-los a andarem condignamente no caminho cristão e de protegê-los dos ataques heréticos. Laodicéia é cidade mencionada aqui porque esta epístola aos Colossenses deveria ser lida por aqueles crentes também (ver Col. 4:16), ao passo que certa outra epístola, provavelmente agora perdida, que Paulo enviara aos crentes laodicenses, deveria ser lida pela comunidade cristã de Colossos. Alguns estudiosos têm conjecturado que a carta aqui mencionada seria a nossa epístola aos Efésios ou a nossa epístola a Filemom, o que é possível, apesar de não passar de uma mera conjectura.

“...e por quantos não me viram face a face...” Há duas coisas que ficam subentendidas aqui: 1. Os crentes colossenses e laodicenses não eram conhecidos de Paulo. 2. Ele também não conhecia a outros crentes daquela região, como os de Hierápolis, que também eram objetos de sua agonia espiritual. O trecho de Col. 1:4, naturalmente, já indicara que ele não era fundador da igreja de Colossos; e a presente referência reforça isso.

“...face a face...” Literalmente, teríamos a tradição «minha face na carne». Os crentes tinham ouvido falar no apóstolo dos gentios, e tinham amigos mútuos, alguns dos quais eram líderes principais da comunidade cristã; mas nunca o tinham visto pessoalmente, embora o reconhecessem “espiritualmente”. Essas palavras não envolvem qualquer ideia de separar alguns “conhecidos” de Paulo dos “desconhecidos” dele naqueles lugares. Tão-somente indicam que ele não visitara aquela região em geral, embora houvesse ali diversas comunidades cristãs. Essas palavras, por igual modo, não fazem a separação entre “Colossos” e “Laodicéia”, como se houvesse localidades que ele conhecia e outras que ele não conhecia, na mesma área, ideia essa que alguns intérpretes ter defendido.

Fonte:

Editora Betel 4º Trimestre de 2012, ano 22 nº 85 – Jovens e Adultos – Apóstolo Paulo.

O Novo Testamento Interpretado Versículo Por Versículo - Russell Norman Champlin

 

Introdução

Qualquer um que leia sobre o trabalho missionário de Paulo, seus diversos talentos naturais, e dons espirituais, não deixa de se impressionar pelo volume de trabalho por ele realizado por amor ao Senhor Jesus. Lemos e meditamos acerca deste consagrado servo de Cristo sob várias óticas: sua trajetória ministerial, seu ensino e filosofia, mas notamos de que um de seus grandes segredos era ser um combatente fervoroso na oração.

 

  1. O exemplo de Paulo na oração

A forma como ocorreu sua chamada ministerial era o agente impulsionador de seu trabalho missionário. Porém a oração dele foi a principal pilastra de um edifício que atravessa séculos, que os terremotos da perseguição ferrenha de imperadores romanos não o abalaram, nem tampouco a erosão do tempo corroeram.

 

1.1. Paulo um combatente da oração

Desde bem cedo, Paulo aprendeu a depender de Deus em Cristo pela oração. Ele entendia que a hegemonia do Império Romano fora conquistada a custa de vários combates, inclusive com a destruição definitiva de Cartago que controlava o comércio no Mar Mediterrâneo. Muitos reinos e nações foram conquistados o que deu a luz ao vasto Império, mas quando uma cidade se insurgia, eles a destruíam para demonstrar quem mandava, ou seja, mantinham o seu controle pela força. Entretanto Paulo entendeu que o estabelecimento do reino de Deus se dá pela oração. Sem ela não haverá verdadeira justiça, paz e alegria no Espírito Santo, que são a essência do reino celestial (Rm 14.17).

Rm 14.17 - Pois o Reino de Deus não é comida nem bebida, mas justiça, paz e alegria no Espírito Santo;

Os cristãos devem ter prioridades (w. 16-18). Assim como os fariseus da Antigui­dade, nós cristãos temos a tendência de nos concentrar nas minúcias (Mt 23:23, 24). Vi igrejas se dividirem por causa de questões insignificantes, quando comparadas com o que há de mais vital na fé cristã. Já ouvi falar de igrejas que se dividiram por causa de coisas secundárias, como o lugar onde o piano deveria ficar no templo ou a prática de servir refeições na igreja aos domingos. "Porque o reino de Deus não é comida nem bebida, mas justiça, e paz, e alegria no Espí­rito Santo" (Rm 14:17). "Não é a comida que nos recomendará a Deus, pois nada perderemos, se não comermos, e nada ga­nharemos, se comermos" (1 Co 8:8).

Nossas prioridades não devem ser as coisas externas, mas sim as coisas eternas: retidão, paz e alegria. De onde elas vêm? Do Espírito Santo de Deus operando em nossa vida (ver Rm 5:1, 2). Se cada cristão se entregasse ao Espírito e se concentrasse em levar uma vida piedosa, não veríamos cristãos discutindo entre si por causa de coi­sas secundárias. As prioridades espirituais são essenciais para a harmonia na igreja.

 

 

1.2. Paulo e demais companheiros de combate

Visto que o reino de Deus aqui é implantado no poder do Espírito Santo, não há outro meio de alcançar esse poder por Jesus Cristo prometido, senão pela oração. Por isso, subentende-se que Paulo tinha uma disciplina quanto à prática da oração. Alguns de seus companheiros de oração são mencionados ao longo do Novo Testamento: Barnabé, Silas, Timóteo, Epafras e muitos outros que talvez nunca venhamos conhecer. Certo dia, na segunda viagem missionária, Paulo e Silas saem para um lugar a fim de orar, e ambos foram surpreendidos por uma jovem pitonisa que dizia: “Estes homens, que nos anunciam o caminho da salvação, são servos do Deus Altíssimo”. Paulo depois de muitos dias repreendeu o espírito advinhador que dava lucro para os seus senhores, e ela nunca mais adivinhou (At 16.16-26). Devemos nos lembrar que a narrativa de Lucas aponta para Silas como um companheiro leal na oração e nas tribulações também.

 

1.3. Orando no Espírito

Quando Paulo ensina aos efésios, que eles devem orar: “Em todo tempo... No Espírito” (Ef 6.18), devemos entender que ele não está dizendo em orar mentalmente, mas está falando em orar motivado, energizado pelo Espírito Santo. Esse é um tipo de oração que procede da fé e comunhão com o Espírito, que possibilita o crente ir além de sua limitação de tempo e esforço mental. Então orar no Espírito aqui significa ser guiado e fortalecido pelo Espírito Santo em oração. Provavelmente Paulo utiliza essa frase aqui como em (ICo 14.14,15), para incluir a oração em línguas.

Ef 6.18 – Orem no Espírito em todas as ocasiões, com toda oração e súplica; tendo isso em mente, estejam atentos e perseverem na oração por todos os santos.

Orar em todo tempo. É evidente que isso não significa "proferir orações o tem­po todo". Não somos ouvidos por causa de nossas "vãs repetições" (Mt 6:7). "[Orar] sem cessar" (1 Ts 5:17) significa estar sem­pre em comunhão com o Senhor, estar conectado com ele a todo tempo. Ao orar, o ideal é nunca dizer: "Senhor, colocamo-nos em tua presença...", pois, na verdade, nunca deixamos a presença dele! O cris­tão deve orar "em todo tempo", pois está sempre sujeito a tentações e a ataques do diabo. Um ataque surpresa já derrotou mais de um cristão que se esqueceu de "orar sem cessar".

Orar com toda oração. Existe mais de uma forma de orar: oração, súplica, inter­cessão e ação de graças (Fp 4:6; 1 Tm 2:1). O cristão que ora apenas para pedir coisas para si está perdendo as bênçãos resultan­tes da intercessão e da ação de graças. Na verdade, a ação de graças é uma grande arma para derrotar Satanás. Assim como o louvor, a oração tem poder transformador. A intercessão por outros pode trazer vitó­ria em nossa própria vida. "Mudou o Senhor a sorte de Jó, quando este orava pelos seus amigos" (Jó 42:10).

Orar no Espírito. De acordo com o mo­delo bíblico, oramos ao Pai, por meio do Filho e no Espírito. Romanos 8:26, 27 mos­tra que a única maneira de orar dentro da vontade de Deus é pelo poder do Espírito. De outro modo, nossas orações podem ser egoístas e estar fora do que Deus deseja.

No tabernáculo do Antigo Testamento, an­tes do véu que dava acesso ao Santo dos Santos, havia um pequeno altar de ouro em que o sacerdote queimava incenso (Êx 30:1-10; Lc 1:1-11). O incenso retrata a oração e, para ser queimado no tabernáculo ou templo, deveria ser preparado de acordo com as instruções de Deus, não segundo alguma fórmula humana. O fogo do altar retrata o Espírito Santo, pois é ele que "acen­de" nossas orações dentro da vontade de Deus. E possível orar com fervor na carne e não se comunicar com Deus. Também é pos­sível orar tranquilamente no Espírito e ver a mão de Deus fazer grandes coisas.

Orar com os olhos abertos. Vigiar sig­nifica "manter-se alerta". A injunção para "vigiar e orar" aparece com frequência na Bíblia. Quando Neemias estava restau­rando os muros de Jerusalém e o inimigo tentava impedi-lo de realizar essa obra, Neemias derrotou os adversários vigiando e orando. "Porém nós oramos ao nosso Deus e, como proteção, pusemos guarda contra eles" (Ne 4:9). "Vigiar e orar" é o segredo para vencer o mundo (Mc 13:33), a carne (Mc 14:38) e o diabo (Ef 6:18). Pedro adormeceu quando deveria estar orando, e o resultado foi a vitória de Sata­nás (Mc 14:29-31, 67-72). Deus espera que usemos os sentidos que nos deu para que, conduzidos pelo Espírito, possamos perceber quando Satanás está começando a operar.

Continuar a orar. A palavra perseve­rança significa, simplesmente, "persistir em algo e não desistir". Os primeiros cristãos oravam dessa maneira (At 1:14; 2:42; 6:4), e devemos seguir seu exemplo (Rm 12:12). A perseverança na oração não sig­nifica que estamos tentando convencer Deus, mas sim que estamos profundamen­te interessados e preocupados, e que não conseguimos descansar enquanto não re­cebemos uma resposta de Deus. Nas pa­lavras de Robert Law: "Orar não é insistir para que a vontade do homem seja feita no céu, mas sim para que a vontade de Deus seja feita na Terra". A maioria desiste exatamente quando Deus está preste a dar a vitória. Nem todos têm a disposição ne­cessária para passar uma noite inteira em oração sincera, mas todos podemos perse­verar muito mais do que costumamos fazer. A Igreja primitiva orou incessantemente enquanto Pedro estava na prisão e, no últi­mo instante, Deus lhe deu a resposta (At 12:1-19). Devemos continuar orando até que o Espírito nos oriente a parar ou até que Deus responda. Justamente no momento que sentirmos vontade de desistir, Deus dará a resposta.

Orar por todos os santos. As primeiras palavras da oração que Jesus ensinou são: "Pai nosso" e não "meu Pai". Oramos como parte de uma grande família que também conversa com Deus e devemos orar pelos demais membros da família. Até mesmo Paulo pediu o apoio dos efésios em ora­ção - ele que já havia sido arrebatado ao terceiro céu e voltado. Se Paulo precisa­va das orações dos santos, tanto mais nós também precisamos! Se minhas orações cooperam para que outros santos derro­tem Satanás, essa vitória também me aju­dará. Convém observar que Paulo não pede que orem por seu bem-estar ou segu­rança, mas pela eficácia em seu testemu­nho e ministério.

Uma frágil vida de oração e de súplicas ocasionais, “como uma lista de supermercado”, certamente não será eficiente na guerra espiritual. Precisamos nos inclinar mais intensamente à oração no Espírito e pelo Espírito, em nossas orações c intercessões pessoais e comunitárias (comentário Pentecostal N.T. pág. 1268).

 

 

  1. Combates de Paulo em oração

A obra de um intercessor é sobremodo importante para a realização da obra de Deus. Nesse campo, há muitos mistérios que poucos servos de Deus conseguem penetrar por falta de intimidade com os céus. Embora nem sempre percebamos, o espírito imundo sabe quem tem autoridade sobre ele, como vimos no caso da jovenzinha escrava que dava lucro a seus patrões com a adivinhação, até que, orando a Deus, este deu autoridade a Paulo para desnudar e repreender o tal espírito, e ele nunca mais voltou. Todavia Paulo e Silas não ficaram livres das consequências do agir humano contra eles em Filipos, mas mesmo assim oravam.

 

2.1. Derramando o seu coração pela igreja

Paulo não apenas intercedeu fervorosamente, mas fez questão de escrever algumas de suas orações pelas igrejas com as quais se correspondia (Fp 1.9; 4.6). Com muita intensidade, Paulo escreveu duas orações em favor dos efésios, a fim de que eles alcançassem toda a maturidade necessária em Cristo. São duas orações que têm sido lidas, estudadas e repetidas em favor de famílias e igrejas, e, ainda hoje, em alguns lugares. Paulo não se envergonhava de dobrar os joelhos e de demonstrar um ministério com lágrimas, à semelhança de Jeremias e Jesus. Semelhantemente, devemos chorar pelas nossas igrejas, famílias e nação contra essa avalanche que está prestes a desabar sobre a igreja brasileira.

Fp 1.9 - Esta é a minha oração: Que o amor de vocês aumente cada vez mais em conhecimento e em toda a percepção,

Paulo alegra-se com as recordações que tem de seus amigos em Filipos e com seu amor cada vez maior por eles. Também se alegra em se lembrar deles diante do trono da gra­ça em oração. O sumo sacerdote de Israel usava sobre o peito uma vestimenta espe­cial chamada de "peitoral do juízo". Nela se encontravam engastadas doze pedras pre­ciosas, e em cada uma estava gravado o nome de uma das tribos de Israel (Êx 28:15-29). Como o sacerdote, Paulo trazia o povo junto ao coração em amor. Talvez a maior comunhão cristã e alegria que podemos ex­perimentar nesta vida encontre-se diante do trono da graça, ao orarmos uns com os ou­tros e uns pelos outros.

Vê-se aqui uma oração pedindo maturi­dade, e Paulo começa com o amor. Afinal, se o amor cristão se desenvolver corretamente, o resto será consequência. O apóstolo pede que os filipenses experimentem amor abundante e discernente. O amor cristão não é cego! O coração e a mente trabalham jun­tos para que se tenha amor discernente e discernimento amoroso. Paulo deseja que seus amigos cresçam em discernimento, ou seja, na capacidade de "fazer distinção en­tre coisas diferentes".

A capacidade de distinguir é um sinal de maturidade. Quando uma criança está aprendendo a falar, às vezes chama todo animal quadrúpede de "au-au". Mas, à me­dida que se desenvolve, descobre que exis­tem gatos, ratos, vacas e outras criaturas quadrúpedes. Para uma criança, todos os carros são iguais, mas com certeza não é o caso para o adolescente aficionado por au­tomóveis! Ele é capaz de identificar as di­ferenças entre os modelos antes mesmo de seus pais conseguirem distinguir a marca. O amor discernente é um dos sinais inequívo­cos de maturidade.

Paulo também ora pedindo que tenham um caráter cristão maduro e que sejam "sinceros e inculpáveis". O termo grego traduzido por ''sinceros" pode ter vários significados. Alguns o traduzem por "testa­do à luz do sol". O cristão sincero não tem medo de ser exposto à luz.

O vocábulo correspondente a sincero também significa "girar em uma peneira", o que sugere a ideia de separar a palha do trigo. Em ambos os casos, a verdade é a mesma: Paulo ora para que seus amigos te­nham um caráter que possa ser testado e aprovado. Na língua portuguesa, o adjetivo "sincero" vem do latim sinceru, que signifi­ca "sem mistura, não adulterado, puro".

Paulo ora por eles para que tenham amor e caráter cristão maduros, "inculpáveis para o Dia de Cristo" (Fp 1:10) Isso significa que a vida não deve ser mo­tivo de tropeço para outros e que estamos preparados para o tribunal de Cristo em sua volta.

 

2.2. Paulo dependia da oração

Deus é Todo Poderoso e imutável, portanto, não se enfraquece com o tempo, mesmo assim, Ele escolheu trabalhar através das orações dos crentes. Assim, quanto maior número de pessoas que estiverem orando, tanto mais ele vai liberar o seu poder sobre o seu povo contra o pecado e contra o mal. A oração não deve ser um meio de promoção pessoal e sim do Reino. Para o Senhor Jesus, o combate em oração é uma verdadeira campanha de guerra, a guerra pela paz que se estabelece com a total dependência de Deus.

 

2.3.  Paulo e a intercessão de seus discípulos

Não foram poucos os homens de Deus que tinham uma cobertura de oração. Essa cobertura é de suma importância para a vida ministerial, e Paulo compreendia muito bem que com ela poderia avançar mais e mais. Paulo servia e orava pelos outros, mas era humilde o suficiente para lhes pedir que orassem por ele também, a fim de desempenhar sem impedimento o seu ministério. Curiosamente ele pede aos romanos que se juntem a ele num combate de intercessão por um grande desafio que estava prestes a enfrentar (Rm 15.30); também aos efésios. pede que intercedam por ele para que tenha ousadia na comunicação do evangelho (Ef 6.19).

Rm 15.30 - Recomendo-lhes, irmãos, por nosso Senhor Jesus Cristo e pelo amor do Espírito, que se unam a mim em minha luta, orando a Deus em meu favor.

No mesmo instante, porém, o apóstolo é novamente alcançado pelo presente cheio de preocupações, a partida para Jerusalém. A sua segunda intenção está ligada a essa situação: orem por mim! Nitidamente, esse pedido é mais que simples rotina em finais de cartas. Ele praticamente conjura os romanos, exorta-os por tudo que lhes é sagrado: Rogo-vos, pois, irmãos, por nosso Senhor Jesus Cristo e também pelo amor do Espírito, que luteis juntamente comigo nas orações a Deus a meu favor. Apesar de o conhecerem somente à distância, apesar de que, conforme Rm 3.8 e 16.17, também estão expostos à irradiação da propaganda adversa, Paulo parte do pressuposto de que esse grande escrito lhe proporcionou crédito em Roma. É esse saldo disponível que ele aciona agora. Pressiona-os a se decidirem: façam um pacto de luta comigo, deem-me cobertura seguramente diante de pessoas, mas até perante a instância máxima, perante Deus! Talvez seja estranha para nós essa luta com Deus em oração, porém ela é inerente à profundidade bíblica da oração.

Nesses dias em que a aprovação de. leis no congresso brasileiro bombardeia a família e a moral e enfraquece a nossa nação, que, embora seja considerada laica, é na verdade cristã, precisamos realizar cruzadas de oração pública levantando mãos abençoadoras em, nossa nação. É necessário fazer passeatas, lutar no congresso liberando uma influência espiritual e social. Mas, acima de tudo, devemos orar, pois apenas Deus pode trazer o seu reino aos corações dos homens. Sem Cristo nada podemos fazer.

 

 

  1. Ensinos de Paulo sobre a oração

Os dois maiores mestres da oração no Novo Testamento, em se tratando de volume de ensino; são o Senhor Jesus e o apóstolo Paulo. Porém devemos lembrar que Paulo era um imitador do Jesus terreno em todos os aspectos, incluindo o da oração também.

 

3.1. Perseverança (1Ts 5.17)

Paulo recomendou sempre oportunamente a oração perseverante às comunidades cristãs. Embora a comunicação, entre os seres humanos, seja fácil, devemos reconhecer que, para a maioria esmagadora dos homens e mulheres crentes comuns, não é um exercício espiritual fácil. Mas precisamos intensamente orar, e era por isso, que Paulo sempre recomendava em suas cartas como fez. Aos Romanos escreveu, “perseverai na oração” (Rm 12.12); embora não haja nenhuma recomendação expressa quanto à oração nas cartas aos Coríntios, ele se coloca como um exemplo de oração perseverante numa causa pessoal (2Co 12.8); já para os efésios recomenda que orem “em todo tempo no Espírito” (Ef 6.18); enquanto que aos irmãos de colossos disse: “perseverai na oração com ações de graças” (Cl 4.2). Aos amáveis irmãos filipenses ele insistiu que não andassem ansiosos, e que suas orações fossem conhecidas por Deus (Fp 4.6); e finalmente aos tessalonicenses escreveu: “orai sem cessar” (lTs 5.17).

lTs 5.17 - Orem continuamente.

A oração era uma prá­tica importante na Igreja primitiva (1 Co 11:1-6; At 1:13,14; 4:23ss). As reuniões de oração das congregações eram uma experiência sublime e sagrada. Hoje em dia, pede-se que alguém "nos dirija em oração" sem sequer fazer ideia se essa pessoa está em comu­nhão com Deus. Em algumas igrejas, há duas ou três pessoas que monopolizam as reu­niões de oração. Se formos dirigidos pelo Espírito (Jd 20), faremos nossas orações em união e com liberdade, e Deus responderá. "Orai sem cessar" não significa estar sempre sussurrando orações. O termo tradu­zido por "sem cessar" não significa fazer continuamente, mas sim "voltar a fazer cons­tantemente". Devemos manter conexão per­manentemente ativa com Deus, de modo que nossa oração faça parte de uma longa conversa sem interrupções. Deus conhece os desejos do coração (SI 37:4) e responde mesmo quando estamos em silêncio. Ver os Salmos 10:17 e 21:2.

 

3.2. Intensidade (Ef 6.18)

Ao escrever à igreja de Éfeso, Paulo se encontrava preso em Roma numa prisão domiciliar algemado a um soldado romano para que não fugisse. Aqueles homens deveriam estar sempre atentos a pessoa de Paulo. Mas Paulo estava atento a eles também. Em algum momento, ao ver a imagem duma armadura de guerra que revestia um soldado, esta surgiu diante dele como um traje de guerra espiritual. Ele se lembrou de Isaías 59.16-17 que reporta profeticamente o Messias revestido em sua armadura para o momento da vingança no fim dos tempos. E assim, Paulo orientou os crentes a se revestirem de toda a armadura espiritual, o Senhor Jesus, no combate contra o mal através da oração. Do mesmo modo que uma batalha requer atenção total e intensidade, de tal maneira deve ser a intercessão do crente para estabelecer o reino de justiça aqui na terra enquanto Jesus não vem: intensidade, fervor e ardor na oração.

Ef 6.18 - Orem no Espírito em todas as ocasiões, com toda oração e súplica; tendo isso em mente, estejam atentos e perseverem na oração por todos os santos.

Mesma referência escrita no tópico “1.3. Orando no Espírito”.

 

3.3. Abrangência (lTm 2.1)

Paulo tanto pede que se ore em favor de todos os crentes fervorosa e perseverantemente, como também recomenda a Timóteo que faça uma campanha de oração ininterrupta em favor de todos os homens, principalmente as autoridades. Percebemos que ao escrever a Timóteo a primeira carta que temos, ele pressentia a perseguição generalizada que estava por vir, no intento de tolir o crescimento da igreja. Então, é nesse momento que Paulo, um experiente guerreiro sugere uma ofensiva maciça contra as trevas que rege os reinos dos homens (lTm 2.1,8). Parafraseando o que ele disse, escrevemos: “antes de tudo, primeiro roguem a Deus insistentemente, orem, intercedam por todos os homens”.

lTm 2.1 - Antes de tudo, recomendo que se façam súplicas, orações, intercessões e ações de graças por todos os homens;

A primazia da oração (v. 1a). A expressão "Antes de tudo" indica que a oração é prio­ritária no culto público da igreja. E triste ver como a oração tem perdido a importância em muitas igrejas.

- Se eu avisar que vamos ter um jantar especial - disse um pastor, as pessoas com­parecem. Mas se eu avisar que vamos ter uma reunião de oração, fico feliz se os diá­conos vierem!

Não apenas as reuniões de oração per­deram espaço na maioria das igrejas locais, como também a oração nos cultos públicos tem sido deixada, cada vez mais, em segun­do plano. Muitos pastores passam mais tem­po dando avisos do que orando!

O falecido Peter Deyneka, fundador da organização Slawc Gospel Association, costumava lembrar: "Muita oração, muito poder! Nenhuma ora­ção, nenhum poder!".

Os membros da igreja preci­sam estar preparados para orar. Nosso cora­ção deve estar em ordem com Deus e uns com os outros. Devemos ter um desejo au­têntico de orar, não apenas para agradar as pessoas (como era o caso dos fariseus, Mt 6:5) ou para cumprir um dever religioso. Quando uma congregação deixa de depender da ora­ção, Deus deixa de abençoar seu ministério.

As várias formas de oração (v. 1b). Exis­tem pelo menos sete substantivos gregos para "oração", e quatro deles são usados nesta passagem. As súplicas dão a ideia de "apre­sentar um pedido por uma necessidade que sentimos".

Orações é o termo mais comum usado para essa atividade e enfatiza seu caráter sa­grado. Estamos orando para Deus; a oração é um ato de adoração, não apenas a expres­são de desejos e necessidades. Devemos nos dirigir a Deus com um coração reverente.

Uma tradução mais adequada para in­tercessões é "petições". Esse mesmo termo é traduzido por "oração" em 1 Timóteo 4:5, versículo em que se refere a abençoar os alimentos que ingerimos (é evidente que não intercedemos pelo alimento no sentido ha­bitual desse verbo). O significado básico é "aproximar-se de uma pessoa e conversar com ela confiantemente". Sugere que des­frutamos comunhão com Deus e, portanto, confiamos nele ao orar.

Por certo, as ações de graças fazem par­te da adoração e da oração. Não damos graças apenas pelas respostas às orações, mas também por quem Deus é e por aquilo que ele faz por nós em sua graça. Não se deve apenas acrescentar agradecimentos ao final de uma oração egoísta! As ações de graças são um ingrediente importante em todas as orações. Na verdade, há ocasiões em que devemos imitar Davi e apresentar a Deus somente ações de graças sem quais­quer pedidos! (ver SI 103).

As "petições, pela oração e pela súplica, com ações de graças" (Fp 4:6) fazem parte da fórmula de Paulo para ter a paz de Deus no coração. Convém observar que Daniel, o grande guerreiro de oração, orava dessa forma (Dn 6:10, 11).

Os assuntos de oração (w. 1c, 2). A ex­pressão "todos os homens" deixa claro que nenhuma pessoa na Terra está fora da esfe­ra de influência da oração feita com fé. (Em momento algum, a Bíblia exorta a orar pe­los mortos. Se fosse o caso, esta seção da carta a Timóteo seria ideal para Paulo indi­car tal necessidade.) Isso significa que deve­mos orar tanto pelos salvos quanto pelos não salvos: pelas pessoas próximas e também pelas que estão mais distantes de nós; pelos amigos e pelos inimigos. Infelizmente, os fariseus não tinham essa visão universal da oração, pois concentravam toda sua aten­ção em Israel.

Paulo insta a igreja a orar especificamen­te pelas autoridades. Na época, o perverso imperador Nero ocupava o trono, e, no en­tanto, os cristãos deveriam orar por ele! Mesmo quando não é possível respeitar ho­mens e mulheres em posições de autoridade, deve-se respeitar o cargo que ocupam e orar por tais pessoas. Na verdade, fazemos isso para nosso bem, "para que vivamos vida tran­quila e mansa, com toda piedade e respeito" (1 Tm 2:2b). A Igreja primitiva era alvo constante de oposição e perseguição, de modo que era sábio orarem pelas autorida­des. A vida "mansa" refere-se às circunstân­cias, enquanto a "tranquilidade" diz respeito a uma atitude interior de calma. O resultado deve ser uma vida piedosa e honrada.

É claro que Paulo não cita todas as pes­soas pelas quais podemos e devemos orar, pois "todos os homens" é suficientemente abrangente. Não é possível orar por todas as pessoas do mundo mencionando-as pelo nome, mas, sem dúvida, devemos orar pelos conhecidos e pelos que não conhecemos pessoalmente, mas que sabemos necessitar de oração. Por quê? Pois é algo bom e por­que agrada a Deus.

Estamos vivendo dias em que há uma busca pelo retomo ao paganismo. Na verdade, é um movimento novomas é muito atuante nestes últimos anos chamado pós-modernismo que traz em seu bojo dentre tantas coisas o movimento do arco-íris, isto é, movimento gay. Que se tem articulado e ganhado espaço com fins políticos. Em muitos lugares, está havendo uma onda de cristianofobia, em que muitos cristãos são tachados de homofóbicos, intolerantes, todavia, devemos entender que isso faz parte de uma articulação do mal que visa enfraquecer as famílias e igrejas como instituições que são os pilares da sociedade e da moral.

 

Conclusão

Um dos grandes segredos da sobrevivência de um grupamento, pelotão, ou do indivíduo em combate, é a comunicação com seu quartel general, de onde recebe instruções específicas, suprimentos e socorro em momentos cruciais. A oração é esse instrumento de comunicação com o nosso supremo general em meio às batalhas comuns do dia a dia.

 

 

 

Noções do pensamento escatológico de Paulo - Lição 12 - 23 de Dezembro de 2012

 

LIÇÃO 12 – 23 de Dezembro de 2012

 

Noções do pensamento escatológico de Paulo

 

TEXTO AUREO

 

“Ora, tudo isto lhes sobreveio como figuras, e estão escritas para aviso nosso, para quem já são chegados os fins dos séculos”. I Co 10.11

 

VERDADE APLICADA

 

A igreja precisa estar preparada para os tempos do fim, esperando a vinda do Senhor com muita intensidade, como se fosse a qualquer momento.

 

OBJETIVOS DA LIÇÃO

 

► Entender o sentido de pensamento escatológico para Paulo, que via presente e futuro simultaneamente;

► Compreender as bases que nortearam o pensamento escatológico paulino;

► Conhecer os principais temas da escatologia paulina.

 

TEXTOS DE REFERÊNCIA

 

lTs 4.14 – Porque, se cremos que Jesus morreu e ressuscitou, assim também aos que em Jesus dormem Deus os tornará a trazer com ele.

lTs 4.15 – Dizemo-vos, pois, isto pela palavra do Senhor: que nós, os que ficarmos vivos para a vinda do Senhor, não precederemos os que dormem.

lTs 4.16 – Porque o mesmo Senhor descerá do céu com alarido, e com voz de arcanjo, e com a trombeta de Deus; e os que morreram em Cristo ressuscitarão primeiro;

2Ts 4.17 – depois, nós, os que ficarmos vivos, seremos arrebatados juntamente com eles nas nuvens, a encontrar o Senhor nos ares, e assim estaremos sempre com o Senhor.

 

Introdução

Em seu ministério, Paulo se deparou com questões sérias dos crentes no que tange a escatologia, e ele se viu obrigado a responder-lhes; objetivamente através de suas correspondências. Questões como se o Senhor voltaria, ou o que aconteceria aos que morreram em Cristo. Com eloquência literária, o apóstolo respondeu a todas essas dúvidas.

 

  1. Fontes da escatologia de Paulo

Contrariamente do que podemos pensar, nos dias de Paulo, havia um mar turvo e variado de pensamentos correntes a respeito da escatologia. Contudo não havia uma escatologia tão elaborada com detalhes arrojados, expostos em mapas e termos como usamos hoje. Mesmo a visão escatológica de Paulo de presente e futuro se mesclavam simultaneamente, porque acreditava que o fim já era chegado. Agora quanto às fontes de seu pensamento consistia nos três itens abaixo, como veremos.

 

1.1. O Antigo Testamento

Devemos levar em conta que Paulo era fariseu e, como tal, usou muito do material do judaísmo que professou. Ao leitor, basta ter lido o A.T. e verá que Paulo escrevia suas cartas embasadas nele. Os escritos paulinos estão fartos de citações diretas e indiretas do A.T., nesse tempo as Escrituras Sagradas resumiam-se ao A.T., então, tanto Jesus, quanto Paulo, lançavam mão do material profético contido lá. Por exemplo, a expressão “o dia do Senhor” referindo-se a volta messiânica; o conceito de ressurreição dos mortos, encontrado em Daniel 12.2; o posicionamento quanto à pessoa do anticristo em 2Tessalonicenses também se trata de uma interpretação de Daniel, 7.8,25.

Daniel 12.2 – Multidões que dormem no pó da terra acordarão: uns para a vida eterna, outros para a vergonha, para o desprezo eterno.

A doutrina da res­surreição do corpo humano fica implícita no Antigo Testamento, mas não é apresentada com a clareza encontrada no Novo Testamento. Quando Abraão subiu ao monte Moriá para oferecer Isaque, creu que Deus podia ressuscitar seu filho dentre os mortos (Gn 22; Hb 11:19). Jó esperava ver Deus, uma vez que estivesse em seu corpo ressurreto (Jó 19:25-27), o que também era a es­perança dos escritores de Salmos (17:15; i 49:15; 71:20). Os profetas criam na ressur­reição futura (Is 25:7; Os 13:14). Jesus "trouxe à luz a vida e a imortalidade" (2 Tm 1:10) e ensinou claramente sobre sua própria res­surreição bem como sobre o significado da ressurreição para seus seguidores (Jo 5:19-30; 11:17-44). 1 Coríntios 15 é a principal passagem bíblica sobre a ressurreição.

Não se trata de uma "reconstrução"; o Senhor não reconstitui um corpo transfor­mado em pó (Gn .3:19), pois esse pó tornou-se parte de outros corpos, tendo em vista que as pessoas se alimentam de comi­das cultivadas no solo. O corpo ressurreto é novo e glorioso. A relação entre o corpo que é sepultado e o corpo que é ressuscita­do é a relação entre uma semente e a planta madura (1 Co 15:35-53). Há continuidade (a planta vem da semente), mas não identi­dade (a planta não é idêntica à semente). Sepultar um corpo é como plantar uma se­mente, sendo a ressurreição sua colheita.

Quando Jesus Cristo voltar nos ares para chamar sua Igreja, os mortos em Cristo se­rão ressuscitados primeiro e depois os cris­tãos vivos serão arrebatados para estar com o Senhor (1 Ts 4:13-18). Quando Jesus vol­tar à Terra no final da tribulação, trará seu povo com ele para participar de sua vitória e glória. Naquela ocasião, os santos do An­tigo Testamento e os mártires da tribulação serão ressuscitados para entrar no reino. Contudo, aqueles que morreram sem crer em Cristo só serão ressuscitados depois da era do reino (Ap 20:4-6, 11-15). De acordo com Daniel, alguns despertarão para desfru­tar a vida gloriosa com Deus e alguns des­pertarão (mil anos depois) para entrar no lugar de vergonha, desprezo e julgamento eternos. O inferno é chamado de "a segun­da morte" (Ap 20:14). Se você nasceu ape­nas uma vez, pode morrer duas vezes, mas se você nasceu duas vezes nasceu de novo pela fé em Cristo, só pode morrer uma vez.

 

 

1.2. Baseado na pessoa de Cristo

Jesus Cristo morreu e ressuscitou como demonstração do que ocorrerá com os cristãos universalmente que tiverem morrido. Na ótica de Paulo, Jesus Cristo é a primícia dos que dormem, como tal, a sua ressurreição tanto dá compreensão do que se realizará objetivamente aos crentes, quanto é a garantia de que tal fato ocorrerá com a igreja. Entretanto, a ressurreição é um acontecimento reservado ao futuro, isto é, quando entregar o reino ao seu Deus e Pai, depois que destruir todo poder oponente colocando os inimigos debaixo de seus pés (I Co 15.20-28). O tema da ressurreição não era novo, mas essa perspectiva através de Cristo segundo a ótica paulina sim.

Quando se dá a ressurreição dos mortos? (1 Co 15:20-28)

Paulo usa três imagens para responder a essa pergunta.

As primícias (vv. 20, 23). Observamos anteriormente essa referência à festa do Antigo Testamento (Lv 23:9-14). Como Cor­deiro de Deus, Jesus morreu na Páscoa. Como feixe das primícias, no primeiro dia da semana ressuscitou dentre os mortos, três dias depois de ser crucificado. Quando o sacerdote movia o feixe das primícias dian­te do Senhor, sinalizava que toda a colheita pertencia a ele. A ressurreição de Cristo foi a garantia de Deus a nós de que também seremos ressuscitados como parte da colhei­ta futura. Para os cristãos, a morte é apenas um "sono". O corpo dorme, mas a alma es­tá em seu lar com o Senhor (2 Co 5:1-8; Fp 1:21-23). Na ressurreição, o corpo será "des­pertado" e glorificado.

Adão (w. 21, 22). Paulo identificava em Adão um tipo de Jesus Cristo por meio de um contraste (ver também Rm 5:12-21). O primeiro Adão foi feito do pó da terra, mas o Último Adão (Cristo, 1 Co 15:45-47) veio do céu. O primeiro Adão desobedeceu a Deus e trouxe ao mundo o pecado e a mor­te, mas o Último Adão obedeceu ao Pai e trouxe justiça e vida.

O termo "ordem", em 1 Coríntios 15:23, refere-se originalmente a uma graduação militar. Deus determinou uma ordem, uma sequência para a ressurreição. Passagens como João 5:25-29 e Apocalipse 20 indicam que a Bíblia não ensina uma "ressurreição geral". Quando Jesus Cristo voltar nos ares, levará sua Igreja consigo para o céu; nessa oca­sião, ressuscitará dos mortos todos os que creram nele, foram salvos e faleceram quan­do viviam na fé (1 Ts 4:13-18). Jesus chama essa ocasião de "ressurreição da vida" (Jo 5:29). Quando Jesus voltar à Terra para jul­gá-la, os perdidos serão ressuscitados na "ressurreição do juízo" (Jo 5:29; Ap 20:11-15). Ninguém da primeira ressurreição se perderá, mas ninguém da segunda ressur­reição se salvará.

O reino (w. 24-28). Quando Jesus vier à Terra para julgar, eliminará o pecado por mil anos e estabelecerá seu reino (Ap 20:1-6). Os cristãos reinarão com ele e participa­rão de sua glória e autoridade. Os estudiosos das profecias chamam esse reino, profetiza­do no Antigo Testamento, de "milénio". O termo vem do latim: mille - mil, annum - ano.

No entanto, mesmo depois do milénio, haverá uma rebelião final contra Deus (Ap 20:7-10), da qual Jesus Cristo dará cabo com seu poder. Então, os perdidos serão ressus­citados, julgados e lançados no lago de fogo. A morte, em si, será lançada no inferno, e o último inimigo será destruído. Jesus Cristo terá colocado todas as coisas debaixo de seus pés! Em seguida, voltará para o reino do Pai e terá início o estado eterno, o novo céu e a nova Terra (Ap 21 - 22).

Mesmo os estudiosos mais competen­tes e piedosos da Palavra de Deus nem sem­pre apresentam um consenso quanto aos detalhes do cronograma profético de Deus, mas as verdades principais parecem claras. Jesus Cristo reina no céu hoje, e toda a au­toridade está "debaixo dos seus pés" (Sl110; Ef 1:15-23). Satanás e o ser humano ainda podem exercitar seu livre-arbítrio, mas é a soberania de Deus que está no controle. Hoje, Jesus Cristo está entronizado no céu (SI 2). A ressurreição dos salvos ainda não ocorreu, nem a ressurreição dos perdidos (2 Tm 2:17, 18).

Ninguém sabe quando Jesus Cristo vol­tará para buscar sua Igreja, mas quando isso acontecer, será "num momento, num abrir e fechar de olhos" (1 Co 15:52). Cabe a nós permanecer alertas (1 Jo 2:28 - 3:3).

 

1.3. Novas revelações de Cristo

Ao examinar os livros proféticos e demais livros do AT, não encontramos, em nenhuma parte, profecia alguma que mencione o arrebatamento da igreja, a transformação dos fiéis vivos e o recebimento de um corpo glorificado e imortal como Paulo apresenta em l Coríntios 15. Logicamente, trata-se de um segredo divino para o tempo da igreja não revelado aos profetas daquela época, e sim ao profeta Paulo. Todavia, encontramos no A.T., Enoque sendo tomado pelo Senhor (Gn 5.24); e Elias subindo ao céu num redemoinho (2 Reis 2.11). Na verdade, o rapto da igreja continua sendo um segredo, principalmente para o mundo sem Cristo.

Gn 5.24 – Enoque andou com Deus; e já não foi encontrado, pois Deus o havia arrebatado.

A expressão melancólica "e morreu" não se aplica a Enoque, pois ele é um dos dois homens das Escrituras que não morreram. Tanto Enoque quanto Elias foram levados para o céu ainda vivos (2 Rs 2:1-11). Alguns estudiosos veem nesse "arrebatamento" de Enoque antes do dilúvio um retrato da igreja sendo levada para o céu antes da tribulação que Deus enviará sobre a Terra (1 Ts 4:13 -5:11).

Enoque foi levado ao céu "pela fé' (Hb 11:5). Ele creu em Deus, andou com Deus e foi para junto de Deus - um exemplo a ser seguido por todos nós. Imagine como deve ter sido difícil andar com Deus durante aqueles anos que antecederam o dilúvio, quando a libertinagem e a violência preva­leciam e apenas um remanescente cria em Deus (Gn 6:5). Mas a vida de fé de Enoque não era desenvolvida apenas em devoção particular, pois ele anunciou com ousadia que Deus viria para julgar o mundo por seus pecados (Jd 14,15). O julgamento do diluvio veio no tempo de Enoque; porém, o julga­mento que ele estava anunciando ocorrerá quando Jesus Cristo voltar, liderando os exér­citos dos céus e condenando Satanás e suas hostes (Ap 19:1 ss). A vida e o testemunho de Enoque nos lembram de que é possível ser fiel a Deus em meio a uma “geração per­vertida e corrupta” (Fp 2:15). Não importa quão tenebroso seja nosso tempo ou quão terríveis as notícias, pois temos a promessa da volta de nosso Senhor para nos encorajar e motivar a ser piedosos. Um dia, o pecado será julgado, e o povo de Deus será recompensado por sua fidelidade. Assim, temos todo motivo para nos encher de coragem em nossa caminhada com Deus.

O conceito de Paulo como profeta no Novo Testamento existe, mas essa ideia não é largamente trabalhada. Ao vermos o seu trabalho com Barnabé ele é conceituado como profeta e mestre, estando entre outros com a finalidade de edificação da igreja local (At 13.1). Bem mais tarde, porém, Paulo é obrigado a dar respostas escatológicas que vão além da interpretação do Antigo Testamento. Ele precisa de nova revelação vinda diretamente de Cristo para trazer à igreja. Porém, a sua visão apocalíptica não então em choque com os demais escritos do N.T., mas se completam.

 

  1. Escatologia subjetiva

Diz respeito ao individuo. Estuda a morte, o estado intermediário, a ressurreição, os julgamentos de Deus, o destino dos salvos e ímpios, o estado eterno e etc. Mas aqui vamos tratar apenas de alguns temas conforme abaixo:

 

2.1. A certeza da volta do Senhor

A vinda de Jesus para Paulo é uma certeza tão real, quanto o encontro que com Ele teve em Damasco. A palavra vinda “parousia” significa tanto vinda quanto presença. Era aplicada inicialmente pelos gregos para indicar a chegada de um rei ou governador a uma cidade, quando preparativos eram feitos para esse evento. William Barclay chega a dizer que uma nova era, era datada a partir da chegada daquele imperador. Embora essa palavra fosse comum nos dias de Paulo, ela não tinha perdido esse sentido de chegada real. E Paulo ao escrever aos tessalonicenses refere-se a eles como alegria e coroa “na presença de nosso Senhor em sua vinda” (lTs 2.19). Mas referindo-se a “parousia” de Jesus ele escreve também (lTs 3.13; 4.15; 5.23; 2Ts 2.1,8,9).

lTs 3.13 - Que ele fortaleça o coração de vocês para serem irrepreensíveis em santidade diante de

nosso Deus e Pai, na vinda de nosso Senhor Jesus com todos os seus santos.

Paulo ora pedindo santidade de vida (1 Ts 3:13). Mais uma vez, é a volta de Jesus Cristo que motiva o cristão a viver em santidade. A volta de nosso Se­nhor também é uma fonte de estabilidade para a vida cristã. Onde há estabilidade po­de haver santidade; e onde há santidade há segurança. As duas coisas andam juntas.

Paulo terminou 1 Tessalonicenses 2 com uma referência ao lugar dos santos na volta de Cristo e encerra esse capítulo da mesma forma. Ora para que os convertidos se apre­sentem irrepreensíveis e santos diante de Deus na volta de Cristo. Uma vez que todos os cristãos serão transformados de modo a se tornarem semelhantes a Cristo quando ele voltar (1 Jo 3:2), Paulo não pode estar se referindo a nossa condição pessoal no céu. Antes, está falando da vida dos santos aqui na Terra, a qual será examinada no tribunal de Cristo. Em momento algum seremos con­frontados com nossos pecados no céu, pois não são mais lembrados (Rm 8:1; Hb 10:14-18).

Mas nossas obras serão provadas, e é impossível separar a conduta do caráter.

A oração de Paulo ensina a interceder não apenas pelos recém-convertidos, mas também por todos os cristãos. Devemos pe­dir que sua fé amadureça, que seu amor cres­ça e que seu caráter e conduta sejam santos e irrepreensíveis diante de Deus. "E a si mes­mo se purifica todo o que nele tem esta esperança, assim como ele é puro" (1 Jo 3:3).

Ao recapitular 1 Tessalonicenses 3, observa-se como é importante cuidar dos cris­tãos novos na fé. Não basta levar alguém a Cristo. Também se deve conduzir a pessoa ao longo da vida cristã e ajudá-la a se firmar. Se o recém-convertido não estiver firme na fé, será derrubado quando soprarem os ventos da perseguição. Se não conseguir per­manecer em pé, não será capaz de apren­der a andar.

O que fazer, então? Animá-lo e ficar ao lado dele até que amadureça. Podemos com­partilhar a Palavra de Deus e orar.

Paulo não se utiliza apenas da terminologia “vinda - parousia”, usa também revelação “apokalupsis em grego” para o mesmo ato. Isso porque o ato desta vinda também implicará numa aparição pública do Rei dos reis para o mundo nessa ocasião (ICo 1.7; 2Ts 1.7). De qualquer maneiradevemos encarar a vinda de Jesus não como uma hipótese, coisa esquecida ou impossibilidade, porque Ele voltará, para isso devemos estar preparados.

 

2.2. O estado intermediário

Entendemos, pelos escritos paulinos, que a morte é encarada positivamente, visto que ela não é punição para os cristãos, (Rm 8.1) Portanto, agora já não há condenação para os que estão em Cristo Jesus. Todavia a morte sempre será vista como uma inimiga de Deus, que será destruída na consumação dos séculos (ICo 15.24-26, 54,55) Então virá o fim, quando ele entregar o Reino a Deus, o Pai, depois de ter destruído todo domínio, autoridade e poder. Pois é necessário que ele reine até que todos os seus inimigos sejam postos debaixo de seus pés. O último inimigo a ser destruído é a morte. Os crentes não precisam ter medo de morrer, pois “nem mesmo a morte é capaz de separar o crente do amor de Deus” (Rm 8.39) nem altura nem profundidade, nem qualquer outra coisa na criação será capaz de nos separar do amor de Deus que está em Cristo Jesus, nosso Senhor. O que não diríamos da mesma forma para os descrentes e irreligiosos. Quando o fiel em Cristo morre, ele vai à presença de Cristo, Paulo se utiliza da expressão “partir e estar com Cristo” (Fp 1.23)Estou pressionado dos dois lados: desejo partir e estar com Cristo, o que é muito melhor; “deixar o corpo e habitar com o Senhor” (2Co 5.8) Temos, pois, confiança e preferimos estar ausentes do corpo e habitar com o Senhor. Ali eles permanecem até que estes “mortos em Cristo ressurjam” (lTs 4.16) Pois, dada a ordem, com a voz do arcanjo e o ressoar da trombeta de Deus, o próprio Senhor descerá dos céus, e os mortos em Cristo ressuscitarão primeiro. Não há menção de nenhum sono da alma ou purgatório com estado intermediário nos ensinos paulinos e na Bíblia, que são doutrinas de origem grega e não cristã.

 

2.3.  A ressurreição dos mortos e arrebatamento dos vivos

Algumas dúvidas entre os crentes foram cruéis, principalmente no que respeita a ressurreição dos mortos, tanto para os coríntios, quanto para os tessalonicenses. Os coríntios não estavam certos se haveria ressurreição e havia entre eles aqueles que, embora professassem a fé em Cristo, estranhamente não criam nisso à semelhança dos saduceus. Por isso Paulo lhes mostra que a razão da nossa fé é a ressurreição de Cristo. É com base nela que os mortos em Cristo ressuscitarão e receberão um novo corpo espiritual glorificado, enquanto que os vivos serão transformados nesse momento (ICo 15.50-58) Irmãos, eu lhes declaro que carne e sangue não podem herdar o Reino de Deus, nem o que é perecível pode herdar o imperecível. Eis que eu lhes digo um mistério: Nem todos dormiremos, mas todos seremos transformados, num momento, num abrir e fechar de olhos, ao som da última trombeta. Pois a trombeta soará, os mortos ressuscitarão incorruptíveis e nós seremos transformados. Pois é necessário que aquilo que é corruptível se revista de incorruptibilidade, e aquilo que é mortal, se revista de imortalidade. Quando, porém, o que é corruptível se revestir de incorruptibilidade, e o que é mortal, de imortalidade, então se cumprirá a palavra que está escrita: “A morte foi destruída pela vitória”. “Onde está, ó morte, a sua vitória? Onde está, ó morte, o seu aguilhão?”. O aguilhão da morte é o pecado, e a força do pecado é a Lei. Mas graças a Deus, que nos dá a vitória por meio de nosso Senhor Jesus Cristo. Portanto, meus amados irmãos, mantenham-se firmes, e que nada os abale. Sejam sempre dedicados à obra do Senhor, pois vocês sabem que, no Senhor, o trabalho de vocês não será inútil. Já os irmãos tessalonicenses tinham facilidade em crer, mas não sabiam o que aconteceria com os mortos no Senhor na sua vinda. Então, Paulo lhes esclarece que eles ressuscitarão primeiro, enquanto que os vivos serão arrebatados a encontrar com o Senhor nos ares, para estar para sempre com Ele (lTs 4.16-17) Pois, dada a ordem, com a voz do arcanjo e o ressoar da trombeta de Deus, o próprio Senhor descerá dos céus, e os mortos em Cristo ressuscitarão primeiro. Depois nós, os que estivermos vivos seremos arrebatados com eles nas nuvens, para o encontro com o Senhor nos ares. E assim estaremos com o Senhor para sempre.

Como vimos, a escatologia subjetiva, trata do destino do indivíduo. Muitos que entraram na fileira do cristianismo, fizeram-no porque a sua mensagem é seguramente de esperança quanto ao porvir. O fato de a ressurreição de Jesus de Nazaré, com suas testemunhas, e depois acompanhadas de sinais e maravilhas, ser uma confirmação presente da identidade messiânica do Mestre de Nazaré, bem como uma comprovação de que ele ressuscitara. O grande pavor dos tessalonicenses era Jesus voltar para reinar, e os irmãos e parentes mortos não participarem do reino de Deus.

 

  1. Escatologia objetiva

O assunto da escatologia objetiva paulina é variado, aqui exporemos apenas alguns tópicos que consideramos principais. Quando tratamos da escatologia objetiva, falamos daquilo que vale para toda a igreja. Mesmo ao comentar acerca de Israel, falamos do ponto de vista eclesiástico abordado por Paulo, é claro.

 

3.1. O surgimento do anticristo

Este é um evento de caráter universal que está relacionado à “vinda do Senhor, a nossa reunião com Ele, e o dia do Senhor” (2Ts 2.1,2) Irmãos, quanto à vinda de nosso Senhor Jesus Cristo e à nossa reunião com ele, rogamos a vocês que não se deixem abalar nem alarmar tão facilmente, quer por profecia a, quer por palavra, quer por carta supostamente vinda de nós, como se o dia do Senhor já tivesse chegado. Paulo ensina sobre dois tipos de manifestações, a “do homem do pecado e filho da iniquidade”, que se revelará em ocasião própria, o qual se levanta e opõe-se contra tudo que se chama Deus; e também a manifestação do Senhor Jesus, e como ela destruirá o iníquo através do sopro de sua boca. Notem que a epifania do anticristo será precedida por um ambiente preparatório que envolverá a parte da igreja visível de Cristo, que dele se afastará de muitas maneiras e completamente (2Ts 2.3)  Não deixem que ninguém os engane de modo algum. Antes daquele dia virá a apostasia e, então, será revelado o homem do pecado, o filho da perdição.

O mundo, nessa ocasião, será assolado com uma multiplicação da iniquidade sem precedentes, em que os homens não acolherão o amor ã verdade, e sim, o amor ao erro, mentira, e o deleite com a injustiça. Amados irmãos, isso é seriíssimo. Devemos vigiar, pois em nenhum outro tempo na história encontramos isso depois da primeira vinda de nosso Senhor.

 

3.2. A revelação e epifania

Este é o auge da história bíblica e o ápice da escatologia paulina, a revelação (apoka-lupsis) do Senhor Jesus Cristo (ICo 1.7) de modo que não lhes falta nenhum dom espiritual, enquanto vocês esperam que o nosso Senhor Jesus Cristo seja revelado. O seu sentido é que Ele se revelará publicamente ao mundo na sua vinda. Quer dizer, que o Rei da glória que está escondido, como um segredo sairá de seu palácio celestial e apresentar-se-á em toda a sua majestade e poder, destruindo o poder vigente (2Ts 2.8) Então será revelado o perverso, a quem o Senhor Jesus matará com o sopro de sua boca e destruirá pela manifestação de sua vinda, mas com verdade, justiça e juízo estabelecerá o seu reino visível. Quanto à manifestação (epifania) do Senhor Jesus nessa ocasião, o obreiro do Senhor bem como todo o crente, deve aguardar, segundo a ótica de Paulo, esse momento com uma vida imaculada e irrepreensível (lTm 6.14) Guarde este mandamento imaculado e irrepreensível, até a manifestação de nosso Senhor Jesus Cristo, pois, conforme Paulo, Cristo Jesus julgará os vivos e os mortos pela sua manifestação e pelo seu reino, por isso, o obreiro do Senhor deve esmerar-se no trabalho da exposição da sua Palavra (2Tm 4.1-2)Na presença de Deus e de Cristo Jesus, que há de julgar os vivos e os mortos por sua manifestação e por seu Reino, eu o exorto solenemente: Pregue a palavra, esteja preparado a tempo e fora de tempo, repreenda, corrija, exorte com toda a paciência e doutrina.

 

3.3. Tempos de restauração de Israel

Devemos lembrar que Paulo pregava nas sinagogas aos sábados, e seu público era de judeus e gentios piedosos que as frequentavam. Todavia o seu alvo em mira eram os gentios, posto que estes tivessem dificuldades com relação à circuncisão e demais ritos. Como seu trabalho teve grande êxito e mesmo em Roma a presença judaica na igreja era bem inferior, havia sérios questionamentos a respeito do que a eles sucederia, visto que por essa época em Roma, talvez em todo mundo cristão, não tinha mais esperança que todos eles se convertessem. Paulo, melancolicamente, escreve dando-lhes uma série de respostas, mas principalmente que a rejeição deles não era definitiva (Rm 11.1-15)

1 Digo, pois: porventura, rejeitou Deus o seu povo? De modo nenhum! Porque também eu sou israelita, da descendência de Abraão, da tribo de Benjamim.

2 Deus não rejeitou o seu povo, que antes conheceu. Ou não sabeis o que a Escritura diz de Elias, como fala a Deus contra Israel, dizendo:

3 Senhor, mataram os teus profetas e derribaram os teus altares; e só eu fiquei, e buscam a minha alma?

4 Mas que lhe diz a resposta divina? Reservei para mim sete mil varões, que não dobraram os joelhos diante de Baal.

5 Assim, pois, também agora neste tempo ficou um resto, segundo a eleição da graça.

6 Mas, se é por graça, já não é pelas obras; de outra maneira, a graça já não é graça.

7 Pois quê? O que Israel buscava não o alcançou; mas os eleitos o alcançaram, e os outros foram endurecidos.

8 Como está escrito: Deus lhes deu espírito de profundo sono: olhos para não verem e ouvidos para não ouvirem, até ao dia de hoje.

9 E Davi diz: Torne-se-lhes a sua mesa em laço, e em armadilha, e em tropeço, por sua retribuição;

10 escureçam-se-lhes os olhos para não verem, e encurvem-se-lhes continuamente as costas.

11 Digo, pois: porventura, tropeçaram, para que caíssem? De modo nenhum! Mas, pela sua queda, veio a salvação aos gentios, para os incitar à emulação.

12 E, se a sua queda é a riqueza do mundo, e a sua diminuição, a riqueza dos gentios, quanto mais a sua plenitude!

13 Porque convosco falo, gentios, que, enquanto for apóstolo dos gentios, glorificarei o meu ministério;

14 para ver se de alguma maneira posso incitar à emulação os da minha carne e salvar nalguns deles.

15 Porque, se a sua rejeição é a reconciliação do mundo, qual será a sua admissão, senão a vida dentre os mortos?

Todavia, à parte da teologia paulina, entendemos que na vinda do Senhor, apenas sobreviverão os judeus que de fato estiverem esperando o Messias Jesus.

 

Conclusão

A escatologia, em Paulo, gera muitas discussões. Todavia precisamos conhecer mais profundamente o seu pensamento como profeta da igreja. Aguardando, com viva esperança, o retorno de Jesus. Pois, na verdade, nada falta para que Ele volte, senão que Ele isso faça a seu tempo. Aguardemos então, maranata!

 

 

 

Paulo e a relevância de suas cartas - Lição 13 – 30 de Dezembro de 2012

 

LIÇÃO 13 – 30 de Dezembro de 2012

 

Paulo e a relevância de suas cartas

 

TEXTO AUREO

 

“Pelo Senhor vos conjuro que esta epístola seja lida a todos os santos irmãos”. lTs 5.27

 

VERDADE APLICADA

 

Uma obra feita por um coração sincero e dedicado a Deus resiste ao tempo, às provações, e permanece para sempre na história.

 

OBJETIVOS DA LIÇÃO

 

► Mostrar a importância das cartas de Paulo;

► Ensinar o propósito de Paulo através das suas cartas;

► Verificar os níveis de influência da correspondência paulina.

 

TEXTOS DE REFERÊNCIA

 

2Ts 2.15 – Então, irmãos, estai firmes e retende as tradições que vos foram ensinadas, seja por palavra, seja por epístola nossa.

2Ts 2.16 – E o próprio nosso Senhor Jesus Cristo e nosso Deus e Pai, que nos amou, e em graça nos deu uma eterna consolação e boa esperança,

2Ts 3.14 – Mas, se alguém não obedecer à nossa palavra por esta carta, notai o tal, e não vos mistureis com ele, para que se envergonhe.

2Ts 3.15 – Todavia não o tenhais como inimigo, mas admoestai-o como irmão.

2Ts 3.16 – Ora, o mesmo Senhor da paz vos dê sempre paz de toda a maneira. O Senhor seja com todos vós.

 

Introdução

As cartas de Paulo são notáveis, pois respondem às questões de sua época, e a situações dos dias atuais. Suas epístolas são influentes, mantendo a igreja sempre firme e constante na obra do Senhor e em sua, difícil, mas compensadora peregrinação rumo ao céu. De modo mui excelente, seus textos são importantes e fundamentais para a consolidação do cristianismo.

 

  1. A importância da correspondência paulina

O Cristo revelado a Paulo se tornou a sua mensagem de vida, quer ensinada de maneira verbal ou escrita. Aproveitando-se das facilidades oferecidas pela administração do Império Romano, no tocante ao envio da correspondência e à relativa segurança nas estradas.

 

1.1. Um grande volume

As várias neo-igrejas espalhadas pelo Império não podiam contar com a presença física de Paulo, embora os destinatários sempre gostassem das cartas, preferiam a palavra verbalizada. Em virtude das necessidades locais, um bom volume de cartas foi produzido. Paulo tanto recebeu quanto enviou cartas, mas, para a nossa perda, nenhuma das cartas que recebeu, chegou até nós. Dos 27 livros do Novo Testamento, 13 são da autoria de Paulo, um embora seja o seu estilo, não se pode atribuir com certeza a ele, que é a Carta aos Hebreus, e o Livro de Atos foi escrito sob a sua influência. Já imaginou se Paulo fosse vivo hoje com telefone, fax e internet, como seria o volume de sua correspondência?

 

 

1.2. Paulo escreveu respondendo às situações

Atualmente, há aqueles que escrevem capítulo de um determinado assunto numa revista ou jornal, e depois, transformam aquele conteúdo em um livro. Não se deve imaginar que Paulo idealizou uma estratégia de elaboração assim. Na época de Paulo, havia um modelo de carta iniciada com a indicação do destinatário, seguida de saudação e com uma mensagem em tomo de 90 palavras. Todavia, as cartas paulinas não se ajustam a esse modelo. Elas eram de fato cartas particulares, mas endereçadas a comunidades que precisavam de fortalecimento e orientação específica, cujo teor era para ser exposto publicamente na assembleia local. Tais cartas eram mais parecidas com um tipo de “cartas abertas”, essas “eram escritas para informar o público acerca de certos itens dignos de nota”.

 

1.3. Notabilidade de suas cartas

Da conversão de Paulo a Cristo até a sua primeira carta escrita levaram vários anos, logo ele estava maduro o suficiente para tratar de questões peculiares a igreja local com profundidade. A sua primeira Carta que temos em mãos e que se sabe é Gálatas, a data mais remota possível e provável de sua autoria é de 48 d.C., levando-se em conta o primeiro Concílio em Jerusalém, evidentemente ela foi escrita após esse evento. Possivelmente, a última foi 2a Timóteo, pouco antes de sua morte entre 62-65 d.C. Grande foi a notabilidade delas visto que refletiam o cuidado pastoral através das instruções que as igrejas precisavam na ausência do apóstolo, mas também refletiam o seu carinho por elas.

Aquele antigo ditado: “a pena é mais poderosa que a voz” neste estudo, ganha pleno sentido, isso porque, com o tempo, as palavras são facilmente esquecidas, mas o que se escreve sobrevive ao tempo. A escrita é um poderoso instrumento para a comunicação nas atividades eclesiásticas: um pastor visita uma família, mas ao chegar lá, não vendo ninguém, deixa um cartão de visitas ou papel escrito dizendo: “estive aqui dia tal, há tantas horas”. Quando os irmãos chegam, sentem-se honrados e satisfeitos com o cuidado pastoral, embora tenham se desencontrado. Aqueles que estão distantes podem receber o cuidado por meio de cartas pelos modernos serviços dos Correios, e os que têm acesso aos email com mensagens, etc.

 

  1. Alguns detalhes da correspondência paulina

Desde a invenção da escrita pelos sumérios a mais de 4.000 anos a.C., ela tem sido um poderoso aliado na promoção da vontade de Deus entre os seres humanos. Lembremos que os dez mandamentos foram escritos empedra pelo dedo de Deus, para que ficasse para a posteridade. Paulo reconhecendo o valor da palavra escrita tratou de escrever o que pôde para ajudar às igrejas.

 

2.1. O que Paulo escreveu e chegou até nós

Por que será que o que Paulo escreveu perdurou a ponto de chegar a nossos dias? Evidentemente, houve uma série de cuidados que proporcionaram isso com o passar dos séculos, o cuidado no manuseio dos escritos, as cópias feitas pelos amanuenses e sua proteção em tempos de perseguição, de maneira que temos a palavra de Paulo conosco hoje. O seu assunto nas suas Cartas pode ser resumido com uma palavra - Cristo. E esse foi o grande segredo naquele primeiro momento das jovens comunidades cristãs espalhadas pelo Império afora, quer dizer, Paulo escreveu assunto de interesse deles e permanente, “a salvação”, que envolve o reinar em vida no tempo presente e a eternidade com Cristo no porvir. Ninguém melhor do que Paulo, o fundador dessas igrejas, para responder a questões tão cruciais que se repetem pelos séculos.

 

2.2. De Paulo às igrejas e as igrejas entre si

Paulo enviava suas cartas para a leitura pública nas reuniões da comunidade cristã local, era uma ordem expressa dele com toda a sua autoridade apostólica. As cartas paulinas tinham função instrutiva, mas era também uma forma dele se fazer presente pela palavra escrita, receber as correspondências delas, e desenvolver uma tradição cristã local (ITs 5.27 Diante do Senhor, encarrego vocês de lerem esta carta a todos os irmãos.; 2Ts 3.6 Irmãos, em nome do nosso Senhor Jesus Cristo nós lhes ordenamos que se afastem de todo irmão que vive ociosamente a e não conforme a tradição que vocês receberam de nós.). Em certa altura de seu ministério, chegou uma época que o próprio Paulo ordenou uma leitura alternada das suas cartas entre algumas igrejas. Por exemplo, a leitura da carta enviada à igreja de Colossos, pediu que a enviasse para leitura na igreja em Laodicéia, e que a carta de Laodicéia fosse lida na igreja de Colossos, ou seja, que houvesse uma alternância. Percebe-se com isso que Paulo tinha em mente criar e desenvolver uma tradição cristã, caso alguém não obedecesse, deveria ser advertido (Cl 4.16 Depois que esta carta for lida entre vocês, façam que também seja lida na igreja dos laodicenses, e que vocês igualmente leiam a carta de Laodicéia.; 2Ts 3.14-15 Se alguém desobedecer ao que dizemos nesta carta, marquem-no e não se associem com ele, para que se sinta envergonhado; contudo, não o considerem como inimigo, mas chamem a atenção dele como irmão.).

 

2.3. Algumas características das cartas paulinas

O que determina as certas características nas cartas de Paulo é a necessidade de seus destinatários. Sempre em grego koiné o seu linguajar, dependendo do assunto, obviamente o tom de Paulo pode ser afetuoso, triste, imperial ou vitorioso. Porém, sempre quando escreve sua doutrina, escreve embasando-se no Antigo Testamento, sem deixar de se contextualizar com a época em que vive. Paulo também retira ilustrações do comércio de escravos que conhecia, para falar sobre compra e resgate do Senhor Jesus em relação aos fiéis. Utiliza-se de figuras de soldados, atletas e até parada militar. Escreve com base nas tradições militares romanas. Há momentos de abatimento nas suas cartas, narrativas de experiências pessoais, mas também de poesias e cânticos em vários lugares (ICo 13; Fp 2.5-11 Seja a atitude de vocês a mesma de Cristo Jesus, que, embora sendo Deus a, não considerou que o ser igual a Deus era algo a que devia apegar-se; mas esvaziou-se a si mesmo, vindo a ser servo, tornando-se semelhante aos homens. E, sendo encontrado em forma humana, humilhou-se a si mesmo e foi obediente até a morte, e morte de cruz! Por isso Deus o exaltou à mais alta posição e lhe deu o nome que está acima de todo nome, para que ao nome de Jesus se dobre todo joelho, nos céus, na terra e debaixo da terra, e toda língua confesse que Jesus Cristo é o Senhor, para a glória de Deus Pai.).

Devemos lembrar sempre do lado prático plenamente incrustado no ‘'corpus paulinum”, sem deixar de ser profundo como um oceano. Ou seja, a correspondência de Paulo se equilibra sobre dois poios: da profundidade de pensamento teológico, sem, contudo, deixar de ser prático. Assim, semelhantemente, devemos buscar esse equilíbrio na vida entre a teoria e prática, a teologia e a devoção fervorosa, Karl Barth certa vez afirmou: “teologia sem oração não é teologia”.

 

  1. Correspondência paulina e sua influência

Paulo colocou os seus dons e capacidades a serviço do Mestre, e utilizou-se eficientemente deles para a propagação das boas novas do reino através dos séculos. Sem qualquer exagero, o cristianismo cresceu e se consolidou através da influência de sua pessoa e de suas cartas preservadas.

 

3.1. Sua influência sobre outros Escritores

O fluxo da influência da correspondência paulina (Corpus paulinum) foi algo que começou como um grande rio, de forma pequena e constante. As igrejas por Paulo fundadas são as primeiras a usufruírem dela, tempos depois, outros autores como Pedro, Tiago, Judas e João entraram em cena. Mesmo os evangelhos, curiosamente foram escritos depois dos escritos de Paulo. Pedro faz comentário positivo às cartas de Paulo (2Pe 3.15,16 Tenham em mente que a paciência de nosso Senhor significa salvação, como também o nosso amado irmão Paulo lhes escreveu, com a sabedoria que Deus lhe deu. Ele escreve da mesma forma em todas as suas cartas, falando nelas destes assuntos. Suas cartas contêm algumas coisas difíceis de entender, as quais os ignorantes e instáveis torcem, como também o fazem com as demais Escrituras, para a própria destruição deles.); Tiago explica o lado prático que se deve acompanhar a justificação, pois não existe fé sem atitudes, e qualquer leitor das cartas paulinas entende perfeitamente que se trata de uma alusão indireta à doutrina da justificação em Paulo, quando escreveu a Carta aos Romanos.

 

3.2. Sua influência na igreja primitiva

A influência do corpus paulinum atravessava os tempos e muitos sentiam falta de novas circulares de Paulo, vendo a sua influência diminuir. Com isso certo obreiro da Ásia resolveu escrever um livro apócrifo em sua homenagem por volta de 160 d.C., um escrito lendário (Atos de Paulo e Tecla). Não se sabe o nome desse presbítero, mas sabe-se que ele foi chamado para dar explicações do seu escrito e, sendo repreendido, perdeu seu cargo a seguir por causa desse escrito. O tempo foi passando e comentários e citações do corpus paulinum foram sendo feitos pelos líderes e pais da igreja. O tempo continuou passando, e grandes homens interpretaram e fundamentaram a sua teologia a partir das Cartas de Paulo, gigantes como Agostinho de Hipona, Tomás de Aquino, Lutero e Calvino entre tantos outros se apoiaram nos ombros gigantes do Apóstolo dos Gentios. O que aprendemos com isso? Era que os elementos trabalhados ou produzidos por nós devem ser agradáveis a Deus e inspirar os homens, mesmo depois de nossa morte.

 

3.3. Sua influência hoje

A obra de um autor é posta à prova não só em vida, mas principalmente depois da sua morte. Por vezes, escritores vigorosos fazem sucesso em sua geração, mas com o passar do tempo ficam esquecidos. Há uma regra entre os estudiosos das Escrituras que diz que tudo aquilo que é de Deus tende a aumentar a sua influência, mesmo com a sua morte e o passar do tempo. Muitos dos não cristãos, é claro, tem mais ódio de Paulo de Tarso do que o próprio Senhor Jesus. Por ter sido ele o grande propagador do cristianismo. Outro teste de fogo são os livros produzidos em torno da biografia e pensamento daquela pessoa importante. No tocante a Paulo, anualmente, publicam-se diversos tipos de materiais citando seu nome, suas obras e pensamentos.

O que temos produzido para o evangelho tem sido feito em Deus? E o que é fazer algo para Deus e em Deus? Como apontamos acima, sobre a obra paulina, podemos observar algumas coisas, podemos cruzar os braços e nada produzir para Deus e seu reino, ou podemos nos lançar a trabalhar para Deus. mas sem efeito no reino dele, pois não conta com a sua aprovação e participação. Isso consiste não apenas em realizar coisas boas, mas realizar em obediência escriturística, em oração, sob o sangue de Jesus e no poder do Espírito Santo. Muita coisa pode ser feita para Deus, dependendo como se realiza poderá ser aceito por Ele ou não.

 

Conclusão

Ainda que possamos lamentar que nenhuma carta que Paulo recebeu chegou até nós, e muitas delas se perderam com o passar dos anos, perseguição, desgaste, etc. Cremos que o que temos é exatamente aquilo que precisávamos. Deus preservou exatamente naquilo que é útil para gerar e consolidar a fé salvadora no coração humano.

fonte mauricioberwaldoficial.blogspot.com.br